O dia em que Coelho Netto retornou à Caxias

Coelho Netto em fotografia do início do século XX.

Em 1899, o escritor Henrique Maximiano Coelho Netto, no alto de seus 35 anos de idade, já gozava do status de celebridade literária nacional. E fora nesse ano que o intelectual caxiense resolveu revisitar suas origens, fazendo uma visita a seu estado natal – em terras que não pisava há quase trinta anos, desde que mudou-se para o Rio de Janeiro com os pais.

No dia 08 de junho, chega à capital do estado, sendo fortemente ovacionado pelo povo ludovicense e recepcionado pelo Governador do Maranhão. Na ilha, visitou fábricas, escolas, grêmios estudantis, bem como assistiu a peças teatrais e realizou conferências. Mas o município mais ansiado pelo escritor era outro. Caxias, sua cidade natal, já aguardava ansiosamente a chegada de um de seus filhos mais ilustres. Dessa forma, no dia 18 daquele mês, Coelho Netto, acompanhado de uma caravana, dirigisse ao Cais da Sagração e embarca no vapor Carlos Coelho rumo à princesa do sertão; chegando à cidade na manhã do dia 24.


Vapor “Carlos Coelho” responsável por trazer Coelho Netto à Caxias. Ano da fotografia: 1908.

Assim que chegaram notícias sobre a aproximação da embarcação ao município, fora realizado, no Morro do Alecrim, um tiro de salva, seguido de uma girândola de 20 dúzias de foguetes. Grande foi a concentração popular que deslocou-se ao porto a fim de receber o ilustre conterrâneo. Ao som harmonioso da banda de música do maestro Carimã Junior, bem como sob o alegre estrondear de mil foguetes, Coelho Netto pisou em solo caxiense.

Dali, a multidão saiu em comitiva em direção ao casarão do coronel José Castelo Branco da Cruz, onde o escritor ficaria hospedado. O trecho da rua em que passava o autor de “Miragem”, partindo da Rua Benedito Leite até um ponto da Rua Doutor Berredo, se achava artisticamente ornamentado com bandeirolas e flores silvestres. Ao fim do trajeto encontrava-se uma coluna de grande elevação onde constavam inscrições contendo datas gloriosas e nomes inesquecíveis de vultos pertencentes ao meio intelectual maranhense. Em pedestais, pendiam emblemas com os nomes de todas as produções literárias de Coelho Netto.


Fotografia recente do casarão da família Castelo onde ficou hospedado Coelho Netto.

Assim que chegou ao casarão de Casé Cruz, o escritor ouviu um inspirado discurso do dr. Rodrigo Octávio Teixeira, então Juiz de Direito da Comarca de Caxias. Logo após, pediu a palavra para agradecer toda aquela manifestação de carinho de seus patrícios. Em seguida, assistidos pela multidão presente, os jovens Agnelo Franklin da Costa e Simão Ribeiro também utilizaram-se da retórica para tecer comentários elogiosos ao visitante. Às 12h daquele dia festivo, realizou-se um grande almoço oferecido pelos abonados hospedeiros, os irmãos Cristino e José Cruz. À noite, Coelho recebeu a visita de diversos vultos da sociedade caxiense.

Um dos principais desejos de Coelho Netto era voltar à casa onde residiu até os 06 anos de idade, localizada à Rua da Palma. Dessa forma, o escritor, junto a uma comitiva, dirigiu-se ao referido logradouro. Na ocasião, o singelo imóvel já pertencia a outra família. Analisando todos os detalhes da residência, o escritor proferiu um longo e emocionado discurso sobre suas memórias de infância. Durante a visita, o célebre visitante fora informado de que a Câmara Municipal havia alterado o nome daquela rua em sua homenagem; sendo, na ocasião, fixada uma placa que levava seu nome (até hoje a rua ostenta o nome de Coelho Netto).


Imóvel onde nasceu Coelho Netto. O escritor residiu nessa residência até os 06 anos de idade. Anos depois, sua estrutura fora totalmente reformulada para abrigar o Centro Artístico Operário Caxiense.

Durante cinco dias, Coelho Netto visitou diversas localidades, como: Morro do Alecrim, fábricas têxteis no Ponte, de Manufatura, e a “Sanharó” na Tresidela. Seguindo a tradição, bailes foram organizados em homenagem ao poeta. No dia 28, a convite da sociedade piauiense, viaja até Teresina. Ao retornar no dia seguinte, realiza uma visita ao empreendimento dos irmãos Cruz, a Usina de Açúcar do Engenho D’água. Permanece mais três dias em Caxias, onde, na noite de 01 de julho, é realizada nas dependências do Teatro Fênix uma festa de despedia. E assim, naquela mesma madrugada, Coelho Netto despediu-se de sua terra. O escritor nunca mais voltaria à Caxias.


