Quando a Igreja de São Benedito teve o seu revestimento alterado

Em agosto de 1989, a centenária igreja caxiense de São Benedito foi alvo de uma grande polêmica. Acontece que, por ordens do pároco responsável, Pe. Francisco Damasceno, o templo começou a ter a sua fachada revestida em “pedras piracurucas” (revestimento muito popular, à época). O objetivo era cobrir toda a sua área externa, sob a alegação de que, daquela forma, estaria fazendo um trabalho definitivo para a limpeza e preservação do templo.

Como é de se imaginar, após o inícios das obras, opiniões contrárias à medida logo começaram a surgir. Um articulista do jornal caxiense “O Pioneiro” foi bastante crítico à referida alteração. Sob a manchete “Padre destrói patrimônio Cultural, Histórico e Religioso”, o jornalista teceu duras críticas ao padre. Alegando, dentre outras acusações, que o ato era inadmissível por atentar contra o patrimônio histórico de Caxias. Ainda, segundo ele, as obras teriam se iniciado à revelia dos paroquianos, que não haviam consentido com a mudança.

O jornalista também afirmava ter comunicado às autoridades competentes, como a Administração Municipal e o Departamento do Patrimônio Histórico e Paisagístico da Maranhão, sobre “a violência cometida contra aquela igreja”.

Algum tempo depois, por a igreja de São Benedito estar inclusa na área tombada como patrimônio histórico, a obra foi embargada – apesar destas estarem praticamente finalizadas. Ainda assim, o revestimento permaneceu por pouco mais de cinco anos. Até que, por volta de 1994, as pedras foram retiradas por completo, e a fachada do templo voltou ao seu estado anterior, como permanece até os dias de hoje.


Fontes de pesquisa: Jornal “O Pioneiro”; Livro “Cartografias Invisíveis”/Diversos Autores

A “Praça da Bíblia”, do bairro Tresidela

Hoje, 30 de setembro, Dia da Bíblia, relembramos a praça caxiense que levava o nome do Livro Sagrado. Localizada na Av. Nossa Senhora de Nazaré, no bairro Tresidela (logo após a Ponte), a pequena praça fora inaugurada em 1968, durante a grande expansão urbanística realizada na primeira administração do prefeito Aluízio Lobo. De paisagismo simples, e com alguns bancos de concreto dispostos em sua extensão, o local recebeu o nome de “Praça da Bíblia”.

O nome decorre da construção de um monumento (muito provavelmente, idealizado e confeccionado por Mundico Santos) representando uma Bíblia aberta contendo citações bíblicas e as duas tábuas de Moisés com os Dez Mandamentos, além de um crucifixo na parte superior.

As escolhas das passagens bíblicas que foram transcritas em cada uma das duas páginas do monumento ficaram a cargo do então bispo de Caxias, Dom Luiz Gonzaga Marelim (representando a Igreja Católica), e do pastor da Igreja Presbiteriana, Silas Marques Serra (representando a Igreja Evangélica). No lado esquerdo estava escrito: “Bem-aventurado o homem que se compraz na lei do Senhor e nela medita de dia e de noite (Salmos 1:2)”.  E no lado direto: “Crê no Senhor Jesus Cristo e serás salvo (Atos 16:31)”.

Na década de 1970, já no segundo mandato de Aluízio Lobo, a praça fora renomeada para “Praça Cônego Aderson Guimarães“, em homenagem ao pároco da Tresidela, falecido, precocemente, em 1970. Nessa alteração, o monumento sofreu algumas mudanças, sendo substituídas as escrituras (foram alteradas para: “Por isso me proclamarão bem-aventurada todas as gerações; Lc 1,48” ), bem como foram removidas as “tábuas” e pastilhas de revestimento.

Atualmente, apesar das ações do tempo e da falta de manutenção, o monumento ainda encontra-se instalado em seu local de origem, em precário estado de conservação.

P.S.: Em novembro de 2020, fora inaugurada uma nova Praça da Bíblia, em frete ao cemitério de Nossa Senhora dos Remédios. No local, fora instalada uma nova estrutura, de proporções maiores, exibindo uma Bíblia aberta.


