A competição esportiva realizada, em 1928, à Praça do Pantheon

Em comemoração a importante efeméride nacional, no dia 7 de setembro de 1928, às 5h, no Tiro de Guerra 155 houve alvorada e passeata dos soldados pelas ruas de Caxias. Às 6h, houve o hasteamento da bandeira nacional na sede do TG, tendo, na ocasião, discursado o professor Manoel Leitão.

Às 8h, realizou-se uma passeata cívica. E para o período da tarde, foram agendadas diversas competições esportivas a serem realizadas na então praça D. Pedro II (Atual Dias Carneiro, popular Pantheon). Naquele ano, a praça – que anteriormente chamava-se “Praça da Independência” – ainda não contava com o projeto paisagístico pelo qual ficou conhecida, limitando-se a uma grande área de areia, piçarra e grama, com diversas árvores de Mamorana, que providenciavam um sombreado àquele descampado. Era nessa área que eram realizados diferentes espetáculos artísticos (quando o circo chegava na cidade, era ali que se instalava) e partidas de futebol em Caxias.

Naquela tarde de setembro de 1928, o público disputava, aos trancos e barrancos, o melhor local para assistir as competições. Ante a ausência de instalações apropriadas, tudo ali área era muito improvisado, como relembrou o Juiz de Direito e outrora espectador Antônio Martins Filho: “Não havia nenhum arremedo de arquibancada, sendo que as pessoas ali presentes faziam uma espécie de footing, principalmente no lado da Praça, desde o Colégio das Freiras até os prédios da Prefeitura Municipal e da Cadeia Pública.”

As equipes que estavam disputando naquela tarde eram a do Jahú Sport Club e do Tiro de Guerra 155. Ao todo, foram realizadas 6 provas, sendo estes os resultados, conforme o periódico “A Escola”:

  • 1ª ProvaCabo de Guerra – Conquistada pelos rapazes do Jahú.
  • 2ª ProvaCarreira de Velocidade – Conquistada pelo conhecido “Voador” (Nesinho Abreu), do TG 155.
  • 3ª ProvaSalto em Altura – Conquistada por Domingos Leonar, do TG 155.
  • 4ª ProvaSalto em Largura – Conquistada por Domingos Leonar, do TG 155.
  • 5ª ProvaCorrida de Estafeta – Conquistada por Paulo Saldanha, do Jahú.
  • 6ª ProvaJogo de Futebol– Jahú Sport Club derrotou o TG 155, por 1×0.

Após as provas, a tradicional banda Carimã executou belíssimas peças de seu vasto repertório. Finalizando, assim, as festividades de 7 de setembro, daquele ano.

Vale lembrar que as competições esportivas em Caxias, antigamente, eram eventos bastantes comuns, a exemplo da realizada no balneário Veneza, em 1947.

Fontes de pesquisa: Jornal A Escola; Livro Por Ruas e Becos de Caxias/Eziquio Barros Neto

Imagem da publicação: Ac. Dreyfus Azoubel/Álbum do Maranhão de 1950; Ac. de Emanuel Nunes de Almeida

Restauração, Colorização e Design das imagens: Brunno G. Couto

A antiga tradição da Malhação de Judas, em Caxias

Judas Iscariotes, que integrava o grupo de apóstolos de Jesus, foi o responsável por entregar Cristo aos soldados que o levaram para ser crucificado. Judas indicou Jesus com um beijo no rosto. Pela traição, o apóstolo recebeu 30 moedas de ouro. Após o ato, Judas entrou em desespero e enforcou-se. Esta passagem bíblica marca um dos maiores casos de traição da história da humanidade.

Um dia antes da Páscoa (celebração da Ressurreição de Jesus), acontece o Sábado de Aleluia, onde é celebrada a Vigília Pascoal, ocasião em que os fiéis cristãos se reúnem em constantes orações durante toda a madrugada que antecede o Domingo de Páscoa. Para a data, fora criado (de maneira não oficial no calendário católico) o ritual da malhação de Judas (também conhecido como “queima de Judas” ou “enforcamento de Judas”), tradição trazida pelos espanhóis e portugueses à toda América Latina.

“Há diversas hipóteses para o surgimento do ritual, uma delas é de que a malhação do boneco tenha origem nas religiões pagãs, a partir de cultos agrários e as festas da colheita. Durante essas ocasiões, o boneco representava uma divindade da vegetação e, por meio do fogo, haveria uma renovação da vida vegetal e garantia de boas colheitas. Esse ritual teria mudado de simbolismo a partir do sincretismo religioso, que unificou muitos rituais pagãos e cristãos ao longo do tempo.” (Trecho transcrito do site Imirante.com).