Fontes de pesquisa: Jornal O Combate; Livro Por Ruas e Becos de Caxias/Autor: Eziquio Barros Neto

Imagens da publicação: Internet; Álbum do Maranhão de 1908; Acervo do Autor; Acervo do IHGC

A Semana Santa em Caxias na transição do século XIX para o XX

Procissão do Senhor Morto passando pela Rua São Benedito. Ano: 2019

Não há dúvidas de que a Semana Santa, para o catolicismo, é um dos momentos mais importantes do calendário religioso. Em Caxias, as celebrações (missas e procissões) que antecipam a ressureição de Jesus Cristo, no domingo de Páscoa, fazem parte de uma tradição que, até hoje, é mantida. Iniciando com a Fugida do Senhor, onde a imagem de Cristo é transferida à Igreja do Rosário, a Semana Santa finaliza no Domingo da Ressureição.

Anúncio, da Semana Santa de 1898, da Casa Matoense.

Na transição do século XIX para o século XX – tendo em vista a existência de um maior número de cidadãos católicos -, àquela semana era ansiosamente aguardada pelos fiéis, que, com velas à mão, acompanhavam as procissões. Logo que era definida a programação, esta era publicada nos periódicos da região.

A economia da cidade também se adaptava ao período. Com a restrição imposta ao consumo de carne – e seguida a risca pelos fiéis -, os estabelecimentos comerciais da cidade se preparavam para esse momento do ano oferecendo uma variedade de produtos em conformidade com a dieta quaresmal. Às famílias mais abonadas o anúncio sensacionalista destacava, por exemplo, a venda de “camarões que [de tão graúdos] parecem jacarés do Amazonas” e “batatas que só uma dá 1 quilo”.

Na Igreja de São Benedito, no final daquele século, mais precisamente no ano de 1896, o celebrante responsável era o Padre José Ewerton Tavares, e a programação era a seguinte:

Na Quinta-Feira Santa, após o Domingo de Ramos, era dia de Missa Rezada e Via-Sacra. Na sexta-feira, sob a direção do referido vigário, era realizada a Procissão do Enterro e o Sermão da Paixão. No Sábado Santo era dia de Missa Cantada, com benção do fogo e da água. No Domingo de Páscoa era dia de Missa Sermão, procissão e benção solene com o Santíssimo Sacramento; a celebração era acompanhada por um coral de senhoritas dirigido por Antônio Lopes.


Programa do ano de 1902.

Nas décadas seguintes, com a fundação da Diocese de Caxias e com a chegada, em 1941, do primeiro Bispo da cidade, as celebrações da Semana Santa foram se tornando cada vez mais elaboradas. Ficando a programação a cargo do Vigário Geral, Mons. Gilberto Barbosa, sob o visto de Dom Luiz Marelim.

Atualmente, apesar de mais simples (se comparada às décadas passadas), a tradição, felizmente, segue firme e forte. Como deve ser.


Fontes de pesquisa: Jornal de Caxias; Jornal Cruzeiro

Imagens da publicação: Acervo do autor; Jornal de Caxias

O antigo Altar Monumento da Praça Cândido Mendes

Altar Monumento em fotografia da década de 1940.

O Congresso Eucarístico e Sacerdotal de 1937 é, até hoje, um dos pontos mais altos da história religiosa de Caxias. Realizado entre 29 de junho e 04 de julho, teve duração de 06 dias, e, segundo periódicos da época, chegou a reunir mais de 12 mil fiéis. De acordo com Dom Carmelo Mota, Arcebispo de São Luis, uma das principais finalidades do Congresso era: “despertar no povo o amor a Jesus-Hóstia”, bem como a de “lembrar ao povo o dever de trabalhar pelo aumento das vocações sacerdotais em terras do Maranhão”.

José Amaral de Mattos, o idealizador do Altar.

Com a Comissão Central do Congresso (presidida por Pe. Gilberto Barbosa) organizada em Caxias, fora dado início aos preparativos do evento. Nas diversas paróquias foram feitas coletas, de março a junho, para as despesas do Congresso. Pe. Frederico Chaves, por sua vez, ficou encarregado do setor de transportes e hospedagem dos diversos romeiros que, em sua maioria, viriam do Maranhão e Piauí.

E, como parte da celebração do vindouro Congresso, fora idealizado, pelo engenheiro José Amaral de Mattos, um Altar Monumento a ser erguido no largo de São Sebastião. Membro da Ação Católica, Amaral de Mattos idealizou um alto cruzeiro com quatro faces dirigidas para os quarto pontos cardeais , onde quatro missas poderiam ser celebradas ao mesmo tempo; ao centro, duas cruzes entrelaçadas, iluminadas por fortes projetores elétricos, ficando um no topo da haste.

