Ainda bem pequeno ouvia minha mãe dizer: meu filho, todos temos o nosso Anjo da Guarda e devemos, sempre, rezar pedindo a proteção dele. No Catecismo, a existência desse Anjo protetor era ressaltada. Fiquei nessa expectativa.

Um dia, vendo um programa de televisão, Mônica Bonfíglio estava falando sobre os Anjos, suas categorias, protegidos, tempos em que vem á Terra, e como fazer para conhecê-lo.

Pesquisei e fiquei sabendo que o meu Anjo da Guarda chama-se Ariel (ou Hariel), e vem estar com seus protegidos em determinada hora do dia e noite. O Anjo Ariel vem à Terra, diariamente, entre 4:40/5:00 da madrugada e, sempre, acordo antes! Aproveito e rezo: Santo Anjo do Senhor, meu zeloso guardador, se a Ti me confiou a piedade divina; sempre me rege, guarde, governe, defenda, proteja. Amém!

*Antônio Augusto Ribeiro Brandão é Economista e Membro Honorário da ACL, ALL e AMCJSP.

Na década de 40 do século passado, em Caxias, os cinemas eram a maior diversão. O Cine Rex, do qual já falei em minha crônica “Sempre aos domingos”, líder na preferência, rivalizava com o Cine Pax, na exibição de filmes distribuídos pela Metro, Columbia, Universal, Paramount, principalmente.

O Pax funcionava em uma casa, na rua Aarão Reis, fachada estreita e lateral longa, na transversal daquele bangalô de estilo onde inclusive residia o casal Waldemar Lobo, mas que um Banco, muito tempo depois, conseguiu transformar em estacionamento (?!); adaptada para ser cinema, com sua cabine de projeção, na sequência o salão com as cadeiras de madeira e ventiladores na sua parte mais nobre, e um espaço democrático chamado de ‘geral’, bem próximo da tela, onde podiam entrar os que pagavam menos pelo ingresso, sentar em ‘bancadas’ de madeira lavrada e vestir a ‘moda’ mais informal possível.

A ‘geral’ do Pax era uma solução subsidiada, para proporcionar diversão barata às camadas menos favorecidas da população amante da ‘sétima arte’, contudo, tinha lá seus aspectos discriminatórios, mas pouco explorados em época muito distante dos dias atuais. Todos os subsidiados, para que pudessem entrar e sentar, esperavam ao lado da entrada principal, fazendo fila, aguardando que fosse dado o sinal de que os que haviam entrado pela porta principal estavam devidamente sentados, sob a proteção dos ventiladores refrescantes.

O proprietário era Waldemar Lobo e Silva, irmão do João Lobo, da “Casa Matoense”, e do Herval Lobo, proprietário daquele famoso “Bar Operário”, no Largo de São Benedito. Waldemar parecia uma pessoa nascida no entretenimento, pois vivia do cinema e para o cinema, fazendo-se presente, diariamente, nas sessões; fisicamente magro, chegava a lembrar o Fred Astaire.

As sessões eram tumultuadas pelas constantes ‘quebras’ das películas projetadas, uma tecnologia ainda embrionária, além da súbita falta de energia (naquele tempo, na Usina do seu Nachor Carvalho, luz somente de 18 às 24 horas) deixando nervosos os ocupantes da famosa ‘bancada’ da geral; o Waldemar, com sua calma, conseguia controlar os ânimos, mas às vezes o restante do filme ficava para o dia seguinte.

Enquanto o Rex projetava filmes musicais e de aventuras, como “Du Barry era um pedaço” e “Até que a morte nos separe/’, o Pax preferia os mais clássicos, como foi o caso de opereta “Lua nova” e do drama épico “E o vento levou/’, e o acréscimo dos seriados ampliava as sessões cinematográficas.

São essas as lembranças que eu tenho do Pax, da década de 40 até 1954, quando fui para o Rio de Janeiro e, nos breves retornos de poucos dias, em 1957, de férias, 1959, para ficar noivo da Conceição, e 1961, para casar com ela, não frequentei desde então os cinemas de Caxias, que já eram outros ou não mais existiam aqueles que marcaram época.

*Antônio Augusto Ribeiro Brandão é Economista e Membro Honorário da ACL, ALL e AMCJSP.