Em seu modo mais simplificado, o rito consiste na preparação de um boneco de pano, o qual representa o apóstolo traidor, a ser pendurado por uma corda (simbolizando o seu enforcamento), para posterior “malhação” com paus, bem como a sua queima.

Na primeira metade do século XIX, época de D.João VI e D.Pedro I, essa tradição era mais ritualizada e cenográfica, conforme escreveu o pintor francês Jean-Baptiste Debret: “O sentimento dos contrastes, que fecunda tão marcadamente o génio dos povos meridionais da Europa, encontra-se igualmente no brasileiro, caracterizando-se pela capacidade de fazer suceder ao espetáculo lamentável das cenas da paixão de Cristo, carregadas processionalmente durante a quaresma, o enforcamento solene do Judas no sábado de Aleluia.

Compassiva justiça que serve de pretexto a um fogo de artifício queimado às dez horas da manhã, no momento da Aleluia, e que põe em polvorosa toda a população do Rio de Janeiro entusiasmada por ver os pedaços inflamados desse apóstolo perverso espalhados pelo ar com a explosão das bombas e logo consumidos entre os vivas da multidão! Cena que se repete no mesmo instante em quase todas as casas da cidade.(…) E ao primeiro som de sino da Capela Imperial, anunciando a ressurreição do Cristo e ordenando o enforcamento do Judas, que esse duplo motivo de alegria se exprime a um tempo pelas detonações do fogo de artifício, as salvas da artilharia da marinha e dos fortes, os entusiásticos clamores do povo e o carrilhão de todas as igrejas da cidade.

Com o tempo, a tradição foi ganhando tons mais críticos/humorísticos e menos religiosos, conforme preceituou Câmara Cascudo: “Nos sábados de Aleluia rasgava-se um Judas de pano velho, papel e trapos no meio de assuadas. Dizia-se romper a Aleluia. Os Judas eram preparados secretamente e postos em lugares públicos e mesmo à porta de adversários políticos. O sr. Gustavo Barroso recorda que no Ceará fazia-se outrora um júri presidido por pessoa respeitável para julgá-lo. O veredito infalível condenava-o à forca. Na maioria dos casos o Judas trazia o seu ‘testamento’ em versos de pé quebrado, alusivo às pessoas da localidade, com intenções satíricas, políticas e menos humorística.”

Em Caxias, não se sabe ao certo a que ano remonta a introdução da tradição, já que, por não pertencer às datas oficiais do calendário católico, os seus registros quase que inexistem nos jornais da época. As lembranças que sobreviveram ao tempo remontam à década de 1940, sendo a tradição realizada em diferentes bairros da cidade.

Um dos mais famosos e antigos era o realizado no largo de São Benedito, nas imediações da praça Vespasiano Ramos, pelos seus moradores. Proprietário do “Bar Operário”, Herval Lobo era, naquela localidade, o responsável por preparar o boneco. Para tanto, enchia de palha uma roupa masculina, sendo acrescido um chapéu e uma máscara (ou pintura) para formar a cabeça. Para potencializar o espetáculo pirotécnico, Herval adicionava bombas de São João na região das coxas, braços e cabeça do boneco.

Além do Judas, também era redigido um testamento, onde o humor era a característica dominante. Nele, Judas “deixava” aos participantes de sua queima algumas “heranças” humoradas. Com o tempo, os bonecos passaram a servir como um crítica política, onde o Judas, ainda que de maneira não explícita, representava determinado político da época, e o testamento passou a ser endereçado aos demais desafetos.

Na década de 1960, o sr. Simba também ficou famoso por realizar a malhação do Judas à Rua Nossa Senhora de Fátima, em um evento que contava com uma grande presença de adultos e crianças. 

Já no início década de 1980, os responsáveis por manter a tradição no largo de São Benedito foram os clientes do bar “Recanto dos Poetas”, de Arthur Cunha, próximo ao bar do Herval. No memorável Sábado de Aleluia do ano de 1983, Rangel foi o responsável pela confecção do Judas.

