Toda cidade, principalmente as de interior, tem aquelas figuras excêntricas que integram a sua história. Popularmente – e pejorativamente – chamados de “doidos”, esses indivíduos marcam tanto o imaginário da população, que, vez ou outra, os seus mirabolantes apelidos são relembrados em rodas de conversa. Nomes como: “Pipoca”, “Pipoco”, “Meio-Quilo”, “Me dá um dinheiro aí”, “Manga Rosa” etc., são alcunhas que não saem da memória dos mais saudosistas.
Apesar da fama que levam, são figuras que pouco se sabe a história pretérita – nome de batismo, idade, ramo familiar etc. E fazendo parte desse rol de “malucos”, estava – talvez o mais famoso deles -, João Golinha. Figura muito popular nas ruas caxienses durante as décadas de 1940 à 1960, que chegou, inclusive, a protagonizar uma crônica de autoria do clérigo caxiense Mons. Arias Cruz.
Como não poderia ser diferente, quase nada se sabe sobre as origens de João Golinha; apenas seu nome de batismo: João Batista Siqueira. É provável que o apelido “Golinha” seja em referência à pequena ave (de cor preto e branco) de mesmo nome. Alto, esguio, de pele morena, rosto alongado e cabelos longos, trajava sempre a mesma indumentária: calça e blusão da mesma cor, cinza, um grande terço pendente do pescoço e rosário na mão. Devido a falta do asseio regular, o seu cheiro não era dos melhores. Invariavelmente andava com papelões em baixo do braço e com uma pequena lata de leite condensado vazia, ou já abastecida com café, que saia pedindo de porta em porta. Sobre esse ritual do andarilho, o caxiense Antônio Augusto Brandão relembra as visitas matinais que João Golinha fazia à casa de sua família à Rua Benedito Leite: “Certos dias chegava na hora do café. Pedia água – que sorvia em goles empunhando a garrafa de certa altura da boca -, manteiga – que misturava ao café -, pão e tudo mais que tinha direito. Depois dessa primeira refeição, ajoelhava-se no meio da sala e rezava à sua maneira, em voz alta, pausada e clemente a Deus, agradecido pela acolhida e desejando mil venturas para a sua ‘santa’ Nadir, minha mãe, e seu esposo Brandão, meu pai”.
Muito religioso, João Golinha era adepto do ecumenismo, frequentava desde as missas católicas aos cultos protestantes (sendo mais assíduo nas celebrações católicas). Assim que entrava na igreja, fazia o sinal da cruz e começava a rezar em tom de voz barulhento, o que não era bem visto pelos fiéis, bem como pelo respectivo celebrante. Quando o relógio marcava meio-dia, era hora de João Golinha rezar ajoelhado no meio da Praça Gonçalves Dias, sendo este comportamento alvo de diversas zombarias pelos que ali passavam. Não deixava barato. Xingava e discutia com todos os que se atreviam a ridiculariza-lo. Contudo, por ser dono de uma personalidade inofensiva, não chegava as vias de fato.
Apesar do comportamento que fugia da normalidade, Golinha frequentava as casas de várias famílias, gozando da proteção de todas, e não poucas crianças lhe pediam a benção (na maioria dos casos, por medo). Na hora do almoço, voltava a bater nas portas em busca de um prato de comida, como relembra Brandão: “Na hora do almoço o ritual era diferente: vinha vestido com a mesma roupa de sempre, mas todo molhado. É que havia banhado, nu, no nosso querido rio Itapecuru; como não gostava de toalha, vestia a roupa assim mesmo, sem enxugar-se. E saia do rio pela rua do Porto Grande, a pé, sol a pino, no rumo certo da nossa casa, para fazer sua segunda e pródiga refeição. Comia o que gostava mais, num prato fundo: arroz bem farto, muito feijão, assado de panela, farinha seca e muita pimenta. Depois, como se vivesse em país onde tal procedimento é demonstração de ter gostado da comida, dava o maior arroto!”.
Quando o céu caxiense escurecia, Golinha passava desejando “boa noite” às famílias que se encontravam proseando à porta de casa. Era hora de repousar para no dia seguinte sair batendo perna pela cidade, cumprindo o mesmo ritual de sempre.
João Golinha faleceu no ano de 1963, em idade desconhecida. Infelizmente, não se tem notícia de nenhum registro fotográfico seu – a sua imagem ficou restrita à memória daqueles que o conheceram pessoalmente. Dois anos após a sua passagem para o plano superior, Mons. Arias Cruz publicou uma crônica em sua homenagem, onde ao fim do texto escreveu: “[João Golinha] Em tudo o mais ‘era um amor’.
Fontes de pesquisa: Jornal do Maranhão; Crônica “Tipos Inesquecíveis” de Antônio Augusto Ribeiro Brandão; Livro Quinteto/Autor: Libânio da Costa Lôbo
Nachor de Araújo Carvalho nasceu em Caxias, no dia 15/04/1893, filho do segundo casamento de José Firmino Lopes de Carvalho com Raimunda Ribeiro Carvalho. Vindo de uma família extensa, era irmão de: João Batista de Moura, Joel Carvalho, Oziel Carvalho, Azor Carvalho Serejo, Jozias Carvalho, Agar de Carvalho Serejo, Constância de Carvalho Kós, Ester de Carvalho Kós, Nadia de Carvalho Chaves, Judith Carvalho, Amélia Carvalho, Angélica Carvalho e Julia Carvalho.
Ainda na juventude, iniciou a vida de trabalho como mecânico. Posteriormente, passou a ser balconista da Loja Paulista, localizada na Praça de Gonçalves Dias; sendo designado pela firma para gerir a sua filial de Floriano, no Piauí, após casar-se com d. Olinda Castelo Branco de Almeida (mais conhecida como d. Lindoca). Como gerente da loja piauiense, a sua digníssima esposa passou a auxiliá-lo como caixa. Por motivos de ordem econômica, Nachor volta à Caxias, onde passa a trabalhar na firma Almir Cruz & Cia.
Nachor, em fotografia da década de 1930.
Com algumas economias que tinha começou a investir, por conta própria, na compra e venda de babaçu. Posteriormente, montou uma sociedade junto a Manoel Teixeira Lima. Com o sucesso obtido, juntou-se a José Manoel de Araújo e José Ferreira Guimarães Junior, firmando-se como representante comercial. Não demorou muito para que o jovem empresário viesse a fundar a sua própria firma a Araújo Carvalho & Cia, tornando-se um dos homens mais ricos de Caxias. Era também acionista da CIA de fiação e tecidos União Caxiense S/A, chegando a ser um de seus diretores. Quando da inauguração do Banco de Caxias – estabelecimento de créditos para indústria, lavoura e comércio -, em 1936, foi o seu primeiro Presidente.
