Em agosto de 1989, a centenária igreja caxiense de São Benedito foi alvo de uma grande polêmica. Acontece que, por ordens do pároco responsável, Pe. Francisco Damasceno, o templo começou a ter a sua fachada revestida em “pedras piracurucas” (revestimento muito popular, à época). O objetivo era cobrir toda a sua área externa, sob a alegação de que, daquela forma, estaria fazendo um trabalho definitivo para a limpeza e preservação do templo.
Como é de se imaginar, após o inícios das obras, opiniões contrárias à medida logo começaram a surgir. Um articulista do jornal caxiense “O Pioneiro” foi bastante crítico à referida alteração. Sob a manchete “Padre destrói patrimônio Cultural, Histórico e Religioso”, o jornalista teceu duras críticas ao padre. Alegando, dentre outras acusações, que o ato era inadmissível por atentar contra o patrimônio histórico de Caxias. Ainda, segundo ele, as obras teriam se iniciado à revelia dos paroquianos, que não haviam consentido com a mudança.
O jornalista também afirmava ter comunicado às autoridades competentes, como a Administração Municipal e o Departamento do Patrimônio Histórico e Paisagístico da Maranhão, sobre “a violência cometida contra aquela igreja”.
Algum tempo depois, por a igreja de São Benedito estar inclusa na área tombada como patrimônio histórico, a obra foi embargada – apesar destas estarem praticamente finalizadas. Ainda assim, o revestimento permaneceu por pouco mais de cinco anos. Até que, por volta de 1994, as pedras foram retiradas por completo, e a fachada do templo voltou ao seu estado anterior, como permanece até os dias de hoje.
Fontes de pesquisa: Jornal “O Pioneiro”; Livro “Cartografias Invisíveis”/Diversos Autores
Filha de Antônio Vespasiano Ramos e Leonilia Caldas Ramos, Almerinda Caldas Ramos nasceu em Caxias – mais precisamente no largo da igreja de São Benedito -, no final do século XIX. Tinha mais dois irmãos: Heráclito e Vespasiano Ramos (um dos filhos mais ilustres de Caxias).
De sua juventude, quase nenhum registro chegou aos nossos dias. Ao que se sabe, a jovem, ao lado dos irmãos, passou grande parte da infância brincando no areal no largo de São Benedito; local, onde, da janela de casa, assistia aos memoráveis festejos do referido santo. No início do século XX, Almerinda conhece João Castelo Branco da Cruz, jovem proveniente de tradicional família caxiense. O casal oficializa a união no ano de 1904, em cerimônia realizada na princesa do sertão.
É ao casar-se com o coronel João Castelo que Almerinda passa a ser conhecida como Sinhá Castelo. O casal teve doze filhos, sendo eles: José Castelo Branco da Cruz, João Castelo Branco da Cruz Filho, Maria Antonieta Cruz Ribeiro Gonçalves, Lina Cruz de Amorim Coelho, Alice Castelo Cordeiro, Lauro Castelo Branco da Cruz, Luzia Castelo Branco da Cruz, Antônio Castelo Branco da Cruz, Berenice Castelo Branco da Cruz, Benjamim Castelo Branco, Carlos Castelo Branco da Cruz e Alba Castelo Branco.
A família passa a residir no histórico casarão da família Castelo Branco (próximo à praça do Thales Ribeiro), no centro de Caxias. Em 1947, João Castelo falece. Viúva, Sinhá Castelo passa a residir apenas com as filhas, que também habitavam o casarão da família. Por volta da década de 1970, Sinhá Castelo já estava com a saúde bastante fragilizada em virtude da avançada idade; vindo a falecer àquela década.
Filho de Maria Antonieta Castelo, e, por conseguinte, neto de Sinhá Castelo, o então governador do Maranhão, João Castelo Ribeiro Gonçalves, resolveu homenagear a avó ao dar o seu nome a um hospital inaugurado em Caxias. O inesquecível “Hospital Sinhá Castelo” funcionou por mais de trinta anos, tendo sido desativado nos anos 2000.