Após, fazendo parte da tradição, o Judas foi “roubado”, sendo restituído pouco tempo depois. Conforme o jornalista Vitor Gonçalves Neto, o testamento daquele ano fora redigido pelo “Tales e o filho do Leitão”. Queimado com as bombas, do testamento sobrou apenas as duas humoradas quadras abaixo:

Para facilitar a queima, os clientes utilizaram a matéria-prima do bar: cachaça. Embebido no aguardente, foi fácil para o boneco entrar em chamas, sendo seguido pelas explosões das bombas instaladas em seu corpo. E para finalizar o que ainda restava de sua estrutura, as pauladas não foram poupadas. Não sobraram nem os sapatos para contar história.

Nas décadas seguintes, ainda era possível ver a tradição sendo mantida em alguns bairros da cidade, mesmo que em menor quantidade (a queima chegou a ser realizada em frente ao cemitério dos Remédios). Contudo, as pessoas mais velhas que mantinham viva a tradição foram morrendo e, por consequência, esta fora desaparecendo em Caxias. De tal forma que, atualmente, dificilmente – se é que ainda fazem – se ver esse histórico ritual sendo realizado nas ruas da cidade em Sábado de Aleluia.


Fontes de pesquisa: Sites – Rio de Janeiro Aqui/G1/Imirante; Depoimentos de Sebastiana Guimarães e João Oliveira; Jornal O Pioneiro

Imagens da publicação: Wikipédia; Google Imagens; Jornal O Pioneiro

Restauração e Design das imagens: Brunno G. Couto

Amores Perdidos (Texto de Augusto Brandão)

*Antônio Augusto Ribeiro Brandão

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Talvez se diga que eu não consegui absorver os efeitos do progresso, da mudança de valores, crenças, usos e costumes. É bem possível que eu continue sendo uma pessoa conservadora, fruto da formação no seio de uma família católica, de ter estudado em colégios tradicionais e com professores disciplinadores, de ter sido soldado-infante e aprendido o respeito à hierarquia e aos valores da Pátria.

A verdade é que não gosto mais de futebol e de cinema, esporte e diversão sempre presentes nos meus tempos de juventude. Em 1983, foi a última vez em que assisti a uma partida e, em 2003, em que fui ao cinema.

Aqui, ia ao cinema pelo menos três vezes por semana no tempo em que havia o Roxy, Éden e o Teatro; no Rio, entre 1955 a 1960, fui um assíduo frequentador do Palácio, Metro-Passeio e demais localizados na Cinelândia.

Quanto ao futebol sou do tempo da ‘barreira’ do saudoso estádio Santa Izabel e do Sampaio de então; no Rio, torcedor do Fluminense, não perdia jogos do clube, nas Laranjeiras, no Maracanã e em qualquer campinho, em São Cristóvão, Madureira, Bonsucesso, Olaria.

Da época em que o Teatro Artur Azevedo funcionou como cinema, muitos filmes mexicanos e franceses; o cinema de arte acontecia, no Éden, e as vesperais, no Roxy, deixaram muitas lembranças e saudades.

Em 1963, presenciei um FLA x FLU com o segundo maior público então presente no Maracanã, mais de 163 mil pagantes; o Flamengo jogou pelo empate e sagrou-se o campeão carioca daquele ano.

Em 1957, a caminho do Maracanã na companhia de duas primas, para ver a final do Fluminense com o Botafogo, não conseguimos chegar: nosso transporte chocou-se com a traseira de outro e as meninas ficaram feridas, e acabamos no Hospital.

Mas, quando tudo começou a mudar, com os cinemas tradicionais fechando suas portas dando lugar a pequenos espaços de projeção, iniciei minha debandada; atualmente, não conseguiria conviver com o ‘piquenique’ dos refrigerantes e das pipocas.

Quanto ao futebol, com regras importadas da Inglaterra e que, no Brasil, prosperou, não suportei o declínio de toda uma estrutura formal em nome da implantação desse esporte no mundo todo, quantidade em detrimento da qualidade, negócios em detrimento do espetáculo.

Minhas mais recentes desilusões são mesmo com as Academias de Letras, de honrosas tradições e costumeiras exceções, porque resolveram criar algumas inovações: a possibilidade dos membros efetivos ‘migrarem’ de uma categoria para outra, menos por honraria e mais por idade; ser ‘patrono’ da própria Cadeira ocupada, também pelos mesmos motivos, e tornar os atos de eleição e posse de novos membros formalidades sem ‘pompas e galas’, menos por questões de etiqueta social e mais por economia de gastos e comodidades gerais.

