Quando Coelho Netto foi parar nos quadrinhos


Na década de 1950, baseado nas revistas americanas “Classics Illustrated” e “Classic Comics”, a editora brasileira EBAL começou a editar mensalmente o título “Edição Maravilhosa”, visando publicar adaptações para os quadrinhos dos grandes clássicos da literatura universal.

Nas primeiras 23 edições, a EBAL publicou histórias importadas. Já na edição 24, o jornalista Adolfo Aizen, fundador da editora, encomendou ao haitiano André LeBlanc, que adaptasse o livro “O Guarani” de José de Alencar. A iniciativa mostrou-se um sucesso. Dessa forma, após escalar uma grande equipe de renomados artistas para a publicação, passou a focar na quadrinização de obras da literatura brasileira.

E assim, em agosto de 1957, na edição n°154, foi a vez do caxiense Coelho Netto ser adaptado para uma nova mídia. Para tanto, fora escolhido o seu famoso romance “A Conquista”. Com desenhos do aclamado ilustrador Nico Rosso, a obra – de pouco mais de 50 p. -, completou, em 2023, 66 anos.

Para quem quiser ler o quadrinho, é só clicar aqui para fazer o download.

O dia em que Coelho Netto retornou à Caxias

Coelho Netto em fotografia do início do século XX.

Em 1899, o escritor Henrique Maximiano Coelho Netto, no alto de seus 35 anos de idade, já gozava do status de celebridade literária nacional. E fora nesse ano que o intelectual caxiense resolveu revisitar suas origens, fazendo uma visita a seu estado natal – em terras que não pisava há quase trinta anos, desde que mudou-se para o Rio de Janeiro com os pais.

No dia 08 de junho, chega à capital do estado, sendo fortemente ovacionado pelo povo ludovicense e recepcionado pelo Governador do Maranhão. Na ilha, visitou fábricas, escolas, grêmios estudantis, bem como assistiu a peças teatrais e realizou conferências. Mas o município mais ansiado pelo escritor era outro. Caxias, sua cidade natal, já aguardava ansiosamente a chegada de um de seus filhos mais ilustres. Dessa forma, no dia 18 daquele mês, Coelho Netto, acompanhado de uma caravana, dirigisse ao Cais da Sagração e embarca no vapor Carlos Coelho rumo à princesa do sertão; chegando à cidade na manhã do dia 24.


Vapor “Carlos Coelho” responsável por trazer Coelho Netto à Caxias. Ano da fotografia: 1908.

Assim que chegaram notícias sobre a aproximação da embarcação ao município, fora realizado, no Morro do Alecrim, um tiro de salva, seguido de uma girândola de 20 dúzias de foguetes. Grande foi a concentração popular que deslocou-se ao porto a fim de receber o ilustre conterrâneo. Ao som harmonioso da banda de música do maestro Carimã Junior, bem como sob o alegre estrondear de mil foguetes, Coelho Netto pisou em solo caxiense.

Dali, a multidão saiu em comitiva em direção ao casarão do coronel José Castelo Branco da Cruz, onde o escritor ficaria hospedado. O trecho da rua em que passava o autor de “Miragem”, partindo da Rua Benedito Leite até um ponto da Rua Doutor Berredo, se achava artisticamente ornamentado com bandeirolas e flores silvestres. Ao fim do trajeto encontrava-se uma coluna de grande elevação onde constavam inscrições contendo datas gloriosas e nomes inesquecíveis de vultos pertencentes ao meio intelectual maranhense. Em pedestais, pendiam emblemas com os nomes de todas as produções literárias de Coelho Netto.


Fotografia recente do casarão da família Castelo onde ficou hospedado Coelho Netto.