Fonte de pesquisa: Livro Por Ruas e Becos de Caxias/Autor: Eziquio Barros Neto.
No dia de Corpus Christi, a Igreja Católica celebra o mistério da Eucaristia, em que o pão e o vinho se transformaram no corpo e no sangue de Jesus Cristo, respectivamente. A festa teve origem em 1208, em Liège, na Bélgica, quando a monja Joana de Mont Cornillon teve a visão de uma festa em honra da Eucaristia e passou a organizar a celebração. Contudo, foi apenas no ano de 1264, através do papa Urbano IV, que a a comemoração foi estabelecida para toda a Igreja Católica.
Como data móvel, esta celebração ocorre 10 dias depois do dia de Pentecostes (que comemora, 50 dias após a Páscoa, a descida do Espírito Santo sobre os apóstolos). Em Caxias, no século XIX, a data era celebrada com uma procissão, sendo promovida, àquela época, pela Câmara Municipal. Contudo, por alguns anos, na transição do ´sec. XIX ao XX, a comemoração não mais vinha sendo feita – os motivos são desconhecidos. Diante de tamanho desfalque, a comunidade católica, em 1903, resolveu organizar-se para que fossem realizadas as devidas liturgias em tão importante data.
Tomando a frente da comissão organizadora estavam os reverendíssimos padres Raimundo Santiago (então vigário da Igreja de São Benedito) e Benedito Basílio Alves. Os outros membros eram fiéis de alta patente, sendo eles: Joaquim Pinto de Moura; coronel José Castelo Branco da Cruz; tenentes-coronéis Antônio Bernardo Pinto Sobrinho, Leôncio de Sousa Machado e Manoel Gonçalves Pedreira (pai do médico Miron Pedreira); e os majores Pedro Pinto Ribeiro e Antônio de Mello Bastos.
E assim, no dia 11 de junho de 1903, as comemorações de Corpus Christi retornaram à Caxias. Tudo teve início às 9h da manhã, onde fora celebrada uma missa solene (com grande participação instrumental) na Igreja de São Benedito. A celebração contou com uma numerosa quantidade de fiéis.
Após, deu-se início à procissão. Conduzindo o pálio (coberta usada nas procissões religiosas para cobrir o Santíssimo Sacramento ou a imagem do Senhor Morto) estavam os cidadãos: Rocha Tote, vereador representando a Câmara Municipal; Dr. Adolpho Domingues da Silva, engenheiro; Dr. Bento Urbano da Costa, médico; Francisco de Brito Pereira, representando a indústria; major João Pereira da Silva, representando o comércio; e Luiz José de Mello, proprietário do Jornal de Caxias, representando a imprensa. Embaixo da estrutura, vinha o Pe. Santiago carregando o Santíssimo Sacramento.
Neste dia, o comércio caxiense fechou as portas. As ruas e praças, por onde passou a procissão do Santíssimo, estavam ornamentadas com ramos e flores, enquanto os sinos badalavam ao fundo. Depois de recolhida a procissão na Igreja de São Benedito, a tradicional banda de música da cidade, comandada pelo maestro Carimã, percorreu tocando em algumas ruas e em diversas casas particulares. Foi uma dia memorável. Nas palavras de um articulista da época: “Foi um verdadeiro dia festivo para a sociedade caxiense. Foi, finalmente, uma celebração digna de ser repetida nos vindouros anos”.
E assim se dera. Com o seu retorno em 1903, a procissão de Corpus Christi é uma tradição que, felizmente, se mantém até os dias de hoje em Caxias.
Fontes de pesquisa: Livro A Origem de Datas e Festas/Autor: Marcelo Duarte; Jornal de Caxias: Órgão Comercial e Noticioso.
Imagens da Publicação: Álbum do Maranhão de 1908/Autor: Gaudêncio Cunha; Acervo do Autor