Na década de 40 do século passado, em Caxias, os cinemas eram a maior diversão. O Cine Rex, do qual já falei em minha crônica “Sempre aos domingos”, líder na preferência, rivalizava com o Cine Pax, na exibição de filmes distribuídos pela Metro, Columbia, Universal, Paramount, principalmente.

O Pax funcionava em uma casa, na rua Aarão Reis, fachada estreita e lateral longa, na transversal daquele bangalô de estilo onde inclusive residia o casal Waldemar Lobo, mas que um Banco, muito tempo depois, conseguiu transformar em estacionamento (?!); adaptada para ser cinema, com sua cabine de projeção, na sequência o salão com as cadeiras de madeira e ventiladores na sua parte mais nobre, e um espaço democrático chamado de ‘geral’, bem próximo da tela, onde podiam entrar os que pagavam menos pelo ingresso, sentar em ‘bancadas’ de madeira lavrada e vestir a ‘moda’ mais informal possível.

A ‘geral’ do Pax era uma solução subsidiada, para proporcionar diversão barata às camadas menos favorecidas da população amante da ‘sétima arte’, contudo, tinha lá seus aspectos discriminatórios, mas pouco explorados em época muito distante dos dias atuais. Todos os subsidiados, para que pudessem entrar e sentar, esperavam ao lado da entrada principal, fazendo fila, aguardando que fosse dado o sinal de que os que haviam entrado pela porta principal estavam devidamente sentados, sob a proteção dos ventiladores refrescantes.

O proprietário era Waldemar Lobo e Silva, irmão do João Lobo, da “Casa Matoense”, e do Herval Lobo, proprietário daquele famoso “Bar Operário”, no Largo de São Benedito. Waldemar parecia uma pessoa nascida no entretenimento, pois vivia do cinema e para o cinema, fazendo-se presente, diariamente, nas sessões; fisicamente magro, chegava a lembrar o Fred Astaire.

As sessões eram tumultuadas pelas constantes ‘quebras’ das películas projetadas, uma tecnologia ainda embrionária, além da súbita falta de energia (naquele tempo, na Usina do seu Nachor Carvalho, luz somente de 18 às 24 horas) deixando nervosos os ocupantes da famosa ‘bancada’ da geral; o Waldemar, com sua calma, conseguia controlar os ânimos, mas às vezes o restante do filme ficava para o dia seguinte.

Enquanto o Rex projetava filmes musicais e de aventuras, como “Du Barry era um pedaço” e “Até que a morte nos separe/’, o Pax preferia os mais clássicos, como foi o caso de opereta “Lua nova” e do drama épico “E o vento levou/’, e o acréscimo dos seriados ampliava as sessões cinematográficas.

São essas as lembranças que eu tenho do Pax, da década de 40 até 1954, quando fui para o Rio de Janeiro e, nos breves retornos de poucos dias, em 1957, de férias, 1959, para ficar noivo da Conceição, e 1961, para casar com ela, não frequentei desde então os cinemas de Caxias, que já eram outros ou não mais existiam aqueles que marcaram época.

*Antônio Augusto Ribeiro Brandão é Economista e Membro Honorário da ACL, ALL e AMCJSP.

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