As origens caxienses da atriz Glória Menezes

Apesar de muitas pessoas ainda relatarem que a atriz é caxiense, a informação não é verdadeira. Contudo, suas origens familiares são de Caxias – MA. Seu avô paterno, cel. José Ferreira Guimarães Junior (Zezinho Guimarães), foi um grande empresário da indústria de tecidos de Caxias, tendo residido em um casarão localizado ao lado da Praça Gonçalves Dias (Atualmente funcionam algumas lojas no imóvel, que preserva alguns detalhes de sua fachada original). Era casado com Corina Belleza da Cruz, irmã de João Castelo Branco da Cruz (Dono da Usina de Açúcar, do Engenho D’agua). Da união, nasceram os caxienses: Alcindo, Alinice e José Nilo Cruz Guimarães.

Casarão onde residiram os avós paternos de Glória Menezes. O imóvel está localizado ao redor da Praça Gonçalves Dias, em Caxias. Ano da imagem: 2012
Zezinho e Corina Guimarães (em cores), avós paternos de Glória Menezes, em fotografia de 1937, em Caxias (MA).


José Nilo Cruz Guimarães, contador, formou-se no Rio de Janeiro, cidade onde conheceu a gaúcha Maria Mercedes (Mercedinha), filha de Mercedes da Silva Soares e Antônio Ferreira Soares (funcionário do Ministério da Fazenda). Os dois casam-se no ano de 1927, no Rio de Janeiro. Da união, adveio Nilcedes Soares de Magalhães; nascida em 1934, na cidade de Pelotas (RS), terra de sua família materna. O seu nome resulta da junção de “Nilo” com “Mercedes”.

Residindo desde os seis anos de idade em São Paulo, Nilcedes segue carreira no teatro, onde estabelece o seu nome artístico: Glória Menezes. Contudo, a profissão escolhida pela jovem não fora bem aceita por parte da família. Segundo depoimento da própria atriz, sua avó paterna, Corina, sempre ignorou sua carreira artística, por considerar ser uma profissão ligada a “mulheres da vida”.

Os pais de Glória Menezes, em 1985. Imagens: Reprodução YouTube.

Ao casar-se com o ator Tarcísio Meira, Glória Menezes altera o seu sobrenome “Guimarães” para “Magalhães”. Em fevereiro de 1978, já no apogeu de suas respectivas carreiras na televisão, o casal de artistas fez uma visita à Caxias. Na oportunidade, ciceroneados pelo empresário Alderico Silva, visitaram diversos lugares, como: o “Palacete Castelo” de Alderico, o casarão da família Castelo (onde Glória visitou familiares), as ruínas da Balaiada, a Fábrica de Manufatura Caxiense (a qual o seu avô, Zezinho, chegou a ser proprietário), e a casa da família Frazão (onde conversaram com o músico Josino Frazão, amigo de longa data da família de Glória em Caxias) .

Tarcísio e Glória em Caxias, no ano de 1978. O casal posa em frete a antiga Fábrica de Manufatura Caxiense. Foto: Sinésio Santos/Fonte: Site Noca.
Junto ao comendador Alderico Silva (ao centro), o casal de artistas posa em frente as Ruínas da Balaiada. Foto: Sinésio Santos/Fonte: Site da Prefeitura de Caxias.

Na entrevista abaixo – apesar de não citar Caxias – a atriz fala um pouco sobre a suas origens familiares:


Fontes de pesquisa: Periódicos do acervo da Biblioteca Nacional; Livro Por Ruas e Becos de Caxias/Autor: Eziquio Barros Neto; Entrevista concedida por Glória Menezes ao programa “Gente de Expressão”; Jornal O Pioneiro

A celebração de Corpus Christi em Caxias, no ano de 1903

Procissão de Corpus Christi, do ano de 2017. À frente, abaixo do pálio, Pe. Ribamar – atual pároco da Igreja de São Benedito – carrega o Santíssimo Sacramento.

No dia de Corpus Christi, a Igreja Católica celebra o mistério da Eucaristia, em que o pão e o vinho se transformaram no corpo e no sangue de Jesus Cristo, respectivamente. A festa teve origem em 1208, em Liège, na Bélgica, quando a monja Joana de Mont Cornillon teve a visão de uma festa em honra da Eucaristia e passou a organizar a celebração. Contudo, foi apenas no ano de 1264, através do papa Urbano IV, que a a comemoração foi estabelecida para toda a Igreja Católica.

