“O rio atinge seus objetivos porque aprendeu a contornar obstáculos”. Lao Tsé (século VI a.C.), filósofo chinês.
Tempos inflacionários costumam determinar políticas de preços que beneficiam os detentores do capital em detrimento do fator trabalho: quaisquer que sejam os custos de produção são automaticamente repassados para o preço de venda. Em outras palavras, esses custos são mantidos sem nenhuma preocupação com a produtividade, tudo para ser inexoravelmente assumido por quem compra.
Épocas de inflação baixa, de estabilidade, na economia passam a exigir das empresas a eficiência que sempre deveriam ter objetivando a função social do lucro: a produtividade, ou seja, produzir mais com os mesmos recursos ou, pelo menos, produzir o mesmo com menos recursos. Aí começam as dificuldades que todos conhecem: algumas empresas não conseguem competir num mercado em que outras, de forma previdente, já se ajustaram, e apelam então para alternativas que quase sempre não dão certo.
A verdade é que as empresas podem lucrar diminuindo custos de produção e não aumentando preços de venda. Por incrível que possa parecer, também é verdade que podem lucrar diminuindo e não aumentando preços de venda. Utilizando-se da técnica que considera custo-volume-lucro, por unidade de tempo, tornam-se possíveis ganhos tendo em vista a quantidade vendida e não unicamente o lucro.
Vejamos um exemplo simples: vamos supor custos de produção inalterados e que não haja estoques; que ocorre um período de estabilidade e a quantidade produzida é totalmente vendida:
1
2
3
4
5
6
7
Custo de produção
Quantidade produzida
Custo Total1 x 2
Preço de venda
Quantidade vendida
Receita Total 4 x 5
Lucro6 – 3
5
10
50
11
10
110
60
5
15
75
10
15
150
75
5
25
125
9
25
225
100
Conclusão: quando o preço aumentou de 10 para 11 unidades monetárias – em 10% – o lucro caiu de 75 para 60 – em 20%; entretanto, quando o preço diminuiu de 10 para 9 – em 10% – o lucro aumentou de 75 para 100 – em 33,33%. O que aconteceu, qual foi a mágica? A resposta é que não houve nenhuma mágica, mas a real possibilidade de ganhos vendendo-se mais a menores preços.
Toda esta evidência vem a propósito de uma negociação bem-sucedida que ilustra o exemplo dado: uma empresa a ser contratada relutava em ceder sobre preço porque acreditava – se concordasse – estaria diminuindo sua margem de lucro. A outra empresa então – a contratante – defendeu um argumento decisivo e que adaptei para finalizar este artigo. O que seria preferível para uma companhia de aviação, perguntou ao contratado: vender passagens até o momento do embarque dos passageiros, baixando o preço na medida em que se aproximasse a hora do voo, ou permitisse que seus aviões voassem com poltronas vazias? E acrescentou: caso preferisse a segunda alternativa – voar com poltronas vazias – esse custo jamais seria recuperado, por razões óbvias. É que, mesmo se vendesse passagens a preços de custo, seria mais vantajoso em razão do volume negociado. O potencial contratado logo percebeu que deveria ceder e o negócio foi acertado.
Nossos empreendedores poderiam refletir sobre a teoria do custo-volume-lucro: aumentar preços em época de estabilidade não é bom negócio, tampouco manter preços que gostariam de aumentar -, mas reduzindo a quantidade do produto ou serviço. Seria um desastre.
*Augusto Brandão é Economista, Membro Honorário da ACL, ALL e AMCJSP.
Este texto é um diálogo entre três economistas instigados pelos recentemente laureados com o Nobel de Economia, Ben S. Bernanke, Douglas W. Diamond e Philip H. Dybvig. O objetivo dessa publicação é a de motivar e provocar um debate atinente aos fenômenos existentes na economia monetária, na conjuntura econômica e geopolítica atual. Dessa forma, o texto permanecerá praticamente na íntegra do diálogo, mantendo o formato mais lúdico, com menos linguagem acadêmica ou técnica, tal como foi realizado, excetuando alguns ajustes para facilitar a leitura.
Desde que se iniciaram os estudos sobre a economia monetária, a própria moeda e a mesma teoria mudaram muito. A revolução nas comunicações, nos transportes e na tecnologia mudaram o conceito de velocidade da moeda e, em consequência, da Teoria Quantitativa da moeda – TQM; veja que Ben Bernanke acaba de ser laureado com o “Nobel de Economia”, o que dá respaldo a suas ações. Terminada a pandemia, vamos ver o que acontece na economia mundial.
