O antigo monumento da Praça do Panteon

Em 1923, ano em que comemorou-se o primeiro centenário da independência de Caxias, o prefeito Francisco Vilanova programou grandes solenidades a serem realizadas na cidade; destacando-se a inauguração, em 02 de agosto de 1923, no então Largo da Independência, de um marco simbolizando a importante efeméride – marco, esse, demolido anos depois.

Durante o primeiro mandato do tenente Aluízio Lobo (1966/1970) como prefeito de Caxias, o Largo da Independência – agora já renomeado para “praça do Panteon”-, que até então era um grande campo de grama e piçarra, passou por uma reforma radical. Com planta projetada pelo artista caxiense Mundico Santos, a área foi pavimentada, ganhando passeio, jardins, dois coretos, uma pequena arquibancada e um espelho d’água. E assim permaneceu até a década seguinte.

A então praça Pedro II (atual Dias Carneiro, popular Panteon), em fotografia de 1950; antes da mudança realizada pelo governo Aluízio Lobo.

Seguindo a tradição de 1923, em 1973 o prefeito José Castro decidiu realizar, no primeiro ano de seu mandato, a construção de um monumento simbólico ao aniversário de 150 anos da adesão de Caxias à independência. O local escolhido para a vindoura construção fora novamente o centro da praça do Panteon (Dias Carneiro); em substituição ao antigo espelho d’água.

E assim se dera, até que, em 01 de agosto de 1973, contando com a presença de populares e diversas autoridades de Caxias, a estrutura fora inaugurada. Projetado por Raimundo Mário Rocha, o obelisco em concreto (que recebeu o nome de “Monumento aos Heróis”) tinha a forma de uma grande flecha fincada, como que indicando que aquele era o local que outrora fora conhecido como Largo da Independência. Nada mais adequado. Em sua base de duas rampas, local onde muitas crianças subiam, localizavam-se duas placas comemorativas.

O monumento em 1973, ano de sua inauguração.

O monumento permaneceu naquele local até a primeira metade da década de 1990, quando, na administração do prefeito Paulo Marinho (1993/1996), a praça fora remodelada. Além da demolição dos coretos e arquibancada, o monumento também fora posto abaixo. Em seu lugar, fora construída uma fonte luminosa d’água (existente até os dias de hoje).

Diferentemente da atual estrutura, o antigo monumento fazia referência a uma importante data para Caxias, e que, sem dúvidas, merece ser lembrada.


Fontes de pesquisa: Biblioteca Benedito Leite; Livro Efemérides Caxienses/Autor: Arthur Almada Lima Filho; Livro Efemérides Caxienses/Autor: Eziquio Barros Neto

Imagens da publicação: Ac. Dreyfus Azoubel; Ac. Família Guimarães; Internet

Restauração: Brunno G. Couto

A história da Fábrica de Manufatura Caxiense (Atual Centro de Cultura)

Texto de Brunno G. Couto

“Se nós, aqui, não temos uma fábrica de fiação e tecelagem; Caxias, lá no interior, é que vai ter?!”. Ao ouvir, de empresários ludovicenses, essas palavras em tom de chacota, Francisco Dias Carneiro tomou aquela indagação como objetivo de vida. Rumou de volta à Caxias, e fundou, com a ajuda do povo, em 22 de outubro de 1889, a Companhia União Caxiense, que viria a ser proprietária, não de uma, mas três fábricas de fiação e tecelagem na cidade.

Dias Carneiro, aos 40 anos de idade.

Dias Carneiro havia ido a São Luis em busca de apoio empresarial para a sua futura empreitada. Contudo, como vimos, a viagem fora infrutífera. Ao retornar a Caxias, os caxienses, sabedores da luta de Carneiro, abraçaram a ideia e, mesmo com dinheiro insuficiente, levaram a cabo a fundação da sociedade. Primeiramente, em 01/01/1888, fora fundada a Fábrica Industrial Caxiense, a primeira fábrica têxtil do Maranhão. Posteriormente, veio a Fábrica União Caxiense, tendo suas obras iniciadas no final de 1889. Dias Carneiro, homem vitorioso, faleceu no ano de 1896 em Caxias .

“O processo de industrialização no Maranhão ocorreu no final do século XIX, com a instalação de varias unidades fabris especializadas no processamento da fibra de algodão, cuja cultura tem sido apontada como maior responsável pela ampla projeção econômica verificada nos séculos XVIII e XIX. O algodão serviu em grande escala como matéria prima para as fabricas têxteis do Maranhão. Nesse cenário, Caxias, que era uma das cidades mais populosa da província e grande produtora de algodão, chegou a exporta ‘para as praças da Europa, pelo porto de São Luís, ou para os grandes centros do sul, através do Piauí, Pernambuco e Bahia’ (COUTINHO, 2005, P.293), sendo pioneira no ramo têxtil no Estado do Maranhão”.

Em 1892, impulsionado pela febre das fábricas, chegou a vez da mais ambiciosa delas. Estabelecida, em 22/05/1892, a sociedade anônima denominada Companhia Manufatura Caxiense S/A, tinha como principais responsáveis os seus diretores fundadores: Segisnardo Aurélio de Moura, José Ferreira Guimarães (bisavô da atriz Glória Menezes), José Castelo Branco da Cruz e Antônio Bernardo Pinto Sobrinho. O local escolhido para a instalação da vindoura fábrica era distante das fábricas supracitadas, que localizavam-se no Ponte. A preferência foi por um terreno próximo a Estação Férrea Caxias – Cajazeiras , que vinha sendo construída, além da proximidade ao rio Itapecuru e seus portos muito movimentados.

Como o terreno escolhido era alagadiço, houve uma demora até que fosse realizada a drenagem do solo, sendo lançada a sua pedra fundamental no início de 1893. A nova fábrica teve o capital inicial 850 contos de réis, de 260 acionistas, que subscreveram 2.834 ações; sem qualquer incentivo do Estado. O projeto arquitetônico ficou a cargo do engenheiro Palmério Cantanhede, que, em virtude do acompanhamento das obras, residiu em Caxias por 18 meses. As estruturas metálicas foram importadas dos Estados Unidos e da Inglaterra, sendo transportadas pelo mar até São Luis, e, de lá, pelo rio Itapecuru até Caxias. As telhas vieram da França.