Como data móvel, esta celebração ocorre 10 dias depois do dia de Pentecostes (que comemora, 50 dias após a Páscoa, a descida do Espírito Santo sobre os apóstolos). Em Caxias, no século XIX, a data era celebrada com uma procissão, sendo promovida, àquela época, pela Câmara Municipal. Contudo, por alguns anos, na transição do ´sec. XIX ao XX, a comemoração não mais vinha sendo feita – os motivos são desconhecidos. Diante de tamanho desfalque, a comunidade católica, em 1903, resolveu organizar-se para que fossem realizadas as devidas liturgias em tão importante data.


Igreja São Benedito. Ano: Década de 1940

Tomando a frente da comissão organizadora estavam os reverendíssimos padres Raimundo Santiago (então vigário da Igreja de São Benedito) e Benedito Basílio Alves. Os outros membros eram fiéis de alta patente, sendo eles: Joaquim Pinto de Moura; coronel José Castelo Branco da Cruz; tenentes-coronéis Antônio Bernardo Pinto Sobrinho, Leôncio de Sousa Machado e Manoel Gonçalves Pedreira (pai do médico Miron Pedreira); e os majores Pedro Pinto Ribeiro e Antônio de Mello Bastos.

E assim, no dia 11 de junho de 1903, as comemorações de Corpus Christi retornaram à Caxias. Tudo teve início às 9h da manhã, onde fora celebrada uma missa solene (com grande participação instrumental) na Igreja de São Benedito. A celebração contou com uma numerosa quantidade de fiéis.

Após, deu-se início à procissão. Conduzindo o pálio (coberta usada nas procissões religiosas para cobrir o Santíssimo Sacramento ou a imagem do Senhor Morto) estavam os cidadãos: Rocha Tote, vereador representando a Câmara Municipal; Dr. Adolpho Domingues da Silva, engenheiro; Dr. Bento Urbano da Costa, médico; Francisco de Brito Pereira, representando a indústria; major João Pereira da Silva, representando o comércio; e Luiz José de Mello, proprietário do Jornal de Caxias, representando a imprensa. Embaixo da estrutura, vinha o Pe. Santiago carregando o Santíssimo Sacramento.

Neste dia, o comércio caxiense fechou as portas. As ruas e praças, por onde passou a procissão do Santíssimo, estavam ornamentadas com ramos e flores, enquanto os sinos badalavam ao fundo. Depois de recolhida a procissão na Igreja de São Benedito, a tradicional banda de música da cidade, comandada pelo maestro Carimã, percorreu tocando em algumas ruas e em diversas casas particulares. Foi uma dia memorável. Nas palavras de um articulista da época: “Foi um verdadeiro dia festivo para a sociedade caxiense. Foi, finalmente, uma celebração digna de ser repetida nos vindouros anos”.

E assim se dera. Com o seu retorno em 1903, a procissão de Corpus Christi é uma tradição que, felizmente, se mantém até os dias de hoje em Caxias.


A banda de música do município continua acompanhando a solenidade. Fotografia do ano de 2013.

Atualmente, o asfalto das ruas em que passa a procissão de Corpus Christi são ornamentados com figuras e dizeres religiosos.

Fontes de pesquisa: Livro A Origem de Datas e Festas/Autor: Marcelo Duarte; Jornal de Caxias: Órgão Comercial e Noticioso.

Imagens da Publicação: Álbum do Maranhão de 1908/Autor: Gaudêncio Cunha; Acervo do Autor

Restauração: Brunno G. Couto

Quando Caxias era iluminada por lampiões

Há muitos anos, quando Caxias nem sonhava com a moderna iluminação em LED, a cidade viveu durante décadas à luz de lampiões. Não daqueles “portáteis” que podiam ser vistos nas mãos dos cidadãos, e sim aqueles compridos e de madeira que eram fincados em diferentes pontos da cidade.


A então R. Dias Carneiro (atual Afonso Cunha, popular Calçadão) em 1920. Na imagem é possível observar um lampião à querosene instalado estrategicamente na esquina da longa via.

Antes dos municípios receberem a iluminação elétrica, quem fazia o papel de trazer um pouco de luz ao breu que se instalava quando chegava a noite eram os lampiões; instalados em pontos estratégicos de cada localidade. No Maranhão (no tempo do Império), fora no dia 07/01/1825 que o Presidente Interino Manuel Telles da Silva Lobo – sobretudo por uma questão de ordem pública e segurança -, ordenou ao Brigadeiro Intendente da Marinha que “faça, sem perda de tempo, pôr lampiões em todos os lugares convenientes”.