Sei que a ciência evolui e com a nossa Economia não é diferente, mas há discordâncias sobre essas mudanças, que André Lara Resende – ALR chama de ‘a nova macroeconomia’ ou ‘a teoria monetária moderna’. Os desafios de que falo existem, entretanto, porque outras correntes de pensamento, por exemplo, na Casa das Garças, no Rio de Janeiro, liderada por Edmar Bacha – EB, chega a afirmar tratar-se de proposições sem sentido e provindas de Universidades menos importantes, nos EUA. Novas teorias sobre a economia precisam ser chanceladas pelo mercado e essas ainda não foram.
É por isso que falo em desafios aos Pensadores das Universidades, por exemplo, e mantenho minhas avaliações sobre o que vem acontecendo sugerindo, como sugere, pesquisa acadêmica sobre o assunto, sem sucesso até o momento.
Desde 2008, com a desastrada expansão da liquidez, pelo banco central americano, principalmente para salvar seu sistema financeiro, a política monetária desgovernou-se: não causou inflação, lá, mas exportou efeitos deletérios para a Europa, zona do euro, e para o nosso Brasil. Vejam: o Federal Reserve aumenta a taxa de juros, para atrair investimentos na economia americana, mas o Brasil aumenta a sua tentando também atrair investimentos, rolar a dívida pública, porém não consegue importar – dólar caro – nem exportar – falta de produtividade custos crescentes.
Li tudo que pude a respeito desse assunto e acompanho o seu desenrolar: todos os artigos que o ALR escreveu, seu Livro e o do Ben Bernanke, e acompanho o seu evoluir. A tarefa está com as Universidades e os Conselhos de Economia, e com os nossos ‘pensadores modernos’.
Dada a sua força e hegemonia, a “revisão” da teoria só virá quando os americanos assumirem essa tarefa. Nesse sentido, até entendo que nossos acadêmicos não se animem para essa tarefa.
Não causou inflação por lá, porque a economia estava em recessão – conforme concordava John Maynard Keynes – e os recursos não chegaram à economia real, porque destinados a rolar dívidas nos países tomadores desses recursos. Os bancos centrais mantiveram grande estoque de títulos públicos e privados, sem poder resgatar no vencimento, apenas rolando-os até os dias de hoje.
Contudo, também aceito que a estabilidade da economia americana interessa a todos nós. Estaria nessa circunstância a ‘tolerância’ mundial com o quantitative easing? A TQM, na sua composição, diminuiu a velocidade de circulação da moeda.
Concordo com você sobre nosso interesse, mas há custos crescentes envolvidos aos países tomadores desses recursos; o ALR, defendendo suas teorias, afirma que a SELIC, no Brasil, deveria situar-se abaixo da taxa de crescimento do PIB, para poder atrair investimentos. Acho que sim: uma ‘tolerância’ mais do que conveniente.
Por trás de tudo estão as grandes potências, Estados Unidos e China, lutando pela liderança mundial. Este é o principal ponto: o que conta mesmo é a luta pelo poder. E o mundo hoje é o G2: Estados Unidos e China.
Acontece que somos de uma geração em que se cultivava o hábito do debate. Ainda estudante do Marista, no ginásio nos anos 60, o Professor Kalil Mohana nos fez discutir o monopólio da Petrobras, a unificação da previdência, criação do FGTS. Aí nós treinamos nessa prática, o que me foi muito útil
Concordo e já concordamos antes sobre esse assunto: taxas de juros elevadas são inúteis no Brasil – financiam nosso Balanço de pagamentos – BP ao elevado custo de endividamento externo e servem apenas de controle cambial nesse cenário atual, caótico.
Não se pode discutir esse tema abandonando o tema fiscal e a política fiscal brasileira vem sendo, aos meus olhos, desastrosa.
A União pensa por si, os Estados por si e os Municípios por si; não há “união” nacional. Há uma competição e intervenções políticas desastrosas, um abandono do pacto federativo e um pacto enfraquecido pelos interesses das classes políticas muito acima do econômico, do desenvolvimento e do crescimento da economia brasileira.
Pari passu, temos esse cenário de disputa da hegemonia global; a dominância do mercado financeiro é fato, mas até quando esse será o determinante do nosso ciclo hegemônico? A disputa China e Estados Unidos vai continuar por mais alguns anos, creio eu, exceto em caso de um conflito direto – que acho improvável – mas com a invasão da Rússia na Ucrânia, tudo é possível.
O quantitative easing me parece chegar em dois limites no período atual da União Europeia – UE, e Ásia desenvolvida; possivelmente, nos EUA, a inflação elevada para os padrões desses países, deve impedir sua continuidade – pelo menos no curto prazo.
Há uma mudança de visão teórica até perigosa, acredito que em muitos países essa “guinada” para extrema direita pressiona também a percepção das políticas econômicas, muitos jovens, enxergam que qualquer expansão monetária desencadeia em inflação desenfreada e culpam o quantitative easing e os blocos de investimento como causa da inflação atual no mundo.
