Amores Perdidos (Texto de Augusto Brandão)

*Antônio Augusto Ribeiro Brandão

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Talvez se diga que eu não consegui absorver os efeitos do progresso, da mudança de valores, crenças, usos e costumes. É bem possível que eu continue sendo uma pessoa conservadora, fruto da formação no seio de uma família católica, de ter estudado em colégios tradicionais e com professores disciplinadores, de ter sido soldado-infante e aprendido o respeito à hierarquia e aos valores da Pátria.

A verdade é que não gosto mais de futebol e de cinema, esporte e diversão sempre presentes nos meus tempos de juventude. Em 1983, foi a última vez em que assisti a uma partida e, em 2003, em que fui ao cinema.

Aqui, ia ao cinema pelo menos três vezes por semana no tempo em que havia o Roxy, Éden e o Teatro; no Rio, entre 1955 a 1960, fui um assíduo frequentador do Palácio, Metro-Passeio e demais localizados na Cinelândia.

Quanto ao futebol sou do tempo da ‘barreira’ do saudoso estádio Santa Izabel e do Sampaio de então; no Rio, torcedor do Fluminense, não perdia jogos do clube, nas Laranjeiras, no Maracanã e em qualquer campinho, em São Cristóvão, Madureira, Bonsucesso, Olaria.

Da época em que o Teatro Artur Azevedo funcionou como cinema, muitos filmes mexicanos e franceses; o cinema de arte acontecia, no Éden, e as vesperais, no Roxy, deixaram muitas lembranças e saudades.

Em 1963, presenciei um FLA x FLU com o segundo maior público então presente no Maracanã, mais de 163 mil pagantes; o Flamengo jogou pelo empate e sagrou-se o campeão carioca daquele ano.

Em 1957, a caminho do Maracanã na companhia de duas primas, para ver a final do Fluminense com o Botafogo, não conseguimos chegar: nosso transporte chocou-se com a traseira de outro e as meninas ficaram feridas, e acabamos no Hospital.

Mas, quando tudo começou a mudar, com os cinemas tradicionais fechando suas portas dando lugar a pequenos espaços de projeção, iniciei minha debandada; atualmente, não conseguiria conviver com o ‘piquenique’ dos refrigerantes e das pipocas.

Quanto ao futebol, com regras importadas da Inglaterra e que, no Brasil, prosperou, não suportei o declínio de toda uma estrutura formal em nome da implantação desse esporte no mundo todo, quantidade em detrimento da qualidade, negócios em detrimento do espetáculo.

Minhas mais recentes desilusões são mesmo com as Academias de Letras, de honrosas tradições e costumeiras exceções, porque resolveram criar algumas inovações: a possibilidade dos membros efetivos ‘migrarem’ de uma categoria para outra, menos por honraria e mais por idade; ser ‘patrono’ da própria Cadeira ocupada, também pelos mesmos motivos, e tornar os atos de eleição e posse de novos membros formalidades sem ‘pompas e galas’, menos por questões de etiqueta social e mais por economia de gastos e comodidades gerais.

A verdade é que as Academias de Letras não fazem política, mas são instituições políticas.

*Economista. Membro Honorário da ACL, da ALL e da AMCJSP.

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