Palestra proferida pelo economista caxiense Augusto Brandão em Lyon (FR)

*Antônio Augusto Ribeiro Brandão

Saudação às Autoridades presentes, diretores, professores, convidados e alunos da Université Lumière Lyon 2, seus familiares e amigos.

Professora Maria da Conceição Coelho Ferreira, diretora do Instituto da Língua Portuguesa da Universidade.

“Crônicas de 400 anos”, o livro que venho lançar, aqui e agora, é uma homenagem a São Luís do Maranhão e aos franceses seus fundadores, em 1612. Reafirma um estilo narrativo existente desde os tempos de Claude d´Abbeville e Yves d´Évreux, capuchinhos que acompanharam a expedição de Daniel de La Touche e tornaram-se os cronistas pioneiros do cotidiano da cidade.

Todos já devem saber que há uma velada polêmica, que vez por outra vem à tona por parte de alguns intelectuais da minha cidade, quanto aos verdadeiros fundadores de São Luís. Há fatos históricos, registros fidedignos e incontestáveis de que foram os franceses.

Quando os franceses ocuparam as terras brasileiras e fundaram São Luís, em 1612 (onde Jacques Riffaut já havia estado, em 1594), com Daniel de La Touche à frente de uma caravela e duas naus, mais 500 homens e os Frades capuchinhos, após 116 dias desde Cancale, “precisamos refletir sobre algumas das circunstâncias mais representativas então vigentes na França”, e sobre o que aconteceu depois de mais de três anos de colonização, para que o ideal da França Equinocial não pudesse ser concretizado.

Ilustres historiadores pertencentes à já centenária Academia Maranhense de Letras manifestaram-se a respeito da fundação de São Luís, tais como Barbosa de Godois, José Ribeiro do Amaral; Claude d´Abbeville e Yves d´Évreux, cronistas pioneiros da cidade, também. 

Também venho a esta vetusta Universidade em grata missão oficial da Universidade Federal do Maranhão-UFMA, em São Luís, a fim de firmar um “Memorando Geral de Entendimentos para Cooperação Mútua” com a Universidade Lumière Lyon 2, que dará início a um novo tempo nas nossas relações internacionais “desenvolvendo experiências educacionais e científicas de fortalecimento e enriquecimento”.

Este Ato, portanto, situa-se além de uma realização pessoal deste professor e cronista. Contou, desde os primeiros momentos, com a compreensão da ilustre professora Maria da Conceição Coelho Ferreira, responsável pelo Instituto de Estudos Brasileiros, desta Universidade, acatando nossas manifestações de interesse e dando bom termo aos nossos entendimentos.

Agradeço de coração à ilustre professora, bem como e de igual forma ao professor Aldir Araújo Carvalho Filho, chefe da Assessoria de Relações Internacionais da UFMA, que formalizou, em nome do Senhor Reitor Natalino Salgado Filho, esses entendimentos.

A UFMA é uma universidade relativamente nova, pois foi oficialmente criada em 1966. Antes existiam Escolas isoladas e que foram transformadas em uma Fundação. Atualmente, tendo à frente o Magnífico Reitor Natalino, a quem agradeço a viabilidade da minha viagem, nossa Universidade tem experimentado franco progresso na melhoria e expansão dos seus diversos cursos pelos inúmeros campi, no Estado do Maranhão, além de significativa ampliação das suas instalações no campus do Bacanga, em São Luís. Estamos vivendo um acelerado progresso.

Permitam-me apresentar-me. Sou economista formado pela Faculdade de Ciências Políticas e Econômicas do Rio de Janeiro, em 1959, e professor universitário aposentado pela Universidade Federal do Maranhão, onde ensinei de 1979 a 1997; antes fui professor-fundador da Universidade Estadual do Maranhão, onde ajudei a criar, a partir de 1968, as primeiras escolas de ensino superior ligadas ao Estado. Na Universidade ensinei principalmente Teoria Econômica, Economia monetária e Mercado de capitais. Desenvolvo atividades literárias, como membro das Academias Caxiense, em Caxias, e Ludovicense de Letras, em São Luís.

No momento, estou escrevendo o Elogio ao meu Patrono, na Academia Ludovicense de Letras, Francisco Sotero dos Reis, a ser proferido no mês de julho próximo. Ele nasceu e morreu no Maranhão do século XIX, “foi jornalista, poeta e escritor, e deu lume a uma obra estritamente vinculada a assuntos filológicos […]”, foi precursor do “fenômeno raro do aparecimento de verdadeiros mestres da Língua Portuguesa Clássica”, no século XX.