Detalhe da parte interna do teto da fabrica. Ano da imagem: 2020.
Detalhe interno da chaminé. Ano da imagem: 2020.

Um ano depois, o prédio estava quase concluído, estando todo coberto; a chaminé, de 38 metros de altura, estava finalizada e as caldeiras instaladas. Não obstante, ainda levara alguns anos para a sua finalização. Até que, em 18/09/1898, a fábrica é, enfim, inaugurada. Recebendo o nome de “Fábrica Gonçalves Dias”. A cerimônia de inauguração teve início às 10h, contando com uma grande número de presentes. Realizando a benção do novo prédio, estava o o vigário da Igreja de São Benedito, José Ewerton Tavares. Serviam de paraninfos os senhores: Comendador Francisco de Britto Pereira; Capitão Lionídio Britto Lima dos Reis; Joaquim Barbosa Caldas e Joaquim José Pinto de Moura.

A Fábrica em fotografia de 1908.

Após um longo e belo discurso do padre, o Tenente-Coronel Manoel Gonçalves Pedreira (pai do médico Miron Pedreira), na qualidade de chefe do poder executivo municipal, surgiu no local em que via-se uma fita de cor verde prendendo o volante do motor. Após improvisar um discurso – onde lembrou os serviços prestados por Dias Carneiro (já falecido), Custódio Santos e José Ferreira Guimarães à economia de Caxias – muniu-se de uma tesoura (oferecida pelo coronel José Castelo da Cruz) e cortou a faixa, declarando inaugurada a nova fábrica de manufatura de Caxias, a Fábrica Gonçalves Dias.

Assim que a fita simbólica fora cortada, imediatamente todos os mecanismos entraram em funcionamento, para a admiração dos presentes. Concomitantemente, é executado, pela banda do maestro Carimã Junior, o hino nacional. Após as solenidades programadas, os visitantes puderem visitar as instalações da fábrica. A visão deles foi a seguinte:

Ao lado da porta principal do escritório, viam-se duas árvores de algodão, contendo uma as maçãs e outras os capulhos da preciosa fibra. Mais adiante, ao adentrarem um dos compartimentos da fábrica, viram: algodão em caroço e em pluma; rolos já empastados, fios em maçarocas e carretéis. 

Além disso, morins de diferentes marcas e larguras, em fardos de dez peças; cretones, mesclinas, brins de várias cores; e toalhas, que ocupavam todo o espaço do vasto compartimento. Nos lados superiores das paredes, pendiam cortinas encimadas por escudos com as cores nacionais, nos quais liam-se os nomes dos diversos municípios do Maranhão. 

Toda essa ornamentação fora produzida pelo maquinário da própria fábrica, que fora importado da casa comercial Sons & Co., de Henry Rogers, localizada na cidade de Wolverhampton, na Inglaterra. 
Parte interna da torre.

O industrial Zezinho Guimarães.

Passando por dificuldades financeiras, a Fábrica Gonçalves Dias teve vida curta, fechando as portas em 1901, três anos após a sua inauguração. Sendo vendida, em 1902, em um leilão judicial por 40 contos de réis para o Banco da República, o credor hipotecário. No ano seguinte, a Companhia União Caxiense, proprietária da Fábrica União e da Fábrica Industrial, assume o seu controle até o ano de 1919, quando dois comerciantes teresinenses arrendaram-na. Em 1923, a fábrica a Companhia União Caxiense assume novamente o seu controle, sendo o comerciante Zezinho Guimarães (filho de José Ferreira Guimarães) o seu maior acionista. O industrial controla a Manufatura até 1944, quando transfere-a a um grupo paulista sob a liderança de José de Agustinis. Até que, em 1958, a Fábrica de Manufatura encerra, de vez, as suas atividades.

A fábrica em pleno funcionamento, por volta do ano de 1920.

Desde o seu encerramento, o prédio da fábrica permaneceu sem utilização. Correndo o risco de ser desmontado, o prédio estava em completo abandono quando, em 1977, o prefeito Aluízio Lobo incorpora o imóvel ao município; sendo, em 1980, revitalizada as suas dependências para abrigar o Centro de Cultura Acadêmico José Sarney.

Década de 1970. Após anos desativado, o prédio começa a passar por reformas para abrigar o vindouro Centro de Cultura.


Nesse mesmo ano, é realizado o tombamento do prédio pelo Estado, conforme o Decreto Estadual n. 7.660, de 30 de agosto. Desde então, o prédio já abrigou teatro, biblioteca, museu, exposições, artesanato, arquivo municipal e lojas. Além disso, vem recebendo diversos órgãos públicos, agências bancárias, e, até mesmo – de forma provisória – escolas.

Um dos mais icônicos símbolos de Caxias, em 08 de setembro de 2021 o prédio, de estilo neoclássico, completou 123 anos de história.

O prédio em fotografia recente.

Abaixo, um comparativo da fábrica no anos de 1920 e 2012. Para visualizar, arraste a bolinha central para os lados:


Fontes de pesquisa: Jornal de Caxias; Livro Por Ruas e Becos de Caxias/Autor: Eziquio Barros Neto; Artigo “A participação das Mulheres no Espaço Têxtil e sua Contribuição nos Aspectos Econômicos de Caxias – MA”/Autoras: Ana Carolina de Azevedo e Raquel dos Santos Lima

Imagens da publicação: Ac. de Eziquio Neto; Youtube; Ac. de David Sousa; Álbum do Maranhão de 1908; internet; Site da prefeitura de Caxias; Google Maps

Colorização e Restauração: Brunno G. Couto

Texto de Antônio Augusto Brandão sobre a sua autobiografia

Faço questão de relembrar as dificuldades à sua realização e lançamento: não consegui um biógrafo, aconselhável talvez pela ‘imparcialidade’ com que trata o biografado; o lançamento presencial teve que ser adiado e a realização de uma sessão virtual também não deu certo. Efeitos dos tempos sombrios e incertos que estamos vivendo com essa pandemia, que nos ameaça e condiciona. Mas já tomei três doses da vacina.

Enfim, em janeiro do próximo ano, na AMEI, tudo irá acontecer, devendo ser uma sessão de autógrafos contida, mas festiva, para a qual convidei os amigos, os que me ajudaram no trabalho, os que cuidaram da minha saúde, colegas professores e ex-alunos da Universidade, meus confrades e confreiras das Academias de Letras às quais pertenço, economistas colegas de profissão, convite extensivo a todos os demais que prestigiam esses eventos.