“Não basta parecer, tem que ser”

Na Roma antiga, naquele tempo de luxúria e de traições, dizia-se: “não basta ser, tem que parecer”. Ou seja, alguém era tido como honesto (a), mas não se comportava como tal.

É muito comum ouvir dizer: estou do seu lado, acho que teve uma boa formação e pode colaborar conosco, continuo seu amigo repercutindo seus textos importantes; na prática, contudo, essa pessoa tornou-se e permanece indiferente e, em situações de afirmação, comporta-se com frieza diante dos fatos, como se nada tivesse acontecido. Costuma-se dizer: o verdadeiro amigo se conhece nas horas mais difíceis e aí é que você vai saber quem está realmente do seu lado. 

Quando se ingressa em uma organização voltada à cultura, por exemplo, obtêm-se, sem nenhuma dúvida, a aprovação dos seus membros. Integrante de organizações desse tipo, egresso de uma eleição ‘a convite’, em discurso formal de posse, define seu conjunto de ações, sabendo com quem pode contar para saber quais dessas ações vão ser priorizadas.

Para o alcance desses objetivos, entretanto, esse novo membro precisa muito de duas premissas básicas: uma equipe de trabalho que seja competente e leal, constituindo-se num verdadeiro TIME, e do apoio explícito não só da confraria que o elegeu.

Comecemos pelo TIME. Os componentes de um TIME têm que ser competentes, solidários e atuantes. Não basta que cada um seja assim: tem que ser solidário nas conquistas do outro, compreender as suas dificuldades e o defender nas horas certas, em uma postura de verdadeiro amigo e não simplesmente de um simples integrante de equipe, apenas fazendo a sua parte. Tem que haver esforços comuns.

A sociedade organizada, que abriga o que há de mais representativo na vida social, econômica e política de uma cidade e com certeza constituída de inúmeros simpatizantes dessa organização, tem um papel de grande responsabilidade no processo de sua auto-gestão: promover a integração dos seus diversos segmentos com o governo e com outras organizações similares, porque está diante de um novo momento em que o progresso acena com oportunidades de grande efeito multiplicador. Mas isso nem sempre acontece, lamentavelmente.

Em breve haverá uma nova geração de líderes responsáveis pela consolidação dos esforços desses tempos nebulosos e a realidade econômica, social, cultural e política dessa cidade será diferente: rica, usos e costumes civilizados, e representação cada vez mais democrática.

*O caxiense Augusto Brandão é Economista e Membro Honorário da ACL, ALL e AMCJSP.

“Dedicado aos economistas maranhenses, que estão comemorando a sua trajetória, e em memória de Antônio Duarte Badejo, meu colega de Turma”.

Fernando Pessoa dizia que “tudo vale a pena quando a alma não é pequena”, porém não cheguei até aqui e ver o Brasil na situação econômico-financeira-social em que se encontra, exportando sem competitividade e importando de forma limitada, carente de investimentos e enfrentando um ‘mar’ de desempregados e famintos, na dependência das benesses do governo.

Dizem que sou o decano dos economistas maranhenses, mas não sei ao certo. Formado desde 1959, no Rio de Janeiro, pela Faculdade de Ciências Políticas e Econômicas-FCPERJ, atualmente integrante da Universidade Cândido Mendes, ao longo desses mais de sessenta anos tenho procurado fazer a minha parte aproveitando as oportunidades que me foram e são oferecidas.

A profissão havia sido regulamentada ainda em 1951 e muitos dos que lutaram por essa conquista foram meus professores, como Alberto Almada Rodrigues, Reynaldo Souza Gonçalves e Elysio Belchior. A FCPERJ, então dirigida pelo Conde Cândido Mendes de Almeida Júnior, ilustre membro de tradicional família, com raízes no Maranhão, foi pioneira ao trazer para o Brasil o que já era praticado nas universidades europeias, decorrendo daí um curso com profundo viés acadêmico e enriquecido de práticas adequadas ao conhecimento da realidade brasileira.

Vivíamos uma ‘época de ouro’ do desenvolvimento econômico do Brasil, àquela altura governado por Juscelino Kubitscheck de Oliveira, com seu bem sucedido Plano de Metas; realmente foi assim, sob esse cenário favorável, que completei meu curso de Ciências Econômicas, fato que tem marcado minha vida profissional em busca do tempo perdido, como economista e professor.