Assim que chegou ao casarão de Casé Cruz, o escritor ouviu um inspirado discurso do dr. Rodrigo Octávio Teixeira, então Juiz de Direito da Comarca de Caxias. Logo após, pediu a palavra para agradecer toda aquela manifestação de carinho de seus patrícios. Em seguida, assistidos pela multidão presente, os jovens Agnelo Franklin da Costa e Simão Ribeiro também utilizaram-se da retórica para tecer comentários elogiosos ao visitante. Às 12h daquele dia festivo, realizou-se um grande almoço oferecido pelos abonados hospedeiros, os irmãos Cristino e José Cruz. À noite, Coelho recebeu a visita de diversos vultos da sociedade caxiense.

Um dos principais desejos de Coelho Netto era voltar à casa onde residiu até os 06 anos de idade, localizada à Rua da Palma. Dessa forma, o escritor, junto a uma comitiva, dirigiu-se ao referido logradouro. Na ocasião, o singelo imóvel já pertencia a outra família. Analisando todos os detalhes da residência, o escritor proferiu um longo e emocionado discurso sobre suas memórias de infância. Durante a visita, o célebre visitante fora informado de que a Câmara Municipal havia alterado o nome daquela rua em sua homenagem; sendo, na ocasião, fixada uma placa que levava seu nome (até hoje a rua ostenta o nome de Coelho Netto).


Imóvel onde nasceu Coelho Netto. O escritor residiu nessa residência até os 06 anos de idade. Anos depois, sua estrutura fora totalmente reformulada para abrigar o Centro Artístico Operário Caxiense.

Durante cinco dias, Coelho Netto visitou diversas localidades, como: Morro do Alecrim, fábricas têxteis no Ponte, de Manufatura, e a “Sanharó” na Tresidela. Seguindo a tradição, bailes foram organizados em homenagem ao poeta. No dia 28, a convite da sociedade piauiense, viaja até Teresina. Ao retornar no dia seguinte, realiza uma visita ao empreendimento dos irmãos Cruz, a Usina de Açúcar do Engenho D’água. Permanece mais três dias em Caxias, onde, na noite de 01 de julho, é realizada nas dependências do Teatro Fênix uma festa de despedia. E assim, naquela mesma madrugada, Coelho Netto despediu-se de sua terra. O escritor nunca mais voltaria à Caxias.


Fontes de pesquisa: Jornal O Combate; Livro Por Ruas e Becos de Caxias/Autor: Eziquio Barros Neto

Imagens da publicação: Internet; Álbum do Maranhão de 1908; Acervo do Autor; Acervo do IHGC

Preguinho, o craque, filho de Coelho Netto

Preguinho. Década de 1930.

João Coelho Netto, mais conhecido como Preguinho, nasceu no Rio de Janeiro, em 08/02/1905, filho do escritor caxiense Coelho Netto e da professora de música Maria Gabriela Brandão Coelho Netto.

Seu pai desejava que um de seus 14 filhos se tornasse esportista; decidindo que o escolhido seria o seu décimo segundo filho, João Coelho Netto. Para o filho, escolheu a natação por ser a modalidade mais tranquila dentre os esportes aquáticos.

Casa onde nasceu Preguinho, na atual Rua Coelho Netto, no Rio de Janeiro.

Então, quando o filho completou cinco anos de idade, Coelho agarrou-o pelos braços e jogou-o na piscina. “Eu esperava que ele nadasse, mas afundou como um prego”, lembrava o inventor do querido apelido do Rio de Janeiro, A Cidade Maravilhosa . A partir desse momento, João passou a ser conhecido como ‘Prego’, ou pelo seu diminutivo “Preguinho”.

Surpreendentemente, aquele incidente não afastou a criança da água. Mano (Emanuel Coelho Netto), seu irmão mais velho, que Coelho reservou para uma carreira na literatura, costumava nadar nos mares do Rio em todas as oportunidades. João foi, inicialmente, vigiar Mano, mas, com medo de que o irmão que idolatrava o considerasse fraco, começou a nadar, e percebeu que era rápido.

Emanuel Coelho Netto (Mano), irmão de Preguinho.

