Delfilândia, o casarão de José Delfino

Quem passa pela longa rua 1° de Agosto, com certeza já se deparou com o imóvel que é tema desta postagem. Em ruínas, nem de longe o casarão lembra os templos gloriosos do passado. Ainda assim, o prédio “conserva” o restante de sua beleza original. Quem o vê, muitas vezes se questiona: “Quem será que morou aqui?”, “Quando foi construído?”, “Por que se encontra nesta situação?”. E foi em virtude dessas perguntas que tive a ideia dessa postagem; para tentar esclarecer um pouco dessa história. E tudo tem início na cidade de Pedreiras, no Maranhão.

No referido município, no dia 09/12/1895, nasceu José Delfino da Silva, filho mais velho do casal Delfino Ferreira da Silva e Maria de Jesus Bayma Gonçalves (Tiazu). Entre os seus sete irmãos, estavam: Alderico Silva e Maria da Mercês, a “Tia Miroca”. Na juventude, José Delfino muda-se para Caxias, onde obtém sucesso como empregado no comércio, fazendo com que, em 1915, trouxesse toda a sua família para residir na cidade.

Com o aumento de capital, logo funda a sua firma, J.D. Silva & Companhia, em 1916; inaugurando, no ano seguinte, o vasto armazém “Bazar Elegante”, com instalações à rua 1° de Agosto. A partir daí, os seus negócios só cresceram. Dono de um império, tornou-se um dos homens mais ricos e influentes do Maranhão. Sobre a riqueza do empresário, escreveu Libânio Lôbo: “O Zé Delfino usava, denotando status de alto coturno, um brilhante de alto quilate. E grande. Brilhava ao sol. Chegando a ofuscar, nos movimentos da mão. Donde alguns, incomodados com aquele status, alcunhá-lo, à socapa, de “O Diamante”.

Na década de 1920, foi eleito vice-prefeito de Caxias para o mandato de 1925/1927. Ante a renúncia do prefeito, assumiu a chefia do executivo municipal até 1927, quando também renunciou ao cargo, não concorrendo mais a cargos políticos. Com o fim do “Bazar Elegante”, José Delfino (ou “Zé Delfino”, como era mais conhecido) inaugura, em 1940, em frente à sua firma, a loja varejista “A Babylonia”, que logo conquistou uma grande clientela.

É por volta dessa época – final da década de 1930 e início de 1940 – , que o empresário adquiri diversos imóveis naquela rua, bem como em ruas paralelas. O seu domínio imobiliário era tão grande naquelas vias, que uma delas fora renomeada de Delfinópolis (nome que permanece até hoje). E, dentre esses imóveis, estavam alguns antigos casarões coloniais que ladeavam a sua firma. Naquele local, José Delfino decidiu construir a sua nova residência. E para fazer jus ao seu poderio financeiro, bem como para trazer ares de modernidade ao seu futuro lar, decidiu demolir os imóveis e construir um casarão com toda pompa e grandiosidade.

E assim, por volta do início da década de 1940, é finalizada a nova residência do empresário. Com amplo jardim frontal, diversas colunas em sua fachada, além de um chafariz em sua parte interna, a edificação era de uma beleza ímpar, ainda mais para os padrões caxienses daquela época. Na platibanda do imóvel fora escrito: “Delfilândia”, que nasce da junção das inicias do nome de seu proprietário, com a aportuguesada versão da palavra “land”, que siginifica “terra”, “nação”, “território”. Além do empresário, o “território de Delfino” era o lar de sua esposa, Raimunda Cantanhede, e de sua numerosa descendência.

Além de ser sua morada, naquele local Delfino recebeu diversas autoridades de todo o país e promoveu eventos para convidados da alta sociedade caxiense. O casarão permaneceu por alguns anos como um dos mais belos da cidade, até que, em 1952, seu irmão, Alderico Silva, que também vivia períodos de bonança financeira, construiu o seu belo palacete naquela mesma rua, “desbancando”, assim, o reinado do primogênito.

Na década de 1950, alguns dos dez filhos de José Delfino e Princesa (apelido de Raimunda), já haviam constituído família e, consequentemente, saído do casarão; passando o casal a residir com alguns filhos e netos. Nos negócios, as coisas não iam muito bem para Zé Delfino, como escreveu o pesquisador Eziquio Neto: “Negando-se a seguir pedidos políticos de Vitorino Freire, líder do regime maranhense conhecido como “vitorinismo”, o empresário passou a ser perseguido pelo governo. Delfino foi proibido de usar a estrada de ferro para transportar sua produção de babaçu, sendo ele o maior produtor da região. Assim, tentou outros meios para solucionar esse problema, como a navegação pelo rio Itapecuru, fazendo com que gastasse uma fortuna por uma empreitada que acabou não tendo resultados”. Libânio Lôbo (in memoriam) complementa: “O Vitorino Freire deixava a pão e laranja seus opositores. O Zé Delfino, por amor à retidão, caiu nesse rol. Foi o começo do seu fim.”

Nessa época, a luz em Caxias, fornecida pela Usina Dias Carneiro, era ligada das 18h às 23h. Quando havia luz elétrica pela manhã, era um sinal de que alguém importante morrera. E fora assim na manhã de 19/04/1958, quando logo cedo as luzes já iluminavam Caxias. Espantados, os caxienses logo souberam o motivo: havia falecido José Delfino da Silva, vítima de um ataque cardíaco. Tinha 62 anos.

Viúva, Princesa permanece no imóvel até falecer. Após a partida dos pais, a casa passa a ser habitada por algumas das filhas do casal. E assim permaneceu até a década de 2000. As filhas, Denize e Mitonha, foram as últimas a residirem no local, permanecendo até, por volta, de 2010. A partir daí, o imóvel fora abandonado, tendo sido, por volta de 2011, colocado para venda. Não se sabe ao certo o porque do abandono, o que se sabe é que a descendência de José Delfino é muito grande e está espalhada pelo Brasil, o que, talvez, dificulte a situação de venda do imóvel – mas isso é apenas uma suposição.

Abandonado e sem passar, há anos, por nenhum tipo de benfeitoria em sua estrutura, o imóvel passou muito tempo como ponto de uso de drogas. Tendo suas paredes e portas rabiscadas e queimadas, além do matagal que crescera em seu jardim. Em 2019, o fotógrafo caxiense David Sousa realizou uma exposição virtual sobre o imóvel chamada: “Delfilândia: tetos, chão e histórias…”. Nas fotos feitas por ele (abaixo) é possível – mesmo considerando o seu estado de conservação – ter uma noção da beleza do casarão:

Em 2021, o artesão e pedreiro José Henrique da Silva, que trabalha nas imediações do casarão, decidiu, por conta própria, fazer uma limpeza no imóvel, para que, assim, tivesse um local para dormir, já que passava a noite no relento das praças da cidade. Além de retirar o lixo que se acumulava, José capinou todo o mato e realizou algumas intervenções artísticas na fachada do imóvel, que ganhou diferentes cores. Diante da iniciativa, o canal “Pa! Pô! Papo de Poeta” realizou, em 2022, uma entrevista com José, onde ele fala um pouco mais sobre a sua história com o imóvel:


Fontes de pesquisa: Livro Por Ruas e Becos de Caxias/Autor: Eziquio Barros Neto; Site Tiazu; Livro Álbum de Caxias, MA, A Princesa do Sertão/Autores: Raimundo Medeiros e Linhares de Araújo; Livro Vulto Singular, Em Meio ao Rico Mosaico/Autor: Libânio da Costa Lôbo

Imagens da publicação: Créditos nas imagens

Restauração, colorização e design das imagens: Brunno G. Couto

A INFLAÇÃO NAS ECONOMIAS REFLEXAS (texto de Augusto Brandão)

*Antônio Augusto Ribeiro Brandão

Quando eu digo que o Plano Real foi uma ‘mágica’ bem executada, mas que o Brasil não tinha as condições estruturais para torná-la realidade, continuo pensando assim. Naquela época, por exemplo, com o real cotado acima do dólar, o país poderia ter aparelhado seu parque industrial, para exportar com qualidade e produtividade.