A velocidade de circulação da moeda, a meu ver, se expandiu, mas ela possui fatores adicionais que ainda fogem das teorias antigas, como onde ela está centrada na circulação? Ela não circula mais entre todos os setores como antes, demora mais em serviços do que no comércio e gira ainda menos na indústria?
Não sei se faz sentido esse raciocínio final, mas eu vejo que há aspectos ainda não considerados nas mudanças da dinâmica econômica mundial, serviços digitais, internacionais, virtualização. Além dos novos mecanismos de transação e as novas ‘moedas’.
(*) Antônio Augusto Ribeiro Brandão: Professor da UFMA, aposentado; Mestrado em Administração Contábil e Financeira; Membro Honorário da ACL, ALL e AMCJSP.
José Cursino Raposo Moreira: Mestre em Economia Regional e Urbana.
João Carlos Souza Marques: Presidente do Conselho Regional de Economia e do COMDES.
Costumo circular por Caxias tendo visões diferentes da cidade: se estiver pensando no passado e sentindo saudades de tudo e de todos, a visão é cheia de imagens coloridas e de pessoas com as quais convivi, namorei, noivei e casei, a Conceição, minha querida esposa durante 52 anos; se estiver no presente, enfrentando a realidade nua e crua do dia-a-dia, a visão é cheia de muitas imagens desgastadas e de algumas pessoas desconhecidas.
Depois que Antônio Brandão, meu saudoso pai, morreu, em 1980, fiquei quase dez anos sem ver a cidade e, entre 2001/2004, membro integrante do secretariado municipal, foram quatro anos de permanência, mas atualmente, como Membro Honorário da ACL, vou de vez em quando.
Acho que foi uma espécie de mágoa que me manteve longe da cidade. É que ele, meu pai, naqueles dias de janeiro estava exatamente cuidando da reforma de um bem que era nosso maior patrimônio: a casa situada à rua Benedito Leite 23, antiga rua do Cisco, 721, onde moramos desde 1946, bem próximos do sobrado que pertenceu ao pai de Antônio Gonçalves Dias, onde o nosso poeta maior morou antes de seguir para Coimbra.
A morte de meu pai foi um grande choque para todos nós; ele sempre dizia: “quero ser enterrado no solo em que morrer”, mas minha mãe Nadir não permitiu. Eu mesmo fui buscá-lo, numa manhã daquele longínquo ano, trazendo seu corpo para ser enterrado onde está, aqui, em São Luís, no cemitério do Gavião; até aquele ano podíamos ir a Caxias e quase todos ainda desfrutavam do aconchego daquela casa, da vizinhança e dos amigos de então.
Em alguns momentos, tenho ainda hoje uma visão romântica da cidade. Penso que possa ainda ver o João Severo, no balcão da loja que leva o seu nome na fachada, no Largo da Cadeia; mais adiante consiga fazer compras no Mercado, no mesmo Largo; passando pelo Largo da Matriz, seja possível avistar membros das famílias Barbosa, Cruz, Pereira, Lobo, sentados à porta; subindo a rua Aarão Reis tenha a oportunidade de olhar o José Simão, o Gentil Menezes, meu pai no escritório da sua Casa Brandão, onde ainda hoje o nome está lá, gravado no chão da calçada, em letras de cimento branco que teimam em não desaparecer.
Passando pela Praça Gonçalves Dias não posso deixar de lembrar, de ‘ver’ moças e rapazes ‘rodando’; de ouvir o som dos alto-falantes; de presenciar o ir-e-vir ao (do) Cine Rex; de dançar nos bailes do antigo Cassino. Acreditem: sou capaz até de sacudir a argola da porta da nossa antiga casa querendo entrar e encontrar as pessoas que nela viveram. Ninguém pode avaliar essa visão senão os mais velhos. É muita nostalgia, uma melancolia que teima em não sair de mim. É muito amor pela terra e sua gente.
A outra visão que tenho da minha cidade, do seu presente, é bem diferente. Tudo está no mesmo lugar: as casas, as ruas, as praças, as igrejas; o tempo, contudo, encarregou-se de desgastar essas imagens, de quase todas as coisas, de fazer desaparecer casas tradicionais, de modificar usos e costumes. As pessoas são outras e não têm obrigação de conhecer os que vieram antes delas, nem sua história nem suas vitórias e derrotas; simplesmente vivem o presente, vieram depois, suas lembranças são de outros tempos, suas referências históricas mais recentes.
Para mim, Caxias continua sendo aquele espaço mágico da infância e da adolescência, da minha juventude: ouvíamos muito rádio, íamos muito ao cinema, ouvíamos muita e boa música na voz dos grandes cantores nos alto-falantes, namorávamos ‘rodando’ na praça.
