A celebração de Corpus Christi em Caxias, no ano de 1903

Procissão de Corpus Christi, do ano de 2017. À frente, abaixo do pálio, Pe. Ribamar – atual pároco da Igreja de São Benedito – carrega o Santíssimo Sacramento.

No dia de Corpus Christi, a Igreja Católica celebra o mistério da Eucaristia, em que o pão e o vinho se transformaram no corpo e no sangue de Jesus Cristo, respectivamente. A festa teve origem em 1208, em Liège, na Bélgica, quando a monja Joana de Mont Cornillon teve a visão de uma festa em honra da Eucaristia e passou a organizar a celebração. Contudo, foi apenas no ano de 1264, através do papa Urbano IV, que a a comemoração foi estabelecida para toda a Igreja Católica.

Como data móvel, esta celebração ocorre 10 dias depois do dia de Pentecostes (que comemora, 50 dias após a Páscoa, a descida do Espírito Santo sobre os apóstolos). Em Caxias, no século XIX, a data era celebrada com uma procissão, sendo promovida, àquela época, pela Câmara Municipal. Contudo, por alguns anos, na transição do ´sec. XIX ao XX, a comemoração não mais vinha sendo feita – os motivos são desconhecidos. Diante de tamanho desfalque, a comunidade católica, em 1903, resolveu organizar-se para que fossem realizadas as devidas liturgias em tão importante data.


Igreja São Benedito. Ano: Década de 1940

Tomando a frente da comissão organizadora estavam os reverendíssimos padres Raimundo Santiago (então vigário da Igreja de São Benedito) e Benedito Basílio Alves. Os outros membros eram fiéis de alta patente, sendo eles: Joaquim Pinto de Moura; coronel José Castelo Branco da Cruz; tenentes-coronéis Antônio Bernardo Pinto Sobrinho, Leôncio de Sousa Machado e Manoel Gonçalves Pedreira (pai do médico Miron Pedreira); e os majores Pedro Pinto Ribeiro e Antônio de Mello Bastos.

E assim, no dia 11 de junho de 1903, as comemorações de Corpus Christi retornaram à Caxias. Tudo teve início às 9h da manhã, onde fora celebrada uma missa solene (com grande participação instrumental) na Igreja de São Benedito. A celebração contou com uma numerosa quantidade de fiéis.

Após, deu-se início à procissão. Conduzindo o pálio (coberta usada nas procissões religiosas para cobrir o Santíssimo Sacramento ou a imagem do Senhor Morto) estavam os cidadãos: Rocha Tote, vereador representando a Câmara Municipal; Dr. Adolpho Domingues da Silva, engenheiro; Dr. Bento Urbano da Costa, médico; Francisco de Brito Pereira, representando a indústria; major João Pereira da Silva, representando o comércio; e Luiz José de Mello, proprietário do Jornal de Caxias, representando a imprensa. Embaixo da estrutura, vinha o Pe. Santiago carregando o Santíssimo Sacramento.

Neste dia, o comércio caxiense fechou as portas. As ruas e praças, por onde passou a procissão do Santíssimo, estavam ornamentadas com ramos e flores, enquanto os sinos badalavam ao fundo. Depois de recolhida a procissão na Igreja de São Benedito, a tradicional banda de música da cidade, comandada pelo maestro Carimã, percorreu tocando em algumas ruas e em diversas casas particulares. Foi uma dia memorável. Nas palavras de um articulista da época: “Foi um verdadeiro dia festivo para a sociedade caxiense. Foi, finalmente, uma celebração digna de ser repetida nos vindouros anos”.

E assim se dera. Com o seu retorno em 1903, a procissão de Corpus Christi é uma tradição que, felizmente, se mantém até os dias de hoje em Caxias.


A banda de música do município continua acompanhando a solenidade. Fotografia do ano de 2013.

Atualmente, o asfalto das ruas em que passa a procissão de Corpus Christi são ornamentados com figuras e dizeres religiosos.

Fontes de pesquisa: Livro A Origem de Datas e Festas/Autor: Marcelo Duarte; Jornal de Caxias: Órgão Comercial e Noticioso.

Imagens da Publicação: Álbum do Maranhão de 1908/Autor: Gaudêncio Cunha; Acervo do Autor

Restauração: Brunno G. Couto