A subida da taxa SELIC, para combater a inflação, conter a alta do dólar, implica no crescimento e custo da dívida pública interna, cada vez mais rolada no curto prazo. O capital externo exige isso, senão não vem. O país está ficando sem dinheiro, para seus compromissos oficiais e continua tendo que alimentar as expectativas da nossa população ‘abaixo da linha de pobreza’.

André Lara Resende, por um lado, deve andar satisfeito, porque diz que o “governo que emite sua moeda não deve ter limitações”; por outro lado, entretanto, diz que a taxa SELIC deveria ser fixada abaixo da taxa de crescimento do PIB, e estamos longe disso.

Se nossa inflação fosse de demanda, elevar a taxa de juros poderia resolver, mas nossa inflação é estrutural, de custos, por isso não adianta e agrava a dívida interna.

Cursino, na atual conjuntura econômica mundial, principalmente depois da crise das hipotecas, em 2008, quando os bancos centrais, liderados pelo FED, promoveram uma ‘financeirização’ sem precedentes, mas sem resultados até hoje, nos EUA, Europa e países emergentes e do chamado ‘terceiro mundo’ com economias mais fortes condicionando as mais fracas, será, sempre, assim.

É que esses recursos não atingiram a economia real e ficaram, até hoje, ‘inchando’ os balanços dos bancos centrais. Esses recursos serviram apenas à rolagem de dívidas de empresas e de governos.

E mais: essa expansão monetária sem precedentes revelou uma falta de firme regulamentação das relações no mercado financeiro americano, com o beneplácito do FED, para salvar bancos importantes da ‘quebra’, como o Lehman, que visitei, em 1980, como uma das potências do ramo.

Agora, o mundo todo está sentindo os efeitos desse descontrole, até mesmo os EUA, com sua economia ‘patinando’!

E o que pode fazer uma economia reflexa, como o Brasil, com essa política errática de juros altos, sem ajuste ou controle fiscal? Talvez seguir de vez o que prega André Lara Resende (“…o país que emite sua moeda não deve ter limites.”) ou preparar-se para um futuro nem tanto almejado, mas sempre alcançado: recorrer ao FMI.

Em tempo: essa inflação de agora, mais aqui e menos ali, tem causas geradas por essa expansão da liquidez, em 2008, que nunca teve uma contrapartida de produto.

Conclusão: o Brasil sofre, hoje, essa pressão sobre a demanda, por excesso de liquidez internacional sem contrapartida de produto, além dos gastos com os programas assistenciais; acrescente-se a isso a ausência de produtividade, elevando custos, o outro componente da inflação.

*Economista. Membro Honorário da ACL, ALL e AMCJSP.

Amores Perdidos (Texto de Augusto Brandão)

*Antônio Augusto Ribeiro Brandão

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Talvez se diga que eu não consegui absorver os efeitos do progresso, da mudança de valores, crenças, usos e costumes. É bem possível que eu continue sendo uma pessoa conservadora, fruto da formação no seio de uma família católica, de ter estudado em colégios tradicionais e com professores disciplinadores, de ter sido soldado-infante e aprendido o respeito à hierarquia e aos valores da Pátria.

A verdade é que não gosto mais de futebol e de cinema, esporte e diversão sempre presentes nos meus tempos de juventude. Em 1983, foi a última vez em que assisti a uma partida e, em 2003, em que fui ao cinema.

Aqui, ia ao cinema pelo menos três vezes por semana no tempo em que havia o Roxy, Éden e o Teatro; no Rio, entre 1955 a 1960, fui um assíduo frequentador do Palácio, Metro-Passeio e demais localizados na Cinelândia.

Quanto ao futebol sou do tempo da ‘barreira’ do saudoso estádio Santa Izabel e do Sampaio de então; no Rio, torcedor do Fluminense, não perdia jogos do clube, nas Laranjeiras, no Maracanã e em qualquer campinho, em São Cristóvão, Madureira, Bonsucesso, Olaria.

Da época em que o Teatro Artur Azevedo funcionou como cinema, muitos filmes mexicanos e franceses; o cinema de arte acontecia, no Éden, e as vesperais, no Roxy, deixaram muitas lembranças e saudades.

Em 1963, presenciei um FLA x FLU com o segundo maior público então presente no Maracanã, mais de 163 mil pagantes; o Flamengo jogou pelo empate e sagrou-se o campeão carioca daquele ano.

Em 1957, a caminho do Maracanã na companhia de duas primas, para ver a final do Fluminense com o Botafogo, não conseguimos chegar: nosso transporte chocou-se com a traseira de outro e as meninas ficaram feridas, e acabamos no Hospital.

Mas, quando tudo começou a mudar, com os cinemas tradicionais fechando suas portas dando lugar a pequenos espaços de projeção, iniciei minha debandada; atualmente, não conseguiria conviver com o ‘piquenique’ dos refrigerantes e das pipocas.

Quanto ao futebol, com regras importadas da Inglaterra e que, no Brasil, prosperou, não suportei o declínio de toda uma estrutura formal em nome da implantação desse esporte no mundo todo, quantidade em detrimento da qualidade, negócios em detrimento do espetáculo.

Minhas mais recentes desilusões são mesmo com as Academias de Letras, de honrosas tradições e costumeiras exceções, porque resolveram criar algumas inovações: a possibilidade dos membros efetivos ‘migrarem’ de uma categoria para outra, menos por honraria e mais por idade; ser ‘patrono’ da própria Cadeira ocupada, também pelos mesmos motivos, e tornar os atos de eleição e posse de novos membros formalidades sem ‘pompas e galas’, menos por questões de etiqueta social e mais por economia de gastos e comodidades gerais.

A verdade é que as Academias de Letras não fazem política, mas são instituições políticas.

*Economista. Membro Honorário da ACL, da ALL e da AMCJSP.

Palestra proferida pelo economista caxiense Augusto Brandão em Lyon (FR)

*Antônio Augusto Ribeiro Brandão

Saudação às Autoridades presentes, diretores, professores, convidados e alunos da Université Lumière Lyon 2, seus familiares e amigos.