Nachor era um grande amante das artes e das novidades. Sendo um dos primeiros caxienses a ter um carro, e o primeiro a ter um rádio. Muitos cidadãos dirigiam-se a seu bangalô, à Rua Afonso Pena, com intuito de ouvir as partidas da Copa do Mundo. Segundo o pesquisador Eziquio Neto, o empresário também era apaixonado por futebol e carnaval. No mundo futebolístico, era membro do clube “Maranhense Sport Club”. E no mundo dos confetes e serpentinas, era um grande incentivador de diversos blocos brincantes, sendo chefe do grupo “Queima com Água”.
Contudo, sua maior contribuição para sua cidade natal ocorreu em 1929, quando levou a luz elétrica para as ruas de Caxias. Através de sua Usina Dias Carneiro – primeira usina geradora de energia da cidade -, Caxias pôde sair da breu noturno. Alguns anos depois, em 1934, fora um dos membros fundadores do Cassino Caxiense.
Internado no Hospital Português, em São Luis, Nachor Carvalho faleceu no dia 22/07/1962, aos 69 anos de idade. Em sua homenagem fora dado o seu nome ao terminal rodoviário de Caxias.
Fontes de pesquisa: Jornal Nossa Terra; Jornal do Commércio; Livro Por Ruas e Becos de Caxias/Autor: Eziquio Barros Neto.
Clóvis Labre de Lemos nasceu em Caxias (MA), no dia 04/05/1918, filho de José Joaquim de Lemos Filho e Filomena Labre de Lemos. Era irmão do vereador caxiense Waldemar Labre de Lemos. Após cursar as primeira letras em Caxias, Clóvis partiu para o sul do país, onde concluiu os estudos.
Entrou para o serviço militar em 17/04/1936, há poucos dias de atingir a maioridade, na Escola Militar do Realengo, no Rio de Janeiro; e estas foram as suas promoções (em ordem cronológica): Aspirante (25/12/1938), 2 Tenente (25/12/1939), 1 Tenente (19/01/1942), Capitão (08/08/1944), Major (02/10/50), Tenente-Coronel (15/01/1054) e Coronel (20/01/1959).
Labre de Lemos, em 1972.
Membro da Força Aérea Brasileira, o então Tenente Aviador Labre de Lemos combateu na Segunda Guerra Mundial, a partir da Base Aérea de Santa Cruz, no Rio de Janeiro; período em que participou de um importante acontecimento. No dia 03/07/1943, um avião Hudson A-28A, pilotado por Labre Lemos, com tripulação da FAB, estava empenhado, desde a madrugada, no esclarecimento da área marítima compreendida entre Santa Cruz e Paranaguá, visando á proteção de um comboio que sairia de Santos com destino ao Norte. Por volta de 11 horas da manhã, esse avião localizou um submarino alemão U-199, a cerca de 120 milhas ao largo de Santa Cruz, o qual navegava na superfície com a proa aproximada da ilha de São Sebastião, à altura da qual deveria passar o comboio, no fim da tarde. O submarino foi atacado, no momento exato em que iniciava o seu mergulho, porém um curto-circuito, no sistema lançador de bombas, impediu que essas se soltassem. Só no dia 31 de julho, às primeiras horas da manhã, é que um Martin PBM-3C Mariner do esquadrão VP-74 (USN), baseado no Rio de Janeiro, localizou e atacou o submarino. O U-199 foi danificado mas não afundou, e permaneceu atirando com suas peças de artilharia antiaérea no PBM-3C.
Na década de 1940, com a família ainda residindo em Caxias, Labre de Lemos fazia visitas constantes à cidade. Exímio piloto, quando vinha rever d. Santinha (como sua mãe era carinhosamente chamada), dava voos rasantes pelo céu da princesa do sertão, alertando para irem busca-lo no campo de aviação. Imagens que não saíram da memória do pequeno garoto, Antônio Augusto Brandão, que, depois do espetáculo aéreo, via o aviador partir em direção à residência da mãe, à Rua 15 de novembro (atual Av. Nereu Bittencourt).
Labre de Lemos (canto esquerdo) no momento em que era condecorado.
Em 1960, publica a obra “A Marinha Brasileira deseja aviação própria”. Em 1961, é nomeado por Juscelino Kubitschek, então Presidente da República, Adido Aeronáutico em Santiago, no Chile. Ali, em 1961, participou, junto a outros membros da FAB, da ponte-aérea, em socorro às vítimas dos terremotos que atingiram o país; pelo seu trabalho, recebeu, das mãos do embaixador Bazán Dávila, o título de “Membro Honoris Causa da Força Aérea do Chile”.
Naquele mesmo ano, publica um importante estudo sobre Aviação Embarcada, sendo agraciado com a Medalha-Prêmio “Força Aérea Brasileira”, através de decreto do presidente João Goulart. Em 1962, é nomeado Adido Aeronáutico junto as Embaixadas do Brasil em Montevidéu e Buenos Aires. Exonerado do antigo posto, em 1964, o Coronel Labre é nomeado para exercer a função de comandante na base aérea de Canoas (RS).
Brigadeiro Labre de Lemos (segundo da esquerda para direita), entre outras autoridades da aeronáutica brasileira, em 1969.
Em 22/05/1966, o Coronel faz uma visita à sua cidade natal, integrando a comitiva do presidente Humberto Castelo Branco que veio à Caxias a convite de Aluízio Lobo, então prefeito municipal.
Junto ao Gov. Sarney, Dep. Alexandre Costa, Prefeito Aluízio Lobo e outras autoridades, o então Coronel Labre de Lemos marcou presença durante a visita do Presidente Castelo Branco à Caxias, em 1966.
Em 12/10/1966, Labre de Lemos é promovido pelo presidente, Castelo , ao posto de Brigadeiro. Nesse ano, é designado para as funções de subchefe de Gabinete do Estado Maior da Aeronáutica. Em 1967, através de decreto do presidente Costa e Silva, é nomeado ao cargo de comandante da 6 Zona Aérea de Brasília; recebendo, àquele ano, a medalha “Passador de Prata”, pelos mais de 20 anos de serviço.
Em 05/11/1968, o brigadeiro Labre de Lemos, junto a diversas autoridades, recepcionou a Rainha Elizabeth II e seu esposo, Príncipe Phillip, em sua chegada à Base Aérea de Brasília. Na ocasião, o brigadeiro fora apresentado pelo chefe do cerimonial do Itamaraty à família real inglesa.
Cel. Alzir Nunes (Comandante da PM), Brigadeiro Labre de Lemos (seta vermelha), Cel. José Luiz de Fonseca Peyon e Cel. Valle; acompanhados de suas esposas, no Teatro Nacional durante a escolha da Miss Brasília 1969.