Informo aos que já adquiriram minha Biografia e aos que ainda vão adquirir: faremos uma sessão simples e objetiva atendendo aos protocolos de saúde impostos pela pandemia, para que tudo possa ocorrer sem receios.

Ter um livro nas mãos é um prazer inigualável e a ‘modernidade’ tenta o mesmo efeito de forma virtual, mas não consegue. A crise que se abate sobre a economia brasileira atingiu duramente as livrarias e muitas tradicionais deixaram de existir, e os leitores sentem-se empobrecidos antes os preços.

Em São Luís, a cada ano, a Feira do Livro tenta oferecer resistência a esse quadro sombrio e reúne livreiros, intelectuais, convidados, para lembrar de alguém que já se foi e debater as recentes conquistas em nome da cultura, com intenção de multiplicar, manter o interesse pelo livro. “Fortes Laços”, meu primeiro, foi lançado na primeira Feira, em 2007.

“Biografia”, do autor pelo autor, pois dizem que ninguém conhece melhor você do que você mesmo, é o meu quinto livro, fruto exclusivo da minha memória, graças a Deus, e das saudosas lembranças de quase tudo que aconteceu comigo desde criança, conforme todos poderão constatar pela leitura cronológica da obra.

Louve-se o trabalho da Viegas Editora, assim como aconteceu com “Economia – textos selecionados”, em 2019. O prefácio de “Biografia” foi feito por Daniel Blume, presidente da Academia Ludovicense de Letras e Membro eleito da Academia Maranhense de Letras, e o amigo de longas datas Luiz Raimundo Carneiro de Azevedo escreveu as ‘orelhas’.

Tenho saudades de tudo que lembrei: das férias na casa do meu avô materno, comandante Augusto Ribeiro, levado pelas mãos da minha tia Doninha, no trem-de-ferro que saía de Caxias, pernoitava em Coroatá, para chegar a São Luís, no outro dia, presentes na estação minha outras tias Neném e Santa, esta ainda vida aos 103 anos, e em casa tias Babá e Xixi esperando para o café com pão; tenho saudades da minha primeira bicicleta e das sensações de liberdade que ela me proporcionou; tenho saudades dos meus pais, Antonio e Nadir, e dos meus irmãos, e da grande família que construíram ao longo do tempo, que nos manteve juntos naquela casa=grade da rua Gustavo Colaço, em Caxias; tenho saudades dos tempos de rapaz, na rua do Cisco, das ‘rodadas’ na praça Gonçalves Dias – onde, em um dia de 1953, comecei a namorar a Conceição e depois noivar e casar, para viver com ela por mais de 52 anos -; tenho saudades do Cine Rex e da sua ‘sessão das moças’, dos banhos no riacho do Ponte, no rio Itapecuru, na Veneza, dos colegas e professores do Ginásio Caxiense, entre 1946 e 1949, dos colegas e professores do Centro Caixeiral, entre 1950 e 1952, dos colegas e professores da Faculdade de Economia, no Rio de Janeiro, entre 1956 a 1959, e dos amigos que fiz por lá; tenho saudades da sala de aula, na UEMA e na UFMA, onde ensinei por quase trinta anos.

Toda essa saudade está contida em “Biografia”, do autor pelo autor, que autografarei, com o maior prazer, no dia 28 de janeiro do próximo ano, na Livraria AMEI, a partir das 19 horas.

A edição da Biografia ficou pronta em outubro/21. A partir de 08 de novembro, foi colocada em regime de pré-venda, para, em 13/11, ser anunciado o lançamento oficial, seguido dos autógrafos. Esse lançamento teria acontecido não fossem as medidas restritivas impostas pela Covid-19. Demos mais um tempo ao tempo, adiando o evento para o dia 28 de janeiro próximo, mas a pandemia surgiu com mais uma variante, agravada pela gripe Influenza!

Assim sendo, mesmo usando máscaras e tendo outros cuidados, a exposição em aglomerados continua sendo arriscada. Assim sendo, lamentavelmente, resolvemos, em definitivo, cancelar o lançamento anunciado.

A história do Cine-Rex, o cinema mais longevo de Caxias

Texto de Brunno G. Couto

O memorável Cine-Rex fora fundado em Caxias no dia 28 de setembro de 1935, e teve como primeira instalação um prédio localizado na Praça Gonçalves Dias, de esquina, em diagonal com o imóvel onde, atualmente, funciona o Banco Bradesco. Não se sabe ao certo se o Cine-Rex fazia parte de uma rede nacional de cinemas, já que, em outros cidades, existiam salas de cinema com o mesmo nome – a exemplo de São Luis, Rio de Janeiro e Teresina. Ressaltando-se que, o Cine-Rex, de Caxias, é mais antigo que o da capital piauiense, que fora fundado em 29 de novembro de 1939.

Pouco tempo após sua criação em Caxias, o seu proprietário, Pedro Costa, resolveu fechá-lo, em virtude das dificuldades de conseguir bons filmes, nas cidades de Teresina e São Luis. As sessões, duas vezes por semana, dias de quarta-feira e de domingo, eram pouco frequentadas e o negócio, como negócio, cada vez mais se tornava precário.

Vendo a difícil situação, o empresário Antônio Martins Filho resolve arrendar o Cine-Rex; que passa a funcionar sob sua responsabilidade. Como primeira medida, muda o cinema de prédio, transferindo-o à Rua Aarão Reis, em um imóvel alugado (onde, anos depois, funcionou a agência do extinto Banco Bamerindus). Por sorte, Martins conseguiu bons filmes, preto e branco, o que provocou um aumento no número de espectadores.

O imóvel de cor laranja e amarelo foi a segunda instalação do Cine-Rex, à Rua Aarão Reis. O cinema funcionou nesse local até o ano de 1939, quando deslocou-se para a Rua Afonso Cunha. Ano da imagem: 2012.

Mas, essa situação durou pouco e logo Martins Filho resolveu passar o negócio para frente, já que não vinha lhe trazendo lucros, bem como atrapalhava os seus outros negócios comerciais. Dessa forma, passa o estabelecimento para o primo de sua mulher, o cirurgião-dentista caxiense Manoel Joaquim de Carvalho Neto, para que este assumisse a responsabilidade pelo restante de seu contrato de arrendamento. E é sob a direção de Carvalho Neto que o cinema começa a prosperar.