Professora Maria da Conceição Coelho Ferreira, diretora do Instituto da Língua Portuguesa da Universidade.

“Crônicas de 400 anos”, o livro que venho lançar, aqui e agora, é uma homenagem a São Luís do Maranhão e aos franceses seus fundadores, em 1612. Reafirma um estilo narrativo existente desde os tempos de Claude d´Abbeville e Yves d´Évreux, capuchinhos que acompanharam a expedição de Daniel de La Touche e tornaram-se os cronistas pioneiros do cotidiano da cidade.

Todos já devem saber que há uma velada polêmica, que vez por outra vem à tona por parte de alguns intelectuais da minha cidade, quanto aos verdadeiros fundadores de São Luís. Há fatos históricos, registros fidedignos e incontestáveis de que foram os franceses.

Quando os franceses ocuparam as terras brasileiras e fundaram São Luís, em 1612 (onde Jacques Riffaut já havia estado, em 1594), com Daniel de La Touche à frente de uma caravela e duas naus, mais 500 homens e os Frades capuchinhos, após 116 dias desde Cancale, “precisamos refletir sobre algumas das circunstâncias mais representativas então vigentes na França”, e sobre o que aconteceu depois de mais de três anos de colonização, para que o ideal da França Equinocial não pudesse ser concretizado.

Ilustres historiadores pertencentes à já centenária Academia Maranhense de Letras manifestaram-se a respeito da fundação de São Luís, tais como Barbosa de Godois, José Ribeiro do Amaral; Claude d´Abbeville e Yves d´Évreux, cronistas pioneiros da cidade, também. 

Também venho a esta vetusta Universidade em grata missão oficial da Universidade Federal do Maranhão-UFMA, em São Luís, a fim de firmar um “Memorando Geral de Entendimentos para Cooperação Mútua” com a Universidade Lumière Lyon 2, que dará início a um novo tempo nas nossas relações internacionais “desenvolvendo experiências educacionais e científicas de fortalecimento e enriquecimento”.

Este Ato, portanto, situa-se além de uma realização pessoal deste professor e cronista. Contou, desde os primeiros momentos, com a compreensão da ilustre professora Maria da Conceição Coelho Ferreira, responsável pelo Instituto de Estudos Brasileiros, desta Universidade, acatando nossas manifestações de interesse e dando bom termo aos nossos entendimentos.

Agradeço de coração à ilustre professora, bem como e de igual forma ao professor Aldir Araújo Carvalho Filho, chefe da Assessoria de Relações Internacionais da UFMA, que formalizou, em nome do Senhor Reitor Natalino Salgado Filho, esses entendimentos.

A UFMA é uma universidade relativamente nova, pois foi oficialmente criada em 1966. Antes existiam Escolas isoladas e que foram transformadas em uma Fundação. Atualmente, tendo à frente o Magnífico Reitor Natalino, a quem agradeço a viabilidade da minha viagem, nossa Universidade tem experimentado franco progresso na melhoria e expansão dos seus diversos cursos pelos inúmeros campi, no Estado do Maranhão, além de significativa ampliação das suas instalações no campus do Bacanga, em São Luís. Estamos vivendo um acelerado progresso.

Permitam-me apresentar-me. Sou economista formado pela Faculdade de Ciências Políticas e Econômicas do Rio de Janeiro, em 1959, e professor universitário aposentado pela Universidade Federal do Maranhão, onde ensinei de 1979 a 1997; antes fui professor-fundador da Universidade Estadual do Maranhão, onde ajudei a criar, a partir de 1968, as primeiras escolas de ensino superior ligadas ao Estado. Na Universidade ensinei principalmente Teoria Econômica, Economia monetária e Mercado de capitais. Desenvolvo atividades literárias, como membro das Academias Caxiense, em Caxias, e Ludovicense de Letras, em São Luís.

No momento, estou escrevendo o Elogio ao meu Patrono, na Academia Ludovicense de Letras, Francisco Sotero dos Reis, a ser proferido no mês de julho próximo. Ele nasceu e morreu no Maranhão do século XIX, “foi jornalista, poeta e escritor, e deu lume a uma obra estritamente vinculada a assuntos filológicos […]”, foi precursor do “fenômeno raro do aparecimento de verdadeiros mestres da Língua Portuguesa Clássica”, no século XX.

Um panorama da literatura brasileira, segundo Luiz Ruffato, jornalista e escritor, “[…] embora caudatária da literatura portuguesa, desde cedo a paisagem é uma maneira diferente de modular a língua conformaram a mentalidade brasileira […]”; “[…] o Brasil colonizado a partir de 1500 recebeu vagas influências estrangeiras”. Situa o ano de 1836 “como marco fundador da literatura nacional”, que segue bem diversificada nos dias atuais cultuando valores do passado e aplaudindo os novos.

Sotero dos Reis (1800-1871), meu Patrono na ALL, estudou 29 dos principais autores portugueses e brasileiros, destacando-se Gil Vicente, Luiz Vaz de Camões, Alexandre Herculano, Padre Antônio Vieira, Manoel Odorico Mendes, Antonio Gonçalves Dias e Antonio Henriques Leal.

Este é o meu segundo trabalho de crônicas. São 27 selecionadas, antes publicadas na imprensa de São Luís e reunidas em Livro, a fim de superar a perenidade dos textos jornalísticos. A principal dessas crônicas presta meu tributo à única cidade brasileira fundada pelos franceses, São Luís do Maranhão; elas falam, ainda, das minhas viagens, sobre outras cidades, livros, música, família, estudos, valores e crenças. “Tratam de coisas passadas com intenção de preservar memórias, não de desvalorizar o presente”.

Segundo palavras do apresentador e tradutor do Livro, professor Cadmo Soares Gomes, “[…] o lirismo criativo está sempre presente e se desvela às vezes em melancolia […]. Quando trata da família, revela o espírito romântico, rendendo-se aos sentimentos suaves […]”.

Chamo atenção para as epígrafes que coloquei em cima de cada crônica. Foi de propósito. Além de prestigiar a memória dos seus autores, adequa-se, na maioria das vezes, ao que escrevi. São para reflexão.

Desejaria, doravante, fazer alguns comentários sobre as motivações que me levaram a escrever algumas das crônicas selecionadas.

“Razão e Sensibilidade” (páginas 17 a 22) é um grito de alerta em favor do patrimônio histórico das cidades, particularmente de Caxias, no Maranhão, no Brasil, minha terra natal; é um posicionamento democrático contra o lento, gradual e inexorável processo de “modernização” dos espaços às vezes onde se nasce, cresce e morre.

“Amor Perdido” (páginas 49 a 55) é sobre futebol, que já gostei tanto, todavia acabei perdendo o interesse face às desilusões ocasionadas por circunstâncias adversas. Dizem que “somos nós e as nossas circunstâncias”, não é assim?

“O Sereno do Cassino” (páginas 101 a 104). Sereno diz-se das pessoas que permanecem, de fora, observando os que entram, nos bailes da vida; e Cassino com dois “s” não é clube de jogo, contudo clube de dança. Os de fora observam, fazem comentários de toda ordem, riem, divertem-se com os ditos ‘privilegiados’, sobre se estão bem vestidos, bem acompanhados. É divertido!

