Em 1994, a TV Paraíso, por meio da repórter Cláudia Brasil, realizou entrevistas com o saudoso prof. Manoel de Páscoa, o Passinho, bem como com o então bispo da Diocese de Caxias, Dom Luís d’Andrea. Na ocasião, os entrevistados falaram sobre o significado da Quaresma para os cristãos católicos. A capela que aparece nas imagens é a Capela de Santa Luzia, pertencente a família Castelo. Assista:
Reportagem feita pela TV Paraíso, em setembro de 1994, sobre dois espetáculos artísticos realizadas na AABB de Caxias. Naquela noite, apresentou-se a banda “Cobra Criada” de Teresina/PI, bem como o conjunto de tango “Buenos Aires Tango Show”. Confira, abaixo:
Em uma quinta-feira do mês de julho de 1952, jazia no chão da Praça Tiradentes, berço da vida noturna carioca, o corpo de um homem. Ladeando-o, agarrado à sua mão, um saxofone. Naquele local, em frente ao Teatro Carlos Gomes, pouco tempo antes, o falecido havia executado aquela que seria a sua última apresentação. Nem todos sabiam, mas aquele músico não era filho do Rio de Janeiro, e sim da distante Caxias, no Maranhão. Seu nome: Paulino Almeida.
Filho de Augusto Paulo de Almeida e Maria José (Zezé) Teixeira Santos, Paulino nasceu em Caxias, no dia 10/04/1909 (existem relatos de que a data seria 03/04/1904). “Paulino” era apelido; na verdade, o seu nome completo era: Paulo Augusto de Almeida Santos. Tinha mais três irmãos (Djalma, Docila e Raimundo), sendo, o mais novo, de nome Raimundo (nascido em 1917) – que, anos mais tarde, seria conhecido apenas por Mundico Santos.
Desde pequeno, Paulino já demonstrava um grande interesse por música. Ainda criança, dedilhava, com habilidade, numa flauta de bambu, os sambas e tangos que a banda Carimã do maestro Alfredo Beleza executava nas festas da cidades e salões dos clubes. Vendo – e ouvindo – as habilidades do jovem, o velho Beleza convidou-o a estudar as primeiras noções de melodia com ele.
Logo, Paulino passou a integrar a orquestra Carimã e especializou-se no saxofone. Quase como uma extensão de seu corpo, o músico passou a dominar, com extrema habilidade, aquele instrumento. Como maestro, também chegou a fundar a sua própria orquestra. Executando composições suas ou de outros músicos, Paulino tocava belos solos pelas ruas de Caxias. À luz do luar, notívagos e boêmios paravam para ouvi-lo. Em serenata para damas, o nome de Paulino era bastante procurado.
Talvez por seu estilo mais popular ou por uma questão de preferência, Paulino não podia apresentar-se no salões da cidade, sobretudo do Cassino Caxiense (que, nessa época, funcionava no Edifício Duque de Caxias), União Operária e Centro Artístico. Contudo, nem por isso deixava de exibir sua arte. Logo, encontrou uma solução. Nas décadas de 20 e 30, quando chegava o Sábado de Aleluia, o músico providenciava um palanque no Largo do Rosário e convidava a população para o espetáculo. Como naquele dia acontecia a tradicional “Malhação do Judas”, Paulino também elaborava o testamento do boneco, em um texto cheio de humor.
Dando início ao evento, Paulino, de terno branco e colete, começa a tocar os seus solos de sax, tendo como interlúdio algumas piadas que contava para tirar risos dos presentes. “Os solos, num crescendo, aumentavam a vibração. Chega-se ao ápice. A leitura do testamento do Judas. […] Criança! – e carregado pelas mãos do meu genitor Cocó – eu assistia àqueles espetáculos. Com vibrantes solos de sax e testamentos de Judas, sob medida. Os mais lindo que, ao fio dos anos, a mim me foram dado ouvir. Nem além nem aquém – sendo a crítica na medida certa”. (Libânio da Costa Lobo; Livro Vulto Singular).
O jovem Marcello Thadeu Assumpção (que, anos mais tarde, tornou-se aclamado médico e político) também testemunhou os talentos do músico: “Década de 30. Quando me tocava de sorte passar pela Rua São Benedito, precisamente pela porta da casa de dona Zezé Teixeira Santos, eu era levado a diminuir a marcha das minhas passadas para, numa curiosidade natural e justificável, ficar ouvindo o maravilhoso saxofone do maestro – Paulo Almeida, filho de dona Zezé. Não me contendo, batia palmas e pedia para entrar e ver de perto o maestro executar o seu instrumento”.