Imagens: Ac. IHGC; Ac. Aluízio Lobo; Ac. do autor

Fontes de pesquisa: Depoimento de Francisco Guimarães; Livro: Por Ruas e Becos de Caxias/Autor: Eziquio Barros Neto/Ano: 2020

O antigo monumento da Praça do Panteon

Em 1923, ano em que comemorou-se o primeiro centenário da independência de Caxias, o prefeito Francisco Vilanova programou grandes solenidades a serem realizadas na cidade; destacando-se a inauguração, em 02 de agosto de 1923, no então Largo da Independência, de um marco simbolizando a importante efeméride – marco, esse, demolido anos depois.

Durante o primeiro mandato do tenente Aluízio Lobo (1966/1970) como prefeito de Caxias, o Largo da Independência – agora já renomeado para “praça do Panteon”-, que até então era um grande campo de grama e piçarra, passou por uma reforma radical. Com planta projetada pelo artista caxiense Mundico Santos, a área foi pavimentada, ganhando passeio, jardins, dois coretos, uma pequena arquibancada e um espelho d’água. E assim permaneceu até a década seguinte.

A então praça Pedro II (atual Dias Carneiro, popular Panteon), em fotografia de 1950; antes da mudança realizada pelo governo Aluízio Lobo.

Seguindo a tradição de 1923, em 1973 o prefeito José Castro decidiu realizar, no primeiro ano de seu mandato, a construção de um monumento simbólico ao aniversário de 150 anos da adesão de Caxias à independência. O local escolhido para a vindoura construção fora novamente o centro da praça do Panteon (Dias Carneiro); em substituição ao antigo espelho d’água.

E assim se dera, até que, em 01 de agosto de 1973, contando com a presença de populares e diversas autoridades de Caxias, a estrutura fora inaugurada. Projetado por Raimundo Mário Rocha, o obelisco em concreto (que recebeu o nome de “Monumento aos Heróis”) tinha a forma de uma grande flecha fincada, como que indicando que aquele era o local que outrora fora conhecido como Largo da Independência. Nada mais adequado. Em sua base de duas rampas, local onde muitas crianças subiam, localizavam-se duas placas comemorativas.

O monumento em 1973, ano de sua inauguração.

O monumento permaneceu naquele local até a primeira metade da década de 1990, quando, na administração do prefeito Paulo Marinho (1993/1996), a praça fora remodelada. Além da demolição dos coretos e arquibancada, o monumento também fora posto abaixo. Em seu lugar, fora construída uma fonte luminosa d’água (existente até os dias de hoje).

Diferentemente da atual estrutura, o antigo monumento fazia referência a uma importante data para Caxias, e que, sem dúvidas, merece ser lembrada.


Fontes de pesquisa: Biblioteca Benedito Leite; Livro Efemérides Caxienses/Autor: Arthur Almada Lima Filho; Livro Efemérides Caxienses/Autor: Eziquio Barros Neto

Imagens da publicação: Ac. Dreyfus Azoubel; Ac. Família Guimarães; Internet

Restauração: Brunno G. Couto

A história da Fábrica de Manufatura Caxiense (Atual Centro de Cultura)

Texto de Brunno G. Couto

“Se nós, aqui, não temos uma fábrica de fiação e tecelagem; Caxias, lá no interior, é que vai ter?!”. Ao ouvir, de empresários ludovicenses, essas palavras em tom de chacota, Francisco Dias Carneiro tomou aquela indagação como objetivo de vida. Rumou de volta à Caxias, e fundou, com a ajuda do povo, em 22 de outubro de 1889, a Companhia União Caxiense, que viria a ser proprietária, não de uma, mas três fábricas de fiação e tecelagem na cidade.

Dias Carneiro, aos 40 anos de idade.

Dias Carneiro havia ido a São Luis em busca de apoio empresarial para a sua futura empreitada. Contudo, como vimos, a viagem fora infrutífera. Ao retornar a Caxias, os caxienses, sabedores da luta de Carneiro, abraçaram a ideia e, mesmo com dinheiro insuficiente, levaram a cabo a fundação da sociedade. Primeiramente, em 01/01/1888, fora fundada a Fábrica Industrial Caxiense, a primeira fábrica têxtil do Maranhão. Posteriormente, veio a Fábrica União Caxiense, tendo suas obras iniciadas no final de 1889. Dias Carneiro, homem vitorioso, faleceu no ano de 1896 em Caxias .