Desenho original do Altar Monumento.

A ideia das múltiplas celebrações simultâneas se dava pelo fato de que, durante o Congresso, muitas seriam as teses e missas campais apresentadas por diferentes sacerdotes do Maranhão; o próprio pe. Luiz Marelim – que 04 anos depois iria se tornar o primeiro Bispo de Caxias – era um deles.

Em maio daquele ano, a Comissão resolveu transferir o Altar para a praça Cândido Mendes, em frente a Igreja Matriz; por esta ficar no centro da cidade, acharam ser o local mais adequado. Com a alteração, a planta original do monumento teve que sofrer algumas mudanças, mas nada de muito significativo. O custeamento da obra ficou a cargo da indústria e comércio caxiense, que aceitaram de bom grado as alterações e o acréscimo monetário decorrente. E assim, em junho de 1937, fora iniciada a obra, sendo o dr. Eugênio Batistela o seu construtor.


Altar Monumento em fotografia da década de 1940.

Conforme o planejado, o grande monumento cumpriu o seu intuito original. Considerado o marco do Congresso, ao seu redor foram celebradas quatro missas simultâneas, bem como apresentação de teses e uma grande missa de primeira comunhão. Após o Congresso, o monumento, aos poucos, foi sendo abandonado. Pelas suas características estruturais, é provável que o cruzeiro tenha sido pensado como algo temporário. E como a sua destinação original já não era mais possível de ser realizada, os caxienses passaram a olhar com indiferença para a grande estrutura. Sendo instalado, alguns anos depois, uma pequena contenção de concreto e aço no seu entorno.


Congresso Eucarístico e Sacerdotal de 1937. O Altar Monumento nunca mais seria tão utilizado quanto nessa época.

Treze anos depois, alguns comerciantes começaram a se mobilizar para a construção de um novo altar; onde nele seria instalada uma réplica do Cristo Redentor do Rio de Janeiro (inaugurado 19 anos antes), a ser feita pelo artista plástico caxiense Mundico Santos. Destarte, o antigo Altar Monumento fora demolido, e, em seu local, no dia 01/11/1950, após cinco meses de construção, a nova obra fora inaugurada. Medindo quase 13m (estátua + pedestal), até hoje, mais 70 anos depois, a estrutura encontra-se erguida em seu local de origem. Na base de seu pedestal fora fixada uma placa com inscrições que relembram o Congresso Eucarístico de 1937, a origem de tudo.


Fontes de pesquisa: Livro Caxias, 50 Anos de Diocese 1939 – 1989/Autor: Pe. José Mendes Filho; Jornal Semanário da União de Moços Católicos; Jornal Cruzeiro; Livro Por Ruas e Becos de Caxias/Autor: Eziquio Barros Neto.

Imagens da publicação: Ac. do IPHAN; Semanário da União de Moços Católicos; Internet; Página do Facebook “O Farol Caxiense”

Restauração e Colorização: Brunno G. Couto

Os Azulejos Caxienses

Muito presente nos antigos casarões, os azulejos – em sua maioria, portugueses e do século XIX – são registros da bonança das famílias abastadas caxienses. De beleza única, infelizmente algumas dessas peças – devido a falta de conservação ou pela crescente especulação imobiliária -, estão, aos poucos, desaparecendo do cenário da cidade.


Antigo casarão colonial, localizado no largo do Rosário, que ostenta um dos mais belos modelos de azulejos da cidade.

Proveniente do período colonial a utilização de azulejos, além do objetivo estético de decoração do imóvel, tinha uma utilidade mais prática, como explica o arquiteto Eziquio Neto: “Uma das características da arquitetura colonial é a adaptação ao clima da região. Um pé-direito alto para melhor conforto térmico, portas com bandeiras vazadas, grandes janelas com venezianas para uma melhor ventilação e posteriormente o revestimento da fachada em azulejo. O revestimento em azulejo garante uma maior impermeabilidade da parede durante as chuvas e maior conforto térmico, pois absorve pouco calor. Segundo historiadores, a técnica de decorar a fachada com azulejo nasceu em São Luís e passou a ser usada em Portugal na época da reconstrução, após o terremoto [ocorrido em Lisboa, em 1775]. Apesar de grandes fabricantes e importadores, os portugueses usavam a peça apenas no interior das casas”.

Abaixo, estão fotografias que mostram, em detalhes, a beleza de alguns dos azulejos que compõem o acervo caxiense:


Azulejos, pintados à mão, de imóvel do largo da Matriz.

Azulejos portugueses, do século XIX, revestindo casarão colonial do largo do Rosário.

Azulejos revestindo imóvel do largo da Matriz.

Azulejos do casarão da família Castelo Branco da Cruz.