Segundo Kalil Simão Neto, no livro Cartografias Invisíveis: “A exemplo da Capital, alguns anos depois, vilas do interior passaram igualmente a oferecer serviço de iluminação pública. A primeira delas foi Caxias, que, em 1835, passou a contar com a iluminação de 50 lampiões à azeite. Aliás, tal fato foi objeto da primeira lei da Província do Maranhão, referente à iluminação pública a Lei n. 1, de 10 de março de 1835, que ordena a colocação de cinquenta lampiões na Vila de Caxias”.

Esses primeiros lampiões instalados possuíam uma construção diferente dos que viriam depois, e eram alimentados à base de azeite; que poderia ser de mamona, de peixe ou baleia. A troca desse óleo era realizada duas vezes ao dia, onde por meio de uma corda o lampião era abaixado ao amanhecer e aceso quando chegava o crepúsculo. “A troca era feita por escravos. Um, baixava o lampião; o outro despejava de um grande canjirão (jarro com asa de boca larga), com um funil na ponta, o óleo de baleia. Eles preparavam o candeeiro de quatro mechas na noite que iniciava”, destacam os historiadores.


Ilustração do francês Jean-Baptiste Debret retratando escravos durante a troca do óleo dos lampiões no período do Brasil Império.

Ilustração que exibe a antiga figura do acendedor de lampiões (a querosene).

Posteriormente, esses lampiões foram trocados por novos que eram abastecidos a gás de querosene. Nesses também continuava sendo necessária a existência de operadores que diariamente acendiam as luminárias. “O equipamento consistia num registro para controlar a entrada de gás no combustor e uma vara especial com uma esponja de platina na ponta para ser um catalisador; provocando a combustão do gás”, esclarece a historiadora Mary Del Priore. Não era um procedimento dos mais seguros.

Em Caxias, em 1898, um jovem, de nome Benedito, sofreu um terrível acidente enquanto acendia um lampião no Largo dos Remédios, por ocasião dos festejos. Após dias de suplício, com o corpo horrivelmente queimado, o jovem veio a falecer.

Os acidentes não eram raros, como pode-se verificar nesta notícia do jornal Gazeta Caxiense, de 1894.

Esses postes à querosene instalados em Caxias eram construídos em madeira e fincados em ruas estratégicas da cidade ou, em alguns casos, em frente a residência das famílias mais abonadas. Todos as igrejas possuíam algum em sua frente. Como não eram muitos, e os que tinham muitas vezes não funcionavam corretamente, as reclamações da população eram frequentes. As alegações diziam que as trevas dos logradouros davam espaço para a ação de criminosos. Além disso, não eram raros os roubos das mangas (cúpula de vidro da estrutura) e combustores dos lampiões. Ademais, muitos eram danificados pelas carroças que batiam na estrutura; o que levou, em 1901, a Administração Pública a impor uma multa aos respectivos carroceiros.


Sempre eram instalados lampiões em frente as principais igrejas de Caxias, como é possível verificar nesta fotografia de 1908 da Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos.

As reclamações era constantes, a exemplo desta de 1894.

Devido às frequentes reclamações e problemas, em 1902 a Intendência Municipal de Caxias publicou um novo edital de licitação para o fornecimento de iluminação pública ao município, que àquele ano contava com 145 lampiões em atividade. No respectivo edital ficava estabelecida a troca dos antigos postes, bem como de seus acessórios defeituosos. O combustível (querosene) deveria ser de boa qualidade e o combustor teria que fornecer luz com intensidade de 05 velas.

Outras imposições do edital:

Lampião localizado em frente a uma casa comercial na antiga Rua do Sol (atual Alderico Silva). Ano: 1916/17.
  • Os novos postes de 3 metros de altura serão de amargo de aroeira, ou de madeira equivalente;
  • Os lampiões estarão acesos, impreterivelmente, às 18:30h;
  • Nos meses de junho a dezembro os lampiões serão acesos somente nas noites de escuro, assim conservando-se até o despontar da lua; nas noite de luar, porém, não serão acesos antes que a lua se oculte;
  • Por fim, o contratante ficaria sujeito a multa de 500 réis por cada lampião que for encontrado sem luz, ou sem a intensidade previamente estabelecida.

Mesmo após as mediadas supracitadas, as reclamações continuaram. E assim se seguiu durante o início do século XX. Na década de 1920, durante a administração do prefeito Francisco Villanova, mais lampiões foram instalados em Caxias, que, àquela época, já estava melhor iluminada. Até que, em 1929, através da Usina Dias Carneiro, a luz elétrica pública chega ao município e, gradativamente, as ruas caxienses vão aposentando os antigos lampiões.