De vez em quando essa cidade amanhece em brumas, como nos meus tempos de soldado, no TG 194, e de jogador de ‘peladas’, no campinho do Largo de Santa Luzia.
*Antônio Augusto Ribeiro Brandão é Economista e Membro Honorário da ACL, ALL e AMCJSP.
“Primeiro, a banda passou Tocando Coisas de Amor Depois cantaram A Praça Em rimas cheias de graça
Mas ninguém se lembrou Do Coreto da Pracinha Onde sempre tocava A garbosa bandinha”
Nada mais adequado do que iniciar a postagem de hoje com algumas estrofes da música “O Coreto da Pracinha”, de Luiz Gonzaga. Canção que retrata tão bem os tempos românticos que foram os dos coretos das cidades do interior. Os mais jovens podem estar se perguntando: “Mas o que são esses coretos?”. Sim, nobre leitor, algumas gerações desconhecem o termo, acredite!
Correndo o risco de o texto ficar “professoral” demais, responderei o questionamento acima com esta breve explicação: “O Coreto é uma construção que ainda observamos nas cidades interioranas que conseguiram preservar esse elemento urbanístico que teve grande importância até o fim da década de 1960. Ele guarda o romantismo do tempo em que as praças eram o ponto central dos eventos da sociedade. Sua arquitetura básica é composta de planta circular, elevado em alvenaria e com cobertura. […] Esse espaço democrático se espalhou por toda a Europa e, em vários países, tinha significados distintos: na Itália ‘coretto’ significava local de vendas de tabaco, bebidas e jornais; na Inglaterra ‘bandstand’; na França ‘kiosque a musique’; e na Espanha ‘quiosco de musica’ significava local de apresentação de bandas musicais.” (Fonte: Site “Cidade e Cultura”)
Certo, mas onde Caxias entra nessa história? É na década de 1960 – ao menos, que se tem notícia -, seguindo os moldes de outras cidades, que Caxias recebe os seus primeiros e mais populares coretos. Logo que tomou posse, em 1966, o prefeito Aluízio Lobo tinha como uma de suas principais metas realizar o paisagismo da praça Dias Carneiro (popular “Panteon”), que, até então, se limitava a um grande descampado de grama e piçarra, repleto de árvores.
O projeto da praça ficara a cargo do artista caxiense Mundico Santos, e dentro desse projeto fora idealizada a construção de dois coretos. E assim se dera. Estando, estes, posicionados no lado em direção da Av. Desembargador Morato, as edificações eram feitas em cobogós, contando com uma pequena rampa de acesso. Os coretos de Caxias diferenciavam-se dos de outras cidades, pois não possuíam uma cobertura em suas estruturas.
Não obstante os coretos terem sidos pensados (e muitas vezes foram utilizados, de fato, para esse propósito) para servirem como palanques à discursos e outras solenidades oficiais do governo municipal; em dias comuns, a maioria dos caxienses utilizava-os para bater um papo mais privativo ou para rápidas paqueras. Sentados ou encostados em suas muretas, muita conversa foi jogada fora naqueles locais.
Quando dos desfiles de 7 de Setembro, alguns populares, em especial crianças, utilizavam as baixas muretas das edificações como arquibancada. Além disso, escolhia-se os coretos pela sua praticidade, já que os altos palanques demoravam a serem montados. Como mostra a fotografia abaixo, o próprio Governador Sarney, que fazia visitas recorrentes à Caxias, chegou a utilizar um dos coretos como tribuna.
Com o passar dos anos, as pessoas foram perdendo o costume de ir às praças e, por conseguinte, frequentar os coretos – muito por conta do aumento da violência urbana -, bem como a sua utilização para fins oficiais da administração municipal fora diminuindo. Contudo, as duas estruturas permaneceram intactas até a década de 90, quando, no governo de Paulo Marinho (1993/1996), a praça passou por uma nova remodelação, tendo sido demolidos os dois coretos, uma pequena arquibancada de três níveis e um antigo monumento central.
E assim, sem coretos, Caxias permaneceu por mais de vinte anos, até que, com a reforma da praça Vespasiano Ramos, a cidade recebeu uma nova estrutura. Longe da beleza arquitetônica dos antigos exemplares, o novo coreto, de características mais modestas, vem cumprindo, através da semanal “Feirinha da Gente”, a sua finalidade; resgatando um pouco – apesar de sermos sabedores que os tempos não são mais os mesmos -, o que fora a bucólica Caxias de outrora.
Fontes de pesquisa: Site “Cidade e Cultura”/Livro “Por Ruas e Becos de Caxias”/Autor: Eziquio Barros Neto
Imagens da publicação: créditos nas imagens
Dentre os grandes projetos a serem implementados em Caxias, cervejaria, fábrica de bicicletas, complexo algodão/soja, que o destino reservou à participação dos eleitos pelos deuses, o mais importante é a grande empreitada em prol do ensino superior: a Faculdade do Vale do Itapecuru.