No Edifício Duque de Caxias, um dos imóveis mais antigos da cidade, encontra-se a única amostra de azulejos portugueses em relevo da princesa do sertão; são datados do século XIX. Vale lembrar que essas peças nem sempre estiveram ali. Ocorre que, em 1944, quando o empresário José Delfino comprou um imóvel no largo de São Benedito, onde havia funcionado a escola da professora Quininha Pires, ele mandou retirar os azulejos portugueses e os transferiu para a fachada do supracitado edifício da praça Gonçalves Dias. Infelizmente, com o passar do tempo, essas peças não receberam a conservação necessária, e muitas delas foram cobertas de tinta, enquanto outras estão em mau estado de conservação (imagens abaixo).


Azulejos em relevo do edifício Duque de Caxias.

Alguns azulejos sofrem com a falta de preservação.

Cada vez mais raros, os antigos azulejos ainda podem ser vistos – apesar da intensa poluição visual – em alguns imóveis espalhados por Caxias. Parte integrante da história da cidade, são peças de beleza singular que merecem ser preservadas.


Fontes de pesquisa: Livro Efemérides Caxienses/Autor: Arthur Almada Lima Filho; Livro Cartografias Invisíveis/Diversos Autores.

Imagens da publicação: Acervo do autor

A triste história da mãe e de uma das irmãs de Gonçalves Dias

Antônio Gonçalves Dias, o maior poeta caxiense, faleceu no dia 03/11/1864, no naufrágio do navio Ville Bologna. À época, sua mãe, d. Vicência Mendes Ferreira, não morava com o poeta, e sim com os filhos que tivera com outro esposo, eram eles: Maria Magdalena da Silva (a mais velha), Carlota, Raimunda e Sebastião Correia de Araújo; residindo no antigo Beco das Violas (Também conhecido como Rua das Tabocas. Atualmente chama-se: Rua Teófilo Dias), em Caxias. A situação da família não era nada fácil, necessitando do mínimo para subsistência.

De acordo com o historiador Arthur Almada Lima Filho, em seu livro “Efemérides Caxienses”, d. Vicência, mulher mestiça de origem indígena, foi concubina e funcionária do pai de Gonçalves Dias, o português João Manuel Gonçalves Dias (negociante abastado). Com os pais biológicos, residindo em um sobrado à Rua do Cisco (Atual Fause Simão), Gonçalves Dias passou os primeiros anos de sua infância. No endereço também funcionava a casa comercial do patriarca.


Sobrado da Rua do Cisco (Atual Rua Fause Simão; mais conhecida como Benedito Leite). Demolido na década de 1970. Imagem da década de 1950.

Em 1829, logo que se casou legalmente com d. Adelaide Ramos D’Almeida, pertencente a uma ilustre família de São Luis, o patriarca fez questão de trazer o pequeno Gonçalves Dias (que tinha por volta de seis anos de idade), para a sua companhia e da madrasta. Manuel e Adelaide tiveram mais quatro filhos: João Manoel, José Gonçalves, Domingos Gonçalves e Joana Gonçalves Dias (mãe do advogado e poeta Teófilo Dias).

O casal continuou a morar no imóvel à Rua do Cisco, enquanto D. Vicência teve que procurar uma nova residência (é quando passa a morar na atual Rua Teófilo Dias). Informações de pesquisadores dão conta de que ‘seu’ Manuel proibiu o filho de visitar a sua verdadeira mãe, a qual reencontraria somente quinze anos depois. Após o falecimento do pai, em 1837, o jovem passou a ser criado por d. Adelaide Dias (falecida em 02/03/1877, em Caxias).


Residência de d. Vicência à Rua das Tabocas (Atual Teófilo Dias). Após o falecimento da matriarca, a filha, Maria Magdalena, continuou residindo nessa casa. Anos depois, o imóvel fora demolido. Imagem: Registro feito pelo IPHAN, provavelmente, da década de 1940.

Desde a morte de Gonçalves Dias, autoridades, sabendo das condições de d. Vicência, passaram a enviar mesadas para ajudar em suas despesas; o cidadão Antônio Henriques Leal fora um desses benfeitores. Vale lembrar que, no dia 24/03/1866, pouco mais de dois anos após a morte do filho, d. Vicência, herdeira de Gonçalves Dias – talvez por falta de instrução ou por pressão exterior -, cedeu, “de forma gratuita, plena e inteira”, os direitos de propriedade das obras inéditas e impressas do poeta à viúva do filho, Olympia Gonçalves Dias.

Olympia Gonçalves Dias.

