Serenata como Antigamente

No dia 28 de julho – como parte das comemorações do bicentenário de Gonçalves Dias, bem como da Independência de Caxias do domínio Português -, fora realizada a segunda edição do projeto “Serenata como Antigamente” (Idealizado e organizado por Ludce Machado), onde renomados músicos caxienses, juntos à população, percorrem algumas ruas do centro histórico de Caxias, cantando sucessos do passado. O trajeto tem início no Mirante da Balaiada e finaliza-se à praça Gonçalves Dias.

O conjunto é formado por: Marechal (vocal); Adelmo José (vocal); Mira (vocal); Chiquinho do Violão (vocal); Joãozinho do Pagode (vocal); Gilvan Lins (vocal e violão); Chico Beleza (vocal); Giovane (saxofone); Marcelo (trompete); Marinheiro (violão); Norberto (violão); Edmar (violão); Luizinho (violão); Nena (sanfona); Venâncio (técnico de som).

Na oportunidade, registrei algumas imagens do evento, as quais agora disponibilizo. Assista, abaixo:

Os antigos coretos da “praça do Panteon”

Primeiro, a banda passou
Tocando Coisas de Amor
Depois cantaram A Praça
Em rimas cheias de graça

Mas ninguém se lembrou
Do Coreto da Pracinha
Onde sempre tocava
A garbosa bandinha

Nada mais adequado do que iniciar a postagem de hoje com algumas estrofes da música “O Coreto da Pracinha”, de Luiz Gonzaga. Canção que retrata tão bem os tempos românticos que foram os dos coretos das cidades do interior. Os mais jovens podem estar se perguntando: “Mas o que são esses coretos?”. Sim, nobre leitor, algumas gerações desconhecem o termo, acredite!

Correndo o risco de o texto ficar “professoral” demais, responderei o questionamento acima com esta breve explicação: “O Coreto é uma construção que ainda observamos nas cidades interioranas que conseguiram preservar esse elemento urbanístico que teve grande importância até o fim da década de 1960. Ele guarda o romantismo do tempo em que as praças eram o ponto central dos eventos da sociedade. Sua arquitetura básica é composta de planta circular, elevado em alvenaria e com cobertura. […] Esse espaço democrático se espalhou por toda a Europa e, em vários países, tinha significados distintos: na Itália ‘coretto’ significava local de vendas de tabaco, bebidas e jornais; na Inglaterra ‘bandstand’; na França ‘kiosque a musique’; e na Espanha ‘quiosco de musica’ significava local de apresentação de bandas musicais.” (Fonte: Site “Cidade e Cultura”)

Certo, mas onde Caxias entra nessa história? É na década de 1960 – ao menos, que se tem notícia -, seguindo os moldes de outras cidades, que Caxias recebe os seus primeiros e mais populares coretos. Logo que tomou posse, em 1966, o prefeito Aluízio Lobo tinha como uma de suas principais metas realizar o paisagismo da praça Dias Carneiro (popular “Panteon”), que, até então, se limitava a um grande descampado de grama e piçarra, repleto de árvores.

O projeto da praça ficara a cargo do artista caxiense Mundico Santos, e dentro desse projeto fora idealizada a construção de dois coretos. E assim se dera. Estando, estes, posicionados no lado em direção da Av. Desembargador Morato, as edificações eram feitas em cobogós, contando com uma pequena rampa de acesso. Os coretos de Caxias diferenciavam-se dos de outras cidades, pois não possuíam uma cobertura em suas estruturas.

Não obstante os coretos terem sidos pensados (e muitas vezes foram utilizados, de fato, para esse propósito) para servirem como palanques à discursos e outras solenidades oficiais do governo municipal; em dias comuns, a maioria dos caxienses utilizava-os para bater um papo mais privativo ou para rápidas paqueras. Sentados ou encostados em suas muretas, muita conversa foi jogada fora naqueles locais.

Quando dos desfiles de 7 de Setembro, alguns populares, em especial crianças, utilizavam as baixas muretas das edificações como arquibancada. Além disso, escolhia-se os coretos pela sua praticidade, já que os altos palanques demoravam a serem montados. Como mostra a fotografia abaixo, o próprio Governador Sarney, que fazia visitas recorrentes à Caxias, chegou a utilizar um dos coretos como tribuna.