Nossa Caxias, por muitas décadas, teve que exportar capital humano, sem retorno. Eu mesmo tive que emigrar para o Rio de Janeiro, a fim de estudar economia, assim como tantos outros caxienses foram para São Paulo, Salvador, Recife, João Pessoa, Fortaleza e São Luís, em busca de uma formação de nível superior; ainda hoje muitos jovens estudam em Teresina, um esforço diário de ir e vir. Isto não vai mais acontecer dentro em breve.
No que me diz respeito, durante quase trinta anos (1968 a 1997) e depois de mais de uma década no Rio de Janeiro (1954 a 1965), pude retornar ao Maranhão e trabalhar em favor do ensino público superior formando e educando nossos jovens; ajudei a implantar e fazer funcionar a Escola de Administração Pública do Estado do Maranhão, depois Federação das Escolas Superiores do Maranhão e, atualmente, Universidade Estadual do Maranhão, e também fui professor da Universidade Federal do Maranhão, onde acabei por aposentar-me. Agora, o destino faz-me participante de mais um projeto educacional inédito, uma dádiva de Deus, para que, finalmente, com a experiência que acredito ter acumulado, possa retribuir a graça de ter nascido em Caxias.
À frente desse grande empreendimento está o deputado Paulo Marinho, que mais uma vez manifesta o seu idealismo e amor à Terra, além de professores titulados de São Luís, Teresina e Caxias. Elaboramos um projeto pedagógico capaz de ser adequado às necessidades do mercado de trabalho, de formar profissionais teoricamente competentes e preparados para atuar dentro de uma realidade globalizada, e principalmente que sejam capazes de resolver problemas.
Para mim e para José Mário Ribeiro da Costa, caxienses que somos, e mais para os professores Abisai, Neuzimar e Valdone, e para todos os demais que vão colaborar conosco, é certo estarmos diante de uma imposição do destino: participarmos de uma iniciativa educacional que, de alguma forma, nos remeterá à história como bandeirantes do ensino universitário em nossa querida Caxias. Quanta honra!
Dentro em breve, Caxias não vai mais exportar capital humano, sem retorno, mas será um polo de educação superior de grande abrangência e de efeitos multiplicadores capaz de transformar sua realidade social, econômica e política. Caxias sempre honrou suas tradições e a nossa responsabilidade, agora, é fazer da educação superior em seu solo a mola propulsora à retomada do lugar que merece ter na senda do desenvolvimento.
*Antônio Augusto Ribeiro Brandão é Economista e Membro Honorário da ACL, ALL e AMCJSP.
Ainda bem pequeno ouvia minha mãe dizer: meu filho, todos temos o nosso Anjo da Guarda e devemos, sempre, rezar pedindo a proteção dele. No Catecismo, a existência desse Anjo protetor era ressaltada. Fiquei nessa expectativa.
Um dia, vendo um programa de televisão, Mônica Bonfíglio estava falando sobre os Anjos, suas categorias, protegidos, tempos em que vem á Terra, e como fazer para conhecê-lo.
Pesquisei e fiquei sabendo que o meu Anjo da Guarda chama-se Ariel (ou Hariel), e vem estar com seus protegidos em determinada hora do dia e noite. O Anjo Ariel vem à Terra, diariamente, entre 4:40/5:00 da madrugada e, sempre, acordo antes! Aproveito e rezo: Santo Anjo do Senhor, meu zeloso guardador, se a Ti me confiou a piedade divina; sempre me rege, guarde, governe, defenda, proteja. Amém!
*Antônio Augusto Ribeiro Brandão é Economista e Membro Honorário da ACL, ALL e AMCJSP.
Hoje, 30 de setembro, Dia da Bíblia, relembramos a praça caxiense que levava o nome do Livro Sagrado. Localizada na Av. Nossa Senhora de Nazaré, no bairro Tresidela (logo após a Ponte), a pequena praça fora inaugurada em 1968, durante a grande expansão urbanística realizada na primeira administração do prefeito Aluízio Lobo. De paisagismo simples, e com alguns bancos de concreto dispostos em sua extensão, o local recebeu o nome de “Praça da Bíblia”.
O nome decorre da construção de um monumento (muito provavelmente, idealizado e confeccionado por Mundico Santos) representando uma Bíblia aberta contendo citações bíblicas e as duas tábuas de Moisés com os Dez Mandamentos, além de um crucifixo na parte superior.
As escolhas das passagens bíblicas que foram transcritas em cada uma das duas páginas do monumento ficaram a cargo do então bispo de Caxias, Dom Luiz Gonzaga Marelim (representando a Igreja Católica), e do pastor da Igreja Presbiteriana, Silas Marques Serra (representando a Igreja Evangélica). No lado esquerdo estava escrito: “Bem-aventurado o homem que se compraz na lei do Senhor e nela medita de dia e de noite (Salmos 1:2)”. E no lado direto: “Crê no Senhor Jesus Cristo e serás salvo (Atos 16:31)”.