Segundo o IMS: “Olympia, filha do doutor Cláudio Luis da Costa, fundador do Instituto Benjamin Constant, no Rio de Janeiro, casou-se com Gonçalves Dias em 1852, quando o poeta amargava a recusa de seu pedido de casamento feito à mãe da jovem Ana Amélia Ferreira do Vale, por quem nutriu uma grande paixão. A união de Olympia e Gonçalves Dias durou quatro anos infelizes, e dele nasceu uma filha, Joana, que morreu antes de completar dois anos”.

A mãe biológica do poeta faleceu aos 81 anos, em 1879; sendo, no dia 15 de novembro, sepultada no cemitério de N. S. dos Remédios, em uma cerimônia que reuniu diversas autoridades e populares caxienses. Nos últimos anos de sua vida, a matriarca passou a viver de uma pensão concedida pelo Dr. Augusto Olympio Gomes de Castro, autoridade que também financiou o seu funeral.

Após a morte da mãe, Maria Magdalena da Silva, uma das irmãs de Gonçalves Dias pelo lado materno, continuou residindo no imóvel da família: uma casa simples de meia morada, com duas janelas em direção à rua (imagem acima). Em 1884, ao fazer uma visita à Caxias para a instalação da rede telegráfica, o engenheiro Guilherme Schüch (o Barão de Capanema) desejou conhecer a família do renomado poeta caxiense. Ao se dirigir a Rua das Tabocas, ficou espantado com a crítica situação financeira em que vivia a irmã de uma importante figura nacional. Na ocasião, deixou com Maria uma significativa ajuda financeira.

Comunicado, publicado no jornal Diário do Maranhão, em 1886, informando sobre o montante arrecadado em favor de Maria Magdalena.

Nesse mesmo período, a situação de penúria vivida por Maria estampou as páginas do jornal Echo Liberal, de Caxias. Tão logo a notícia fora espalhada, alguns cidadãos da capital do estado tomaram ciência da situação. Assim, determinados cavalheiros promoveram uma subscrição em favor da irmã de Gonçalves Dias, obtendo uma quantia perto de 200 mil réis. O montante garantiu a subsistência de Maria pelo período de um ano. Ao mesmo tempo, promoveram no Rio de Janeiro uma subscrição para o mesmo fim. Contudo, a ação não logrou êxito, tendo em vista que alguns cidadãos levantaram dúvidas se Gonçalves Dias teria, realmente, uma irmã.

No ano de 1886, diante das alegações de que Gonçalves Dias só tinha uma irmã, e esta se chamava Joana Gonçalves Dias, uma comissão (formada por: José do Rego Medeiros, Antônio de Sousa Coutinho e Francisco dos Reis Aguiar) soltou uma nota no jornal Pacotilha atestando que o poeta tinha mais irmãos pelo lado materno. Dizendo em certa altura da publicação: “Ora, se os filhos da madrasta do poeta são considerados irmãos, não vemos razão nenhuma para que o não sejam igualmente os filhos de sua própria mãe”.

Em 1886, conforme nota publicada no jornal Pacotilha (MA), dos quatro filhos de Vicência, só estava viva a filha mais velha, Maria Magdalena.

Em 1887, o jornal Gazeta noticiava que a irmã do poeta, impedida de trabalhar por conta da idade (já sexagenária), andava, de porta em porta, pedindo esmola nos lares de Caxias. A última notícia que se tem de Maria Magdalena data do ano de 1891, quando o Conselho da Intendência Municipal de Caxias mandou ser concedido mensalmente um auxílio de 10$ em seu favor. A casa da antiga Rua das Tabocas ainda ficou de pé por alguns anos; o IPHAN, por volta da década de 1940, chegou a fotografá-la. Tempos depois, o imóvel fora demolido. Atualmente, quem passa por aquele logradouro nem imagina que, um dia, ali habitou a mãe e irmãos do filho mais ilustre de Caxias. Dona Vicência, não fora homenageada nem como nome da via que, atualmente, leva o nome do sobrinho de Gonçalves Dias, o também poeta, Teófilo Dias.


Fontes de pesquisa: Jornal Pacotilha; Livro Por Ruas e Becos de Caxias/Autor: Eziquio Barros Neto; Livro Efemérides Caxienses/Autor: Arthur Almada Lima Filho; Jornal O Paiz; Depoimento de Daniel Lemos; Jornal A Luta Democrática; Anais da Biblioteca Nacional (RJ); Correio IMS; Jornal do Comércio (RJ); Jornal Gazeta; Diário do Maranhão.

Imagens da publicação: Ac. do IPHAN; Internet; Ac. IMS; Jornal Diário do Maranhão

Restauração e Colorização: Brunno G. Couto

Bazar do Japão, a primeira casa comercial de Alderico Silva

Instalações do “Bazar do Japão” à Rua 1 de Agosto. Fotografia da década de 1930.