De sucesso imediato, os preços dos ingressos do novo cinema, em 1935, tinham o valor máximo de 2.000 réis (para os operários das fábricas locais, era cobrado o valor especial de 1.000 réis) . No ano seguinte, em 1936, a Assembleia Legislativa do Estado publicou no Diário Oficial: “Decretando e promulgando a lei que isenta de impostos de indústria e profissão, pelo prazo 10 anos, a Empresa Cinematográfica Falada ‘Cine-Rex’, de Caxias”. O destaque para o “Falada” se dava pelo fato de o som ter chegado ao cinema há menos de dez anos da data da publicação (foi implementado em 1927, com o filme “O Cantor de Jazz”).


Cine-Rex no dia da inauguração de sua sede à Rua Afonso Cunha.

Passados alguns anos em funcionamento à Rua Aarão Reis, Carvalho Neto decide transferir o seu cinema para um prédio próprio localizado na Rua Afonso Cunha (Calçadão). O imóvel, de arquitetura Art Decó, fora inaugurado em 28 de setembro de 1939. Contando com a presença de centenas de caxienses, a sessão inaugural exibiu o filme Rose Marie, de 1936, com os astros  Jeanette MacDonald e Nelson Eddy.

O novo prédio tinha cinco portas pantográficas, sendo que, na central localizava-se a bilheteria. Em sua sala de espera, encimando a parede, haviam retratos pintados dos astros da época, como Gary Cooper, Errol Flynn, Diana Durbim e Lana Turner. Com um total de 524 cadeiras, divididas por três fileiras (oito centrais e quatro laterais), o Rex tinha a sua tela posicionada em sentido contrário à sua entrada.

Logo abaixo de sua marquise, o Cine-Rex anunciava, em cavaletes, os cartazes dos filmes em exibição; bem como na esquina da Rua Afonso Cunha. Em uma era pré-trailers, o Rex colocava em sua antessala um quadro de cortiça exibindo lobby cards, em preto e branco, contendo algumas cenas dos filmes, para que, assim, o público tivesse uma noção maior do que iria assistir. As cadeiras, em madeira, eram reclináveis. A sala contava também com alguns ventiladores estrategicamente posicionados, mas que nem sempre amenizavam o calor inclemente de Caxias.

Alunos observam o cartaz posicionado na Praça Gonçalves Dias (à esquerda). Outros observam o cartaz, do Rex, do filme “Durango Kid – Barranco da Morte”, na esquina da Rua Afonso Cunha. Imagem da década de 1950.

Em seus primeiros anos, mais precisamente na segunda metade da década de 1940, o Cine-Rex sofria com o precário fornecimento de energia elétrica, que acabava prejudicando as sessões vesperais de Domingo. Ocorre que, nessa época, Caxias dispunha de luz das 18h até meia noite – um apito avisava o início e o fim da claridade. As caldeiras a vapor da Usina Dias Carneiro não aguentavam o dia todo e seus operários procuravam fazer um esforço adicional nas tardes de domingo, para alegria dos adeptos da sétima arte. Relembrando os tempos de criança, quem nos conta sobre essa passagem é o caxiense Antônio Augusto Ribeiro Brandão: ”

[Domingo] Depois do almoço, lá pelas duas horas da tarde, lá íamos nós em direção à Usina, a fim de incentivarmos os operários já empenhados, desde o meio-dia, na ‘alimentação’ das caldeiras, que precisavam de certo nível de pressão à custa de muita lenha e carvão. 

Essa operação levava tempo e podia fracassar, pois nem sempre os motores funcionavam na primeira tentativa de liberação dessa pressão a vapor. E aí, se tal acontecesse, tudo tinha de começar de novo e a vesperal daquele dia certamente ficaria para o próximo domingo, e ninguém suportava mais esperar para ver o resultado da célebre frase “voltem na próxima semana” exibida no seriado. 

Para que os motores funcionassem da primeira vez, contudo, também valia a torcida: aqueles garotos vidrados em cinema ficavam postados literalmente na ‘boca’ da caldeira, quase que encarnados nos homens suarentos pelo esforço de cada vez mais lenha e carvão. E tome pressão, e todos de olho no seu medidor; quando começava a chiar, acusando nível suficiente, era hora de transferir essa pressão para as engrenagens do motor, que havia de gerar a tão esperada luz. 

Na medida em que o vapor da caldeira ia sendo liberado, as correias começavam a deslizar e ir-e-vir pelas grandes rodas do motor, que dava seus primeiros sinais de vida e aos poucos ia acelerando seus movimentos, cada vez mais rápidos até que atingisse o nível adequado à geração da tão esperada luz. Às vezes todo esse esforço era em vão e o motor não conseguia ‘pegar’, e o processo deveria ser repetido; mas quando tudo dava certo, as palmas e os gritos ensurdecedores daquela torcida ensandecida saudavam as lâmpadas que se acendiam, em uma luminosidade cada vez mais forte. 

A seguir, em desabalada carreira, depois daquela enorme conjugação positiva de pensamentos e ações, tomávamos o rumo do cinema, anunciando a boa nova pelo caminho: chegou a luz! Depois, já acomodados nas poltronas de madeira e, de preferência, próximos a um dos ventiladores, suados e exaustos, dali em diante estaríamos atentos à telinha mágica, para aplaudir a vesperal daquele domingo. 

E assim que o prefixo musical começava a tocar, um famoso ‘dobrado’ dos tempos da Guerra, e as luzes iam diminuindo de intensidade até se apagarem por completo, todos gritavam como se fossem participar do maior espetáculo da terra.

Na década de 1940, o Cine-Rex rivalizava com o Cine-Pax, de Valdenor Lobo, que funcionava no antigo prédio do Rex à Rua Aarão Reis. E, diferentemente do Rex que priorizava os faroestes (como os seriados do cowboy Wild Bill Elliott) e musicais, o Pax dava preferência às comédias românticas.

“Às terças-feiras era o grande dia da ‘Sessão das Moças’, no Rex, um famoso apelo aos jovens da cidade e seus amores, que adentravam a sala de exibições à vista dos que já estavam sentados. Um verdadeiro desfile de modas!” relembra Brandão.