Já Brigadeiro, em 30/03/1969, Labre retorna à Caxias para a inauguração da Praça Duque de Caxias, no Morro do Alecrim. Na ocasião da cerimônia, foram trazidos os restos mortais de Duque de Caxias, que estavam no Rio de Janeiro. É possível que essa tenha sido a última visita do Brigadeiro ao município.
Labre de Lemos (centro), em Caxias, ao lado da professora Talita Guimarães, em 1969.
Em 1969, o turboélice Bandeirante, primeiro avião de fabricação inteiramente nacional, fez o seu primeiro voo. Junto a Costa e Silva (Presidente da República), Márcio de Souza e Melo (Brigadeiro Ministro da Aeronáutica), Dióscoro Vale (General Comandante Militar do Planalto) e Jaime Portela (General Chefe do Gabinete Militar); o Brigadeiro Labre de Lembos marcou presença na solenidade do voo inaugural, em Brasília.
Clóvis Labre de Lemos (identificado com a seta), durante o voo inaugural do Bandeirante, em 1969.
Em 1968, o Brigadeiro Lemos é designado ao Rio de Janeiro para comandar a Força Aérea de Transporte do Galeão. Para a sua despedida do DF, o Ministro do Superior Tribunal Militar, Ernesto Geisel, ofereceu um almoço. E assim, o Brigadeiro, junto a esposa Carmem Lemos, parte para o Rio. Em 22/04/1971, já como General, é condecorado Major-Brigadeiro. Em 1972, o Presidente assinou decreto nomeando-o ao cargo de Comandante do Transporte Aéreo (COMTA). No ano seguinte, é nomeado ao cargo de comandante de formação e aperfeiçoamento. Em 1974, assume o Comando do Pessoal da Aeronáutica, no cargo de Comandante-Geral do Pessoal do Ministério. E em 1976, foi exonerado do cargo de subcomandante e subdiretor de Estudos da Escola Superior de Guerra (ESG).
Depois dessa fase, pouco se sabe sobre Labre de Lemos. Até 30/06/1971, o Brigadeiro somava mais de 8 mil horas de voos. Acumulando muitos cursos e condecorações – dentre os quais o de Comendador da Ordem do Mérito Militar – , o caxiense só volta as páginas dos jornais, em 1981, ao publicar a livro “Do Lado da Cortina de Ferro-Impressões de Viagens”.
Brigadeiros da FAB, durante a cerimônia em homenagem ao centenário de Santos Dumont, promovida pela Revista Manchete, em 1973.
Apesar da carência de fontes, tudo indica que Clóvis Labre de Lemos faleceu no Rio de Janeiro, entres as décadas de 1980-1990. O aviador da nome a uma praça em Caxias.
Fontes de pesquisa: Diário de Notícias (RJ); Depoimento de Antônio Augusto Ribeiro Brandão; Correio Braziliense (DF); Correio da Manhã (RJ); Jornal do Brasil (RJ); Notícias do Exército; Revista Manchete (RJ); Livro Por Ruas e Becos de Caxias/Autor: Eziquio Barros Neto; Site rudnei.cunha.nom.br
Imagens da Publicação:Acervo do IHGC; Diário de Notícias (RJ); Internet; Correio Braziliense (DF); Acervo de Aluízio Lobo; Correio da Manhã (RJ); Jornal do Brasil (RJ); Revista Manchete (RJ).
“Sonhar é fácil. Difícil é transformar o sonho em realidade. Este é o desafio que sempre enfrentei ao longo da vida” – Antônio Martins Filho
Martins Filho, em 1938.
Antônio Martins Filho nasceu no Crato (CE), no dia 22/12/1904, filho de Antônio Martins de Jesus e Antônia Leite Martins. Na infância, foi considerado uma criança problemática. Enquanto alguns membros da família não acreditavam em seu sucesso na vida, a sua avó, Maria da Soledade, afirmava: “Antônio é um menino ativo, um menino inteligente. Antônio vai ser muita coisa na vida”.
Aos 11 anos de idade, Martins Filho consegue o seu primeiro emprego, trabalhando como aprendiz de tipógrafo no periódico Gazeta Cariri, no Crato. Nessa época, o jovem também passou a se destacar como intelectual: poeta e, principalmente, orador. Fundando, junto a alguns colegas, a Academia dos Infantes, que tinha como patrono o poeta Augusto dos Anjos.
Posteriormente, passa a atuar como caixeiro viajante para a firma Lundgren & Cia. Ltda, proprietária das lojas “A Pernambucana” e “A Paulista”, espalhadas nos Estados do Ceará, Piauí, Maranhão e Pará. “Eu andava às turras com o gerente da loja do Crato, onde trabalhava, como caixa das vendas a retalho. O gerente era um homem capaz, porém bastante grosseiro e, às vezes, até agressivo. Pensava em despedir-me do emprego, quando a Casa Matriz da firma, em Fortaleza, convidou-me para gerenciar sua filial de Caxias, no Maranhão. Minha família não recebeu de bom grado a minha ida para Caxias, mas aceitei a oferta e, em breve, assumi as funções do meu novo cargo” relembraria Martins Filho anos mais tarde.
Casa Paulista (canto esquerdo), em 1920. Atualmente, em seu local, funciona uma agência do Banco Bradesco.
Chega à Caxias, em 1925, aos 21 anos de idade. A loja “A Paulista”, a qual Martins gerenciava, localizava-se à Praça de Gonçalves Dias (onde, atualmente, localiza-se o Banco Bradesco). Combinando o seu lado intelectual ao seu tino comerciário, Martins Filho fazia versos para divulgar a sua casa comercial – como o próprio explica no vídeo abaixo:
Martins e Maria, em 1927, no dia do seu casamento em Caxias.
Em Caxias, sua cidade adotiva, Martins Filho, até então solteiro, conhece a jovem Maria Tote de Moura Carvalho, filha de Nephtaly Carvalho e Dolores Moura. Junto à família, a jovem residia em um casarão à Rua São Benedito, no centro da cidade. E, assim, em 20/04/1927, o casal sela união. Depois do matrimônio, Martins Filho passa nove meses como gerente da loja “A Pernambucana”, em Picos, Piauí; retornando, logo em seguida, à Caxias.
Com as economias obtidas na “A Paulista”, em julho de 1928, Martins pede demissão do emprego. Em seguida, associa-se à firma Araújo Carvalho & Cia, de Nachor Carvalho, estabelecendo-se como comerciante de tecidos, miudezas, secos e molhados, vendas em grosso e a retalho. Tratava-se da loja da Rua Aarão Reis, “A Cearense”, a qual Martins Filho era sócio chefe e principal responsável; chegando abrir filiais em Codó e Pedreiras.
