A música cantada por Milton Nascimento inspirou-me a escrever sobre os tempos em que o trem da Estrada de Ferro São Luís-Teresina – EFSLT fazia o percurso entre as duas capitais, passando por Caxias e outras inúmeras cidades constantes do seu percurso.

Tempos atrás escrevi uma crônica denominada “O trem-de-ferro”, relembrando as viagens dos meus tempos de criança e andanças pela casa do meu avô Augusto, na rua do Pespontão, em São Luís, levado por tia Doninha.

Desta vez, relembro de um tempo mais ligado à minha juventude, entre 1950-1952, de prosseguimento dos estudos, em São Luís.

Na ida e na volta, a mala era despachada na véspera da viagem, para evitar atropelos de última hora. Na ida, entretanto, o problema era achar um lugar no trem, porque já vinha de Teresina, lotado, e sem previsão de quem iria saltar em Caxias. Meu pai ia alcançá-lo ainda na curva, já em baixa velocidade, para garantir esse lugar.

A viagem era sofrida, ainda que sentado. Eram várias paradas, outras estações e eu sabia o nome de todas elas, das sequências na ida e na volta, algumas cidades mais importantes que outras: gente esperando gente, embarcando e desembarcando, pregoeiros da venda de água nas famosas bílhas, comida no prato-fundo bem cheio, tudo não muito caro em apoio à essa viagem longa e cansativa, pois, se não houvesse ‘prego’, duraria cerca de 12 horas, mais ou menos.

Se tivesse sorte e não fosse atingido por uma fagulha incandescente, que fazia buracos na sua roupa, menos mal. O calor era intenso e a velocidade baixa do trem, cerca de 20 quilômetros/hora, tornavam tudo mais complicado.

Porém, tudo era menos complicado do que acontecia no meu tempo de criança: saindo de Caxias para São Luís, pernoitava-se em Coroatá. No início dos anos 50, as locomotivas e os vagões eram mais modernos, com maior potência e conforto, e chegavam ao destino, no mesmo dia.

A letra da música cantada por Milton Nascimento diz: “… a vida se repete na Estação, há gente que chega para ficar e gente que parte para nunca mais voltar. É assim o chegar e partir, mesmo na estação de minha cidade, pois todos estão na mesma viagem, o trem que chega é o mesmo da partida…”

Lembro de algumas partidas da estação de Caxias para São Luís, todas sofridas pela separação de entes queridos; lembro da passagem da imagem peregrina de NS de Fátima, da multidão de devotos; lembro das chegadas a São Luís, na companhia de tia Doninha, e da invariável recepção por minhas tias Santa e Neném.

A estação de trem da minha cidade já foi ‘a vida desse meu lugar’.

*Augusto Brandão é Economista, Membro Honorário da ACL, ALL e AMCJSP.

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