A verdade é que as Academias de Letras não fazem política, mas são instituições políticas.

*Economista. Membro Honorário da ACL, da ALL e da AMCJSP.

Palestra proferida pelo economista caxiense Augusto Brandão em Lyon (FR)

*Antônio Augusto Ribeiro Brandão

Saudação às Autoridades presentes, diretores, professores, convidados e alunos da Université Lumière Lyon 2, seus familiares e amigos.

Professora Maria da Conceição Coelho Ferreira, diretora do Instituto da Língua Portuguesa da Universidade.

“Crônicas de 400 anos”, o livro que venho lançar, aqui e agora, é uma homenagem a São Luís do Maranhão e aos franceses seus fundadores, em 1612. Reafirma um estilo narrativo existente desde os tempos de Claude d´Abbeville e Yves d´Évreux, capuchinhos que acompanharam a expedição de Daniel de La Touche e tornaram-se os cronistas pioneiros do cotidiano da cidade.

Todos já devem saber que há uma velada polêmica, que vez por outra vem à tona por parte de alguns intelectuais da minha cidade, quanto aos verdadeiros fundadores de São Luís. Há fatos históricos, registros fidedignos e incontestáveis de que foram os franceses.

Quando os franceses ocuparam as terras brasileiras e fundaram São Luís, em 1612 (onde Jacques Riffaut já havia estado, em 1594), com Daniel de La Touche à frente de uma caravela e duas naus, mais 500 homens e os Frades capuchinhos, após 116 dias desde Cancale, “precisamos refletir sobre algumas das circunstâncias mais representativas então vigentes na França”, e sobre o que aconteceu depois de mais de três anos de colonização, para que o ideal da França Equinocial não pudesse ser concretizado.

Ilustres historiadores pertencentes à já centenária Academia Maranhense de Letras manifestaram-se a respeito da fundação de São Luís, tais como Barbosa de Godois, José Ribeiro do Amaral; Claude d´Abbeville e Yves d´Évreux, cronistas pioneiros da cidade, também. 

Também venho a esta vetusta Universidade em grata missão oficial da Universidade Federal do Maranhão-UFMA, em São Luís, a fim de firmar um “Memorando Geral de Entendimentos para Cooperação Mútua” com a Universidade Lumière Lyon 2, que dará início a um novo tempo nas nossas relações internacionais “desenvolvendo experiências educacionais e científicas de fortalecimento e enriquecimento”.

Este Ato, portanto, situa-se além de uma realização pessoal deste professor e cronista. Contou, desde os primeiros momentos, com a compreensão da ilustre professora Maria da Conceição Coelho Ferreira, responsável pelo Instituto de Estudos Brasileiros, desta Universidade, acatando nossas manifestações de interesse e dando bom termo aos nossos entendimentos.

Agradeço de coração à ilustre professora, bem como e de igual forma ao professor Aldir Araújo Carvalho Filho, chefe da Assessoria de Relações Internacionais da UFMA, que formalizou, em nome do Senhor Reitor Natalino Salgado Filho, esses entendimentos.

A UFMA é uma universidade relativamente nova, pois foi oficialmente criada em 1966. Antes existiam Escolas isoladas e que foram transformadas em uma Fundação. Atualmente, tendo à frente o Magnífico Reitor Natalino, a quem agradeço a viabilidade da minha viagem, nossa Universidade tem experimentado franco progresso na melhoria e expansão dos seus diversos cursos pelos inúmeros campi, no Estado do Maranhão, além de significativa ampliação das suas instalações no campus do Bacanga, em São Luís. Estamos vivendo um acelerado progresso.

Permitam-me apresentar-me. Sou economista formado pela Faculdade de Ciências Políticas e Econômicas do Rio de Janeiro, em 1959, e professor universitário aposentado pela Universidade Federal do Maranhão, onde ensinei de 1979 a 1997; antes fui professor-fundador da Universidade Estadual do Maranhão, onde ajudei a criar, a partir de 1968, as primeiras escolas de ensino superior ligadas ao Estado. Na Universidade ensinei principalmente Teoria Econômica, Economia monetária e Mercado de capitais. Desenvolvo atividades literárias, como membro das Academias Caxiense, em Caxias, e Ludovicense de Letras, em São Luís.