Fundada em 1932, o Bazar do Japão foi a primeira casa comercial do jovem, Alderico Jefferson da Silva, então com 23 anos de idade. Até criar a sua firma A. Silva, Alderico trabalhou, por quatorze anos, para o seu irmão mais velho, José Delfino, já demonstrando o seu tino empresarial.

Alderico Silva, em fotografia da década de 1930.

Com sua primeira instalação à Rua 1 de Agosto, n.7, equina com a Rua Riachuelo, o Bazar do Japão era uma casa com grande sortimento de mercadorias. Com importação de perfumes, chapéus, calçados, ferragens, louças e miudezas em geral. Dois anos após a sua inauguração, em 1936, muda-se para um imóvel de esquina, à Rua Aarão Reis (onde, na década de 1990, funcionou a TV Paraíso, também de Alderico Silva).

Dessa época, o escritor Libânio da Costa Lôbo (in memoriam) relembrou um acontecimento marcante: “Eis quando o Bazar do Japão foi alvo de um ladrão. Especioso ladrão. Desfalcou-lhe o estoque de mercadorias, com roubo do que havia de melhor e mais valioso. Com a inusitada circunstância de o estabelecimento não ter tido as portas arrombadas. O roubo ocorreu, com o meliante, adentrando-o pelo teto. Colhe dizer: retirou as mercadorias, ficando as portas do estabelecimento intactas. Como se ali ninguém houvesse penetrado”.

As instalações do “Bazar do Japão” à Rua Aarão Reis. Imagem da década de 1940.

Em 1939, tem início a Segunda Guerra Mundial, e fazendo parte do Eixo, junto a Alemanha Nazista, estava o Japão. Logo, Alderico percebeu que o nome de seu estabelecimento ficaria vinculado ao país oriental. Por esse motivo, bem como por uma estratégia de marketing, decide mudar o nome da casa para “Armazéns Caxias”. Com o sucesso obtido com suas estratégias de venda, o empresário cria mais duas filiais na cidade: a “Loja Maranhense”, à Praça da Matriz; e a “Casa das Modas”, à Rua 1 de Agosto.

Em uma das diversas versões da lenda, dizem que o apelido “Seu Dá” surgiu durante sua administração do Bazar do Japão, onde, devido ao alto número de vendas, aos baixos preços e ao excelente marketing, propagou-se a informação de que em seu comércio nada se vendia, mas se dava (informação propagada pelo próprio Alderico). As inimizades, por outro lado, imprimindo caráter pejorativo, o chamavam de “Seu Toma”.

Anúncio, do ano de 1937, publicado no jornal O Imparcial.

O Bazar do Japão, já como Aramazéns Caxias, funcionou durante a década 1950, quando, em 1959, o extenso imóvel passou a abrigar a primeira concessionária “Willys-Overland” de Caxias, também da firma A. Silva.


Fontes de pesquisa: Livro Por Ruas e Becos de Caxias/Autor: Eziquio Barros Neto; Livro Vulto Singular em Meio a Rico Mosaico/Autor: Libânio da Costa Lôbo; Jornal Voz do Povo.

Imagens da publicação: Acervo do IHGC; Site de Ezíquio Barros Neto; Jornal O Imparcial

Restauração das imagens: Brunno G. Couto

Teatro Fênix

Fundado no século XIX, o prédio foi obra da Sociedade Dramática Caxiense (sociedade criada em 1880, da qual participavam o dr. Eduardo de Berredo, o prof. José do Rego Medeiros e o dr. José Firmino de Carvalho). Próximo a sua conclusão, em 1882, o teto do teatro desaba, sendo reconstruído sob supervisão do engenheiro inglês Hyran W. Mappes Jr. Com suas instalações à Rua dos Quintais (Atual, Aarão Reis), o teatro chegou a ser criticado por estar distante do centro da cidade (àquela época, a referida rua fazia parte dos chamados arrabaldes).

Fachada, em ruínas, do Teatro/Auditório Fênix, em 2012. Imagem: Google Maps.

Várias companhias europeias apresentaram-se nesse teatro, entre as quais a italiana Balsamani & Cia, em 1885; a Ficarra e Varella; e a Companhia Luso-Brasileira, que passou quase todo o mês de dezembro de 1901, em Caxias. O compositor caxiense, Elpídio de Brito Pereira, consagrado na Europa e no Brasil, realizou no Fênix dois concertos sinfônicos com composições de sua autoria. A orquestra do teatro era regida pelos maestros Coutinho e Carimã Junior.

Além das exibições teatrais, fora no Fênix que se realizaram as primeiras exibições cinematográficas de Caxias. O ano era 1902, o cinema já tinha quase 7 anos de idade; através do cinematógrafo do alemão Bernard Bluhm, que estava de passagem para Teresina, exibiu-se diversas películas na noite de 30 e 31 de agosto daquele ano. A relação do Fênix com a sétima arte não parou por aí. Na primeira metade do século XX, muitos cinemas funcionaram no prédio, tais como: Cine Odeon, Royal Cinema e Cine Guarany. Além disso, foi nas dependências do Teatro Fênix que, em 01/05/1915, fora criada a União Artística Operária Eleitoral Caxiense. 