“O processo de industrialização no Maranhão ocorreu no final do século XIX, com a instalação de varias unidades fabris especializadas no processamento da fibra de algodão, cuja cultura tem sido apontada como maior responsável pela ampla projeção econômica verificada nos séculos XVIII e XIX. O algodão serviu em grande escala como matéria prima para as fabricas têxteis do Maranhão. Nesse cenário, Caxias, que era uma das cidades mais populosa da província e grande produtora de algodão, chegou a exporta ‘para as praças da Europa, pelo porto de São Luís, ou para os grandes centros do sul, através do Piauí, Pernambuco e Bahia’ (COUTINHO, 2005, P.293), sendo pioneira no ramo têxtil no Estado do Maranhão”.

Em 1892, impulsionado pela febre das fábricas, chegou a vez da mais ambiciosa delas. Estabelecida, em 22/05/1892, a sociedade anônima denominada Companhia Manufatura Caxiense S/A, tinha como principais responsáveis os seus diretores fundadores: Segisnardo Aurélio de Moura, José Ferreira Guimarães (bisavô da atriz Glória Menezes), José Castelo Branco da Cruz e Antônio Bernardo Pinto Sobrinho. O local escolhido para a instalação da vindoura fábrica era distante das fábricas supracitadas, que localizavam-se no Ponte. A preferência foi por um terreno próximo a Estação Férrea Caxias – Cajazeiras , que vinha sendo construída, além da proximidade ao rio Itapecuru e seus portos muito movimentados.

Como o terreno escolhido era alagadiço, houve uma demora até que fosse realizada a drenagem do solo, sendo lançada a sua pedra fundamental no início de 1893. A nova fábrica teve o capital inicial 850 contos de réis, de 260 acionistas, que subscreveram 2.834 ações; sem qualquer incentivo do Estado. O projeto arquitetônico ficou a cargo do engenheiro Palmério Cantanhede, que, em virtude do acompanhamento das obras, residiu em Caxias por 18 meses. As estruturas metálicas foram importadas dos Estados Unidos e da Inglaterra, sendo transportadas pelo mar até São Luis, e, de lá, pelo rio Itapecuru até Caxias. As telhas vieram da França.

Detalhe da parte interna do teto da fabrica. Ano da imagem: 2020.
Detalhe interno da chaminé. Ano da imagem: 2020.

Um ano depois, o prédio estava quase concluído, estando todo coberto; a chaminé, de 38 metros de altura, estava finalizada e as caldeiras instaladas. Não obstante, ainda levara alguns anos para a sua finalização. Até que, em 18/09/1898, a fábrica é, enfim, inaugurada. Recebendo o nome de “Fábrica Gonçalves Dias”. A cerimônia de inauguração teve início às 10h, contando com uma grande número de presentes. Realizando a benção do novo prédio, estava o o vigário da Igreja de São Benedito, José Ewerton Tavares. Serviam de paraninfos os senhores: Comendador Francisco de Britto Pereira; Capitão Lionídio Britto Lima dos Reis; Joaquim Barbosa Caldas e Joaquim José Pinto de Moura.

A Fábrica em fotografia de 1908.

Após um longo e belo discurso do padre, o Tenente-Coronel Manoel Gonçalves Pedreira (pai do médico Miron Pedreira), na qualidade de chefe do poder executivo municipal, surgiu no local em que via-se uma fita de cor verde prendendo o volante do motor. Após improvisar um discurso – onde lembrou os serviços prestados por Dias Carneiro (já falecido), Custódio Santos e José Ferreira Guimarães à economia de Caxias – muniu-se de uma tesoura (oferecida pelo coronel José Castelo da Cruz) e cortou a faixa, declarando inaugurada a nova fábrica de manufatura de Caxias, a Fábrica Gonçalves Dias.

Assim que a fita simbólica fora cortada, imediatamente todos os mecanismos entraram em funcionamento, para a admiração dos presentes. Concomitantemente, é executado, pela banda do maestro Carimã Junior, o hino nacional. Após as solenidades programadas, os visitantes puderem visitar as instalações da fábrica. A visão deles foi a seguinte:

Ao lado da porta principal do escritório, viam-se duas árvores de algodão, contendo uma as maçãs e outras os capulhos da preciosa fibra. Mais adiante, ao adentrarem um dos compartimentos da fábrica, viram: algodão em caroço e em pluma; rolos já empastados, fios em maçarocas e carretéis. 