Com o tempo, as latas com as películas passaram a vir, em sua maioria, do Cine-Rex, de Teresina, que, objetivando baratear os custos, as buscava em Recife (PE) – capital que realizava a distribuição de todo o Nordeste -, e redistribuía para as cidades do interior do Maranhão e Piauí. Contudo, esse procedimento não era de todo benéfico, tendo em vista que as películas, exibidas diversas vezes em Teresina antes de aportar na princesa do sertão, acabavam muitas vezes chegando comprometidas, nos quesitos de som e imagem, devido ao uso excessivo.

Após suas estreias nos EUA, os filmes demoravam geralmente um ano para chegar ao Brasil. Isso para as grandes capitais. Nas cidades do interior, esse tempo era mais longo. 

As salas contavam com dois projetores à carvão que aos poucos era consumido. A necessidade de dois projetores, se dava pelo fato de que, no começo, a projeção em cada máquina estava restrita a 20 minutos, que era o tempo de consumo do carvão. Após esse tempo, o projecionista realizava a projeção na segunda máquina, enquanto era realizada a troca do carvão da outra. Os espectadores mais atentos conseguiam notar uma bolinha que aparecia piscando no canto da tela, sinal feito na película (muitas vezes, feito com a ponta do cigarro) pelo projecionista, que indicava o momento da troca de projetor. Contudo, nem sempre o projecionista estava 100% atento, o que acabava deixando a tela branca por alguns minutos, gerando uma gritaria e batida de pés do público na sala de exibição. Os gritos de “quero meu ingresso de volta!” não eram poupados.

Além dos longas-metragens, por volta das décadas de 1940 e 50 também eram muito populares os chamados “seriados” (exibidos após os filmes), que nada mais eram que versões arcaicas, geralmente de 15 episódios, das séries de televisão como conhecemos atualmente. Contudo, havia uma “pequena” diferença. Quando o episódio atingia o seu clímax – geralmente, quando onde o herói estava em alguma situação de perigo – , aparecia a seguinte mensagem na tela: “Não perca o próximo episódio. Semana que vem, neste cinema”. Se o espectador quisesse acompanhar o desenrolar da trama, deveria, nas semanas seguintes, desembolsar os valores dos demais ingressos. Em Caxias, um dos seriados mais famosos foi A Legião do Zorro, lançado originalmente em 1939; tinha 12 episódios. Para os mais curiosos, segue, abaixo, o primeiro episódio dessa cine-série:

No início da década de 1960, o Rex ainda sofria com problemas de fornecimento de energia elétrica. Talvez esse seja o motivo que o levou a funcionar, por um curto período, à Rua Afonso Pena. Em seu material publicitário o cinema passou a emitir o seguinte aviso: “A Empresa avisa que as sessões com intervalos são motivadas pela energia insuficiente para ligar as duas máquinas de projeção”. Em 26/09/1962, saiu uma nota no jornal “Nossa Terra” acerca do assunto: “Voltará a funcionar em breve essa casa diversional [Cine-Rex], com energia própria, segundo nos informou, em palestra, o seu proprietário. Dr. Carvalho Neto, já em entendimento com a praça de Recife para aquisição do material apropriado.”

Filmes como Du Barry Was a Lady (1943), Candelabro Italiano (1962), A Noviça Rebelde (1965), Spartacus (1960) e Dio, come ti amo! (1966) fizeram grande sucesso na sala do Rex. As belas estrelas do cinema italiano, a exemplo de Sophia Loren, arrebataram os corações dos adolescentes daquela época. Os clássicos bangue-bangues, bem como os filmes de kung-fu também eram a sensação. Para as crianças, haviam os desenhos (a grande maioria, dos estúdios Disney). Ao que se sabe, as películas eram, majoritariamente, dubladas.

Possivelmente, o período de maior popularidade do Cine-Rex tenha sido nas décadas de 1960 e 70. Ao menos, são os anos que mais permeiam a memória dos caxienses mais saudosistas. É por volta dessa época que começam a surgir os seus funcionários mais lembrados: Dona Maria Amélia, na bilheteria; Francisco Carvalho (Chico do Cinema), na portaria; Natan, na projeção; Alicate, recolhendo os bilhetes e colocando os cartazes dos filmes; dentre outros, cujo os nomes não foi possível lembrar.

“Havia um momento chamado de ‘a hora dos miseráveis’: próximo ao fim do filme, o Chico liberava e permitia a entrada dos que ficavam ali à espera” relembra Edimilson Sanches. À porta do cinema, ficava um senhor vendendo deliciosas balas de frutas aos espectadores. Na sala de exibição, também passava um jovem com um tabuleiro preso ao pescoço vendendo mais guloseimas. As balas de hortelã Mentex e Pipper eram as favoritas dos jovens.

Nesse período, os filmes ficavam em cartaz, geralmente, por dois dias (dependendo da receptividade ficavam até por, no máximo, uma semana), em sessões de 18:30 e 20:30. No Domingo, havia o matinal, de 10h às 12h; a vesperal, de 16h às 18h; e as sessões normais de 18:30 e 20:30. 

Quinta-feira era o dia de esteia de novos filmes, que ficavam em cartaz até a segunda, quando era realizada a renovação do catálogo.

Devido a sua grande quantidade de poltronas, bem como em virtude de seu palco, o Rex, além de cinema, também servia como o espaço de reunião do Centro Cultural Coelho Neto, uma sociedade que reunia diversos intelectuais caxienses. Além disso, muitos artistas locais e nacionais realizaram apresentações musicais em suas dependências.

Programação do Cine-Rex publicada no jornal Nossa Terra, no ano de 1961

Em 1967, o Armazém Paraíba chega a Caxias, e, para a sua instalação, adquiri os imóveis contíguos ao Cine-Rex. A empresa chegou, inclusive, a fazer ações em que realizava sessões gratuitas no Rex (imagem abaixo). Passados alguns anos, em novembro de 1980, visando uma expansão futura de sua filial, adquiri o imóvel do Cine-Rex, junto ao empresário Carvalho Neto. Destarte, o Rex passou a ser propriedade do empresário piauiense João Claudino Fernandes, que deu continuidade ao cinema – ainda que o ramo cinematográfico não fosse de seu interesse.

Ação do Armazém Paraíba junto ao Cine-Rex, no ano de 1973.