Com apenas 18 anos, e 1,76 m de altura, Preguinho sagrou-se campeão carioca de 600 metros de natação. Dois anos depois, em 19 de abril de 1925, ele conquistou o título pelo terceiro ano consecutivo. Desta vez, porém, Preguinho não esperou para receber a medalha. Ele nem teve tempo de se secar e vestir uma cueca, em vez disso puxou apressadamente um short por cima do calção encharcado e correu pelo Rio para fazer sua estreia no futebol pelo Fluminense.

A sua estreia em partidas foi no empate em 1 a 1 contra o Bangu, em 26 de abril de 1925, partida disputada em Laranjeiras e válida pela primeira rodada do Campeonato Carioca. Antes dessa partida, o Bangu ofereceu a Preguinho um retrato de seu irmão, Mano (que também virou futebolista), que falecera, aos 24 anos, em 1922 após hemorragia interna decorrente de pancada no estômago ocorrida enquanto jogava pelo time tricolor contra o São Cristóvão. O time no qual Preguinho mais fez gols acabaria sendo justamente o Bangu, tendo ele marcado dezessete gols contra esse adversário.

“A lenda é, dizem alguns, que ele ia da praia de Botafogo às Laranjeiras de táxi”, disse Argeu Affonso, jornalista e melhor amigo de Preguinho por 40 anos, ao programa Esporte Espetacular da Globo. “Outros dizem que ele chegou de bicicleta. E outros dizem – os mais fanáticos – que ele saiu correndo. ” O certo é que Preguinho ajudou o Fluminense a conquistar o “Torneio Início” e mais seis troféus em uma carreira futebolística de 14 anos com o clube. O casamento de Preguinho com o Fluminense começou muito antes dele começar a usar a camisa Tricolor . Fundado por Oscar Cox e outros integrantes da elite carioca, em 1902, Coelho Netto, cuja casa de família ficava bem em frente à sede do clube, tornou-se fã instantâneo. Quando sua esposa Maria engravidou de Preguinho em 1904, Coelho inscreveu o filho, não nascido, no clube.

“Eu amo o Fluminense desde que me lembro”, disse Preguinho mais tarde. “Não conseguia falar direito e o Fluminense estava na minha alma, no meu coração e no meu corpo”. Preguinho, jogando no Fluminense, terminou, por duas vezes, como artilheiro do “Campeonato Carioca”, apesar de jogar não só no ataque, mas também no meio-campo, na lateral esquerda e atrás do atacante.

Preguinho vestindo o uniforme do Fluminense. Década de 1920.

Sua versatilidade vai além dos campos de futebol. Preguinho conquistou, inacreditavelmente, 387 medalhas pelo clube em dez esportes: futebol, natação, basquete – continua em segundo lugar na lista de artilheiros de todos os tempos – mergulho, hóquei em patins, remo, tênis de mesa, atletismo, vôlei e polo aquático.

Preguinho jogando pela Seleção Brasileira. Década de 1930.

Preguinho é mais lembrado por algo que conquistou não com o vermelho, branco e verde do Fluminense, mas com o, então, branco e azul do Brasil, uniforme da primeira Copa do Mundo da FIFA, em 1930. Foi nessa Copa que Preguinho, capitão do time, entrou de vez para a história do futebol, ao marcar o primeiro gol do Brasil em uma Copa do Mundo.

Seleção brasileira que entrou em campo para enfrentar a Iugoslávia na Copa do Mundo de 1930, primeiro jogo do time nacional em um mundial. No final, a seleção européia venceu por 2 a 1. Preguinho marcou o primeiro gol brasileiro em uma copa do mundo nesta ocasião. Em pé (da esquerda para direita): o técnico Píndaro de Carvalho, Brilhante, Fausto, Hermógenes, Itália, Joel e Fernando; ajoelhados (da esquerda para direita): Poly, Nilo, Araken, Preguinho e Teóphilo.

“Já escrevi mais de 100 livros, mas ainda sou conhecido na rua como o pai do Preguinho”

Disse, certa vez, Coelho Netto.