Com o passar dos anos, as pessoas foram perdendo o costume de ir às praças e, por conseguinte, frequentar os coretos – muito por conta do aumento da violência urbana -, bem como a sua utilização para fins oficiais da administração municipal fora diminuindo. Contudo, as duas estruturas permaneceram intactas até a década de 90, quando, no governo de Paulo Marinho (1993/1996), a praça passou por uma nova remodelação, tendo sido demolidos os dois coretos, uma pequena arquibancada de três níveis e um antigo monumento central.

E assim, sem coretos, Caxias permaneceu por mais de vinte anos, até que, com a reforma da praça Vespasiano Ramos, a cidade recebeu uma nova estrutura. Longe da beleza arquitetônica dos antigos exemplares, o novo coreto, de características mais modestas, vem cumprindo, através da semanal “Feirinha da Gente”, a sua finalidade; resgatando um pouco – apesar de sermos sabedores que os tempos não são mais os mesmos -, o que fora a bucólica Caxias de outrora.


Fontes de pesquisa: Site “Cidade e Cultura”/Livro “Por Ruas e Becos de Caxias”/Autor: Eziquio Barros Neto

Imagens da publicação: créditos nas imagens

A História da Escultura de Gonçalves Dias

O busto no ano de sua inauguração. Ao fundo. a Rua Benedito Leite.

As inauguração da Praça Gonçalves Dias, no centro da cidade, juntamente ao busto do poeta homônimo, ocorreu no dia 07/09/1922, dia do centenário da independência do Brasil. O busto inaugurado na ocasião, fora confeccionado, em bronze, pelo escultor pernambucano Honório da Cunha e Mello.

A estrutura de sustentação não era muito alta, bem como não tinha qualquer grade de proteção; sendo usuais fotografias de caxienses ao lado da escultura. A estrutura permaneceu sem nenhuma alteração por mais de quarenta anos.

Senhoritas caxienses posam ao lado do monumento do poeta, no ano de 1936.

Só durante a administração do prefeito Numa Pompílio, em 1964 – ano em que se completavam 100 anos da morte do poeta -, é que fora acrescido, pelas mãos do artista plástico caxiense Mundico Santos, pouco mais de um metro em altura ao pilar que sustentava o busto. Sendo reinaugurado em 28/10/1964. Também, alguns anos depois, foram colocadas grades protetoras em volta do monumento.

Quando Aluízio Lobo era o Prefeito de Caxias encomendou a Mudico, quatro bustos a serem dispostos na Praça do Panteon. Para fazer o de Gonçalves Dias, Mundico utilizou como referência o busto da praça do poeta, que guarda intensa semelhança à obra de Honório da Cunha.

Em tempos em que o vandalismo não predominava nas ruas, as pessoas podiam se aproximar do busto para tirar fotografias, haja vista a inexistência de qualquer grade protetiva. Fotografia da década de 1930.

No ano de 1998, em vista das festividades de 175 anos do nascimento do poeta, o Prefeito Ezíquio Barros Filho decidiu realizar um concurso para um novo monumento em tamanho natural.  O vencedor fora o artista piauiense Paulo Pelicano. Com a demora na entrega, outro artista do Piauí ficou responsável: Will Silva (que também é o responsável pelo painel caricatural localizado atrás da lanchonete Senadinho).

Monumento atual, confeccionado em 1998. Como na imagem, vez ou outra ele aparece sem o pergaminho nas mãos (mas, já fora restituído).

O artista, além de confeccionar a estátua, esculpiu, em relevo, uma cena de um poema de Gonçalves Dias, com índios em seu habitat. Além disso, a escultora fora assentada em um pilar em forma de pergaminho. O novo monumento em homenagem ao poeta, não agradou a todos. Algumas pessoas ainda reclamam da altura da estátua, que, com 1,49 m, representaria um Gonçalves Dias nanico.

O antigo busto, em bronze, de 1922, fora doado pela Prefeitura ao município de Aldeias Altas, onde, até hoje, se localiza (imagem abaixo).

O busto original, de 1922, localizado atualmente na Praça Gonçalves Dias, do município de Aldeias Altas (MA).

Fonte: Livro: Por Ruas e Becos de Caxias/Autor: Eziquio Barros Neto/Ano: 2020

Imagens da publicação: Biblioteca Benedito Leite; Revista Fon!Fon!; Site de Eziquio Barros Neto; Acervo de Brunno G. Couto

Restauração: Brunno G. Couto

Processo de Restauração e Colorização

Pequena amostra do processo de restauração e colorização. Arraste a bolinha para os lados, para ver o antes e depois.

Fotografia da década de 1920.