Até que, em maio de 1981, o Paraíba começa a expandir a suas instalações, e emite o aviso de que no prédio do Cine-Rex passará a funcionar a sua loja de móveis usados. O comunicado gerou grande comoção em Caxias, já que a cidade ficaria sem cinema. Contudo, o Armazém Paraíba logo informou que todo o maquinário e mobília do Rex estavam sendo vendidos para os srs. Santino Caldas Moreira e Sebastião Ferreira da Silva, que fundariam um novo cinema nas instalações do Palácio do Comércio (onde, anteriormente, havia funcionado o Cine-Glória).

E assim fora feito, no dia 11 de julho de 1981 era inaugurado o Cine-Alvorada, que contava com 400 cadeiras e 10 ventiladores, sendo “Alien – O Oitavo Passageiro” a película de estreia.

Dessa forma, com a demolição de sua estrutura, chegava ao fim inesquecível Cine-Rex, após mais de quarenta anos de história. Sendo, até hoje, o cinema mais longevo de Caxias.


Fontes de pesquisa: Depoimentos de Sebastiana Guimarães; Antônio Augusto Brandão; Joaquim Vilanova Assunção; João Oliveira; Nonato Ressurreição; Jornal O Imparcial; Jornal Cruzeiro; Jornal O Pioneiro; Jornal Nossa Terra; Livro Cartografias Invisíveis/Vários Autores; Site de Eziquio Barros Neto; Canal do YouTube de Marden Machado

Imagens da publicação: Internet; Google Maps; Jornal O Cruzeiro; Ac. IBGE; Facebook; Jornal Nossa Terra; Jornal O Pioneiro; Ac. de Silas Marques Jr.

Restauração e Design de imagens: Brunno G. Couto

A história da Euterpe Carimã, a primeira banda marcial de Caxias

Antônio Marcellino Rodrigues Carimã Junior

Não se sabe ao certo o nome do fundador da Euterpe caxiense. Consta, entretanto, tratar-se de um padre. Por outra lado, há documentação exata da data de início de sua vida social: 16 de novembro de 1848, uma quinta-feira. Os seus componentes iniciais eram a seleção dos melhores músicos da cidade, alguns pertencentes a alta sociedade local. Motivos diversos, porém, levaram-na a pleno declínio em começos de 1870.

Nesse período, chega à Caxias o hábil alfaiate e apreciado musicista ludovicense Antônio Marcellino Rodrigues Carimã Junior. Rapaz novo e orgulhoso proprietário de um Stradivarious, que tomou para si o encargo de reorganizar a “Euterpe”. Para tamanha empreitada, juntou-se ao clarinetista Antônio de Sousa Coutinho, que fora seu mestre e com quem repartiu os louros e os dissabores da empresa. Com essa restruturação, a Euterpe passou a se chamar “Euterpe Carimã”, em homenagem ao seu comandante .

Curiosidade: O aclamado maestro caxiense Elpídio Pereira recebeu as primeiras lições de música nas salas de ensaio da Euterpe Carimã.
Antônio Carimã, afilhado.

Primeiramente, a Euterpe era somente uma banda de músicas marciais, apenas na virada do século é que a Orquestra é posta em ação. Em 19/04/1907, morreu Antônio Carimã Junior; o músico – que também era agente dos Correios de Caxias – contava com mais de 60 anos de idade e era solteiro. Com a morte do amigo, Coutinho passou o comando da Euterpe a Antônio Carimã, afilhado, que não desmereceu a confiança. A sua gestão, porém, foi curta, haja vista o seu falecimento em 09/07/1913.

Sem direção, os músicos decidiram passar a chefia a uma tradicional família caxiense de músicos, representada nas pessoas do trombonista Alfredo Beleza e de seu irmão Mário Pinho, soprano.

Em 1928, a Euterpe Carimã comemorou o seu 81 aniversário, sendo realizada uma grande festa nas dependências do Teatro Fênix. Esse período foi o auge da orquestra, onde realizou apresentações por diversas cidades do Maranhão e Piauí. O seu repertório era vastíssimo, sendo composto de trechos clássicos às últimas novidades musicais, bem como composições locais. Em sua primeira excursão a São Luis, em julho de 1929, a Euterpe apresentou-se em praça pública e no Teatro Arthur Azevedo.

Após a aclamada apresentação no Teatro Arthur Azevedo, no dia 29/07/1929, o povo entusiasmado acompanhou a Euterpe Carimã até o quartel da Força Policial, erguendo vivas a Caxias e a seus músicos.
Fotografia da Euterpe Carimã, no ano de 1928.

Nesse período a Euterpe era composta por 24 músicos (imagem abaixo) divididos nos seguintes instrumentos: violino A e B; saxofone, alto bemol e soprano; clarinete, piston, trombone, contrabaixo de metal, bateria, xilofone, pandeiro, flauta e flautim.

*Devido a um erro de digitação, o nome de um dos músicos acabou saindo errado. A grafia correta é “Canário”.


Em 1936, a Euterpe Carimã sofre uma grande perda. Na ocasião, os músicos estavam a bordo da lancha “Itamar” que partia de Colinas à Caxias. Por alguma razão desconhecida, a embarcação envolveu-se em um acidente. O desastre acabou tirando a vida do músico Benedito dos Santos, vulgo Camburão, que morreu afogado.

Em 1937, com o falecimento do Mestre Alfredo, a Banda passou para os filhos, porém os dois mais novos, José Alfredo e Mário, discordaram da disciplina rigorosa e enérgica dos mais velhos e tradicionalistas, Durval e Josias, o que resultou numa dissidência; os músicos também estavam divididos entre uma nova forma de fazer música e continuar com o mesmo estilo, assim a orquestra Carimã encerra temporariamente suas atividades.

Josias integrava a Euterpe desde os quatro anos de idade, tendo iniciado tocando triângulo. Assumiu a direção já na segunda metade da década de 1920, em virtude da idade avançada do pai.

Por volta de 1938, após retornar de uma temporada residindo no Norte do país, Josias reata a relação com os irmãos, que decidem retornar com a Euterpe Carimã sob sua liderança. Agora chamada de Goiabada, a orquestra voltou a tocar em festas, eventos religiosos e civis, carnavais e até em partidas de futebol.