Na década de 1970, já no segundo mandato de Aluízio Lobo, a praça fora renomeada para “Praça Cônego Aderson Guimarães“, em homenagem ao pároco da Tresidela, falecido, precocemente, em 1970. Nessa alteração, o monumento sofreu algumas mudanças, sendo substituídas as escrituras (foram alteradas para: “Por isso me proclamarão bem-aventurada todas as gerações; Lc 1,48” ), bem como foram removidas as “tábuas” e pastilhas de revestimento.
Atualmente, apesar das ações do tempo e da falta de manutenção, o monumento ainda encontra-se instalado em seu local de origem, em precário estado de conservação.
P.S.: Em novembro de 2020, fora inaugurada uma nova Praça da Bíblia, em frete ao cemitério de Nossa Senhora dos Remédios. No local, fora instalada uma nova estrutura, de proporções maiores, exibindo uma Bíblia aberta.
Imagens: Ac. IHGC; Ac. Aluízio Lobo; Ac. do autor
Fontes de pesquisa: Depoimento de Francisco Guimarães; Livro: Por Ruas e Becos de Caxias/Autor: Eziquio Barros Neto/Ano: 2020
Na década de 40 do século passado, em Caxias, os cinemas eram a maior diversão. O Cine Rex, do qual já falei em minha crônica “Sempre aos domingos”, líder na preferência, rivalizava com o Cine Pax, na exibição de filmes distribuídos pela Metro, Columbia, Universal, Paramount, principalmente.
O Pax funcionava em uma casa, na rua Aarão Reis, fachada estreita e lateral longa, na transversal daquele bangalô de estilo onde inclusive residia o casal Waldemar Lobo, mas que um Banco, muito tempo depois, conseguiu transformar em estacionamento (?!); adaptada para ser cinema, com sua cabine de projeção, na sequência o salão com as cadeiras de madeira e ventiladores na sua parte mais nobre, e um espaço democrático chamado de ‘geral’, bem próximo da tela, onde podiam entrar os que pagavam menos pelo ingresso, sentar em ‘bancadas’ de madeira lavrada e vestir a ‘moda’ mais informal possível.
A ‘geral’ do Pax era uma solução subsidiada, para proporcionar diversão barata às camadas menos favorecidas da população amante da ‘sétima arte’, contudo, tinha lá seus aspectos discriminatórios, mas pouco explorados em época muito distante dos dias atuais. Todos os subsidiados, para que pudessem entrar e sentar, esperavam ao lado da entrada principal, fazendo fila, aguardando que fosse dado o sinal de que os que haviam entrado pela porta principal estavam devidamente sentados, sob a proteção dos ventiladores refrescantes.
O proprietário era Waldemar Lobo e Silva, irmão do João Lobo, da “Casa Matoense”, e do Herval Lobo, proprietário daquele famoso “Bar Operário”, no Largo de São Benedito. Waldemar parecia uma pessoa nascida no entretenimento, pois vivia do cinema e para o cinema, fazendo-se presente, diariamente, nas sessões; fisicamente magro, chegava a lembrar o Fred Astaire.
As sessões eram tumultuadas pelas constantes ‘quebras’ das películas projetadas, uma tecnologia ainda embrionária, além da súbita falta de energia (naquele tempo, na Usina do seu Nachor Carvalho, luz somente de 18 às 24 horas) deixando nervosos os ocupantes da famosa ‘bancada’ da geral; o Waldemar, com sua calma, conseguia controlar os ânimos, mas às vezes o restante do filme ficava para o dia seguinte.
Enquanto o Rex projetava filmes musicais e de aventuras, como “Du Barry era um pedaço” e “Até que a morte nos separe/’, o Pax preferia os mais clássicos, como foi o caso de opereta “Lua nova” e do drama épico “E o vento levou/’, e o acréscimo dos seriados ampliava as sessões cinematográficas.
São essas as lembranças que eu tenho do Pax, da década de 40 até 1954, quando fui para o Rio de Janeiro e, nos breves retornos de poucos dias, em 1957, de férias, 1959, para ficar noivo da Conceição, e 1961, para casar com ela, não frequentei desde então os cinemas de Caxias, que já eram outros ou não mais existiam aqueles que marcaram época.
*Antônio Augusto Ribeiro Brandão é Economista e Membro Honorário da ACL, ALL e AMCJSP.