Anúncio da loja “A Cearense” no jornal Voz do Povo, em 1935.
Após a Revolução de 1930, junto ao amigo Ausônio Câmara, Martins resolve editar um jornal, nomeando-o de Voz do Povo. A redação do jornal era composta por: Arhur Almada Lima (redator secretário), Ausônio Câmara (diretor), Martins Filho, Affonso Cunha, Almir Cruz, Dr. Martinho Chaves e Antônio Pinheiro. O escritório do jornal funcionava à Praça Gonçalves Dias.
Nesse período, Caxias passou a ser administrada por diferentes Interventores Federais, sendo o jornal importante veículo de informação: “Fazíamos uma verrina enorme contra dos poderosos de então, desde que as arbitrariedades fossem identificadas. O poderio dos Interventores Federais era muito grande, porém nós agíamos com bastante coragem, baseados no princípio da liberdade de imprensa, que, não obstante, nos metia em sérias dificuldades” relembraria Martins. Anos depois, devido a divergências intelectuais, Martins renuncia a posição de Redator, passando a ser mero colaborador.
Em 1931, após tomar ciência da fundação de uma Faculdade de Direito em Teresina, Martins Filho, junto aos amigos Ausônio Câmara e Almir Cruz, resolve fazer a inscrição. No exame de admissão concorreram mais de 50 candidatos, 23 dos quais foram aprovados, incluindo Martins e Ausônio. Como a distância de Caxias à Teresina não é muito longa, todas as sextas-feiras Martins tomava o trem e só voltava na segunda-feira, às 9h da manhã. Era um aluno de fim de semana, o que não o impediu de conseguir boas notas, bem como um base jurídica bastante sólida. Junto a Ausônio, Martins passa a advogar em Caxias, com o seu escritório funcionando na redação do jornal Voz do Povo.
Edição do Voz do Povo, de 18 de janeiro de 1936.
Nesse período, Martins foi nomeado por Ato do Interventor Federal, 1 Suplente de Juiz de Direito da 1 Vara de Caxias. Tomou posse e, logo depois, o Juiz Titular da 1 Vara, Dr. Jansen Pereira, entrou de licença tendo o jovem que o substituir, na forma da lei. “Foram um verdadeiro sufoco os meus primeiros dias no exercício do Juizado, onde era tratado por ‘Meritíssimo’ pelas partes e pelo Escrivão João Morais que, na intimidade, fazia severas críticas as gafes que eu cometia, nas minhas altas funções de autoridade judiciária…”.
Preocupado com o cenário educacional em Caxias, e muito influenciado por sua esposa, d. Maria Tote, que era professora, Martins Filho, junto ao colega de turma Clodoaldo Cardoso (que passou a exercer as atribuições de Coletor Estadual em Caxias), passa a discutir sobre a possibilidade de se instalar no município um estabelecimento de ensino de segundo grau. Naquela época, após a conclusão do curso primário, os caxienses não tinham como prosseguir seus estudos, a não ser os filhos das famílias mais abastadas, que os mandavam para a capital do Estado (São Luis), para Teresina, ou mesmo para outros centros de ensino mais avançados.
Como o Governo do Estado não estava preocupado com o assunto, os jovens contaram com a ajuda do colega de turma, Ausônio Câmara, que, na oportunidade, exercia as funções de Prefeito de Caxias. Dele obtiveram a autorização para o uso do Teatro Fênix, onde funcionaria parte do Ginásio. A Secretaria, a Diretoria e as salas de aulas passaram a funcionar na casa contígua ao Teatro, que Martins Filho adquiriu com recursos próprios, pagando seis contos de réis (que depois foram reembolsados em pequenas parcelas, à medida que eles iam conseguindo colocar ações na Sociedade mantenedora do Ginásio).
Contando, no Rio de Janeiro, com a cooperação de um grande maranhense, Dr. Antônio Carvalho Guimarães, eles conseguiram o reconhecimento do Ginásio pelo Governo Federal, sendo então nomeado Fiscal do Governo o Dr. Alcindo Guimarães. Assim, em 01/10/1935, era fundado o Ginásio Caxiense. Após o reconhecimento oficial do Ginásio Caxiense, houve festa pública, com diversos discursos. Sobre este dia, Martins Filho relembraria com ressentimento: “Foram exaltados os nomes de muitas pessoas que aderiram ao movimento na última hora. O meu, porém, inteiramente esquecido, porque eu estava doente e, por isso, afastado temporariamente do estabelecimento, ao ser oficializado. (…) Eu também já sabia que no mundo é sempre assim: uns trabalham denodadamente, enquanto outros usufruem os louros, quando eles aparecem…”. No Ginásio, além de ser um dos fundadores, Martins também foi professor de História e Geografia e ainda seu Diretor.
Nos anos seguintes, já com cinco filhos e bacharel em Direito, Martins vivia doente (com malária e apendicite crônica) e preocupado com os seus negócios. Além disso, uma de suas filhas vinha sofrendo crises muito fortes de impaludismo. Dessa forma, decide quitar suas mercadorias, visando, logo em seguida, retornar ao Ceará. Assim, em abril de 1937, retorna, junto à família, ao seu Estado natal, fixando residência em Fortaleza.
Em Fortaleza, Martins compra uma tipografia e funda a “Editora Fortaleza”, passando a se dedicar a publicação de livros de sua autoria e outros escritores. Em 1938, passa a editar a sua revista “VALOR”, que teve duração de mais de oito anos. Em parceria com Raimundo Girão Lançou o livro O Ceará. Foi Ex-Diretor e proprietário da Academia de Comercio Padre Champagnat de Fortaleza de 1939 até 1943, ano em que entrou no Instituto do Ceará e também na Academia Cearense de Letras. Além disso, foi presidente do Rotary Club de Fortaleza.
Presidente Juscelino Kubitschek (centro) recepcionado na Reitoria da UFC pelo Reitor Martins Filho (canto esquerdo) e convidados especiais (1958).
Foi professor do Liceu e de outras instituições de ensino de Fortaleza, e, em 1945, se tornou Professor Catedrático por concurso e Doutor em Direito pela Faculdade de Direito do Ceará. Em 1948 toma a liderança no processo de criação da antiga Universidade do Ceará atual UFC, que se torna uma “campanha política” uma vez que depois desse esforço de estabelecer bases para um projeto de universidade tanto o Governo de Faustino de Albuquerque quanto a mídia nacional com o debate na revista “O Cruzeiro” entre Martins Filho e Gilberto Freire que defendia que a Universidade do Recife era suficiente para a região.