Ainda àquele ano, a orquestra fora se apresentar na cidade de União, no Piauí. Foi então que seu irmão José Alfredo, ao separar o mais novo, Mário, de uma briga, fora gravemente ferido, o que acabou acarretando em sua morte. Após a tragédia, os músicos decidiram encerrar de vez a nonagenária Euterpe Carimã “Goiabada”. Com o fim da orquestra, Josias se mudou para o Rio de Janeiro, onde deu prosseguimento em sua carreira de músico. Mário e Durval continuaram em Caxias. Um montou o primeiro conjunto de Caxias; o outro ingressou na banda de música Lira Caxiense, recém-fundada. O restante dos músicos integrou outras bandas e orquestras caxienses que estavam em atividade, tais como a própria Lira e a “14 de julho”.

Apenas em 2019, mais precisamente no dia 07 de setembro, após mais de 70 anos em inatividade, é que a Euterpe Carimã volta a ativa. Diferentemente de suas antigas formações, agora a Euterpe conta com a participação mista de homens e mulheres em seu corpo musical. Sob a direção do maestro Neto Carvalho, a banda conta com 30 ritmistas e 16 instrumentistas de sopro, somando 46 integrantes (dados do ano de 2019).

A Euterpe Carimã em fotografia do ano de 2019.

Fontes de pesquisa: Jornal Pacotilha; Jornal de Caxias; Jornal O Imparcial; A Música em Caxias: Um Prolífico Centro Musical no Sertão Maranhense/Autor: Daniel Lemos Cerqueira; Livro Cartografias Invisíveis/Texto de Raimundo Ressureição; Jornal Cruzeiro; Site da Prefeitura de Caxias

Imagens da publicação: Jornal O Imparcial; Ac. do IHGC; Reprodução do YouTube

Restauração e Colorização: Brunno G. Couto

O antigo casarão colonial da Praça Gonçalves Dias

PARTE DO CASARÃO VOLTADA PARA O LARGO DO POÇO (ATUAL PRAÇA GONÇALVES DIAS).
FRANCISCO VILLA NOVA

Construção colonial em pedra, no século XIX este casarão pertencia a Alarico José Vilanova. Posteriormente, foi adquirido pelo coronel Francisco Raimundo Villanova (prefeito de Caxias no período de 1934/1935), onde passou a residir junto a sua família, bem como montou sua casa comercial. No seu entorno, existia um olho d’água do extinto Riacho da Pouca Vergonha.

A extensão do imóvel chamava atenção dos caxienses, sendo composto por doze portas e sete janelas, que se estendiam na esquina do antigo Largo do Poço (atual Praça Gonçalves Dias) e da Rua Afonso Pena.

O CASARÃO EM 1920

Na parte voltada à praça, era a sua casa comercial, e na parte da Rua Afonso Pena, sua residência. A chamada “Casa Vilanova” ostentava em sua fachada o desenho de uma águia ladeada por duas faixas com os dizeres: “Comércio e Lavoura”. Ali, Chico (como era mais conhecido) Vilanova atendeu os seus clientes até avançada idade.

Além do comércio do coronel, também operou por muitos anos em suas dependências a escola de datilografia de sua filha, Jacyra Vilanova. Um dos diferenciais arquitetônicos do casarão era o seu mirante de duas pequenas janelas, exemplar único de Caxias.

PARTE DA FACHADA DO IMÓVEL, ONDE É POSSÍVEL OBSERVAR O DESENHO DA ÁGUIA JUNTO ÀS DUAS FAIXAS. ANO: 1950.
RUA AFONSO PENA; ANO: 1942.
1: RESIDÊNCIA DA FAMÍLIA VILANOVA, BEM COMO ONDE FUNCIONOU A ESCOLA DE DATILOGRAFIA.

2: RESTANTE DO ESTABELECIMENTO COMERCIAL “CASA VILANOVA”

Na década de 1960, no local da Casa Vilanova passou a funcionar a Farmácia São José. Por volta da década seguinte, o centenário mirante fora demolido; os descendentes da família Vilanova venderam parte dos prédios, que começou a abrigar pequenos comércios – como funciona até os dias de hoje. O imóvel, atualmente, encontra-se bastante descaracterizado, mas ainda mantem alguns elementos originais, como seu beiral.

UMA DAS ÚLTIMAS FOTOGRAFIAS ANTES DA DEMOLIÇÃO DO MIRANTE. ANO: 1976.

Abaixo, um comparativo do imóvel no anos de 1920 e 2012. Para visualizar, arraste a bolinha central para os lados:


Fontes de pesquisa: Livro Por Ruas e Becos de Caxias/Autor: Eziquio Barros Neto; Depoimento de Antônio Augusto Ribeiro Brandão; Site de Eziquio Barros Neto

Imagens da Publicação: Ac. de Eziquio Barros Neto; Internet; Álbum do Maranhão de 1950; Revista Athenas; Ac. do IHGC

Restauração: Brunno G. Couto

O antigo sobrado colonial do largo da Matriz

Localizado na esquina da atual Rua Gustavo Colaço com a Travessa Caetano Carvalho, no largo da Igreja Matriz, o antigo sobrado colonial pertencia a Antônio Bernardo da Silveira, e já estava edificado pelo menos desde o ano de 1814. Quem nos conta a história do proprietário é o pesquisador caxiense Eziquio Neto: “Bernardo era advogado, Comandante da Guarda Nacional ligado ao Partido Liberal, conhecido como Bem-Ti-Vi, e, por isso, acabou sendo detido durante a revolta da Balaiada pelo apoio aos rebeldes. Seu irmão, Bernardo Antônio da Silveira, foi acusado de ter enviado comunicação a Raimundo Gomes, líder da revolta, a ocupar Caxias em vingança ao assassinato de Teixeira Mendes, em 1837.”


O sobrado em fotografia do início do século XX.

Anos depois, em 1874, a situação do imóvel já era preocupante, de acordo com relatório da Câmara Municipal: “Pede licença igualmente a esta câmara para vender a sexta parte que possui no sobrado da praça da Matriz, que está em mau estado, o qual sendo ILEGÍVEL por Antônio Bernardo da Silveira, que não tem feito os reparos necessários, terá de ficar completamente arruinado”. Com a morte do proprietário, o casarão passou a seus herdeiros, até que fora adquirido pelo comerciante Clemente das Chagas Cantanhede, juntamente com alguns imóveis que o ladeavam.