Gravura de divulgação do show do ilusionista italiano, em 1905. Imagem: Jornal O Paiz.

Devido às suas acomodações, o teatro era palco de diferentes atrações. Em 1905, o Fênix recebeu o ilusionista italiano Salvatore Vigilante, que excursionava pelo Brasil. Por meio de uma propaganda sensacionalista, típica da época, o mágico, através dos periódicos locais, alertava o público sobre o impacto do truque de decapitação: “Para esta impressionante cena, previne-se ao respeitável público, ou para melhor dizer, aos senhores maridos para não conduzirem ao teatro senhoras com avançado estado de gravidez; isto é um aviso simplesmente, para que na ocasião de ‘decepar a cabeça do corpo’, o sangue que aparecer não possa causar qualquer emoção ou desmaios às senhoras”. 

Com o fim de sua sociedade fundadora, o presidente, José Castelo Branco da Cruz, doou o prédio à Intendência Municipal, em 1914. Em 1938, através de um decreto, o prefeito, Alcindo Guimarães, transfere a administração do teatro ao Ginásio Caxiense, que havia sido fundado três anos antes, e ladeava o teatro. Dentre as exigências estabelecidas estava a de que, caso o colégio encerrasse as suas atividades, o teatro voltaria à municipalidade. 

Alunos, mestres e populares, durante alguma solenidade nas dependências do Fênix (pós-reforma), na década de 1960. Imagem: Ac. de Aluízio Lobo.

Ao longo de sua existência, o Teatro Fênix recebeu diversos espetáculos, de peças infantis à apresentações musicais. Funcionava, também, como auditório do Colégio Caxiense, que, constantemente, promovia diferentes solenidades em suas dependências.  Durante o primeiro mandato do prefeito Aluízio Lobo (1966/1970), o teatro recebeu uma nova reforma em suas instalações. Através dessa completa remodelação, passou a contar com 600 poltronas confortáveis, e com um amplo palco com cenário e pano de boca (foto abaixo).

O então governador, José Sarney, discursa nas dependências do Teatro Fênix (pós-reforma), por volta de 1967. Imagem: Ac. de Aluízio Lobo.

Em 2000, na sede do teatro fora fundada a companhia teatral Eva Fênix, objetivando ajudar jovens com dificuldade de leitura e problemas de socialização. Sob a direção de Érica Almeida, o grupo ainda se encontra em plena atividade.

Imagem área do Teatro Fênix, em 2018, já sem o teto. Imagem: Claudinho Siqueira/YouTube.

O Teatro Fênix funcionou até início dos anos 2000. Contudo, já não apresentava mais a popularidade dos tempos áureos. Com o fim do Colégio Caxiense, na abertura do século XXI, o teatro, conforme preceituava o decreto de 1938, voltou a pertencer à prefeitura. Abandonado, em 2009, o seu teto desaba; preservando atualmente apenas a sua fachada. Tomado pelo mato e com eminente risco de desabamento, o imóvel, nem de longe, lembra aquilo que já foi um dia.

Imagens internas do teatro após o desabamento de seu teto. Imagem: Blog do Sabá.
Ruínas do antigo palco. Imagem: Blog do Sabá.

Assim como diversos outros imóveis de Caxias, o Fênix clama, há anos, por uma reforma.


Fontes de Pesquisa: Livro Por Ruas e Becos de Caxias/Autor: Eziquio Barros Neto; Livro Efemérides Caxienses/Autor: Arthur Almada Lima Filho; Site Eziquio Barros Neto; Livro Cartografias Invisíveis/Diversos Autores; Jornal O Paiz; Blog do Sabá.

Palacete Castelo de Alderico Silva

Muito conhecido dos caxienses, o histórico palacete fora inaugurado em 18 de janeiro de 1952, na ocasião da celebração do 18 aniversário de casamento de Alderico e Dinir Silva. O engenheiro idealizador da edificação fora o cunhado de Alderico Silva, o político e engenheiro Alexandre Alves Costa.

Para a sua construção, fora necessária a formação de uma gigantesca equipe de operários: mestres de obras, pedreiros, marceneiros, eletricistas, etc (relação abaixo). Alguns dos aposentos que compõem o imóvel: hall de entrada, sala de estar, hall de saída, capela, quartos de hóspedes, salão de música, sala de jogos, sala de jantar, cozinha, adega, dispensa, atelier de costuras, terraço, átrio, quartos da família, roupeiro, pomar, etc.