Preguinho. Década de 1970 (provavelmente).

Preguinho faleceu no Rio de Janeiro, em 01/10/1979, aos 74 anos de idade, vítima de problemas pulmonares. Em 2020, o Fluminense realizou a restauração do busto de Preguinho, que está instalado na sede do clube, em Laranjeiras.

Em 2010, o programa “Esporte Espetacular” fez uma reportagem especial sobre o jogador, assista abaixo:


Imagens da publicação: Internet; Site “Livro Preguinho Fluminense; © Getty Images; Fluminense F.C.; Site “Terceiro Tempo”; Rede Globo.

Restauração e Colorização: Brunno G. Couto

Fonte: Site oficial da FIFA.

Coelho Netto

Coelho Neto, década de 1920

Henrique Maximiano Coelho Netto nasceu em 1864, em Caxias, na Rua da Palma, que hoje tem o seu nome, na casa número 07, atualmente sede do Centro Artístico e Operário Caxiense. Filho do português Antônio da Fonseca Coelho com a índia Ana Silvestre Coelho, que mudaram-se do Maranhão para o Rio de Janeiro quando o filho contava apenas com seis anos de idade.


Estudou no Colégio Pedro II, onde realizou os cursos preparatórios e ingressou na Faculdade de Medicina, que abandonou em seguida, matriculando-se em 1883 na Faculdade de Direito de São Paulo. No curso jurídico, Coelho Neto expande suas revoltas, logo se envolvendo no movimento de alunos contra um professor e, para evitar represálias, transfere-se para a faculdade do Recife, e ali conclui o primeiro ano tendo por principal mestre Tobias Barreto.

Coelho Netto, em seu escritório no Rio de Janeiro. Década de 1930.
Coelho Neto e sua esposa posam ao lado de um pau-brasil, plantado por eles na horta do Serviço Florestal, em 1931.

Após este lapso, retorna para São Paulo, e logo participa de movimentos abolicionistas e republicanos, entrando em choque com os professores, não chegando a concluir o curso. Em junho de 1899 visitou a capital maranhense e sua cidade natal, sendo alvo de expressivas homenagens. Na política tornou-se deputado federal pelo estado natal, em 1909, reeleito em 1917. Ocupou ainda diversos cargos, e integrou diversas instituições culturais.

No Rio de Janeiro, casou-se, em 1890, com a professora de música Maria Gabriela Brandão. Dentre os filhos do casal, estava: João Coelho Neto (Preguinho). Que, anos mais tarde, tornar-se-á um importante nome do futebol brasileiro.


Ocupante da cadeira número 2 da Academia Brasileira de Letras, da qual foi fundador e presidente, é portanto número 22 da Academia Caxiense de Letras, denominada “Casa de Coelho Neto”.

Membros da Academia Carioca de Letras, durante a posse de Francisca Bastos Cordeiro, em 1931. Coelho Neto é o sexto, da esquerda para direita, dos que estão sentados.
Grupo de literatos em que se destacam as figuras do escritor caxiense Coelho Netto (primeiro da esquerda para direita) e Medeiros e Albuquerque (segundo da direita para esquerda), reunidos em um bar localizado na Av. Rio Branco – Rio de Janeiro, em 1910.


A Coelho Neto devem as cidades de Teresina e Rio de Janeiro os epônimos de “Cidade Verde” e “Cidade Maravilhosa”, respectivamente. O escritor faleceu no Rio, em 1934, aos 70 anos. É na antiga capital da República, que estão enterrados os seus restos mortais.


Fontes: Livro Efemérides Caxienses/Autor: Arthur Almada Lima Filho/Ano: 2014; Sites: Wikipédia e Portal São Francisco

Restauração e Colorização: Brunno G. Couto

Imagens da publicação: Internet; Revista O Cruzeiro (RJ); Site “Livro Preguinho Fluminense e Página do Instagram: Rio Antigo.