Pintura de Martins Filho, quando Reitor da Universidade do Ceará.
A universidade foi finalmente criada em 1954 e instalada em 1955 e ate 1967 teve como Reitor Martins Filho que deu prosseguimento à criação de uma infraestrutura para a universidade criando a Imprensa Universitária, adquirindo o atual prédio da Reitoria e da Casa de José de Alencar e criando condições para que a universidade pudesse continuar crescendo. Por sua marcante atuação, Martins Filho ficou conhecido como “o Reitor dos Reitores”.
Aposentou-se em 1974, mas fundou também a Universidade Estadual do Ceará – UECE em 1977 e a Universidade Regional do Carirí – URCA em 1986. Foi membro do Conselho Nacional de Educação na década de 1960 tendo permanecido no conselho por 13 anos. Foi representante do Brasil na OEA no comitê Latino-Americano de Avaliação dos Sistemas de Bolsas de Estudos. Colaborou para a fundação de mais 20 universidades brasileiras.
O Reitor Martins Filho (canto esquerdo) recepciona o Embaixador Assis Chateaubriand, quando da inauguração da Maternidade-Escola, que recebeu seu nome (1958).
Era irmão do escritor e jurista Fran Martins, um dos mais proeminentes estudiosos de Direito Comercial no Brasil no século XX, Professor Catedrático da Faculdade de Direito da Universidade Federal do Ceará, bem como importante membro do movimento modernista cearense na literatura das décadas de 1930, 1940 e 1950, dispondo de extensa obra e tendo sido membro-fundador do Grupo Clã.
Idealizador e fundador da Universidade Federal do Ceará, Martins Filho possui uma estátua no campus da instituição.
Antônio Martins Filho faleceu em Fortaleza, no dia 20 de Dezembro de 2002, dois dias antes de completar 98 anos, por falência múltipla dos órgãos.
Fontes de pesquisa: Livro Memória Histórica: Antônio Martins Filho; Livro Efemérides Caxienses/Autor: Arthur Almada Lima Filho; TV Assembleia Ceará; Jornal O Imparcial; Jornal Voz do Povo; Site Wikipédia.
Imagens da publicação: Livro Memória Histórica: Antônio Martins Filho; Internet; TV Assembleia Ceará; Hemeroteca Digital.
Caxiense de coração, Vitor Gonçalves Neto nasceu em Teresina (PI), no dia 04/11/1925. Em sua cidade natal cursou as primeiras letras. Chegada a época do científico, mudou-se para a capital do Maranhão, onde estudou no Colégio São Luis. Posteriormente, fora residir em Salvador (BA) onde teve convívio com importantes figuras, tais como: Rachel de Queiroz, Jorge Amado e Monteiro Lobato.
Em 1951, integrou a coletânea de Contos Regionais Brasileiros, da Livraria Progresso Editora, que compilava 14 contos de figuras como, Viriato Corrêa e Humberto de Campos. Mudou-se para o Rio de Janeiro, onde trabalhou nos periódicos Diário de Notícias e O Globo (onde foi chefe de redação). Anos depois, de volta à São Luis, trabalhou no O Imparcial, ao lado de José Sarney.
Na década de 1960, veio para Caxias, onde fundou os jornais O Pioneiro (dirigido por Vitor, durante 15 anos) e Folha de Caxias (dirigido por Vitor, durante 12 anos). Na cidade, conheceu Edna Silva Gonçalves, da união advieram quatro filhos: Jandir, Jorge, Miridan e Maira Teresa.
Vitor, com seu inseparável cigarro, prepara um novo texto.
Em 03/01/1964, como parte das festividades comemorativas do primeiro centenário de nascimento do grande escritor caxiense Coelho Netto, Vítor funda a Associação Caxiense de Imprensa (ACI), tendo como sede as instalações do jornal Folha de Caxias. Ocupou cargo de Presidente da referida associação.
Vitor (lado esquerdo), então diretor do Folha de Caxias, ao lado de Zuzu Nahuz, diretor do Correio do Nordeste. Ano: 1963.
Além de ser diretor dos jornais, Vitor também era cronista destes, não deixando de comentar os assuntos que mais lhe chamavam atenção. De baixa estatura, passos lentos e sempre ostentando o inseparável cigarro, Vitor, assim como muitos intelectuais, tinha o seu lado boêmio. “Acompanhei muito o Vítor nessas caminhadas noite adentro, madrugada afora. Assistia-lhe no sono rápido que ele ‘tirava’ em qualquer lugar, a qualquer hora. Ajudava-o nas cervejas e arriscava na cachaça (mas uísque, eu ‘agradecia’; não gostava). A gente bebia ‘até se esvair em mijo’, como dizia o Vítor. Interessava-me um bocado por ele. Preocupava-me sua fragilidade ante tanto cigarro e tanta bebida. Mas não lhe censurava o vício (Com que direito?) nem lhe recriminava explicitamente os excessos”, relembrou Edmílson Sanches, amigo e colega de trabalho de Vitor.
Publicou dois livros: “Conversa tão somente” (crônicas), de 1957, e “Roteiro das 7 Cidades” (1963), visão romanceada do sítio arqueológico de mesmo nome, localizado no município de Piracuruca (Piauí).
Vitor Gonçalves Neto faleceu em Caxias, no dia 23/06/1989, aos 63 anos de idade. Postumamente, em 1995, fora publicado um livro reunindo algumas de suas crônicas intitulado “Crônicas das Andanças”. O escritor também é patrono da cadeira n. 19, da Academia Caxiense de Letras; e da nome a uma rua do centro de Caxias.
Fontes de pesquisa: Texto de Edmílson Sanches; Livro Por Ruas e Becos de Caxias/Autor: Eziquio Barros Neto; Livro Efemérides Caxienses/Autor: Arthur Almada Lima Filho; Jornal Correio do Nordeste.
Imagens da Publicação: Acervo de Edmílson Sanches; Acervo da ACL; Jornal Correio do Nordeste.
Raimundo Nonato Teixeira Santos (Mundico Santos) nasceu em Caxias, no dia 19/08/1917, filho de Francisco Ferreira dos Santos e Maria José Teixeira Santos. Tinha três irmãos: Paulo Almeida Santos (renomado saxofonista), Djalma e Docila. Pintor autodidata, iniciou carreira como copista. Aos 17 anos de idade, encontrou nas artes plásticas a sua forma de expressão.
Em 1945, participou do Salão Arthur Marinho, em São Luis, obtendo Menção Honrosa com o quadro Manufatura. Passeou por diversas técnicas e tendências, indo do representacional, com tendências barrocas, ao conceitual. Na pintura, em Caxias, destacou-se com obras representado pontos históricos e arquitetônicos de cidade. Seu estilo foi o modernismo, naturismo e abstrato.