“Vereda Tropical” (páginas 119 a 124) lembra da minha juventude, em São Luís, e das músicas caribenhas que tocavam nos clubes da cidade, nos bailes da vida, das namoradas e das dificuldades em conservá-las.

“Melancolia” (páginas 125 a 128) Gosto tanto desta crônica, que parece ficção, mas é realidade, pois foi baseada em fatos reais; mostra como o simples viver é, para algumas pessoas, um verdadeiro dilema. “Seriam os poetas predestinados aos sofrimentos da alma”?

“O que é a Felicidade” (páginas 195 a 200). Quem sabe? Eu arrisquei escrever sobre algo apenas experimentado por quem sente. Cada qual é feliz à sua maneira; não há uma receita pronta e acabada.

“Todos têm direito à vida, à liberdade e à busca da felicidade”, disse Thomas Jefferson, terceiro presidente dos Estados Unidos, quando esboçou as primeiras linhas do texto da Declaração de Independência dos EUA, em 1776.

Busquemos, pois, esses direitos.

*Economista. Membro Honorário da ACL, ALL e AMCJSP.

Palestra proferida pelo caxiense Augusto Brandão na Universidade de Coimbra

PALESTRA EM COIMBRA
Minhas palavras iniciais são de agradecimento às autoridades da Universidade de Coimbra e de sua Faculdade de Economia, que gentilmente acataram minha disposição em visitá-las. Desta vez venho proferir uma Palestra cheia de invocações ligadas à história do Brasil e de Portugal, plena de assuntos do particular interesse dos atuais e futuros economistas, e comentar sobre algumas das crônicas do meu mais recente Livro, que autografarei em seguida.
Magnífico senhor reitor da Universidade de Coimbra, Professor Doutor João Gabriel Silva, em nome do qual saúdo seus ilustres Vice-reitores e Diretores;
Senhor diretor da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra, Professor Doutor José Joaquim Dinis Reis, e seus subdiretores;
Demais autoridades aqui presentes, colegas professores e estimados alunos de Coimbra, onde “pelas ruelas pipocam as tradicionais e animadas repúblicas dos estudantes” e que, desde 1537, “perambulam com livros debaixo do braço, ocupam as mesas dos cafés e dos bares, cantam fado e fazem festa noite adentro”.
A todos trago um abraço dos maranhenses de São Luís do Maranhão, a única cidade brasileira fundada pelos franceses, em 1612, e colonizada pelos portugueses, desde 1615.
Esta visita tem para mim um significado todo especial. Estou na vetusta e histórica Universidade de Coimbra, fundada no século XIII, em 1290, que teve papel fundamental na formação da elite brasileira; e tenho raízes portuguesas advindas de minha avó materna, Maria Laura da Silva Ribeiro, nascida na província de Trás-os-Montes e Alto Douro, legando-me o gosto pelos produtos da terra e o amor pelas conquistas dos Grandes Navegadores.
Até meados do século XIX, a maioria dos nossos ministros graduou-se em Coimbra, como é o caso de José Bonifácio de Andrada e Silva (1763-1838), considerado Patriarca de Independência do Brasil (1822), e os escritores Antero de Quental, Eça de Queirós. Luís de Camões, Mário de Sá Carneiro, Gregório de Matos e Tomás Antônio Gonzaga.
Atualmente, a Universidade de Coimbra é a instituição no exterior com mais estudantes brasileiros, pelos diversos Termos de Cooperação celebrados e renovados com suas congêneres nacionais, como é o caso da Universidade Federal do Maranhão, da qual sou professor de economia (aposentado) e represento-a neste momento solene.
A Universidade de Coimbra, referência internacional na área de direito, tornou-se mais recentemente também um polo respeitado na Europa em pesquisa de saúde e produção de tecnologia, e desde o período medieval e Renascimento, é uma depositária de fontes documentais. Mário Brandão, que tem o meu sobrenome, figura entre seus autores mais citados nas décadas de 1930, 40, 50 e 60.
Um lídimo representante desse referencial, Manuel Fran Paxeco, nascido Manuel Francisco Pacheco (1874-1952), jornalista, escritor, diplomata e professor de português, foi Cônsul de Portugal no Maranhão, aonde chegou no dia 2 de maio de 1900; autor de várias obras e de grande amor pelo Estado foi membro fundador da Academia Maranhense de Letras e casou-se com a maranhense Isabel Eugênia de Almeida Fernandes, natural de São Luis, de quem teve uma filha, Elza Fernandes Paxeco, “primeira senhora doutora pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa”.
O Maranhão e seus intelectuais, diz Rossini Correa, tiveram um papel fundamental na formação de uma identidade nacional, quando o nosso Estado foi rico […], os filhos das classes mais abastadas iam estudar na Europa e traziam o conhecimento acumulado para aplicar no Brasil […]. Destacaram-se na literatura nesse período Gonçalves Dias, Odorico Mendes, Gomes de Souza, Vieira da Silva, que ajudaram a fundar o humanismo no Brasil; depois os irmãos Artur e Aluísio Azevedo, mesmo finda a opulência, surgiram como nomes na literatura estadual […].
Dentre os muitos e ilustres maranhenses que estiveram em Coimbra, mais recentemente, destaca-se o professor José Maria Cabral Marques, advogado pela antiga Faculdade de Direito de São Luís, ex-reitor da Universidade Federal do Maranhão, membro da Academia Maranhense de Letras, e agraciado com a Ordem da Instrução Pública, no Grau de Comendador, da Presidência da República de Portugal.
Desejo ressaltar que venho à Universidade de Coimbra, e a esta sua prestigiada Faculdade de Economia, em nome da Universidade Federal do Maranhão, da qual sou professor aposentado, como disse, e onde ensinei por quase vinte anos ininterruptos; egresso da Universidade Estadual do Maranhão, onde fui professor titular fundador de uma das suas primeiras escolas de nível superior geridas pelo Estado do Maranhão, a Escola de Administração Pública, venho também em nome das Academias Caxiense de Letras, em Caxias, minha terra natal, e da Academia Ludovicense de Letras, em São Luís.
A Universidade Federal do Maranhão é uma instituição relativamente nova, pois foi oficialmente criada em 1966. Antes existiram Escolas isoladas e que foram transformadas em uma Fundação.
Atualmente, tendo à frente o Magnífico Reitor Natalino Salgado Filho, a quem agradeço o incondicional apoio à minha viagem, nossa Universidade tem experimentado franco progresso na melhoria e expansão dos seus diversos cursos pelos inúmeros campi, no Estado do Maranhão, além de significativa ampliação das suas instalações no campus do Bacanga, em São Luís, onde mantém sua sede. Estamos vivendo um acelerado progresso em todos os sentidos.
Parodiando a letra da música e afirmando que “no peito dos economistas também bate um coração”, além de restabelecer contatos com esse berço tradicional da vida universitária, Coimbra, e como fiz recentemente na França, em Lyon, no Instituto de Estudos Brasileiros da Université Lumière 2, venho também doar e autografar meu segundo livro “Crônicas de 400 anos/Chroniques de 400 ans”, bilíngue português/francês, escrito para homenagear o 4º Centenário de São Luís do Maranhão, que, como disse, foi fundada pelos franceses e colonizada pelos portugueses.
Diz o economista maranhense José Cursino Raposo Moreira, meu amigo, na “orelha” do meu primeiro livro intitulado “Fortes Laços”, que se encontra na Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra, desde 2009, quando, pela primeira vez, visitei a cidade, e a propósito de alguns de nós mesmos: “[…] os economistas, pela própria natureza de sua formação, desenvolvem um pendor natural para atividades intelectuais, que se expressa na forma de produção literária e militância cultural de que temos vários exemplos. […]; e prossegue: o pai da macroeconomia, John Maynard Keynes (menção à coincidência da Sala), destacou-se como entusiástico incentivador das artes na Inglaterra das primeiras décadas do século XX […]”, e Celso Furtado, Mário Henrique Simonsen e Roberto Campos são exemplos entre os brasileiros.
Agora, um pouco da minha própria história:
Quando ingressei na Faculdade de Ciências Políticas e Econômicas do Rio de Janeiro (uma das primeiras escolas de economia do Brasil), em 1956, havia apenas cinco anos de reconhecimento da nossa profissão (Lei 1411/51). Lembro-me de que as lutas com esse objetivo foram intensas e lideradas, entre outros idealistas, por Reynaldo de Souza Gonçalves e Alberto Almada Rodrigues, dois dos meus ilustres professores. Era nosso diretor o professor, político e escritor Conde Cândido Mendes de Almeida Junior, descendente de tradicional família originária de Portugal, que chegou ao Brasil, em 1808, e estabeleceu-se em vários Estados, inclusive no Maranhão, em Caxias.