No Rio de Janeiro, durante os dez anos de permanência, trabalhei em empresas voltadas para resultados, e fiquei familiarizado nas relações com Bancos e Repartições Públicas; frequentava as reuniões da Associação Comercial da capital federal, credenciado pela Associação Comercial de Caxias e aprendi muito nessa convivência. Certa vez, integrando uma delegação oficial, fui a Porto Alegre, para participar de um banquete em homenagem ao presidente Juscelino Kubitscheck de Oliveira, recém eleito.

Aos 87 anos, aposentado,  faço um balanço dos meus cinco Livros editados, presentes em bibliotecas no Brasil e no exterior, com lançamentos precedidos de palestras, na Universidade Lumière, em Lyon-França, e na Faculdade de Economia da Universidade, em Coimbra-Portugal. 

Na qualidade de professor, aposentado pela UFMA, em 1997, antes, a partir de 1968, ajudei a criar as escolas de nível superior ligadas ao Estado do Maranhão, no caso a Escola de Administração, da qual me tornei fundador e titular, passando pela FESM e UEMA. Foram trinta anos dedicados à juventude, tentando ensinar todos a ‘voar’: é o que estou fazendo por vocês, dizia, mas ‘voar’ mesmo, depois de formados, dependerá de cada um. Acho que funcionou, pois a semente plantada deu bons frutos.

O CORECON, através do seu atual presidente João Carlos Marques, teve estreitadas nossas relações profissionais, repercutindo meus artigos e outorgando-me um prêmio importante, como economista de destaque, em 2021. Sou grato por essa distinção.

O Brasil está precisando dos economistas, para definir, de forma mais racional, políticas de governo capazes de promover um desenvolvimento gerador de emprego e renda, com justiça social.  Nada como está acontecendo: as diretrizes orçamentárias ignoradas e a taxa de juros usada como instrumento de política monetária, para combater uma inflação importada, que, no nosso caso, não é de demanda, mas de custos, onerando a dívida pública interna, cada vez mais alta, cara e de prazos curtos.

Relembro os grandes pensadores da ciência econômica, citados desde a página 24 do meu livro “Desafios/Challenges” que, a partir do século XVIII, definiram os pilares da nossa profissão: Adam Smith, David Ricardo, John Stuart Mill, William Stanley Jevons, Alfred Marshall e John Maynard Keynes, ortodoxos em suas formulações e determinantes da formação teórica da maioria dos nossos economistas, para o exercício de uma profissão ainda muito jovem.

Enviei aos organizadores do evento “Mês do economista”, que está sendo realizado desde o dia 16 do corrente, uma gravação de imagem e som sobre um tema atual, que venho denominando de ‘desafios à teoria econômica’, de interesse inclusive das Universidades.

“O dia se fez noite, mas o sol nascerá”.

*Augusto Brandão é Economista e membro Honorário da ACL, ALL e AMCJSP.

Acontece no mês de agosto, em Caxias e nos diversos rincões deste Brasil onde o Santo é venerado; uma semana de ladainhas culminando com o grande dia da Missa solene rezada no domingo.

Tradicionalmente, na “Princesa do Sertão”, o Largo em frente à Igreja do Santo é o palco dessa festa já incorporada às nossas tradições embora, em tempos idos, tenha sido deslocada para os domínios do Largo de São Sebastião, Santo também muito venerado por todos e particularmente grato aos Atiradores do Tiro de Guerra 194. Quem serviu naquela unidade do exército brasileiro e graduou-se como Reservista de 2ª categoria sabe bem o porquê.

Durante a Festa eram feitos convites especiais aos que faziam a vida da Cidade, a setores da administração municipal importantes nos seus grandes objetivos; associações de classe, clubes de serviço, conselhos comunitários e a sociedade civil organizada, também eram convidados. Era uma confraternização geral.

As lembranças da Festa são muitas: as rezas sob o fervor do calor intenso, as quermesses de toda sorte de prendas, a roda-gigante a girar vagarosamente, os barquinhos de balanço arriscado e os balões que não resistiam ao sumo de limão. A missa do grande dia da festa, na Igreja cheia de gente, muitos ou quase todos de roupa nova, homens e mulheres, pois fazia parte da tradição, dos usos e costumes daquela época.