Fontes de pesquisa: Livro Histórias da Gente Brasileira – Vol. 2/Autora: Mary Del Priore; Livro Cartografias Invisíveis/Diversos Autores; Jornal de Caxias; Gazeta Caxiense.

Imagens da publicação: Acervo do IHGC; Internet; Jornal Gazeta Caxiense; Álbum do Maranhão de 1908; Acervo de Eziquio Barros Neto

Restauração: Brunno G. Couto

A Câmara Municipal de Caxias (1951/1954)

A fotografia abaixo mostra a composição da Câmara Municipal de Caxias no ano de 1951. Com eleições realizadas em fins de 1950, essa fora a 2º Legislatura do município, tendo perdurado até 1954, quando foram realizadas novas eleições. E foram estes os eleitos:


Da esquerda para direita: Cristino Nunes Gonçalves, Manoel Pinto da Mota, Luiz Gonzaga Bayma Pereira (2º mandato), Anísio Vieira Chaves, Antônio Enedino Lopes de Araújo (Presidente), Enoque Torres da Rocha, Floriano Pereira de Araújo e Silva, Oscar Wilson de Cantuária Belo e José Waldemar Labre de Lemos (2º mandato).


No registro acima, também é possível observar como eram as antigas instalações da Câmara Municipal. Na década seguinte, durante a administração do prefeito Aluízio Lobo, os prédios do Poder Público de Caxias passaram por amplas reformas.


Fonte de Pesquisa: Livro de Milson Coutinho.

Imagem da publicação: Acervo do IHGC

Restauração e Colorização: Brunno G. Couto

Rua Benedito Leite, uma via histórica

Rua Benedito Leite em 1920.

Assim como algumas outras ruas de Caxias, a R. Benedito Leite (atual Fause Simão) surgiu de uma estrada de terra da cidade para a zona rural. Partindo do Largo do Poço (atual Praça Gonçalves Dias), seguia em traçado ortogonal e regular, subindo parte do Morro da Pedreira (atual R. Santa Maria) em direção às matas onde localizavam-se as terras dos portugueses.

Por ser uma via planejada, fora nomeada, primeiramente, como Rua Direita. Em 1893, fora renomeada para Rua Formosa, em virtude das belas damas residentes naquele logradouro. Cinco anos depois, em 1898, após a visita do chefe do Partido Republicano e Senador Benedito Pereira Leite à Caxias, fora aprovada pela Câmara dos Vereadores a mudança de nome da antiga Rua Formosa; onde esta passou a ser oficialmente registrada como Rua Benedito Leite – já que fora uma das principais vias em que o referido político passou em sua visita.

Apesar de seu nome oficial, durante décadas àquela via ficou mais conhecida como Rua do Cisco. Atribui-se o nome popular ao acúmulo de lixo que localizava-se em algum trecho da via, e que vinha a ser queimado a céu aberto, restando apenas os ciscos. O mais antigo morador que se tem notícia, é também o mais ilustre: Antônio Gonçalves Dias. Por volta de 1820, o poeta ali residiu com seus pais em um pomposo sobrado (demolido). Fora também nessa rua que, em 1886, fora realizado o primeiro culto evangélico de Caxias. Muitos colégios e redações de jornais também operaram nesse logradouro.

A fotografia mais antiga que se tem notícia é esta abaixo datada de 1920. Nela é possível observar o antigo pavimento, popularmente conhecido como “cabeça de nego”; era uma das poucas vias com calçamento na cidade. O sobrado do lado direito era pertencente à família de Gonçalves Dias. Do lado esquerdo, um exemplo de casa “térrea de mirante” (demolido), um dos raros tipos de arquitetura portuguesa registrados em Caxias.


Arraste a bolinha central para visualizar como está a rua atualmente, 101 anos depois:

1920 e 2021.

Além do poeta, muitos outros caxienses ilustres residiram nessa rua, tais como: Josino Frazão, Victor Gonçalves Neto, Turíbio Oliveira, Antônio Brandão, Enéas Patrício da Silva, José Simão, Enoch Torres da Rocha etc. Em 2009, esse histórico logradouro teve seu nome alterado para R. Vereador Fause Simão, em homenagem ao político (falecido em 2008) que ali tinha residência. Mesmo com a mudança, muitos caxienses ainda a conhecem por seu antigo nome, Benedito Leite.