As lutas visando afirmação da nossa profissão foram intensas e exigiu muita persistência; entre 1956 e 1959, enquanto universitários, vivíamos um período florescente da economia brasileira e tudo levava a crer que teríamos um futuro altamente promissor pela frente. Logo depois as coisas mudaram bruscamente e tivemos que refazer nossos planos
Com a permissão de vocês, direi mais a meu respeito, sobre minhas origens, o que tenho feito como economista e escritor, e professor universitário; sobre o que penso, escrevo e tenho publicado, na imprensa de São Luís, artigos e crônicas sobre a conjuntura econômica brasileira e internacional, e o cotidiano das cidades.
Permaneci no Rio de Janeiro até 1965, já casado e onde nasceram meus dois primeiros filhos. Retornei ao Maranhão, em 1966, integrando-me ao setor público estadual e ajudando a fundar as primeiras escolas de nível superior, tornando-me economista da Secretaria de Viação e Obras Públicas e professor fundador titular da Escola de Administração Pública do Estado do Maranhão, ensinando Teoria Econômica; depois me transferi para a Universidade Federal do Maranhão, onde ensinei Economia Monetária e Mercado de Capitais, aposentando-me em 1997, todavia sentindo ainda muitas saudades desse tempo; momentos como os de agora, portanto, são profundamente emocionantes para mim.
No período de 1979 a 1887, integrei diretoria no sistema financeiro estadual e, nessa condição, em 1980, tive oportunidade de viajar aos Estados Unidos, para frequentar um Seminário sobre o mercado de capitais e financeiro realizado na Universidade de Nova York. Naquela oportunidade, visitando a Bolsa de Valores, a NYSE, perguntei a um expositor: você acha que a crise de 1929 poderá repetir-se? Ele respondeu que sim, mas que “haveria salvaguardas”. Agora, a partir da “crise da bolha” de 2008, penso ter entendido o que ele, intuitivamente, quis dizer.
Doravante, para qualificar nossa profissão, assuntos mais específicos e do interesse dos economistas.
Finda a Segunda Guerra Mundial, buscava-se uma nova ordem econômica; esse objetivo, quando o conflito acabou, foi concretizado predominantemente à custa da intervenção estatal no domínio econômico, o chamado “Estado do Bem-Estar Social”, sob a presidência de Franklin Delano Roosevelt. A célebre Conferência de Bretton Woods, em julho de 1944, que culminou com a criação do Banco Internacional de Reconstrução e Desenvolvimento-BIRD, o Banco Mundial, e do Fundo Monetário Internacional-FMI, fundamentou essa nova ordem (quando da Conferência, os EUA já eram “donos de 60% das reservas de ouro do mundo”).
John Maynard Keynes liderou e teve ampla influência em quase tudo que foi discutido naquela oportunidade; já àquela altura houve “argumentação insistente de países que pretendiam ter quotas maiores no capital do FMI, significando maior poder de voto”, como continua sendo reivindicado até os dias atuais. Aliás, a recente criação do banco dos emergentes, o banco dos BRICS, reafirma esse desejo e, no caso, a disponibilidade de um “colchão de reservas” em proveito próprio, para enfrentamento de resistência a possíveis novas crises.
As questões debatidas em Bretton Woods voltaram à baila desde a chamada “crise das hipotecas”, iniciada nos Estados Unidos, em 2007, e repercutida e ainda repercutindo na Europa, principalmente nos países da zona do euro (limitações da moeda única).
O excesso de liquidez (“quantitative easing”), que invadiu o mundo capitalista com trilhões de dólares, foi recentemente anunciado pelo Banco Central Europeu (“o único grande banco central que até agora tinha evitado embarcar em um afrouxamento quantitativo”), na Conferência de Jackson Hole, nos Estados Unidos, como uma das soluções à recuperação da eurozona.
Por ação dos próprios bancos centrais dos países desenvolvidos, mais as maciças emissões primárias da chamada dívida soberana, com recompras garantidas no mercado secundário de títulos, fez-me lembrar das “salvaguardas” que, segundo aquele expositor da NYSE, existiriam no futuro. Foi evitada uma “quebradeira” geral (de bancos que se tornaram “grandes demais para tanto”), mas os efeitos estão aí a impedir a retomada do crescimento e a diminuição do endividamento, e a regulação dos mecanismos financeiros (alavancagem dos bancos e seus instrumentos derivados.
Há uma verdadeira financeirização dos mercados e a microeconomia está perdendo seus pressupostos básicos, como a racionalidade do consumidor e a autossuficiência desses mercados. Além disso, avançam práticas da chamada “contabilidade criativa”, mascarando resultados.
Até meados dos anos 70, a igualdade Produto-Renda-Despesa refletia o equilíbrio. Nos tempos atuais, a moeda, como reserva de valor, de fato e de direito deixou de ser lastreada; a dívida pública soberana ultrapassou todos os limites em relação ao PIB; os bancos alavancaram além do seu patrimônio; surgiram os famosos derivativos e a financeirização passou a predominar entre os agentes econômicos.
A verdade é que o capitalismo financeiro desconhece o sistema produtivo e passa a existir apesar dele, contudo, moeda em circulação sem contrapartida de produto, gera inflação, e ela já está chegando aos países de economia reflexa, como o Brasil. A recuperação da economia dos países desenvolvidos, segundo os especialistas, trará reflexos negativos consideráveis na dos países emergentes.
O “quantitative easing” ou afrouxamento financeiro sendo adequado pelo “tapering” (menor oferta de dólares no mundo gerando repatriamento de capitais); como consequência, ao menos no curto prazo, além da desvalorização de moedas nacionais, menos investimento interno (reflexos no mercado de capitais), maiores custos de importação (exportações favorecidas, mas sem que a desvalorização das moedas respectivas provoque efeitos colaterais), níveis de inflação mais altos, aumento da taxa de juros;
O acúmulo de reservas. Em estimativas recentemente revistas inclusive pelo FMI e “experts” do mercado financeiro: Estados Unidos crescendo 2,2% este ano e 3,1% em 2015, com repercussões nas economias emergentes, mais aqui (no Brasil) e menos ali (na China e Índia); Zona do euro crescendo 0,8% este ano e 1,3%, em 2015; Brasil crescendo 0,3% este ano e 1,4%, em 2015; México crescendo 2,4% este ano e 3,5% em 2015, com México e Brasil respondendo por 60% da economia da região – AL.
A recuperação da economia mundial segue, portanto, potencialmente lenta e fraca, e desigual, tanto nas desenvolvidas quanto nas emergentes, agravada pelas crises políticas antigas e mais recentes.
Há ainda uma mudança nos destinos das exportações brasileiras, mais para os Estados Unidos e menos para a China: “aviões, produtos de ferro e aço […], máquinas e motores para os americanos; celulose, soja e café para os chineses”.
O Brasil sofre ainda os reflexos da crise americana principalmente depois da quebra do banco Lehman Brothers: fluxos e refluxos de capitais interferindo no câmbio; baixo investimento na formação de capital fixo; uso da política monetária aumentando a taxa de juros no combate à inflação; enfrentamento das expectativas desfavoráveis dos agentes de produção; baixa geração de superávits primários; expansão e contenção na política de crédito ao consumo; manutenção e retirada de incentivos fiscais à produção e ao consumo; insistência em programas sociais e de transferência de renda.
O país tem grandes reservas internacionais, mas há anos tem também uma inflação estrutural, ora de demanda, que volta a crescer; tem também um déficit externo elevado.
O que Keynes faria em 2014? Keynes foi partidário de programas intervencionistas liderados pelo poder público; políticas monetárias e fiscais para enfrentar os ciclos econômicos; níveis de renda afetando o nível de emprego; a taxa de juros como prêmio à liquidez.
Dirijo-me, mais uma vez e para finalizar, ao magnífico reitor da Universidade de Coimbra, professor doutor João Gabriel Silva; ao diretor da sua Faculdade de Economia, professor doutor José Joaquim Dinis Reis; também à sua vice-diretora professora Lina Coelho; à senhora Ana Serrano, chefe da Biblioteca Geral da UC, que deu sequência aos nossos contatos iniciais; aos professores e alunos aqui presentes e que prestigiaram este Evento.
Agradeço, mais uma vez, a todos em meu nome pessoal e pela deferência à Universidade Federal do Maranhão, na pessoa do magnífico reitor Natalino Salgado Filho; à Academia Caxiense de Letras e à Academia Ludovicense de Letras.
Muito obrigado a todos.