Desejando voar mais alto em sua carreira, na década de 30, Paulino mudou-se para a capital do Estado. Em São Luis, foi conquistando as graças do público, passando a ser conhecido como “príncipe dos saxofonistas do Norte”. A alcunha veio após integrar o conjunto “Jazz Alcino Bílio”, que excursionava em todo Norte e Nordeste do Brasil. Além de Paulino, a banda era composta por: José de Ribamar Passos, o “Chaminé”, pianista e acordeonista; João Pereira Balby, saxofonista vienense; e o saxofonista Hélcio Jardim Brenha. José e Paulino alternavam-se na regência do grupo. Tamanho foi o sucesso que, em agosto de 1937, a banda chegou a se apresentar nos jardins do Palácio do Governo do MA.
À parte a atuação no conjunto (Paulino deixou a jazz band por volta de 1938) e da profissão como professor de música, Paulino também tinha uma vitoriosa carreira solo, tendo realizado inúmeras composições. Em 1935, por exemplo, compôs “uma sublime rapsódia”, que denominou “João Pedro da Cruz Ribeiro”. O homenageado que dava nome à composição, era genitor do dr. Fernando Ribeiro, respeitado Chefe de Polícia do Maranhão. Sob a batuta de Paulino, a música foi executada pela banda do 24 BC, na praça Benedito Leite, em São Luis.
Apesar da carreira exitosa em seu Estado Natal, Paulino queria mais. Já como um músico experiente e de fama, decidiu rumar para a então capital da República, o Rio de Janeiro. E assim, em julho de 1941, pelo “Itapé”, Paulino Almeida despediu-se dos maranhenses. O artista não sabia, mas nunca mais voltaria à sua terra.
A nova cidade não era de todo estranha. Afinal, no Rio, levou a sua música para a Associação dos Maranhenses, que estava sob a presidência do Dr. Antônio Dino, e vice-presidência do caxiense General José de Jesus Lopes. Todo e qualquer evento realizado pela Associação, chamava-se o músico para apresentar-se. Orgulhoso de suas conquistas, em terras cariocas, Paulino posou para uma fotografia segurando o inseparável saxofone. O registro tinha destino certo: d. Zezé. De terno alinhado e sorriso no rosto, o filho dedicava à mãe aquela singela lembrança, que se tornaria o seu único registro fotográfico conhecido. Ao fim, colocou a data: 08 de julho de 1948.
“[No Rio de Janeiro] Floresceu o seu talento musical. Na mesma medida, expandiu-se sua boemia. Com epicentro na Praça Tiradentes, tocava nos dancings e boates” relembrou Libânio. Apesar das apresentações entre seus patrícios, as coisas não iam como Paulino ambicionava, haja vista o seu modesto sucesso na capital federal. Possuidor de uma vida boêmia bastante ativa, com as dificuldades financeiras, Paulino intensificou ainda mais o vício no bebida. Daí para o alcoolismo, não precisou de muito.
Além do narrado acima, quase mais nada se sabe sobre a vida profissional e pessoal do músico durante a sua fase no Rio de Janeiro. O seu nome só volta ser citado nos jornais no dia de seu falecimento, em 10 de julho de 1952, após um ataque cardíaco em plena Praça Tiradentes, aos 43 anos de idade. Tendo sido sepultado em um cemitério do subúrbio carioca. “A notícia, espalhando-se, rápida que nem rastilho de pólvora em canavial, chegou à Associação Maranhense. A todos compungindo. De imediato, localizou-se o cadáver e, sob a supervisão solícita do vice-presidente General José Lopes, ocorreu o enterro. Tudo às expensas, escusado dizer, dos seus conterrâneos.” (Libânio Lobo; Livro Vulto Singular).
Calou-se Paulino, calou-se o seu sax.
Em Caxias, corria-se no imaginário popular, com testemunho de muitos caxienses, que, na hora em que Paulino faleceu no Rio de Janeiro, no Largo do Rosário, um saxofone, envolvido por luminosa auréola, envolou nos ares, espargindo belos solos musicais, como aqueles do Sábado de Aleluia.
Em sua homenagem, a Câmara Municipal de Caxias, através da Lei n°200 de 01/10/1952, renomeou a via (que liga a Rua Afonso Pena à Rua São Benedito) que ladeava a residência de sua família, no centro da cidade, para “Travessa Paulino Almeida”, nome que permanece até os dias de hoje. Em memória do irmão, Mundico Santos pintou, baseado na fotografia enviado por Paulino à mãe, um retrato seu, que atualmente integra o acervo da Academia Caxiense de Letras.
Paulino Almeida deixou várias peças populares para piano solo, disponíveis hoje no Arquivo Público do Estado do Maranhão (APEM).