Fonte de pesquisa: Livro Por Ruas e Becos de Caxias/Autor: Eziquio Barros Neto.

Imagens da publicação: Acervo de Eziquio Barros Neto; Acervo do Autor

Restauração e Colorização: Brunno G. Couto

Reportagem, de 1995, sobre as precárias condições em que se encontrava o Mercado Central

Em 1995, a extinta TV Paraíso realizou uma matéria nas antigas instalações do Mercado Central. Na ocasião, foram evidenciadas as precárias condições em que ele se encontrava. São imagens raras que mostram como era o local antes da grande reforma realizada por volta de 2008.


Imagens da publicação: Créditos no vídeo

O dia em que Coelho Netto retornou à Caxias

Coelho Netto em fotografia do início do século XX.

Em 1899, o escritor Henrique Maximiano Coelho Netto, no alto de seus 35 anos de idade, já gozava do status de celebridade literária nacional. E fora nesse ano que o intelectual caxiense resolveu revisitar suas origens, fazendo uma visita a seu estado natal – em terras que não pisava há quase trinta anos, desde que mudou-se para o Rio de Janeiro com os pais.

No dia 08 de junho, chega à capital do estado, sendo fortemente ovacionado pelo povo ludovicense e recepcionado pelo Governador do Maranhão. Na ilha, visitou fábricas, escolas, grêmios estudantis, bem como assistiu a peças teatrais e realizou conferências. Mas o município mais ansiado pelo escritor era outro. Caxias, sua cidade natal, já aguardava ansiosamente a chegada de um de seus filhos mais ilustres. Dessa forma, no dia 18 daquele mês, Coelho Netto, acompanhado de uma caravana, dirigisse ao Cais da Sagração e embarca no vapor Carlos Coelho rumo à princesa do sertão; chegando à cidade na manhã do dia 24.


Vapor “Carlos Coelho” responsável por trazer Coelho Netto à Caxias. Ano da fotografia: 1908.

Assim que chegaram notícias sobre a aproximação da embarcação ao município, fora realizado, no Morro do Alecrim, um tiro de salva, seguido de uma girândola de 20 dúzias de foguetes. Grande foi a concentração popular que deslocou-se ao porto a fim de receber o ilustre conterrâneo. Ao som harmonioso da banda de música do maestro Carimã Junior, bem como sob o alegre estrondear de mil foguetes, Coelho Netto pisou em solo caxiense.

Dali, a multidão saiu em comitiva em direção ao casarão do coronel José Castelo Branco da Cruz, onde o escritor ficaria hospedado. O trecho da rua em que passava o autor de “Miragem”, partindo da Rua Benedito Leite até um ponto da Rua Doutor Berredo, se achava artisticamente ornamentado com bandeirolas e flores silvestres. Ao fim do trajeto encontrava-se uma coluna de grande elevação onde constavam inscrições contendo datas gloriosas e nomes inesquecíveis de vultos pertencentes ao meio intelectual maranhense. Em pedestais, pendiam emblemas com os nomes de todas as produções literárias de Coelho Netto.


Fotografia recente do casarão da família Castelo onde ficou hospedado Coelho Netto.

Assim que chegou ao casarão de Casé Cruz, o escritor ouviu um inspirado discurso do dr. Rodrigo Octávio Teixeira, então Juiz de Direito da Comarca de Caxias. Logo após, pediu a palavra para agradecer toda aquela manifestação de carinho de seus patrícios. Em seguida, assistidos pela multidão presente, os jovens Agnelo Franklin da Costa e Simão Ribeiro também utilizaram-se da retórica para tecer comentários elogiosos ao visitante. Às 12h daquele dia festivo, realizou-se um grande almoço oferecido pelos abonados hospedeiros, os irmãos Cristino e José Cruz. À noite, Coelho recebeu a visita de diversos vultos da sociedade caxiense.

Um dos principais desejos de Coelho Netto era voltar à casa onde residiu até os 06 anos de idade, localizada à Rua da Palma. Dessa forma, o escritor, junto a uma comitiva, dirigiu-se ao referido logradouro. Na ocasião, o singelo imóvel já pertencia a outra família. Analisando todos os detalhes da residência, o escritor proferiu um longo e emocionado discurso sobre suas memórias de infância. Durante a visita, o célebre visitante fora informado de que a Câmara Municipal havia alterado o nome daquela rua em sua homenagem; sendo, na ocasião, fixada uma placa que levava seu nome (até hoje a rua ostenta o nome de Coelho Netto).