Texto de Antônio Augusto Brandão sobre a sua autobiografia

Faço questão de relembrar as dificuldades à sua realização e lançamento: não consegui um biógrafo, aconselhável talvez pela ‘imparcialidade’ com que trata o biografado; o lançamento presencial teve que ser adiado e a realização de uma sessão virtual também não deu certo. Efeitos dos tempos sombrios e incertos que estamos vivendo com essa pandemia, que nos ameaça e condiciona. Mas já tomei três doses da vacina.

Enfim, em janeiro do próximo ano, na AMEI, tudo irá acontecer, devendo ser uma sessão de autógrafos contida, mas festiva, para a qual convidei os amigos, os que me ajudaram no trabalho, os que cuidaram da minha saúde, colegas professores e ex-alunos da Universidade, meus confrades e confreiras das Academias de Letras às quais pertenço, economistas colegas de profissão, convite extensivo a todos os demais que prestigiam esses eventos.

Informo aos que já adquiriram minha Biografia e aos que ainda vão adquirir: faremos uma sessão simples e objetiva atendendo aos protocolos de saúde impostos pela pandemia, para que tudo possa ocorrer sem receios.

Ter um livro nas mãos é um prazer inigualável e a ‘modernidade’ tenta o mesmo efeito de forma virtual, mas não consegue. A crise que se abate sobre a economia brasileira atingiu duramente as livrarias e muitas tradicionais deixaram de existir, e os leitores sentem-se empobrecidos antes os preços.

Em São Luís, a cada ano, a Feira do Livro tenta oferecer resistência a esse quadro sombrio e reúne livreiros, intelectuais, convidados, para lembrar de alguém que já se foi e debater as recentes conquistas em nome da cultura, com intenção de multiplicar, manter o interesse pelo livro. “Fortes Laços”, meu primeiro, foi lançado na primeira Feira, em 2007.

“Biografia”, do autor pelo autor, pois dizem que ninguém conhece melhor você do que você mesmo, é o meu quinto livro, fruto exclusivo da minha memória, graças a Deus, e das saudosas lembranças de quase tudo que aconteceu comigo desde criança, conforme todos poderão constatar pela leitura cronológica da obra.

Louve-se o trabalho da Viegas Editora, assim como aconteceu com “Economia – textos selecionados”, em 2019. O prefácio de “Biografia” foi feito por Daniel Blume, presidente da Academia Ludovicense de Letras e Membro eleito da Academia Maranhense de Letras, e o amigo de longas datas Luiz Raimundo Carneiro de Azevedo escreveu as ‘orelhas’.

Tenho saudades de tudo que lembrei: das férias na casa do meu avô materno, comandante Augusto Ribeiro, levado pelas mãos da minha tia Doninha, no trem-de-ferro que saía de Caxias, pernoitava em Coroatá, para chegar a São Luís, no outro dia, presentes na estação minha outras tias Neném e Santa, esta ainda vida aos 103 anos, e em casa tias Babá e Xixi esperando para o café com pão; tenho saudades da minha primeira bicicleta e das sensações de liberdade que ela me proporcionou; tenho saudades dos meus pais, Antonio e Nadir, e dos meus irmãos, e da grande família que construíram ao longo do tempo, que nos manteve juntos naquela casa=grade da rua Gustavo Colaço, em Caxias; tenho saudades dos tempos de rapaz, na rua do Cisco, das ‘rodadas’ na praça Gonçalves Dias – onde, em um dia de 1953, comecei a namorar a Conceição e depois noivar e casar, para viver com ela por mais de 52 anos -; tenho saudades do Cine Rex e da sua ‘sessão das moças’, dos banhos no riacho do Ponte, no rio Itapecuru, na Veneza, dos colegas e professores do Ginásio Caxiense, entre 1946 e 1949, dos colegas e professores do Centro Caixeiral, entre 1950 e 1952, dos colegas e professores da Faculdade de Economia, no Rio de Janeiro, entre 1956 a 1959, e dos amigos que fiz por lá; tenho saudades da sala de aula, na UEMA e na UFMA, onde ensinei por quase trinta anos.