Palacete na época de sua inauguração.
O casal Alderico e Dinir Silva (ao centro), durante a festa de inauguração do palacete.

As instalações eram compostas por: aposentos com piso de mosaicos S. Caetano, azulejos, lâmpadas japonesas e chinesas, lustres, lampadário colonial com pingentes de cristal, piano Essenfleld, etc.

Na festa de inauguração, estiveram presentes diversas autoridades do Maranhão e Piauí. Segue abaixo, um trecho do discurso proferido por Alderico Silva, durante a solenidade de inauguração:

“Meus amigos, permitam-me que eu cite aquelas tão célebres quão conhecidas palavras do imortal imperador romano, o grande o poderoso César Augusto: “Veni, vidi, vici”! – Vim, vi e venci. Sim eu vim da pobreza que não avilta, mas que crucia; eu senti, vezes tantas, o rigor do desconforto da vida dos não favorecidos pela sorte. Daqueles que, em virtude dos sofrimentos, não passam pela vida, como diz o aedo, mas que vivem, pois, é bem verdade que “quem passou pela vida e não sofreu, foi espectro de homem, não foi homem, só passou pela vida, não viveu”..

PESSOAS QUE TRABALHARAM NA OBRA:
  • Pedreiros: Benício Oliveira. Antônio Bertoldo, João de Deus, Antônio Soares, Cândido Neto, José Ribamar Silva, Pedro Cruz e Antônio Marques.
  • Acabamento: Felipe Barbosa (Mestre), Venâncio Santana, Amadeu Rodrigues, Francisco Rameiro, José de Ribamar Moraes, Waldimiro Sousa, Deusdeth Rodrigues, Francisco Thomaz e Antônio Oliveira.
  • Marceneiros: Joaquim Cunha (Mestre), Benedito Santana, Antônio Leite, Airton Oliveira, Sebastião Silva, Abrahão Santos, Raimundo Silva, Manoel Baldiuno, Dionísio Junior e Lourival Machado.
  • Carpinas: Domingos Braga (Mestre), José Fumaça, João Alves, Raimundo Bastos e Raimundo Guedes.
  • Encanadores: Manoel de Jesus Passos e Manoel Silva.
  • Jardim: Edson Raimundo da Silva.
  • Fonte Luminosa: Raimundo Santos.
  • Pintores: Antônio Vieira de Sales e Lino Corrêa Lima.
  • Eletricista: Milton Kós. Ajudante: Leopoldo Santos.
  • Aplicação de Lustres: Felipe Teixeira Neto. Auxiliar: Albino Machado.
  • Aplicação pias lavatórios: Manoel Silva.
  • Cortinas: Casa das Cortinas Ltda. (RJ)
  • Móveis de Estilo: Vitório Azzaltm (SP), Pinho Breltman (RJ)
  • Móveis de Couro: Antônio F. Santos (RJ)
  • Quadros a Óleo: Benedita Ribeira e R. Santos.

Abaixo algumas fotos* (atuais) do palacete:

Escadaria que leva ao piso superior do imóvel.
Piso de mosaico São Caetano.
Biombo, em madeira, que divide um dos aposentos
Brasão da família Costa Silva.
Sala de Música.
Pintura representando a morte do poeta Gonçalves Dias. Obra do artista plástico caxiense Munidco Santos.
Detalhes da escadaria.
Sala de Jantar.
Varanda.
Vista do coreto.

*As fotografias da parte interna e externa do imóvel foram feitas com autorização do proprietário. A residência não é aberta para visitação.

Em 2015, a TV Sinal Verde, de Caxias, produziu uma reportagem sobre o casarão. Vale a pena conferir:


Imagens da publicação: Jornal O Combate; Acervo Público do IBGE; Acervo de Brunno G. Couto; TV Sinal Verde. 

Restauração: Brunno G. Couto

Fonte: Jornal O Combate

Edifício Isany

Armando Gonçalves

Neste sobrado em art decó, foi instalada, em 29 de abril de 1940, a primeira subagência do Banco do Brasil, do estado do Maranhão (que, até então, só estava presente na capital). Como primeiro gerente, fora nomeado o sr. Armando Gonçalves.

O prédio é um dos poucos que ainda mantém sua fachada original (apesar de algumas alterações). Está localizado próximo a Livraria Graúna. É de propriedade da família Leitão.

O edifício à época de sua inauguração.

Fonte: Livro Cartografias Invisíveis/Ano: 2014; Hemeroteca Digital.

Imóvel da Família Castelo

Imóvel onde funcionou o complexo de armazenamento dos produtos da fábrica do Engenho D’água da família Castelo Branco da Cruz, nos séculos XIX e XX.

Localização: Entre a Tv. José da Cruz e a Rua Cristino Cruz.