Imóvel onde nasceu Coelho Netto. O escritor residiu nessa residência até os 06 anos de idade. Anos depois, sua estrutura fora totalmente reformulada para abrigar o Centro Artístico Operário Caxiense.

Durante cinco dias, Coelho Netto visitou diversas localidades, como: Morro do Alecrim, fábricas têxteis no Ponte, de Manufatura, e a “Sanharó” na Tresidela. Seguindo a tradição, bailes foram organizados em homenagem ao poeta. No dia 28, a convite da sociedade piauiense, viaja até Teresina. Ao retornar no dia seguinte, realiza uma visita ao empreendimento dos irmãos Cruz, a Usina de Açúcar do Engenho D’água. Permanece mais três dias em Caxias, onde, na noite de 01 de julho, é realizada nas dependências do Teatro Fênix uma festa de despedia. E assim, naquela mesma madrugada, Coelho Netto despediu-se de sua terra. O escritor nunca mais voltaria à Caxias.


Fontes de pesquisa: Jornal O Combate; Livro Por Ruas e Becos de Caxias/Autor: Eziquio Barros Neto

Imagens da publicação: Internet; Álbum do Maranhão de 1908; Acervo do Autor; Acervo do IHGC

João Golinha, o andarilho mais famoso de Caxias

Imagem meramente ilustrativa/Google Imagens

Toda cidade, principalmente as de interior, tem aquelas figuras excêntricas que integram a sua história. Popularmente – e pejorativamente – chamados de “doidos”, esses indivíduos marcam tanto o imaginário da população, que, vez ou outra, os seus mirabolantes apelidos são relembrados em rodas de conversa. Nomes como: “Pipoca”, “Pipoco”, “Meio-Quilo”, “Me dá um dinheiro aí”, “Manga Rosa” etc., são alcunhas que não saem da memória dos mais saudosistas.

Apesar da fama que levam, são figuras que pouco se sabe a história pretérita – nome de batismo, idade, ramo familiar etc. E fazendo parte desse rol de “malucos”, estava – talvez o mais famoso deles -, João Golinha. Figura muito popular nas ruas caxienses durante as décadas de 1940 à 1960, que chegou, inclusive, a protagonizar uma crônica de autoria do clérigo caxiense Mons. Arias Cruz.

Como não poderia ser diferente, quase nada se sabe sobre as origens de João Golinha; apenas seu nome de batismo: João Batista Siqueira. É provável que o apelido “Golinha” seja em referência à pequena ave (de cor preto e branco) de mesmo nome. Alto, esguio, de pele morena, rosto alongado e cabelos longos, trajava sempre a mesma indumentária: calça e blusão da mesma cor, cinza, um grande terço pendente do pescoço e rosário na mão. Devido a falta do asseio regular, o seu cheiro não era dos melhores. Invariavelmente andava com papelões em baixo do braço e com uma pequena lata de leite condensado vazia, ou já abastecida com café, que saia pedindo de porta em porta. Sobre esse ritual do andarilho, o caxiense Antônio Augusto Brandão relembra as visitas matinais que João Golinha fazia à casa de sua família à Rua Benedito Leite: “Certos dias chegava na hora do café. Pedia água – que sorvia em goles empunhando a garrafa de certa altura da boca -, manteiga – que misturava ao café -, pão e tudo mais que tinha direito. Depois dessa primeira refeição, ajoelhava-se no meio da sala e rezava à sua maneira, em voz alta, pausada e clemente a Deus, agradecido pela acolhida e desejando mil venturas para a sua ‘santa’ Nadir, minha mãe, e seu esposo Brandão, meu pai”.

Muito religioso, João Golinha era adepto do ecumenismo, frequentava desde as missas católicas aos cultos protestantes (sendo mais assíduo nas celebrações católicas). Assim que entrava na igreja, fazia o sinal da cruz e começava a rezar em tom de voz barulhento, o que não era bem visto pelos fiéis, bem como pelo respectivo celebrante. Quando o relógio marcava meio-dia, era hora de João Golinha rezar ajoelhado no meio da Praça Gonçalves Dias, sendo este comportamento alvo de diversas zombarias pelos que ali passavam. Não deixava barato. Xingava e discutia com todos os que se atreviam a ridiculariza-lo. Contudo, por ser dono de uma personalidade inofensiva, não chegava as vias de fato.