Toda essa saudade está contida em “Biografia”, do autor pelo autor, que autografarei, com o maior prazer, no dia 28 de janeiro do próximo ano, na Livraria AMEI, a partir das 19 horas.

A edição da Biografia ficou pronta em outubro/21. A partir de 08 de novembro, foi colocada em regime de pré-venda, para, em 13/11, ser anunciado o lançamento oficial, seguido dos autógrafos. Esse lançamento teria acontecido não fossem as medidas restritivas impostas pela Covid-19. Demos mais um tempo ao tempo, adiando o evento para o dia 28 de janeiro próximo, mas a pandemia surgiu com mais uma variante, agravada pela gripe Influenza!

Assim sendo, mesmo usando máscaras e tendo outros cuidados, a exposição em aglomerados continua sendo arriscada. Assim sendo, lamentavelmente, resolvemos, em definitivo, cancelar o lançamento anunciado.

A história da Euterpe Carimã, a primeira banda marcial de Caxias

Antônio Marcellino Rodrigues Carimã Junior

Não se sabe ao certo o nome do fundador da Euterpe caxiense. Consta, entretanto, tratar-se de um padre. Por outra lado, há documentação exata da data de início de sua vida social: 16 de novembro de 1848, uma quinta-feira. Os seus componentes iniciais eram a seleção dos melhores músicos da cidade, alguns pertencentes a alta sociedade local. Motivos diversos, porém, levaram-na a pleno declínio em começos de 1870.

Nesse período, chega à Caxias o hábil alfaiate e apreciado musicista ludovicense Antônio Marcellino Rodrigues Carimã Junior. Rapaz novo e orgulhoso proprietário de um Stradivarious, que tomou para si o encargo de reorganizar a “Euterpe”. Para tamanha empreitada, juntou-se ao clarinetista Antônio de Sousa Coutinho, que fora seu mestre e com quem repartiu os louros e os dissabores da empresa. Com essa restruturação, a Euterpe passou a se chamar “Euterpe Carimã”, em homenagem ao seu comandante .

Curiosidade: O aclamado maestro caxiense Elpídio Pereira recebeu as primeiras lições de música nas salas de ensaio da Euterpe Carimã.
Antônio Carimã, afilhado.

Primeiramente, a Euterpe era somente uma banda de músicas marciais, apenas na virada do século é que a Orquestra é posta em ação. Em 19/04/1907, morreu Antônio Carimã Junior; o músico – que também era agente dos Correios de Caxias – contava com mais de 60 anos de idade e era solteiro. Com a morte do amigo, Coutinho passou o comando da Euterpe a Antônio Carimã, afilhado, que não desmereceu a confiança. A sua gestão, porém, foi curta, haja vista o seu falecimento em 09/07/1913.

Sem direção, os músicos decidiram passar a chefia a uma tradicional família caxiense de músicos, representada nas pessoas do trombonista Alfredo Beleza e de seu irmão Mário Pinho, soprano.

Em 1928, a Euterpe Carimã comemorou o seu 81 aniversário, sendo realizada uma grande festa nas dependências do Teatro Fênix. Esse período foi o auge da orquestra, onde realizou apresentações por diversas cidades do Maranhão e Piauí. O seu repertório era vastíssimo, sendo composto de trechos clássicos às últimas novidades musicais, bem como composições locais. Em sua primeira excursão a São Luis, em julho de 1929, a Euterpe apresentou-se em praça pública e no Teatro Arthur Azevedo.

Após a aclamada apresentação no Teatro Arthur Azevedo, no dia 29/07/1929, o povo entusiasmado acompanhou a Euterpe Carimã até o quartel da Força Policial, erguendo vivas a Caxias e a seus músicos.
Fotografia da Euterpe Carimã, no ano de 1928.

Nesse período a Euterpe era composta por 24 músicos (imagem abaixo) divididos nos seguintes instrumentos: violino A e B; saxofone, alto bemol e soprano; clarinete, piston, trombone, contrabaixo de metal, bateria, xilofone, pandeiro, flauta e flautim.

*Devido a um erro de digitação, o nome de um dos músicos acabou saindo errado. A grafia correta é “Canário”.


Em 1936, a Euterpe Carimã sofre uma grande perda. Na ocasião, os músicos estavam a bordo da lancha “Itamar” que partia de Colinas à Caxias. Por alguma razão desconhecida, a embarcação envolveu-se em um acidente. O desastre acabou tirando a vida do músico Benedito dos Santos, vulgo Camburão, que morreu afogado.

Em 1937, com o falecimento do Mestre Alfredo, a Banda passou para os filhos, porém os dois mais novos, José Alfredo e Mário, discordaram da disciplina rigorosa e enérgica dos mais velhos e tradicionalistas, Durval e Josias, o que resultou numa dissidência; os músicos também estavam divididos entre uma nova forma de fazer música e continuar com o mesmo estilo, assim a orquestra Carimã encerra temporariamente suas atividades.

Josias integrava a Euterpe desde os quatro anos de idade, tendo iniciado tocando triângulo. Assumiu a direção já na segunda metade da década de 1920, em virtude da idade avançada do pai.

Por volta de 1938, após retornar de uma temporada residindo no Norte do país, Josias reata a relação com os irmãos, que decidem retornar com a Euterpe Carimã sob sua liderança. Agora chamada de Goiabada, a orquestra voltou a tocar em festas, eventos religiosos e civis, carnavais e até em partidas de futebol.

Ainda àquele ano, a orquestra fora se apresentar na cidade de União, no Piauí. Foi então que seu irmão José Alfredo, ao separar o mais novo, Mário, de uma briga, fora gravemente ferido, o que acabou acarretando em sua morte. Após a tragédia, os músicos decidiram encerrar de vez a nonagenária Euterpe Carimã “Goiabada”. Com o fim da orquestra, Josias se mudou para o Rio de Janeiro, onde deu prosseguimento em sua carreira de músico. Mário e Durval continuaram em Caxias. Um montou o primeiro conjunto de Caxias; o outro ingressou na banda de música Lira Caxiense, recém-fundada. O restante dos músicos integrou outras bandas e orquestras caxienses que estavam em atividade, tais como a própria Lira e a “14 de julho”.

Apenas em 2019, mais precisamente no dia 07 de setembro, após mais de 70 anos em inatividade, é que a Euterpe Carimã volta a ativa. Diferentemente de suas antigas formações, agora a Euterpe conta com a participação mista de homens e mulheres em seu corpo musical. Sob a direção do maestro Neto Carvalho, a banda conta com 30 ritmistas e 16 instrumentistas de sopro, somando 46 integrantes (dados do ano de 2019).

A Euterpe Carimã em fotografia do ano de 2019.