Um panorama da literatura brasileira, segundo Luiz Ruffato, jornalista e escritor, “[…] embora caudatária da literatura portuguesa, desde cedo a paisagem é uma maneira diferente de modular a língua conformaram a mentalidade brasileira […]”; “[…] o Brasil colonizado a partir de 1500 recebeu vagas influências estrangeiras”. Situa o ano de 1836 “como marco fundador da literatura nacional”, que segue bem diversificada nos dias atuais cultuando valores do passado e aplaudindo os novos.

Sotero dos Reis (1800-1871), meu Patrono na ALL, estudou 29 dos principais autores portugueses e brasileiros, destacando-se Gil Vicente, Luiz Vaz de Camões, Alexandre Herculano, Padre Antônio Vieira, Manoel Odorico Mendes, Antonio Gonçalves Dias e Antonio Henriques Leal.

Este é o meu segundo trabalho de crônicas. São 27 selecionadas, antes publicadas na imprensa de São Luís e reunidas em Livro, a fim de superar a perenidade dos textos jornalísticos. A principal dessas crônicas presta meu tributo à única cidade brasileira fundada pelos franceses, São Luís do Maranhão; elas falam, ainda, das minhas viagens, sobre outras cidades, livros, música, família, estudos, valores e crenças. “Tratam de coisas passadas com intenção de preservar memórias, não de desvalorizar o presente”.

Segundo palavras do apresentador e tradutor do Livro, professor Cadmo Soares Gomes, “[…] o lirismo criativo está sempre presente e se desvela às vezes em melancolia […]. Quando trata da família, revela o espírito romântico, rendendo-se aos sentimentos suaves […]”.

Chamo atenção para as epígrafes que coloquei em cima de cada crônica. Foi de propósito. Além de prestigiar a memória dos seus autores, adequa-se, na maioria das vezes, ao que escrevi. São para reflexão.

Desejaria, doravante, fazer alguns comentários sobre as motivações que me levaram a escrever algumas das crônicas selecionadas.

“Razão e Sensibilidade” (páginas 17 a 22) é um grito de alerta em favor do patrimônio histórico das cidades, particularmente de Caxias, no Maranhão, no Brasil, minha terra natal; é um posicionamento democrático contra o lento, gradual e inexorável processo de “modernização” dos espaços às vezes onde se nasce, cresce e morre.

“Amor Perdido” (páginas 49 a 55) é sobre futebol, que já gostei tanto, todavia acabei perdendo o interesse face às desilusões ocasionadas por circunstâncias adversas. Dizem que “somos nós e as nossas circunstâncias”, não é assim?

“O Sereno do Cassino” (páginas 101 a 104). Sereno diz-se das pessoas que permanecem, de fora, observando os que entram, nos bailes da vida; e Cassino com dois “s” não é clube de jogo, contudo clube de dança. Os de fora observam, fazem comentários de toda ordem, riem, divertem-se com os ditos ‘privilegiados’, sobre se estão bem vestidos, bem acompanhados. É divertido!

“Vereda Tropical” (páginas 119 a 124) lembra da minha juventude, em São Luís, e das músicas caribenhas que tocavam nos clubes da cidade, nos bailes da vida, das namoradas e das dificuldades em conservá-las.

“Melancolia” (páginas 125 a 128) Gosto tanto desta crônica, que parece ficção, mas é realidade, pois foi baseada em fatos reais; mostra como o simples viver é, para algumas pessoas, um verdadeiro dilema. “Seriam os poetas predestinados aos sofrimentos da alma”?

“O que é a Felicidade” (páginas 195 a 200). Quem sabe? Eu arrisquei escrever sobre algo apenas experimentado por quem sente. Cada qual é feliz à sua maneira; não há uma receita pronta e acabada.

“Todos têm direito à vida, à liberdade e à busca da felicidade”, disse Thomas Jefferson, terceiro presidente dos Estados Unidos, quando esboçou as primeiras linhas do texto da Declaração de Independência dos EUA, em 1776.

Busquemos, pois, esses direitos.

*Economista. Membro Honorário da ACL, ALL e AMCJSP.

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