Apesar do comportamento que fugia da normalidade, Golinha frequentava as casas de várias famílias, gozando da proteção de todas, e não poucas crianças lhe pediam a benção (na maioria dos casos, por medo). Na hora do almoço, voltava a bater nas portas em busca de um prato de comida, como relembra Brandão: “Na hora do almoço o ritual era diferente: vinha vestido com a mesma roupa de sempre, mas todo molhado. É que havia banhado, nu, no nosso querido rio Itapecuru; como não gostava de toalha, vestia a roupa assim mesmo, sem enxugar-se. E saia do rio pela rua do Porto Grande, a pé, sol a pino, no rumo certo da nossa casa, para fazer sua segunda e pródiga refeição. Comia o que gostava mais, num prato fundo: arroz bem farto, muito feijão, assado de panela, farinha seca e muita pimenta. Depois, como se vivesse em país onde tal procedimento é demonstração de ter gostado da comida, dava o maior arroto!”.

Quando o céu caxiense escurecia, Golinha passava desejando “boa noite” às famílias que se encontravam proseando à porta de casa. Era hora de repousar para no dia seguinte sair batendo perna pela cidade, cumprindo o mesmo ritual de sempre.

João Golinha faleceu no ano de 1963, em idade desconhecida. Infelizmente, não se tem notícia de nenhum registro fotográfico seu – a sua imagem ficou restrita à memória daqueles que o conheceram pessoalmente. Dois anos após a sua passagem para o plano superior, Mons. Arias Cruz publicou uma crônica em sua homenagem, onde ao fim do texto escreveu: “[João Golinha] Em tudo o mais ‘era um amor’.


Fontes de pesquisa: Jornal do Maranhão; Crônica “Tipos Inesquecíveis” de Antônio Augusto Ribeiro Brandão; Livro Quinteto/Autor: Libânio da Costa Lôbo

A Semana Santa em Caxias na transição do século XIX para o XX

Procissão do Senhor Morto passando pela Rua São Benedito. Ano: 2019

Não há dúvidas de que a Semana Santa, para o catolicismo, é um dos momentos mais importantes do calendário religioso. Em Caxias, as celebrações (missas e procissões) que antecipam a ressureição de Jesus Cristo, no domingo de Páscoa, fazem parte de uma tradição que, até hoje, é mantida. Iniciando com a Fugida do Senhor, onde a imagem de Cristo é transferida à Igreja do Rosário, a Semana Santa finaliza no Domingo da Ressureição.

Anúncio, da Semana Santa de 1898, da Casa Matoense.

Na transição do século XIX para o século XX – tendo em vista a existência de um maior número de cidadãos católicos -, àquela semana era ansiosamente aguardada pelos fiéis, que, com velas à mão, acompanhavam as procissões. Logo que era definida a programação, esta era publicada nos periódicos da região.

A economia da cidade também se adaptava ao período. Com a restrição imposta ao consumo de carne – e seguida a risca pelos fiéis -, os estabelecimentos comerciais da cidade se preparavam para esse momento do ano oferecendo uma variedade de produtos em conformidade com a dieta quaresmal. Às famílias mais abonadas o anúncio sensacionalista destacava, por exemplo, a venda de “camarões que [de tão graúdos] parecem jacarés do Amazonas” e “batatas que só uma dá 1 quilo”.

Na Igreja de São Benedito, no final daquele século, mais precisamente no ano de 1896, o celebrante responsável era o Padre José Ewerton Tavares, e a programação era a seguinte:

Na Quinta-Feira Santa, após o Domingo de Ramos, era dia de Missa Rezada e Via-Sacra. Na sexta-feira, sob a direção do referido vigário, era realizada a Procissão do Enterro e o Sermão da Paixão. No Sábado Santo era dia de Missa Cantada, com benção do fogo e da água. No Domingo de Páscoa era dia de Missa Sermão, procissão e benção solene com o Santíssimo Sacramento; a celebração era acompanhada por um coral de senhoritas dirigido por Antônio Lopes.


Programa do ano de 1902.

Nas décadas seguintes, com a fundação da Diocese de Caxias e com a chegada, em 1941, do primeiro Bispo da cidade, as celebrações da Semana Santa foram se tornando cada vez mais elaboradas. Ficando a programação a cargo do Vigário Geral, Mons. Gilberto Barbosa, sob o visto de Dom Luiz Marelim.

Atualmente, apesar de mais simples (se comparada às décadas passadas), a tradição, felizmente, segue firme e forte. Como deve ser.


Fontes de pesquisa: Jornal de Caxias; Jornal Cruzeiro

Imagens da publicação: Acervo do autor; Jornal de Caxias

O antigo Altar Monumento da Praça Cândido Mendes

Altar Monumento em fotografia da década de 1940.