Quando Luiz Gonzaga pegou “um trem em Teresina pra São Luis do Maranhão”, as coisas não iam muito bem em sua carreira. Considerado algo démodé, nas décadas de 50 e 60, com a chegada da bossa-nova e, posteriormente, da Jovem Guarda, o baião do velho Gonzagão saíra dos holofotes. Foi um duro golpe ao experiente músico.
Contudo, diferentemente das demais regiões do Brasil, o Nordeste nunca abandonara o seu ilustre filho. Sabedor desse prestígio, Gonzaga, nesse período, excursionou, quase que exclusivamente, por cidades nordestinas. Fazendo parte desse itinerário, Caxias fora uma delas. Por contratação realizada pelo próspero empresário Alderico Jefferson da Silva, o músico veio à cidade, na década de 1950, em ocasião do aniversário de um dos negócios do contratante, o “Armazéns Caxias”. O show teve lugar em frente ao estabelecimento, nos arredores da praça Gonçalves Dias. Para hospedar Gonzaga, fora providenciado um quarto nas dependências do “Palace Hotel”, à Rua Afonso Pena.
A proprietária e administradora do hotel era a popular “dona Sinhá Serrath”, apelido de Rosa Amélia de Jesus Serrath. Nascida a 06 de setembro de 1889, poucas informações sobre a sua biografia chegaram aos nossos tempos. Mãe da célebre professora Dacy, d. Sinhá, sempre pitando cachimbo e adornada de joias, comandava aquele hotel desde a primeira metade do século XX. E fora ali, nos cômodos do Palace (amplo casarão colonial de numerosas janelas), que Luiz Gonzaga acomodou sua sanfona e “se arranchou” antes de sua apresentação em Caxias. No local, o músico ainda encontrou tempo para prosear e desfrutar de algumas doses de conhaque. Tudo por conta de Alderico.
Outro amigo e, neste caso, conterrâneo – ambos nascidos em Pedreiras (MA) – de Alderico era o também músico João do Vale. O artista, que já tinha algumas composições suas tocando pelo Brasil (nesse período, João ainda não havia assumido os vocais), fazia visitas recorrentes ao amigo comendador, em Caxias, que o ajudava financeiramente. Assim como Gonzaga, João, quando de suas vindas a Caxias, também passava pelo Palace. E assim, em 1962, narrando um percurso que fazia frequentemente, João do Vale escreveu a canção “De Teresina a São Luis”, onde, além de homenagear o amigo e “mecenas” Alderico, citava d. Sinhá Serrath, conhecida sua de longa data. Para entoar a canção, o escolhido não poderia ser outro: Luiz Gonzaga. Lançada pela RCA, a música é a quinta faixa do LP “Ô véio macho”.
Oficialmente, a canção é composição de João do Vale e Helena Gonzaga, então esposa de Luiz, que também assinou outras oito músicas. Contudo, segundo os entendedores "gonzaguianos", Helena não era compositora. "Era o próprio Luiz Gonzaga o autor das músicas, pois naquela época um artista não podia fazer parceria com outro sendo de gravadoras diferentes por questões de direitos autorais. Daí Helena entrou na jogada e foi nomeada pelo marido como 'Madame Baião'" (Fonte: Blog "Viva o Reio do Baião").Além disso, é muito provável que Luiz Gonzaga não tenha tido envolvimento direto na letra de "De Teresina a São Luis", tendo ficado com a parte de musicar e, posteriormente, gravar o xote. Contudo, esse ponto ainda é muito discutido.
O xote que narra, como o próprio nome sugere, uma viagem de trem entre as duas capitais, faz menção a cinco cidades maranhenses: Caxias, Codó, Coroatá, Pedreiras e São Luis. A estrofe caxiense é a seguinte:
“Bom dia Caxias Terra morena de Gonçalves Dias Dona Sinhá avisa pra seu Dá Que eu tô muito avexado Dessa vez não vou ficar”
“Seu Dá” era Alderico. Como uma forma de autopromoção, reza a lenda de que a alcunha teria sido disseminada pelo próprio empresário que, ao comercializar os seus produtos, nada vendia, mas dava, de tão baratos que eram. À boca pequena, os seus desafetos chamavam-no de “Seu Toma”.
Ao contrário de “Seu Dá”, que todos sabiam se tratar de Alderico Silva, a outra personagem citada já fora motivo de confusões. Ocorre que, por muito tempo, acreditou-se que a “Dona Sinhá” mencionada na música seria a esposa de Alderico, Dinir Costa e Silva. Um erro até compreensível. Contudo, como vimos, a “Sinhá”, aqui, era outra.