Era um tempo em que todos se permitiam esse ‘luxo’ e em que as economias acumuladas demonstravam o seu padrão: para as moças roupas mais simples até as mais sofisticadas, de organza, musseline, seda; para os rapazes ternos de linho importado e tropical inglês. Tudo ficava mais bonito: ver as pessoas sentirem-se mais valorizadas, sua autoestima nas alturas e o prazer de mostrar sua beleza.

Na nossa família, entre os homens, acontecia mais ou menos assim: tecido fornecido pela Casa Brandão, loja do meu saudoso pai Antônio Brandão; feitio e costura a cargo do Joaquim Gabriel, um alfaiate competente, mas impontual até certo ponto. Ele era fã do Orlando Silva e vivia a cantarolar suas músicas enquanto costurava, e ‘viajava’ dando formato às ombreiras do paletó: “…lábios que eu beijei mãos que eu afaguei, numa noite de luar assim; o mar na solidão bramia e o vento a soluçar pedia que fosses sincera para mim …”.

Os cortes de tecido eram entregues ao Joaquim Gabriel, com muita antecedência, pois ninguém queria correr o risco de não poder vestir roupa nova, no dia da Festa; seguiram-se várias sessões de provas, de ajustes, até que tudo ficasse moldado ao corpo de cada modelo, mas, acreditem, toda essa antecedência não era o bastante para o “artista da tesoura”, pois acabava entregando o terno (paletó e calça curtos) em cima da hora! Aí era vestir de qualquer jeito mesmo que às vezes o paletó ficasse apertado e a calça, frouxa, fora de prumo, e rumar para o Largo de São Benedito, para a Missa solene das 9 horas.

Certa vez minha mãe resolveu trocar de alfaiate, para alegrar uma amiga de longas datas, Zefinha, antiga colaboradora da nossa casa revezando-se, sempre, com a Cota e a Condessa; não me lembro de nenhuma outra que tenha feito parte da nossa família, fosse lavadeira, copeira ou cozinheira.

Zefinha tinha um filho empregado da Usina Dias Carneiro, do ‘seu’ Nachor Carvalho, pioneiro nessa atividade empresarial, em Caxias; gente fina, o filho da nossa colaboradora, na verdade era eletricista de formação, mas, segundo a própria mãe, conhecedor do ofício da alfaiataria, embora não houvesse compatibilidade entre as profissões.

E aí, com a mesma antecedência de sempre, entregamos os cortes de linho ao dublê de eletricista-alfaiate, para a confecção das nossas roupas da Festa. Que desastre! Como foi mais rápido do que o antecessor, o Joaquim Gabriel, o Zé não poderia ter caprichado tanto, pensemos. Dito e feito, as roupas não serviam nem para vestir, pois o paletó ficou frouxo e a calça, apertada; não havia conformidade entre as peças.

Destino do paletó, que sobrou: virou uma camisa ‘gandola’ (aquela que tem dois bolsos, um de cada lado, e termina abotoada à altura da cintura), feitio muito em moda naquela época. Quem não teve uma?

Estas são memórias, lembranças de um tempo bom de pessoas cheias de vontade, ingênuas até certo ponto, apenas desejando ganhar honestamente o seu dinheiro, sem depender, como hoje, das ações da filantropia oficial.

Zefinha, Cota, Condessa, Ana, Joaquim Gabriel, nossos colaboradores e amigos de tempos idos, tempos em que Caxias fazia questão de cultuar suas mais caras tradições e da forma mais digna possível.

Continuamos necessitando da união de esforços, de compreensão e integração de propósitos, de perseverança, para podermos honrar nossas tradições. E de muita Fé em São Benedito.

Salve o glorioso Santo, salve!

*Augusto Brandão é Economista, Membro Honorário da ACL, ALL e AMCJSP.

Noites de Junho (Texto de Augusto Brandão)

*Antônio Augusto Ribeiro Brandão

Vencidos os ventos de maio as ‘lanceadas’ nos descampados da cidade mal haviam começado entre os amantes desse esporte. Os ‘papagaios’ feitos por dona Léa Cunha compunham um festival de cores a ‘embandeirar’ a sala da casa dela: uns todo preto com bolas vermelhas, outros de uma só cor, cada lado de uma cor, de várias cores aos pedaços compondo o todo.

Estávamos novamente próximos a festejar Santo Antônio, São João, São Pedro e São Marçal. Nessa época, Caxias ficava animada, ensolarada e muita ventilada, com disputas acrobáticas daqueles ‘triângulos’ enfeitados na ponta de uma linha reforçada com cerol, para ver quem ‘cortava’ melhor.