No momento, estou escrevendo o Elogio ao meu Patrono, na Academia Ludovicense de Letras, Francisco Sotero dos Reis, a ser proferido no mês de julho próximo. Ele nasceu e morreu no Maranhão do século XIX, “foi jornalista, poeta e escritor, e deu lume a uma obra estritamente vinculada a assuntos filológicos […]”, foi precursor do “fenômeno raro do aparecimento de verdadeiros mestres da Língua Portuguesa Clássica”, no século XX.

Um panorama da literatura brasileira, segundo Luiz Ruffato, jornalista e escritor, “[…] embora caudatária da literatura portuguesa, desde cedo a paisagem é uma maneira diferente de modular a língua conformaram a mentalidade brasileira […]”; “[…] o Brasil colonizado a partir de 1500 recebeu vagas influências estrangeiras”. Situa o ano de 1836 “como marco fundador da literatura nacional”, que segue bem diversificada nos dias atuais cultuando valores do passado e aplaudindo os novos.

Sotero dos Reis (1800-1871), meu Patrono na ALL, estudou 29 dos principais autores portugueses e brasileiros, destacando-se Gil Vicente, Luiz Vaz de Camões, Alexandre Herculano, Padre Antônio Vieira, Manoel Odorico Mendes, Antonio Gonçalves Dias e Antonio Henriques Leal.

Este é o meu segundo trabalho de crônicas. São 27 selecionadas, antes publicadas na imprensa de São Luís e reunidas em Livro, a fim de superar a perenidade dos textos jornalísticos. A principal dessas crônicas presta meu tributo à única cidade brasileira fundada pelos franceses, São Luís do Maranhão; elas falam, ainda, das minhas viagens, sobre outras cidades, livros, música, família, estudos, valores e crenças. “Tratam de coisas passadas com intenção de preservar memórias, não de desvalorizar o presente”.

Segundo palavras do apresentador e tradutor do Livro, professor Cadmo Soares Gomes, “[…] o lirismo criativo está sempre presente e se desvela às vezes em melancolia […]. Quando trata da família, revela o espírito romântico, rendendo-se aos sentimentos suaves […]”.

Chamo atenção para as epígrafes que coloquei em cima de cada crônica. Foi de propósito. Além de prestigiar a memória dos seus autores, adequa-se, na maioria das vezes, ao que escrevi. São para reflexão.

Desejaria, doravante, fazer alguns comentários sobre as motivações que me levaram a escrever algumas das crônicas selecionadas.

“Razão e Sensibilidade” (páginas 17 a 22) é um grito de alerta em favor do patrimônio histórico das cidades, particularmente de Caxias, no Maranhão, no Brasil, minha terra natal; é um posicionamento democrático contra o lento, gradual e inexorável processo de “modernização” dos espaços às vezes onde se nasce, cresce e morre.

“Amor Perdido” (páginas 49 a 55) é sobre futebol, que já gostei tanto, todavia acabei perdendo o interesse face às desilusões ocasionadas por circunstâncias adversas. Dizem que “somos nós e as nossas circunstâncias”, não é assim?

“O Sereno do Cassino” (páginas 101 a 104). Sereno diz-se das pessoas que permanecem, de fora, observando os que entram, nos bailes da vida; e Cassino com dois “s” não é clube de jogo, contudo clube de dança. Os de fora observam, fazem comentários de toda ordem, riem, divertem-se com os ditos ‘privilegiados’, sobre se estão bem vestidos, bem acompanhados. É divertido!

“Vereda Tropical” (páginas 119 a 124) lembra da minha juventude, em São Luís, e das músicas caribenhas que tocavam nos clubes da cidade, nos bailes da vida, das namoradas e das dificuldades em conservá-las.

“Melancolia” (páginas 125 a 128) Gosto tanto desta crônica, que parece ficção, mas é realidade, pois foi baseada em fatos reais; mostra como o simples viver é, para algumas pessoas, um verdadeiro dilema. “Seriam os poetas predestinados aos sofrimentos da alma”?

“O que é a Felicidade” (páginas 195 a 200). Quem sabe? Eu arrisquei escrever sobre algo apenas experimentado por quem sente. Cada qual é feliz à sua maneira; não há uma receita pronta e acabada.

“Todos têm direito à vida, à liberdade e à busca da felicidade”, disse Thomas Jefferson, terceiro presidente dos Estados Unidos, quando esboçou as primeiras linhas do texto da Declaração de Independência dos EUA, em 1776.

Busquemos, pois, esses direitos.

*Economista. Membro Honorário da ACL, ALL e AMCJSP.