Fontes de pesquisa: Jornal Pacotilha; Jornal de Caxias; Jornal O Imparcial; A Música em Caxias: Um Prolífico Centro Musical no Sertão Maranhense/Autor: Daniel Lemos Cerqueira; Livro Cartografias Invisíveis/Texto de Raimundo Ressureição; Jornal Cruzeiro; Site da Prefeitura de Caxias

Imagens da publicação: Jornal O Imparcial; Ac. do IHGC; Reprodução do YouTube

Restauração e Colorização: Brunno G. Couto

Caxiense lançará autobiografia

No dia 08 de novembro, o economista, Antônio Augusto Ribeiro Brandão, lançara sua autobriografia. Na obra, além de muitas outras histórias, o autor – pertencente a uma tradicional família caxiense – , contará sobre sua infância e juventude na cidade de Caxias; uma ótima oportunidade aos que desejam conhecer um pouco mais sobre o passado da cidade.

Com lançamento virtual, o evento ocorrerá através de uma live no Instagram da Amei Livraria, conforme informações no banner abaixo. Aos que quiserem realizar a compra em pré-venda da obra, a editora também disponibilizou um número e e-mail de contato (abaixo):

Show de Mágica no Teatro Fênix, no final do século XIX

Encantando, há séculos, as mais diversas audiências, o ilusionismo é uma arte antiquíssima; tendo os seus primeiros registros de existência remontando há pouco antes do nascimento de Cristo. Contudo, é no fim do século XIX que a mágica torna-se cada vez mais uma arte séria e respeitada, regulada por um código próprio – um acordo de sigilo sobre os truques. Nessa época, muitos mágicos brasileiros começam a fazer apresentações itinerantes pelo país. No Maranhão, um dos mais famosos chamava-se: Deocleciano Belfort.

Os registros da atuação profissional de Deocleciano começam a surgir nos periódicos maranhenses no ano de 1890, quando este realizava apresentações por São Luis (apesar de incerto, é muito provável que Deocleciano fosse ludovicense). Ostentando um exuberante bigode, o esbelto mágico possuía uma comitiva artística muito semelhante a um circo, onde, além do seu show de mágica, apresentavam-se ginastas e palhaços, compondo um grande espetáculo de seis partes. Através de reclames sensacionalistas nos jornais, Deocleciano divulgava seu show ao grande público.

E assim, depois de aclamadas apresentações por São Luis e Codó, em 1893 Deocleciano Belfort veio à Caxias. O local da primeira apresentação do mágico na cidade é desconhecido. Contudo, para o seu segundo show fora escolhido o ainda inconcluso Teatro Fênix, à Rua dos Quintais (Atual Aarão Reis). Necessitando de auxílio para a conclusão de suas obras – iniciadas por volta da década de 1880 -, o espetáculo fora realizado em benefício do teatro. Destarte, o show fora agendado para 14 de maio de 1893, um domingo.


Fachada do Teatro Fênix em fotografia recente. O teatro, atualmente, encontra-se abandonado.

Programa da apresentação de 14 de maio de 1893, no Teatro Fênix. Gazeta Caxiense.

Diferentemente do espetáculo realizado na capital, a apresentação de Caxias fora estruturada em três partes, englobando: hipnotismo, adivinhação, ilusão e magnetismo. A primeira parte era dedicada à Orquestra do teatro, que realizaria a abertura do espetáculo. A segunda parte era destinada à apresentação de Deocleciano. E na terceira parte aconteceria uma apresentação humorística, bem como mais números de ilusionismo. O grande e esperado truque era chamado “A sonâmbula vagando no ar”, possivelmente um número de levitação.

A apresentação foi um sucesso, tendo sido elogiada nas linhas dos jornais de Caxias, que também não deixaram de pontuar o comportamento do público pagante: “A plateia, que até então era de um comportamento reprovável, pois fazia um barulho infernal, felizmente neste último espetáculo esteve mais calma e educada possível, graças a energia da polícia”.

Depois das apresentações, Deocleciano partiu com a sua comitiva, não se tendo notícias de outras apresentações suas em Caxias. Posteriormente, no início do século XX, outros ilusionistas pisaram no palco do Fênix. Contudo, ao que se sabe, Deocleciano Belfort foi o primeiro deles.


Fontes de pesquisa: Revista Super Interessante; Jornal Gazeta Caxiense

Imagem da publicação: Hemeroteca Digital; Google Maps

Uma Alternativa Econômica para Caxias

Texto do Economista Antônio Augusto Ribeiro Brandão   

Antônio Augusto Brandão.

Não se trata de saudosismo nem de ficar preso ao passado, mas de ser realista: todos sabem que, guardadas as devidas proporções, Caxias já foi muito mais próspera do que é na atualidade, quando não passava de 25 mil habitantes.

Teve o seu apogeu até a década de 50 com as indústrias têxteis; seu comércio diversificado refletia bem essa fase e a agricultura, estimulada pela organização de associações e de cooperativas, conseguia fixar melhor o homem ao campo.

Depois, nos anos 60, abrigou um razoável setor oleaginoso que esmagava a amêndoa do babaçu e exportava o óleo e seus derivados para o sul do país, inclusive para o exterior; nessa época, chegou a sediar projetos de industrialização financiados pela SUDENE, alguns superdimensionados para o mercado de então, outros de menor tamanho, todos descontinuados.

Caxias deve ter hoje uma população total de mais de 150 mil pessoas das quais a maioria vive no setor urbano, e o fenômeno dessa urbanização exerce uma dramática pressão sobre habitação – com sacrifício do patrimônio histórico – saúde, saneamento básico e, como não poderia deixar de ser, emprego.

Outro dado importante e que chama atenção é a população economicamente ativa – aquela que está voltada para o mercado de trabalho -; a população ocupada – aquela que está empregada – deve ser ainda menor supondo-se alguma taxa de desemprego, certamente agravada pela pandemia, a julgar pela intensa atividade informal na cidade.

As principais fontes de recursos de Caxias são decorrentes das transferências dos governos federal e estadual, FPM e ICMS, além dos recursos do SUS e do FUNDEB, também alguns frutos de convênios e de emendas ao orçamento da União.

Em Caxias predomina o setor terciário: comércio, bancos, escolas, universidade, profissionais liberais; esse setor absorveria grande parte da população economicamente ativa e é certo que deveria existir em complemento às parcas atividades industriais, o turismo, por exemplo.

Assim, fica fácil perceber o por que das desigualdades sociais e da baixa renda per capita. Para enfrentar essa realidade, torna-se indispensável que a Prefeitura possa ter uma receita própria, de impostos e taxas, capaz de custear a máquina administrativa; contando com a compreensão e apoio da população não necessitaria aumentar impostos, apenas a sua base contributiva mediante ação fiscal.

As políticas públicas definidas para Caxias, há um certo tempo, consideravam a realidade de sua população visivelmente mal distribuída nos setores da economia; enfatizava a educação profissionalizante dos seus jovens visando uma entrada mais rápida no mercado de trabalho; apoiava o ensino universitário; criava incentivos para atração de investimentos privados às suas diversas atividades vocacionais.

O planejamento dessas ações pelos poderes públicos precisa contar com a participação dos empresários, da comunidade universitária, dos clubes de serviço, das Academias de Letras, dos intelectuais, da Igreja e das diversas entidades de classe; adotar a “agregação de atividades afins”, que privilegia mercados, produtos, empresas, fornecedores e a base econômica do município.

É certo que os caxienses de boa cepa apoiarão ações dessa natureza.