Além disso, morins de diferentes marcas e larguras, em fardos de dez peças; cretones, mesclinas, brins de várias cores; e toalhas, que ocupavam todo o espaço do vasto compartimento. Nos lados superiores das paredes, pendiam cortinas encimadas por escudos com as cores nacionais, nos quais liam-se os nomes dos diversos municípios do Maranhão. 

Toda essa ornamentação fora produzida pelo maquinário da própria fábrica, que fora importado da casa comercial Sons & Co., de Henry Rogers, localizada na cidade de Wolverhampton, na Inglaterra. 
Parte interna da torre.

O industrial Zezinho Guimarães.

Passando por dificuldades financeiras, a Fábrica Gonçalves Dias teve vida curta, fechando as portas em 1901, três anos após a sua inauguração. Sendo vendida, em 1902, em um leilão judicial por 40 contos de réis para o Banco da República, o credor hipotecário. No ano seguinte, a Companhia União Caxiense, proprietária da Fábrica União e da Fábrica Industrial, assume o seu controle até o ano de 1919, quando dois comerciantes teresinenses arrendaram-na. Em 1923, a fábrica a Companhia União Caxiense assume novamente o seu controle, sendo o comerciante Zezinho Guimarães (filho de José Ferreira Guimarães) o seu maior acionista. O industrial controla a Manufatura até 1944, quando transfere-a a um grupo paulista sob a liderança de José de Agustinis. Até que, em 1958, a Fábrica de Manufatura encerra, de vez, as suas atividades.

A fábrica em pleno funcionamento, por volta do ano de 1920.

Desde o seu encerramento, o prédio da fábrica permaneceu sem utilização. Correndo o risco de ser desmontado, o prédio estava em completo abandono quando, em 1977, o prefeito Aluízio Lobo incorpora o imóvel ao município; sendo, em 1980, revitalizada as suas dependências para abrigar o Centro de Cultura Acadêmico José Sarney.

Década de 1970. Após anos desativado, o prédio começa a passar por reformas para abrigar o vindouro Centro de Cultura.


Nesse mesmo ano, é realizado o tombamento do prédio pelo Estado, conforme o Decreto Estadual n. 7.660, de 30 de agosto. Desde então, o prédio já abrigou teatro, biblioteca, museu, exposições, artesanato, arquivo municipal e lojas. Além disso, vem recebendo diversos órgãos públicos, agências bancárias, e, até mesmo – de forma provisória – escolas.

Um dos mais icônicos símbolos de Caxias, em 08 de setembro de 2021 o prédio, de estilo neoclássico, completou 123 anos de história.

O prédio em fotografia recente.

Abaixo, um comparativo da fábrica no anos de 1920 e 2012. Para visualizar, arraste a bolinha central para os lados:


Fontes de pesquisa: Jornal de Caxias; Livro Por Ruas e Becos de Caxias/Autor: Eziquio Barros Neto; Artigo “A participação das Mulheres no Espaço Têxtil e sua Contribuição nos Aspectos Econômicos de Caxias – MA”/Autoras: Ana Carolina de Azevedo e Raquel dos Santos Lima

Imagens da publicação: Ac. de Eziquio Neto; Youtube; Ac. de David Sousa; Álbum do Maranhão de 1908; internet; Site da prefeitura de Caxias; Google Maps

Colorização e Restauração: Brunno G. Couto

O antigo casarão colonial da Praça Gonçalves Dias

PARTE DO CASARÃO VOLTADA PARA O LARGO DO POÇO (ATUAL PRAÇA GONÇALVES DIAS).
FRANCISCO VILLA NOVA

Construção colonial em pedra, no século XIX este casarão pertencia a Alarico José Vilanova. Posteriormente, foi adquirido pelo coronel Francisco Raimundo Villanova (prefeito de Caxias no período de 1934/1935), onde passou a residir junto a sua família, bem como montou sua casa comercial. No seu entorno, existia um olho d’água do extinto Riacho da Pouca Vergonha.

A extensão do imóvel chamava atenção dos caxienses, sendo composto por doze portas e sete janelas, que se estendiam na esquina do antigo Largo do Poço (atual Praça Gonçalves Dias) e da Rua Afonso Pena.