Na década de 1940, o imóvel passou a hospedar a “Movelaria Carioca” da firma Plosk & Seloni, de Salomão Plosk e Henrique Seloni, respectivamente. Plosk, experiente comerciante, já havia fundado, no ano de 1935, em São Luis, a matriz de sua movelaria. Visando expandir o seu negócio, junta-se a Henrique (que residia em Caxias) para fundar uma filial na princesa do sertão. A movelaria era especializada em comercializar móveis ricamente trabalhados em madeiras de primeira qualidade.


Fotografia do casarão quando abrigava a Movelaria Carioca, da firma Plosk & Seloni. Imagem da década de 1940.

A empreitada não teve vida longa, tendo o imóvel, em 1944, recebido uma drástica reforma, perdendo o aspecto colonial de seus beirais e ganhando elementos Art Decó. Entre as décadas de 1950 e 1960, foi comprado por Lamek Teixeira Mendes, passando a funcionar, na parte de cima, o Hotel Colinas, de propriedade de sua esposa, Maria Barros. No térreo funcionou a Casa de Modas, de Alderico Silva.

O sobrado após a ampla reforma realizada. Fotografia, provavelmente, da década de 1960.

Infelizmente, o casarão foi demolido por volta da década de 1970, sendo construído, em seu lugar, um espaço que abrigou diversos pontos comerciais.


Local onde situava-se o casarão, em imagem de 2012.

Fontes de pesquisa: Livro Por Ruas e Becos de Caxias/Autor: Eziquio Barros Neto; Hemeroteca Digital

Imagens da publicação: Internet; Ac. do IPHAN; Ac. do IHGC; Google Maps

Restauração e Colorização: Brunno G. Couto

A História do Calçadão (Rua Afonso Cunha)

Com sua história remontando, provavelmente, ao século XVIII, esta rua foi inicialmente nomeada de Rua Augusta. É durante o século XIX, quando o comércio migra da região portuária da Rua do Porto Grande (atual Anísio Chaves) e vem para o centro, que a então Rua Augusta passa a ser uma estratégica e importante via comercial; onde, objetivando atender a uma clientela mais exigente e abonada, ali instalaram-se diversas lojas que comercializavam produtos vindos da Europa.

Ligando os largos da Matriz e do Poço (atual praça Gonçalves Dias), a rua supracitada sempre foi muito movimentada, não só por transeuntes, como também por inúmeros animais de carga. Apesar de legalmente previsto anos antes, é apenas por volta de 1866 que a via recebe a iluminação de alguns lampiões a óleo.


A então Rua Dias Carneiro em fotografia de 1920. Ao fundo, o largo da Matriz.

Em 1896, com o falecimento do industrial Francisco Dias Carneiro, a Câmara de Caxias alterou, em sua homenagem, o nome da via para Rua Dias Carneiro. Nome, esse, que permaneceu por mais de 50 anos, mais precisamente até o ano de 1948, quando o então prefeito da cidade, Eugênio Barros, alterou o seu nome para Afonso Cunha, em homenagem a este ilustre caxiense falecido no ano anterior.


Rua Afonso Cunha em fotografia de 1950. Ao fundo, a praça Gonçalves Dias.

Essa rua, até o início do século XX, não possuía calçamento. Até que, entre 1900 e 1910, recebeu calçamento em pedra bruta. No início da década de 1930, durante a administração do prefeito Alcindo Guimarães, as pedras foram substituídas por paralelepípedos que perduraram até 1937.

Na década de 1960, na esquina que faz ligação com a Rua Coelho Neto, é que começam a se instalar barracas de frutas, sendo essa mudança bastante criticada. Dentre tantas, uma das reclamações afirmava que, em pouco tempo, a via iria se tornar um mercado a céu aberto, vendendo, inclusive, animais abatidos. Apesar da insatisfação popular, nada foi feito. Com o passar dos anos, cada vez mais e mais barracas foram se instalando no meio da via; passando, assim, a competir e dividir espaço com os lojistas e residências que a circundavam.


A via vista a partir da esquina com a Rua Coelho Neto; local onde, nessa época, começaram a instalar-se as primeiras barracas de frutas. Fotografia da década de 1960.

Com o aumento constante do número de barracas, o trânsito de veículos e pedestres começou a dificultar-se. Transformar a rua exclusiva para o comércio passou a ser um sonho dos lojistas. Até que, em 1989, o prefeito Sebastião Lopes atendeu os pedidos e fechou a rua. Em agosto daquele ano iniciaram-se as obras de drenagem da via, a pavimentação em pedras portuguesas, bem como a instalação de bancos e paisagismo. Após a ampla reforma, a Rua Afonso Cunha passa a ser conhecida popularmente como Calçadão.


Bancos instalados após a grande reforma da rua. Imagem do ano de 1995.

Mesmo após a reforma, muitas barracas voltaram a se instalar na rua. Além disso, os lojistas do ramo de tecidos colocavam os seus produtos expostos no meio da via. Dificultando mais uma vez o trânsito da população. E assim, no fim da década de 1990, a Administração Pública percebeu que os jardins e os bancos, unidos ao aumento dos camelôs, mais atrapalhavam que ajudavam. Dessa forma, foi providenciada a demolição de suas estruturas, o que, consequentemente, aumentou o número de ambulantes.


Lojistas colocavam os seus produtos em exposição no meio da via. Imagem de 1995.

Até a produção desta matéria, estão em curso as obras do shopping popular na Avenida Otávio Passos; onde, segundo o Poder Público, serão realocados os ambulantes da Rua Afonso Cunha. Descongestionando, dessa forma, o histórico logradouro.


Fonte de pesquisa: Livro Por Ruas e Becos de Caxias/Autor: Eziquio Barros Neto

Imagens da Publicação: Internet; Álbum do Maranhão de 1950; Acervo de Aluízio Lobo; Reprodução TV Paraíso.

Restauração e Colorização: Brunno G. Couto

Caxiense lançará autobiografia

No dia 08 de novembro, o economista, Antônio Augusto Ribeiro Brandão, lançara sua autobriografia. Na obra, além de muitas outras histórias, o autor – pertencente a uma tradicional família caxiense – , contará sobre sua infância e juventude na cidade de Caxias; uma ótima oportunidade aos que desejam conhecer um pouco mais sobre o passado da cidade.

Com lançamento virtual, o evento ocorrerá através de uma live no Instagram da Amei Livraria, conforme informações no banner abaixo. Aos que quiserem realizar a compra em pré-venda da obra, a editora também disponibilizou um número e e-mail de contato (abaixo):