Quando Caxias era iluminada por lampiões

Há muitos anos, quando Caxias nem sonhava com a moderna iluminação em LED, a cidade viveu durante décadas à luz de lampiões. Não daqueles “portáteis” que podiam ser vistos nas mãos dos cidadãos, e sim aqueles compridos e de madeira que eram fincados em diferentes pontos da cidade.


A então R. Dias Carneiro (atual Afonso Cunha, popular Calçadão) em 1920. Na imagem é possível observar um lampião à querosene instalado estrategicamente na esquina da longa via.

Antes dos municípios receberem a iluminação elétrica, quem fazia o papel de trazer um pouco de luz ao breu que se instalava quando chegava a noite eram os lampiões; instalados em pontos estratégicos de cada localidade. No Maranhão (no tempo do Império), fora no dia 07/01/1825 que o Presidente Interino Manuel Telles da Silva Lobo – sobretudo por uma questão de ordem pública e segurança -, ordenou ao Brigadeiro Intendente da Marinha que “faça, sem perda de tempo, pôr lampiões em todos os lugares convenientes”.

Segundo Kalil Simão Neto, no livro Cartografias Invisíveis: “A exemplo da Capital, alguns anos depois, vilas do interior passaram igualmente a oferecer serviço de iluminação pública. A primeira delas foi Caxias, que, em 1835, passou a contar com a iluminação de 50 lampiões à azeite. Aliás, tal fato foi objeto da primeira lei da Província do Maranhão, referente à iluminação pública a Lei n. 1, de 10 de março de 1835, que ordena a colocação de cinquenta lampiões na Vila de Caxias”.

Esses primeiros lampiões instalados possuíam uma construção diferente dos que viriam depois, e eram alimentados à base de azeite; que poderia ser de mamona, de peixe ou baleia. A troca desse óleo era realizada duas vezes ao dia, onde por meio de uma corda o lampião era abaixado ao amanhecer e aceso quando chegava o crepúsculo. “A troca era feita por escravos. Um, baixava o lampião; o outro despejava de um grande canjirão (jarro com asa de boca larga), com um funil na ponta, o óleo de baleia. Eles preparavam o candeeiro de quatro mechas na noite que iniciava”, destacam os historiadores.


Ilustração do francês Jean-Baptiste Debret retratando escravos durante a troca do óleo dos lampiões no período do Brasil Império.

Ilustração que exibe a antiga figura do acendedor de lampiões (a querosene).

Posteriormente, esses lampiões foram trocados por novos que eram abastecidos a gás de querosene. Nesses também continuava sendo necessária a existência de operadores que diariamente acendiam as luminárias. “O equipamento consistia num registro para controlar a entrada de gás no combustor e uma vara especial com uma esponja de platina na ponta para ser um catalisador; provocando a combustão do gás”, esclarece a historiadora Mary Del Priore. Não era um procedimento dos mais seguros.

Em Caxias, em 1898, um jovem, de nome Benedito, sofreu um terrível acidente enquanto acendia um lampião no Largo dos Remédios, por ocasião dos festejos. Após dias de suplício, com o corpo horrivelmente queimado, o jovem veio a falecer.

Os acidentes não eram raros, como pode-se verificar nesta notícia do jornal Gazeta Caxiense, de 1894.

Esses postes à querosene instalados em Caxias eram construídos em madeira e fincados em ruas estratégicas da cidade ou, em alguns casos, em frente a residência das famílias mais abonadas. Todos as igrejas possuíam algum em sua frente. Como não eram muitos, e os que tinham muitas vezes não funcionavam corretamente, as reclamações da população eram frequentes. As alegações diziam que as trevas dos logradouros davam espaço para a ação de criminosos. Além disso, não eram raros os roubos das mangas (cúpula de vidro da estrutura) e combustores dos lampiões. Ademais, muitos eram danificados pelas carroças que batiam na estrutura; o que levou, em 1901, a Administração Pública a impor uma multa aos respectivos carroceiros.


Sempre eram instalados lampiões em frente as principais igrejas de Caxias, como é possível verificar nesta fotografia de 1908 da Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos.

As reclamações era constantes, a exemplo desta de 1894.

Devido às frequentes reclamações e problemas, em 1902 a Intendência Municipal de Caxias publicou um novo edital de licitação para o fornecimento de iluminação pública ao município, que àquele ano contava com 145 lampiões em atividade. No respectivo edital ficava estabelecida a troca dos antigos postes, bem como de seus acessórios defeituosos. O combustível (querosene) deveria ser de boa qualidade e o combustor teria que fornecer luz com intensidade de 05 velas.

Outras imposições do edital:

Lampião localizado em frente a uma casa comercial na antiga Rua do Sol (atual Alderico Silva). Ano: 1916/17.
  • Os novos postes de 3 metros de altura serão de amargo de aroeira, ou de madeira equivalente;
  • Os lampiões estarão acesos, impreterivelmente, às 18:30h;
  • Nos meses de junho a dezembro os lampiões serão acesos somente nas noites de escuro, assim conservando-se até o despontar da lua; nas noite de luar, porém, não serão acesos antes que a lua se oculte;
  • Por fim, o contratante ficaria sujeito a multa de 500 réis por cada lampião que for encontrado sem luz, ou sem a intensidade previamente estabelecida.

Mesmo após as mediadas supracitadas, as reclamações continuaram. E assim se seguiu durante o início do século XX. Na década de 1920, durante a administração do prefeito Francisco Villanova, mais lampiões foram instalados em Caxias, que, àquela época, já estava melhor iluminada. Até que, em 1929, através da Usina Dias Carneiro, a luz elétrica pública chega ao município e, gradativamente, as ruas caxienses vão aposentando os antigos lampiões.


Fontes de pesquisa: Livro Histórias da Gente Brasileira – Vol. 2/Autora: Mary Del Priore; Livro Cartografias Invisíveis/Diversos Autores; Jornal de Caxias; Gazeta Caxiense.

Imagens da publicação: Acervo do IHGC; Internet; Jornal Gazeta Caxiense; Álbum do Maranhão de 1908; Acervo de Eziquio Barros Neto

Restauração: Brunno G. Couto

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