É autor, entre outras obras, dos bustos da Praça Panteon, bem como do busto de Duque de Caxias, localizado na praça de mesmo nome. Contudo, é na Praça Cândido Mendes, em frente à Igreja da Matriz, que se localiza a sua obra mais conhecida: o Cristo Redentor. A réplica do Cristo Redentor (RJ), possui aproximadamente 13 metros de altura (estátua + pedestal). A estátua fora inaugurada no ano de 1950, tendo sido construída em homenagem ao Congresso Eucarístico Sacerdotal ocorrido em Caxias entre os dias 29 de junho a 04 de julho de 1937.
Localizada na Praça Cândido Mendes, a estátua do Cristo Redentor é possivelmente a obra mais famosa de Mundico Santos, em Caxias.
Já idoso, Mundico Santos posa para foto tirada, possivelmente, no início da década de 1990.
Mundico, durante a década de 1960/1970, trabalhou por quinze anos como desenhista e projetista da prefeitura. Durante o mandato do prefeito Marcelo Thadeu de Assunção, assumiu o comando das obras da administração municipal. No Cangalheiro construiu a escola Achiles Cruz e o mercado daquele bairro; o mercado do Castelo Branco também é obra sua. Além disso, diversas outras obras compõem o seu currículo, como: Complexo da Cobal, Ambulatório da Tresidela, Praça Panteon e Duque de Caxias, Grupo Escolar Tamarineiro etc.
Mundico Santos possui obras expostas em cidades como, Timon – MA, São Luis – MA e Fortaleza – CE. Residindo à Rua São Benedito, no centro de Caxias, o artista faleceu em 27 de setembro de 1993, e está sepultado no mausoléu construído por ele mesmo.
Em 2018, a TV Sinal Verde, de Caxias, produziu uma reportagem (abaixo) sobre a vida de Mundico. Vale a pena conferir:
Fontes de pesquisa: Reportagem sobre Mundico Santos/Ano:2018 – TV Sinal Verde; Livro Cartografias Invisíveis/Ano: 2014; Livro Por Ruas e Becos de Caxias/Autor: Eziquio Barros Neto
Imagens da publicação: Reprodução TV Sinal Verde; Acervo de Brunno G. Couto; Acervo do IHGC
De tradicional família caxiense, Maria Alice Castelo Cordeiro tinha 18 anos idade quando, em 1956, foi eleita Miss Maranhão, em cerimônia realizada no Teatro Arthur Azevedo, em São Luis. A jovem de 1,61 m de altura; 60 cm de cintura; 84 cm de busto; 91 cm de quadris; 50 cm de coxa; 52 kg; sobrepujou três candidatas de admirável beleza.
À época, a jovem caxiense de cabelos e olhos castanhos, filha de Antônio Cordeiro Sobrinho e Alice Castelo Cordeiro, havia acabado de concluir o curso Ginasial, falava inglês e estava indecisa sobre a faculdade que iria cursar. Sendo eleita Miss Maranhão, o curso natural era que Maria Alice rumasse ao Rio de Janeiro para o concorrer a vaga de Miss Brasil. E assim se dera.
Maria Alice, em foto promocional.
O disputadíssimo concurso de Miss Brasil era promovido pelo Diário de Associados (conglomerado de propriedade de Assis Chateaubriand, o Chatô), e, em 1956, estava agendado para ocorrer no dia 16 de junho, no Hotel Quitandinha, em Petrópolis.
Chegado o esperado dia, Maria Alice, junto a mais 21 jovens, fora recebida com pompa e elegância no local da cerimônia. Após os desfiles das candidatas, em diferentes trajes, o resultado fora emitido. Infelizmente, a caxiense não conseguiu o sonhado título de Miss Brasil, sendo eleita a representante do Rio Grande do Sul, Maria José Cardoso.
Maria Alice, durante o desfile de Miss Brasil.
As candidatas a Miss Brasil, em traje de banho.
Maria Alice Castelo, em 2019, durante a festa da Velha Guarda Caxiense.
Além de ter sido a primeira caxiense a conquistar o título de Miss Maranhão, Maria Alice, também é a segunda Miss Maranhão da história, tendo em vista que a primeira vencedora é do ano anterior. Posteriormente, mais duas caxienses conquistaram o título de Miss Maranhão, sendo elas: Tereza Francisca Barros Torres, em 1977; e Ingrid Pereira Gonçalves, em 2013.
Atualmente, Maria Alice Castelo Cordeiro vive em São Luis (carece de fontes), sendo recorrentes as suas visitas a sua cidade natal durante a realização da tradicional festa da Velha Guarda Caxiense.
Fontes de pesquisa: O Jornal (RJ); Diário da Noite (RJ); Revista Manchete (RJ); Imprensa Popular (RJ); Livro Cartografias Invisíveis/Diversos Autores.
Imagens da publicação: Diário da Noite (RJ); O Jornal (RJ); Revista Manchete (RJ); Reprodução TV Guanaré.
José Compasso, quando goleiro da Seleção Caxiense, em 1947.
José Compasso da Silva nasceu em Caxias, à Rua do Piquizeiro (Atual, Rua Nossa Senhora de Fátima), no dia 31/10/1926. Filho do estivador Lino Silva e da lavadeira Paulina Compasso da Silva, tinha mais quatro irmãos: Raimundo, Antônio, João e Cândida Compasso da Silva. Junto à família residia ao lado do imóvel do ‘seu’ Seringueiro, pai de João Braz (proprietário do restaurante Selva do Braz). Fora nessa residência que passara sua infância, vindo a receber o apelido de “Zé Pretinho”.
Zé Pretinho nunca gostou muito de estudar, sendo recorrentes as suas fugas da escola para ir jogar bola com os amigos. Diante dessa recorrente situação, d. Paulina decide colocar o filho para trabalhar como aprendiz de sapateiro. Mas não adiantou muito, já que, aos 12 anos de idade, surge outra paixão na vida do pequeno Zé, a música. Dedicado, em pouco tempo o menino já tocava violão, banjo, cavaquinho e bateria. Contudo, por se identificar mais com a percussão, a bateria fora o instrumento em que mais se aprofundou.
Como nessa época a vida musical não era bem vista, o irmão mais velho de Zé o leva a aprender o ofício de pedreiro. Não obstante exercer uma profissão “oficial” que pagava as contas de casa, Zé Pretinho nunca deixou o futebol e a música de lado. Concomitantemente, passa a fazer parte dos times locais. Devido à altura, a sua função não poderia ser outra: goleiro. Em 1947, aos 21 anos de idade, já integrava a Seleção Caxiense, que, àquele ano, sagrou-se campeã de um torneio regional.