Pessoalmente, nunca fui muito bom nesse esporte, mas existiam exímios lanceadores. Meu maior prazer era ver essas verdadeiras ‘obras-de-arte’ dispostas em um varal de linha, para escolha.

Os festejos juninos que se seguiam alegravam as noites da cidade e ‘varavam’ as suas frias madrugadas. Lembro-me, por exemplo, da Marujada, comandada pelo Atanásio, que conheci já bem idoso.

Tendo à frente o Joaquim Soldado, envergando uma vistosa e colorida fantasia de adereços diversificados dos pés à cabeça, visitava as residências portando uma escultura em madeira de um animal qualquer, carregado no topo de uma taboa, bicho que tanto podia ser uma cotia como um porco. As manifestações do Divino Espírito Santo também enriqueciam o nosso acervo cultural de valores e crenças.

Tenho algumas preferências pelo bumba-boi, embora não seja um frequentador assíduo dos arraiais onde canta e dança. Acho lindas as dançarinas vestidas de índias, e as toadas; lembro-me de um nosso eficiente colaborador em tempos idos, que gostava de cantar quando ia despachar comigo e apreciava, como eu, a “Bela Mocidade”, a mais bonita já composta pelo Donato, cantador um tanto esquecido pelos ludovicenses.

Voltemos a Caxias dos anos 46 a 54, no mês de junho, onde, com antecedência, moças e rapazes já haviam ensaiado as danças tradicionais da época, destacando-se as ‘quadrilhas’. O grande mestre Othon Cunha, de tradicional família da qual descende a minha inesquecível Conceição, era um exímio dançarino de todos os ritmos, um verdadeiro Fred Astaire.

A Praça Gonçalves Dias se transformava em um verdadeiro campo-de-guerra entre os adultos: busca-pés, morteiros, foguetes, além dos inofensivos estalinhos, a cargo dos mais jovens, das crianças. O cheiro de pólvora impregnava o ar misturado à fumaça dos artefatos detonados.

E as crendices? Eram muitas: a de que Santo Antônio é casamenteiro, a de que pingos de vela numa bacia com água desenham as iniciais do nome do futuro marido ou esposa, a de que uma faca enfiada na bananeira vem manchada com as letras iniciais daquele ou daquela que virá e ficará para sempre de posse do nosso coração.

Conceição, minha sempre lembrada esposa, garantia que fizera isso! Foram 60 anos de feliz convivência entre namoro, noivado e casamento.

Nos anos de 2001 a 2004, o destino, pela mão dos homens e mulheres, e em certas circunstâncias, acabou por colocar sob minha responsabilidade velar pela cultura de Caxias, assim como pela educação, o desporto e o lazer, pela restauração do patrimônio histórico. Foram grandes os esforços despendidos em pleitos inclusive submetidos ao Ministério da Cultura, quando Gilberto Gil estava à sua frente.

Tentar recuperar espaços antes palco de manifestações do gênero, como o Teatro Fênix e o que ainda existe no Centro de Cultura; resgatar o que denominamos a História Oral da Cidade; instalar uma Biblioteca Pública; dotar a Lira Municipal de novos instrumentos musicais; promover cada vez mais os intelectuais adquirindo seus livros, para acervo das escolas.  

Que todos aproveitem e se divirtam em nome da paz e da tranquilidade, a tônica entre os caxienses e ludovicenses amantes das letras, das artes e comprometidos com o bem-estar e o progresso.

*Economista. Membro Honorário da ACL, ALL e AMCJSP.

A FEDERAÇÃO SUFOCADA (Texto de Augusto Brandão)

*Antônio Augusto Ribeiro Brandão

Países do Terceiro Mundo e emergentes sofrem de um problema crônico: falta de planejamento em longo prazo e, por consequência, descontinuidade administrativa.

Assim, governo que entra está sempre querendo mudar alguma coisa do governo que sai, bem como os que querem uma reeleição. Além disso, há os que procedem de outra forma e recomendam: “façam o que eu digo, mas não façam o que eu faço.” Traduzindo: é o que está acontecendo, no Brasil, em meio a contradições e conservadorismo.