Fontes de pesquisa: Áudio Arte – Memórias de um Blog Musical/Autor: Daniel L. Cerqueira; Música – O Piano no Maranhão: Uma pesquisa artística/Autor: Daniel L. Cerqueira; Jornais “Folha de Caxias” “O Cruzeiro” “O Imparcial” “Pacotilha” “O Combate”; Livro Memórias/Autor: Marcello Thadeu de Assumpção; Livro Vulto Singular/Autor: Libânio da Costa Lobo; Livro Por Ruas e Becos de Caxias/Autor: Eziquio Barros Neto; APEM- Arquivo Público do Estado do Maranhão
Ontem, 03/03/23, partiu, de causas naturais, Antônio Augusto Ribeiro Brandão. Tinha 88 anos.
Caxiense, Brandão nasceu em 08/11/1934, sendo o primogênito do casal Antônio e Nadir. Em 1959, formou-se em Economia, pela Faculdade de Ciências Políticas e Econômicas do Rio de Janeiro. De carreira vasta e exitosa, aposentou-se em 1997. Autor de diversos livros (e cronista de jornais ludovicenses), é (no presente, como imortal que é) membro Honorário da Academia Caxiense de Letras, e membro Fundador da Academia Maranhense de Cultura Jurídica, Social e Política.
Conheci Brandão em 2020. Na época, desejava escrever sobre seu pai, Antônio Brandão (grande homem que fez parte da história de Caxias), para este site. Com este objetivo, acabei encontrando o perfil de Augusto no Facebook. Após receber minha mensagem, se prontificou a traçar um perfil biográfico de seu genitor. Ao notar os meus sobrenomes, “Guimarães” e “Couto”, logo rememorou os meus antepassados que, de alguma forma, fizeram parte de sua história. E, assim, virtualmente, começou nossa amizade.
Percebendo o meu entusiasmo com a história de Caxias, começou a me enviar crônicas suas sobre o passado da cidade (bem como alguns artigos sobre a sua outra paixão, a economia), para que as publicasse neste meu site. De lá para cá, foram publicados dezenas de textos seus, até 12 de fevereiro deste ano, quando publiquei aquele que seria o seu último texto para o Arquivo Caxias, intitulado “A Estação de Trem”.
Dono de uma memória invejável, também contribuiu para a produção de muitas das matérias aqui postadas. Inúmeras foram as vezes em que tirei dúvidas e o fiz perguntas sobre algum momento específico do passado da cidade. Das poucas vezes em que não sabia alguma informação, me indicava a quem recorrer para encontrar uma resposta.
Durante esses pouco mais de dois anos de parceria, generosamente Brandão me enviou muitas de suas obras literárias. Em uma dedicatória escrita à mão em sua autobiografia, lançada em 2021, escreveu: “Ao prezado amigo e conterrâneo Brunno, oferece Brandão”. Infelizmente, devido às restrições impostas pela pandemia, bem como pelo distanciamento entre cidades (Brandão residia em São Luis) não pudemos nos encontrar pessoalmente.
Muito generoso, frequentemente tecia elogios ao meu trabalho, por admirar o meu grande interesse em preservar a história de nossa cidade. Amigo, cobrou – sem que eu soubesse – de uma instituição caxiense da qual fazia parte o reconhecimento formal de meu trabalho. Em janeiro, me enviou esta tocante mensagem:
“Brunno, quero que saiba: você, descendente de uma tradicional família caxiense, que me me faz lembrar de dona Edmée, que foi minha professora de Desenho, no antigo Ginásio Caxiense, nos idos de 1946/1949, honra essa tradição. Jovem ainda, você despertou seus amores por Caxias, relembrando seu passado e preservando o seu presente, resgatando coisas e pessoas a estimular as gerações futuras. Agradeço a sua amizade e dedicação às minhas sugestões e participação nesse caminhar confiante em melhores dias. Forte abraço.”
O meu último contato com o amigo se deu no dia 17 de fevereiro deste ano, quando lhe enviei uma foto que havia encontrado de sua mãe, ao que respondeu, dentre outras palavras, com “Que surpresa agradável!”. Fiquei feliz.
O amigo, fisicamente, se foi; contudo, sua obra permanece. Tenho orgulho de ser, através do meu site, depositário de parte desse trabalho, o qual ficará disponível a quem procurar. É o mínimo que posso fazer, afinal, foi por meio desse mesmo site – e o interesse compartilhado pela memória da cidade – que nasceu nossa amizade.
Vá em paz, meu amigo. Que Deus o receba de braços abertos. Já está fazendo falta.