O Congresso Eucarístico e Sacerdotal de 1937 é, até hoje, um dos pontos mais altos da história religiosa de Caxias. Realizado entre 29 de junho e 04 de julho, teve duração de 06 dias, e, segundo periódicos da época, chegou a reunir mais de 12 mil fiéis. De acordo com Dom Carmelo Mota, Arcebispo de São Luis, uma das principais finalidades do Congresso era: “despertar no povo o amor a Jesus-Hóstia”, bem como a de “lembrar ao povo o dever de trabalhar pelo aumento das vocações sacerdotais em terras do Maranhão”.

José Amaral de Mattos, o idealizador do Altar.

Com a Comissão Central do Congresso (presidida por Pe. Gilberto Barbosa) organizada em Caxias, fora dado início aos preparativos do evento. Nas diversas paróquias foram feitas coletas, de março a junho, para as despesas do Congresso. Pe. Frederico Chaves, por sua vez, ficou encarregado do setor de transportes e hospedagem dos diversos romeiros que, em sua maioria, viriam do Maranhão e Piauí.

E, como parte da celebração do vindouro Congresso, fora idealizado, pelo engenheiro José Amaral de Mattos, um Altar Monumento a ser erguido no largo de São Sebastião. Membro da Ação Católica, Amaral de Mattos idealizou um alto cruzeiro com quatro faces dirigidas para os quarto pontos cardeais, onde quatro missas poderiam ser celebradas ao mesmo tempo; ao centro, duas cruzes entrelaçadas, iluminadas por fortes projetores elétricos, ficando um no topo da haste.

Desenho original do Altar Monumento.

A ideia das múltiplas celebrações simultâneas se dava pelo fato de que, durante o Congresso, muitas seriam as teses e missas campais apresentadas por diferentes sacerdotes do Maranhão; o próprio pe. Luiz Marelim – que 04 anos depois iria se tornar o primeiro Bispo de Caxias – era um deles.

Em maio daquele ano, a Comissão resolveu transferir o Altar para a praça Cândido Mendes, em frente a Igreja Matriz; por esta ficar no centro da cidade, acharam ser o local mais adequado. Com a alteração, a planta original do monumento teve que sofrer algumas mudanças, mas nada de muito significativo. O custeamento da obra ficou a cargo da indústria e comércio caxiense, que aceitaram de bom grado as alterações e o acréscimo monetário decorrente. E assim, em junho de 1937, fora iniciada a obra, sendo o dr. Eugênio Batistela o seu construtor.


Altar Monumento em fotografia da década de 1940.

Conforme o planejado, o grande monumento cumpriu o seu intuito original. Considerado o marco do Congresso, ao seu redor foram celebradas quatro missas simultâneas, bem como apresentação de teses e uma grande missa de primeira comunhão. Após o Congresso, o monumento, aos poucos, foi sendo abandonado. Pelas suas características estruturais, é provável que o cruzeiro tenha sido pensado como algo temporário. E como a sua destinação original já não era mais possível de ser realizada, os caxienses passaram a olhar com indiferença para a grande estrutura. Sendo instalado, alguns anos depois, uma pequena contenção de concreto e aço no seu entorno.


Congresso Eucarístico e Sacerdotal de 1937. O Altar Monumento nunca mais seria tão utilizado quanto nessa época.

Treze anos depois, alguns comerciantes começaram a se mobilizar para a construção de um novo altar; onde nele seria instalada uma réplica do Cristo Redentor do Rio de Janeiro (inaugurado 19 anos antes), a ser feita pelo artista plástico caxiense Mundico Santos. Destarte, o antigo Altar Monumento fora demolido, e, em seu local, no dia 01/11/1950, após cinco meses de construção, a nova obra fora inaugurada. Medindo quase 13m (estátua + pedestal), até hoje, mais 70 anos depois, a estrutura encontra-se erguida em seu local de origem. Na base de seu pedestal fora fixada uma placa com inscrições que relembram o Congresso Eucarístico de 1937, a origem de tudo.


Fontes de pesquisa: Livro Caxias, 50 Anos de Diocese 1939 – 1989/Autor: Pe. José Mendes Filho; Jornal Semanário da União de Moços Católicos; Jornal Cruzeiro; Livro Por Ruas e Becos de Caxias/Autor: Eziquio Barros Neto.

Imagens da publicação: Ac. do IPHAN; Semanário da União de Moços Católicos; Internet; Página do Facebook “O Farol Caxiense”

Restauração e Colorização: Brunno G. Couto