Vejamos algumas contradições: mais de 90% dos municípios brasileiros dependem dos recursos oriundos das transferências do FPM mais a cota-parte do ICMS; muito poucos geram receita própria capaz de ao menos custear a máquina administrativa.

Mesmo assim, doravante, na intenção de baixar o preço dos combustíveis, o poder central resolveu alterar esse quadro fixando alíquota mínima para o ICMS, além de projetar remanejamento nos recursos oriundos do FPM, causando projeções de perdas e diminuição para a educação e a saúde.

A esses recursos, além dos ‘carimbados’ à saúde e educação, somam-se os provindos do Orçamento Geral da União, de Convênios e de Emendas parlamentares, sempre exigindo uma contrapartida financeira do ente municipal; mesmo diante dessa realidade ainda há quem insista em querer criar novas comunas.

Para tornar esse quadro ainda mais dramático, o Executivo custeia os demais Poderes, legislativo e judiciário, que deveriam, também financeiramente, ser independentes e harmônicos entre si.

O orçamento público estima receitas e fixa despesas em procedimentos sujeitos às regras expressas nas Leis 4320/1964, do orçamento-programa, e Complementar 101/2000, cada vez mais desobedecidas. Com o advento da responsabilidade fiscal, essas regras e procedimentos ficaram bem mais explícitos, como é o caso das metas compondo um anexo da LDO à elaboração da LOA; tampouco nenhuma dessas leis permite a realização de despesas para as quais não existam recursos financeiros disponíveis.

Investimentos tendem a transformar-se em despesas de custeio. Quando uma escola é construída e aparelhada com equipamentos adequados, estamos na etapa das chamadas despesas de capital; para a escola funcionar, entretanto, vamos precisar de professores, de material didático e de atender as despesas fixas com água, luz, telefone, etc., para podermos obter os resultados esperados; quando as instalações da escola se deterioram, novos investimentos são requeridos, e assim por diante.

Os municípios brasileiros foram induzidos à expansão dos seus sistemas de educação e saúde principalmente após o advento do SUS e do FUNDEF, atualmente FUNDEB; por exemplo, bastou que o crescimento desses recursos não acompanhasse a demanda pela escola, o custo por aluno, para que o desequilíbrio ficasse evidente. Hoje, isso obriga as prefeituras a lançar mão de outras fontes de recursos, sacrificando investimentos.

E os recursos para a merenda escolar dos quais muitos dependem? Todos sabem que, para efeito de cálculo, valem os números do censo do ano anterior, mas a demanda dos alunos, que devem merendar diariamente, são os dados do ano corrente. O descompasso deve ser atendido com recursos próprios.

Tudo vem a propósito das dificuldades enfrentadas pela maioria dos Estados e Municípios brasileiros: “inchaço” da máquina administrativa e alto nível de endividamento, necessitando, com a máxima urgência, de adequação dessa estrutura e ajustes visando equilibrar o orçamento.

*Caxiense. Economista. Membro Honorário da ACL, ALL e AMCJSP.

PROTAGONISMO (Texto de Augusto Brandão)

*Antônio Augusto Ribeiro Brandão

“A cultura não é propriedade de ninguém, mas um processo de acumulação de acumulação ao longo dos tempos.” Esta frase sugere que cada um de nós e suas circunstâncias deve apropriar-se dos conhecimentos existentes e acrescentar-lhes valor.”

Sou um economista formado nos tempos em que o Brasil apontava a uma grande nação. Em 1959, o presidente Juscelino Kubitscheck atingiu o auge do seu governo de grandes e definitivas realizações.

Essa coincidência, com a economia brasileira crescendo, foi definitiva na minha formação em economia em um curso de preocupações mais acadêmicas, na Faculdade de Ciências Políticas e Econômicas do Rio de Janeiro, atualmente integrante da Universidade Cândido Mendes, pioneira após o reconhecimento da profissão, em 1951.

Foi assim que, desde então, vocacionado à profissão, tornei-me leitor aplicado aos livros especializados e de grandes pensadores da ciência econômica, suas teorias e práticas reconhecidas, escritor em busca de resultados nas diversas funções que exerci, seja no serviço público, seja na universidade.

Entre outras experiências enriquecedoras, ajudei a fundar as primeiras escolas de nível superior do Estado do Maranhão, depois transformadas em uma Federação, para culminar na Universidade Estadual do Maranhão – UEMA, da qual fui professor titular. Depois, na Universidade Federal do Maranhão – UFMA, ensinei Teoria Econômica, com ênfase em Economia Monetária, até 1997 quando fui aposentado.