Nessa época, Zé Pretinho casa-se com sua primeira esposa, d. Neuza Muniz de Sousa. O casal teve três filhos, Neuzelina, Lino e Maria de Fátima Compasso da Silva. No final da década de 1950, com a construção de Brasília, Zé Pretinho decide, assim como muitos caxienses, ir trabalhar nas obras da nova capital da República. De volta à Caxias, ainda participou de muitas outras equipes futebolísticas, como: Guará, Palmeiras (seu time do coração), Maranhão, Atlético Clube; e teve participação no River, do Piauí. Chegou, inclusive, a receber um convite para atuar profissionalmente no Rio de Janeiro. Contudo, vendo o sofrimento da mãe com a sua partida (era o filho caçula), retorna à sua cidade natal.
Quando goleiro do Guará, na década de 1960.
Casou-se novamente. Do segundo matrimônio, com d. Iracy de Jesus Compasso da Silva, advieram: Iracilina, José Manoel, Francisca Tereza, Iris Maria, Francisca Maria, Irismar Maria, Paulo Jorge, Iris Mary, Marcos Roberto, Paulina Renata, Iracy de Jesus, Mardemys Jonnys, Márcio e Iris. A família residia à Rua Beco do Galo, 426. Para sustentar a extensa descendência, Zé Pretinho, além de pedreiro, desenvolvia outras atividades, como: eletricista, marceneiro, pintor e desenhista arquiteto (apesar de não ter formação na área, desenhava as plantas de casas e prédios que por ele eram construídos).
Na década de 1960, passa a, concomitantemente, atuar profissionalmente no meio musical; integrando a Orquestra Santa Cecília, de Josino Frazão, e o conjunto de Mário Beleza. Em Mário Beleza e Seu Conjunto, a formação era: Zé Pretinho (bateria), Paulo (trompete), Seu Chagas (trombone), Magalhães (contrabaixo), Olavo (violão elétrico), Mister Dame (acordeom; substituído posteriormente por Haroldo), Zé Mamão (vocal) e Rachel (vocal). Durante o seu período de atividade, o conjunto foi um sucesso, sendo presença constantes nos bailes caxienses. Era como cantava Jorge Ben Jor nos primeiros versos de sua famosa música: A banda do Zé pretinho chegou / Para animar a festa…
Zé Pretinho tocando bateria no conjunto de Mário Beleza, na década de 1960.
Com o fim do conjunto musical e já com idade avançada para o futebol, Zé Pretinho passou a se dedicar à construção civil. Por trabalhar muito na zona rural, na edificação de escolas, acabou sendo picado pelo mosquito barbeiro, vindo a sofrer de “coração grande”. Já acometido com esse problema, sofre um AVC, o que leva ao seu falecimento no dia 01/05/1994, Dia do Trabalho, aos 68 anos de idade. Àquele mesmo dia, o Brasil despedia-se de Ayrton Senna, e Caxias de José Compasso da Silva, o Zé Pretinho.
Deixou 13 netos e 11 bisnetos. Dentre eles, Fábio Bruno Compasso Brito, que herdou a paixão do avô pelo futebol, e hoje corre atrás do sonho de ser um grande jogador. Aos vinte anos de idade, desde os onze, quando começou no esporte, Fábio acumula um extenso currículo de atuação em times de diferentes estados do Brasil, bem como uma passagem pela Itália. Atualmente, joga pelo Juventude Samas, do Maranhão.
Fontes de pesquisa: Depoimento de Irismar Compasso da Silva (filha de José Compasso); Livro Cartografias Invisíveis/Diversos Autores
Imagens da publicação: Revista Esporte Ilustrado (RJ); Acervo do IHGC
Wilson Egídio dos Santos nasceu em Caxias, no dia 23/11/1931, filho de José Egídio dos Santos e Maria Zulmira dos Santos. Cursou o primário no Grupo Escolar João Lisboa, e o secundário no Colégio Caxiense. Seu pai, mais conhecido como Zé Vancrilio, era dentista prático, o que acabou influenciando o jovem em sua escolha acadêmica, graduando-se em Odontologia e Biologia na capital do estado; retornando à Caxias para desempenhar suas atividades profissionais.
Mais conhecido como Wilson “Vancrílio” (nome que acabou herdando do pai) dedicou-se ao Magistério, lecionando nos colégios Caxiense, Coelho Neto, São José, Diocesano, Duque de Caxias (Bandeirantes) e na Universidade Estadual do Maranhão / Centro de Estudos Superiores de Caxias – UEMA/CESC (onde se aposentou depois de 25 anos de docência).
Como dentista, atendia no consultório de seu pai, localizado no Largo da Igreja do Rosário, bem como em sua residência; sendo um profissional bastante elogiado. Além disso, Wilson era muito habilidoso com a palavra escrita, o que o levou a publicar, por longos anos, crônicas na imprensa caxiense, notadamente no jornal O Pioneiro, dirigido por Victor Gonçalves Neto. Também publicava seus textos em forma de folhetos, que mandava imprimir e pessoalmente distribuía.
Ao lado de sua esposa, d. Sebastiana Santos, e dos quatro filhos (César, Zé Neto, Carlos e Conceição), residia à Rua Cel. Libânio Lobo, em um imóvel de dois andares, nas proximidades do Colégio Coelho Neto. Ali, gostava de sentar à porta de casa para ver o movimento da rua, e prosear com os conhecidos que passavam. Vascaíno, prof. Wilson também tinha o seu lado boêmio, sendo recorrente a sua presença no bar “Café do Profeta” e no “Recanto dos Poetas”, onde confraternizava com diversos amigos.
Fotografia recente do imóvel onde residiu o prof. Wilson.
De rosto grande, anguloso, e com uma voz potente, prof. Wilson só tinha a cara fechada, pois, na realidade, era bastante querido por seus alunos, como bem relembrou Lucinha Marques, uma de suas educandas no Colégio Caxiense:
Certa vez eu não estava preparada para a prova. Não tinha estudado muito pois passara o fim de semana no nosso sítio no Itapecuruzinho, onde passava o dia tomando banho no rio e comendo frutas, a manga principalmente. Eu estava insegura na matéria.
Esperei ele lá fora, antes de entrar na sala de aula.
– Professor não estou preparada para a prova de hoje.
– O que aconteceu menina? Não está mais estudando?
– Estudo até demais, mas passei o fim de semana no sítio e estudei pouco.
– Me consta que seu pai todo o fim de semana vai para o sítio. O que aconteceu dessa vez?
– Por favor professor. ME DÊ UMA CHANCE.