Quando Luiz Gonzaga esteve novamente em Caxias, em 29 de maio de 1966, trazido pelo então prefeito Aluízio Lobo, o músico fez questão de deixar uma dedicatória ao amigo em um livro, de autoria de Sinval Sá, que narra sua história de vida. Na obra intitulada “O Sanfoneiro no Riacho da Brigida”, o músico escreveu: “Ao amigo Alderico Silva, com os cumprimentos de seu cantor, Luiz Gonzaga.” Nesse mesmo show, realizado na praça Vespasiano Ramos, os caxienses puderam presenciar um “Velho Lua” em plena forma, terminando o espetáculo com um recado aos que pensavam que o seu tempo já tinha passado. Fazendo menção à bossa-nova, a plenos pulmões o músico bradou: “A minha bossa eu também já fiz!”.
João do Vale, por sua vez, não parou com as homenagens ao conterrâneo. Até pela proximidade entre as cidades, suas visitas à Caxias eram bastante recorrentes, como destaca esta nota, abaixo:
Ainda na década de 1960, João compôs a música “Vou pra Caxias”. Desta vez, a letra era toda voltada à cidade. Citando as maravilhas naturais e os santos padroeiros, João intercalou o famoso refrão: “Não adianta/Aqui não fico/Vou pra Caxias, onde está seu Alderico. Além disso, a canção citava os dois filhos varões do empresário: Getúlio e Aldenir. Como intérprete, fora escolhido o paraense Ary Lobo.
Por nunca ter sido um bom administrador de suas finanças, João sempre viveu de forma bastante humilde, o que nunca lhe fora um problema. Certa vez, já com a saúde bastante debilitada por um AVC, o compositor foi questionado se havia sofrido muito em sua vida, o que, de pronto, respondeu: “se eu sofri eu não sei, porque eu gostava”.
Na década de 90, pouco antes de seu falecimento, João ainda vinha à Caxias visitar o velho amigo, Alderico, em seu palacete e, de quebra, receber aquele agrado monetário sempre muito bem-vindo.
E como tudo nessa vida passa, os protagonistas dessa história também já se foram. Contudo, como toda obra artística de qualidade, que desconhece a efemeridade, as músicas de João e Gonzaga eternizaram-se no cancioneiro popular. Provando mais uma vez que tudo que é bom sobrevive aos testes do tempo.
Fontes de pesquisa: Jornal do Maranhão; jornal “Folha de Caxias”; Blog “Viva o Rei do Baião”; Wikipédia; Texto “Momento Poética: Luiz Gonzaga, o Rei do Baião/Autor: Edmílson Sanches; Depoimento de Mário Gomes
“Não basta parecer, tem que ser”
Na Roma antiga, naquele tempo de luxúria e de traições, dizia-se: “não basta ser, tem que parecer”. Ou seja, alguém era tido como honesto (a), mas não se comportava como tal.
É muito comum ouvir dizer: estou do seu lado, acho que teve uma boa formação e pode colaborar conosco, continuo seu amigo repercutindo seus textos importantes; na prática, contudo, essa pessoa tornou-se e permanece indiferente e, em situações de afirmação, comporta-se com frieza diante dos fatos, como se nada tivesse acontecido. Costuma-se dizer: o verdadeiro amigo se conhece nas horas mais difíceis e aí é que você vai saber quem está realmente do seu lado.
Quando se ingressa em uma organização voltada à cultura, por exemplo, obtêm-se, sem nenhuma dúvida, a aprovação dos seus membros. Integrante de organizações desse tipo, egresso de uma eleição ‘a convite’, em discurso formal de posse, define seu conjunto de ações, sabendo com quem pode contar para saber quais dessas ações vão ser priorizadas.
Para o alcance desses objetivos, entretanto, esse novo membro precisa muito de duas premissas básicas: uma equipe de trabalho que seja competente e leal, constituindo-se num verdadeiro TIME, e do apoio explícito não só da confraria que o elegeu.
Comecemos pelo TIME. Os componentes de um TIME têm que ser competentes, solidários e atuantes. Não basta que cada um seja assim: tem que ser solidário nas conquistas do outro, compreender as suas dificuldades e o defender nas horas certas, em uma postura de verdadeiro amigo e não simplesmente de um simples integrante de equipe, apenas fazendo a sua parte. Tem que haver esforços comuns.
A sociedade organizada, que abriga o que há de mais representativo na vida social, econômica e política de uma cidade e com certeza constituída de inúmeros simpatizantes dessa organização, tem um papel de grande responsabilidade no processo de sua auto-gestão: promover a integração dos seus diversos segmentos com o governo e com outras organizações similares, porque está diante de um novo momento em que o progresso acena com oportunidades de grande efeito multiplicador. Mas isso nem sempre acontece, lamentavelmente.
Em breve haverá uma nova geração de líderes responsáveis pela consolidação dos esforços desses tempos nebulosos e a realidade econômica, social, cultural e política dessa cidade será diferente: rica, usos e costumes civilizados, e representação cada vez mais democrática.
*O caxiense Augusto Brandão é Economista e Membro Honorário da ACL, ALL e AMCJSP.