Mas jamais me afastei das atividades universitárias: tive livros editados, a saber: “Fortes Laços”, em 2007, “Crônicas de 400 anos/Chroniques de 400 ans”, em 2012, “Desafios à teoria econômica/Challenges to the economic theory”, em 2015, “Economia\ – Textos Selecionados, em 2019, e fui protagonista das relações internacionais da UFMA, realizando palestras em Lyon e Coimbra.

Em tempos mais recentes, principalmente depois de 2019, quando o Conselho Regional de Economia – CORECON apoiou o lançamento do meu quarto livro, aproximei-me da minha classe profissional, com benefícios recíprocos.

Na minha avaliação, os economistas maranhenses precisam ter um protagonismo maior, assim como tenho tido, diante da grave situação vivida atualmente pelo Brasil. Assim é que, depois de sugerir uma pesquisa acadêmica em parceria com o Departamento de Economia – DECON, da UFMA, infelizmente debalde, estou insistindo: com a periodicidade a ser definida, entre outros detalhes, artigos a serem compartilhados e publicados na imprensa local.

Penso que esta seria uma forma de termos um protagonismo maior por parte do CORECON.

*Economista. Membro Honorário da ACL, ALL e AMCJSP

Homenagem de Augusto Brandão

Texto do caxiense Antônio Augusto Brandão 

Para Conceição (1935-2013), no dia do seu aniversário, 05/06/2022.

“A solidão é fera, a solidão devora, fazendo caminhar a passos lentos e trazendo um descompasso ao meu coração” Alceu Valença.

Augusto Brandão e sua esposa, Conceição, no dia de seu casamento. Caxias, 1961.

Nossa história é meio romanceada e há um quê de predestinação, porque tinha tudo para ficar no que começou: uma simples amizade, em 1946, quando dançávamos nas festinhas de radiola, na sua e na casa dos amigos, e nas festas do Cassino, nos bailes inesquecíveis daquela tempo. Porém, coisas do destino, mudou de repente!

Foi em 1953, à noite, ao rodarmos na praça Gonçalves Dias, você me olhou de forma diferente e tão intensa que não tive dúvidas, para começarmos a namorar. Desde essa época, passamos a colecionar várias datas importantes nas nossas vidas: noivos em 1959, casados de 1961 a 2013, vimos nascer nossos filhos e nossos netos; viajamos muito por esse mundo brasileiro e estrangeiro tendo inclusive comemorado nossas Bodas de Ouro.

Procuramos educar nossos filhos da forma como fomos educados, formamos todos e eles também nos deram frutos compensadores. Construímos juntos nossa família, você sempre mais presente do que eu, como era natural e foi importante.

Conceição e Augusto Brandão cortam o bolo comemorativo de suas Bodas de Ouro, em São Luis.

Hoje, continuamos sentindo a sua falta, mas certos de que está em bom lugar, velando por todos nós. Aceite nossas saudades expressas na canção abaixo, tão apropriada à nossa história.!

FELIZ

Para quem bem viveu o amor
Duas vidas que abrem não acabam com a luz
São pequenas estrelas que correm no céu
Trajetórias opostas, sem jamais deixar de se olhar
É um carinho guardado no cofre de um coração que voou
É um afeto deixado nas veias de um coração que ficou
É a certeza da eterna presença da vida que foi, na vida que vai
É saudade da boa, feliz, cantar

Que foi, foi, foi
Foi bom e pra sempre será
Mais, mais, mais
Maravilhosamente amar
Foi, foi, foi
Foi bom e pra sempre será
Mais, mais, mais
Maravilhosamente amar

Para quem bem viveu o amor
Duas vidas que abrem não acabam com a luz
São pequenas estrelas que correm no céu
Trajetórias opostas, sem jamais deixar de se olhar
É um carinho guardado no cofre de um coração que voou
É um afeto deixado nas veias de um coração que ficou
É a certeza da eterna presença da vida que foi, na vida que vai
É saudade da boa, feliz, cantar

Que foi, foi, foi
Foi bom e pra sempre será
Mais, mais, mais
Maravilhosamente amar
Foi, foi, foi
Foi bom e pra sempre será
Mais, mais, mais
Maravilhosamente amar