– Só dessa vez você vai fazer prova na TURMA B. Se prepare pois não terá outra chance.
Só faltei pular de alegria. Ele era legal demais. AGRADECI E FUI DISPENSADA DA AULA. Me preparei para a prova.
Ótimo professor. Inesquecível. Maravilhoso.
Já aposentado, o professor e dentista, Wilson Egídio dos Santos, faleceu em Caxias, no dia 07/11/2012, 16 dias antes de completar 81 anos de idade.
Fontes de pesquisa: Livro Efemérides Caxienses/Autor: Arthur Almada Lima Filho; Texto de Edmílson Sanches; Texto de Lucinha Maria Chaves Marques.
Imagens da publicação: Acervo do IHGC; Acervo de Brunno G. Couto
“Antônio significa valioso, de valor inestimável, digno de apreço; nome do latim Antonius, origina-se do grego Antónios. Há estudos que sugerem que o nome Antônio tenha vindo do grego…”
O jovem Antonio Brandão, quando Tenente da PM do Estado do Maranhão.
Antonio Brandão nasceu na antiga Picos (atual, Colinas), no Maranhão, no dia 25/04/1905, filho de Frederico José Brandão e Maria Rosa da Silva. Em sua cidade natal viveu sua infância e adolescência. Trabalhando desde os cinco anos de idade, aos 20 anos, muda-se para São Luís, onde conseguiu um emprego na firma Lima, Faria & Cia, do tradicional comércio da Praia Grande.
Durante a Revolução de 1930, engajou-se na tarefa de contestação ao regime vigente; no ano seguinte, para o período 1931-1932, quando ainda não havia o cargo de Vice, é nomeado prefeito em sua cidade natal, por ato do então interventor estadual.
Em 1933, sela união com a ludovicense Nadir Celeste Ribeiro, e o casal muda-se para Caxias. Na cidade, em 1935, Antônio Brandão passa a chefiar o movimento integralista local, ao lado de: dr. Martins Filho, prof. Ruth Campos, Oswaldo Marques, Orlando Leite e J. Moreira.
Ainda nessa sua primeira fase em Caxias, ao lado de Antônio Francisco de Sousa (Nanito), foi sócio da firma Brandão & Souza. Em sua vida pública foi também: Vogal dos empregadores na Junta de Conciliação e Julgamento de São Luís; diretor do Departamento Estadual de Imprensa e Propaganda; diretor-secretário do Banco do Estado do Maranhão; foi ainda advogado provisionado e jornalista profissional.
Junto à esposa e os filhos mais velhos, em 1940, muda-se para Picos, onde havia sido novamente nomeado Prefeito, desta vez pelo interventor Paulo Ramos, para o período 1939-1945, tendo permanecido no cargo até 1940, quando foi substituído por José Osano Brandão (Picos ainda permanecia sem o cargo de vice-prefeito), que ficou até o final do mandato.
A viagem foi rio acima, durando vários dias. “No final de uma tarde chuvosa, embarcamos em um grande bote (batelão) rebocado por uma pequena lancha; papai, na sua inventividade, ajudara a transformar aquela embarcação em um verdadeiro apartamento, todo forrado, divisórias de palha e armadores de redes. Àquela altura já éramos cinco filhos”, relembra Antônio Augusto, primogênito do casal.
Ainda àquele ano, 1940, a família vai para São Luís, onde permanece até 1944, quando retorna à Caxias. Dessa vez, Antonio Brandão começa a atuar por conta própria, instalando a tradicional Casa Brandão, estabelecimento comercial de estivas, fazendas, ferragens e miudezas em geral, que funcionou, durante algum tempo, na Praça Gonçalves Dias, e depois transferiu-se para a Rua Aarão Reis. O comércio perdurou até 1960.
Fotografia atual do imóvel, da Rua Aarão Reis, onde a Casa Brandão funcionou a partir da primeira metade da década de 1950.O imóvel, há quase 70 anos, guarda a inscrição em sua calçada.
Na “princesa do sertão”, Antonio Brandão residiu em diferentes endereços, tais como a Rua das Flores, Rua do Cisco e Benedito Leite (atual, Fause Simão). Mas foi no imóvel, n. 23, da antiga R. do Cisco, depois Benedito Leite, que Antonio permaneceu de 1947 até o fim de sua vida. Ali, ao lado de d. Nadir, criou os dez filhos: Antônio Augusto, Frederico, Rosa, Laura, José, Ângela, João, Cenira, Antônio e Luís.
A família Brandão, em fotografia do ano de 1950, em Caxias. Em pé, da esquerda para direita: Laura, Frederico, Antonio Brandão, José, Nadir Brandão, Ângela, Antônio Augusto e Rosa. Sentados: Cenira, João, Antônio e Luís.
Sobre a inventividade do pai, José de Ribamar, um dos filhos de Antonio, relembra: “Um caso que nunca esqueci, embora tenha passado muitos anos, foi o da abertura no teto desse espaço (um dos cômodos da casa da R. Benedito Leite). Perguntado sobre o motivo, dando uma de romântico, disse que era para que olhássemos as estrelas no céu. Com a primeira chuva de verão, a casa ficou totalmente inundada e, com isso, tivemos que admirar as estrelas em outro local. A partir daquele dia, a abertura foi fechada”.
Antonio Brandão (lado direito) e o primogênito Antônio Augusto, em 1957, em São Paulo.
Durante todo o tempo em que morou em Caxias, Antonio colaborou intensamente com as classes produtoras da cidade: liderou a criação da Cooperativa de Babaçu, fez parte da Associação Comercial e da Associação Rural; foi membro assíduo do Rotary Clube e confrade do Centro Cultural Coelho Neto.
Muito querido, Antonio era um homem humilde, de temperamento dócil e personalidade introspectiva, falava pouco e expressava seus sentimentos através dos atos que praticava. “Raras vezes o vi com lágrimas nos olhos e uma delas foi quando parti ao trabalho e estudos, no Rio de Janeiro; ele nunca disse, mas desconfio que gostaria que eu tivesse ficado, para assumir os negócios na loja de tecidos, depois na moageira de café, na fábrica de guaraná, na indústria de óleo babaçu e nas plantações de caju”, recorda o primogênito.
Sofrendo, desde a tenra idade, de bronquite asmática, Antonio Brandão faleceu em Caxias, no dia 25/01/1980, aos 74 anos.
Fontes de pesquisa: Colaboração e Depoimento de Antônio Augusto Ribeiro Brandão; Jornal O Integralista; Livro de José de Ribamar Ribeiro Brandão.
Imagens da publicação: Acervo de Antônio Augusto Ribeiro Brandão; Acervo de Brunno G. Couto
Restauração e Colorização das imagens: Brunno G. Couto