A INFLAÇÃO NAS ECONOMIAS REFLEXAS (texto de Augusto Brandão)

*Antônio Augusto Ribeiro Brandão

Quando eu digo que o Plano Real foi uma ‘mágica’ bem executada, mas que o Brasil não tinha as condições estruturais para torná-la realidade, continuo pensando assim. Naquela época, por exemplo, com o real cotado acima do dólar, o país poderia ter aparelhado seu parque industrial, para exportar com qualidade e produtividade.

A subida da taxa SELIC, para combater a inflação, conter a alta do dólar, implica no crescimento e custo da dívida pública interna, cada vez mais rolada no curto prazo. O capital externo exige isso, senão não vem. O país está ficando sem dinheiro, para seus compromissos oficiais e continua tendo que alimentar as expectativas da nossa população ‘abaixo da linha de pobreza’.

André Lara Resende, por um lado, deve andar satisfeito, porque diz que o “governo que emite sua moeda não deve ter limitações”; por outro lado, entretanto, diz que a taxa SELIC deveria ser fixada abaixo da taxa de crescimento do PIB, e estamos longe disso.

Se nossa inflação fosse de demanda, elevar a taxa de juros poderia resolver, mas nossa inflação é estrutural, de custos, por isso não adianta e agrava a dívida interna.

Cursino, na atual conjuntura econômica mundial, principalmente depois da crise das hipotecas, em 2008, quando os bancos centrais, liderados pelo FED, promoveram uma ‘financeirização’ sem precedentes, mas sem resultados até hoje, nos EUA, Europa e países emergentes e do chamado ‘terceiro mundo’ com economias mais fortes condicionando as mais fracas, será, sempre, assim.

É que esses recursos não atingiram a economia real e ficaram, até hoje, ‘inchando’ os balanços dos bancos centrais. Esses recursos serviram apenas à rolagem de dívidas de empresas e de governos.

E mais: essa expansão monetária sem precedentes revelou uma falta de firme regulamentação das relações no mercado financeiro americano, com o beneplácito do FED, para salvar bancos importantes da ‘quebra’, como o Lehman, que visitei, em 1980, como uma das potências do ramo.

Agora, o mundo todo está sentindo os efeitos desse descontrole, até mesmo os EUA, com sua economia ‘patinando’!

E o que pode fazer uma economia reflexa, como o Brasil, com essa política errática de juros altos, sem ajuste ou controle fiscal? Talvez seguir de vez o que prega André Lara Resende (“…o país que emite sua moeda não deve ter limites.”) ou preparar-se para um futuro nem tanto almejado, mas sempre alcançado: recorrer ao FMI.

Em tempo: essa inflação de agora, mais aqui e menos ali, tem causas geradas por essa expansão da liquidez, em 2008, que nunca teve uma contrapartida de produto.

Conclusão: o Brasil sofre, hoje, essa pressão sobre a demanda, por excesso de liquidez internacional sem contrapartida de produto, além dos gastos com os programas assistenciais; acrescente-se a isso a ausência de produtividade, elevando custos, o outro componente da inflação.

*Economista. Membro Honorário da ACL, ALL e AMCJSP.

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