O CASARÃO EM 1920

Na parte voltada à praça, era a sua casa comercial, e na parte da Rua Afonso Pena, sua residência. A chamada “Casa Vilanova” ostentava em sua fachada o desenho de uma águia ladeada por duas faixas com os dizeres: “Comércio e Lavoura”. Ali, Chico (como era mais conhecido) Vilanova atendeu os seus clientes até avançada idade.

Além do comércio do coronel, também operou por muitos anos em suas dependências a escola de datilografia de sua filha, Jacyra Vilanova. Um dos diferenciais arquitetônicos do casarão era o seu mirante de duas pequenas janelas, exemplar único de Caxias.

PARTE DA FACHADA DO IMÓVEL, ONDE É POSSÍVEL OBSERVAR O DESENHO DA ÁGUIA JUNTO ÀS DUAS FAIXAS. ANO: 1950.
RUA AFONSO PENA; ANO: 1942.
1: RESIDÊNCIA DA FAMÍLIA VILANOVA, BEM COMO ONDE FUNCIONOU A ESCOLA DE DATILOGRAFIA.

2: RESTANTE DO ESTABELECIMENTO COMERCIAL “CASA VILANOVA”

Na década de 1960, no local da Casa Vilanova passou a funcionar a Farmácia São José. Por volta da década seguinte, o centenário mirante fora demolido; os descendentes da família Vilanova venderam parte dos prédios, que começou a abrigar pequenos comércios – como funciona até os dias de hoje. O imóvel, atualmente, encontra-se bastante descaracterizado, mas ainda mantem alguns elementos originais, como seu beiral.

UMA DAS ÚLTIMAS FOTOGRAFIAS ANTES DA DEMOLIÇÃO DO MIRANTE. ANO: 1976.

Abaixo, um comparativo do imóvel no anos de 1920 e 2012. Para visualizar, arraste a bolinha central para os lados:


Fontes de pesquisa: Livro Por Ruas e Becos de Caxias/Autor: Eziquio Barros Neto; Depoimento de Antônio Augusto Ribeiro Brandão; Site de Eziquio Barros Neto

Imagens da Publicação: Ac. de Eziquio Barros Neto; Internet; Álbum do Maranhão de 1950; Revista Athenas; Ac. do IHGC

Restauração: Brunno G. Couto

A inauguração da sede da União Artística e Operária Caxiense, em 1930

Atualmente desapropriado pela municipalidade, o nonagenário prédio da União Artística e Operária Caxiense já foi palco de grandes e importantes eventos ao longo de sua história. História, essa, que remonta ao início do século XX.


Sede da União Artística e Operária Caxiense em fotografia de 2013.

Alfredo Beleza, o primeiro presidente da União Artística.

A associação fundadora fora criada em 01/05/1915, sob nome de União Artística e Operária Eleitoral Caxiense (Em 1932, após reforma estatutária, eliminou-se o adjetivo “eleitoral”). Esta era constituída por operários, artífices e artesãos caxienses de ambos os sexos. A sessão de fundação ocorreu nas dependências do Teatro Fênix, na Rua Aarão Reis. Sua primeira diretoria fora assim estabelecida: Alfredo Beleza (Presidente); Abel Antunes (Vice-Presidente); Lívio Álvaro Viana (1 Secretário); João Lourenço Pereira Neves (2 Secretário); Benedito Antônio de Almeida (Tesoureiro). E pelos ajudantes: Custódio Moreira da Silva; José Vitalino César; Francisco Andrade; Justina Bezerra da Costa e José Francisco. Na mesma sessão, o presidente nomeou uma comissão para elaborar os estatutos junto ao promotor público da comarca.

Contudo, só apenas quinze anos depois é que a referida associação ganharia sede própria. Projetado por seu primeiro vice-presidente, o mestre de obras Abel Antunes, o prédio começou a ser edificado na segunda metade da década de 1920, estando localizado ao lado da então Praça D. Pedro II (Atual Dias Carneiro, popular Panteon). O local obtido pela associação fora selecionado em virtude de estar localizado em frente à Fábrica de Manufatura União Caxiense (Atual Centro de Cultura) onde muitos deles trabalhavam. Conclusa as obras, a inauguração do imóvel fora agendada para o “Dia do Trabalhador” de 1930, data em que a União completaria 15 anos de existência. E assim se dera.


Detalhe da fachada do imóvel. É provável que a inscrição não seja a original de 1930, já que, à época da inauguração, a associação ainda tinha “eleitoral” em seu nome.

As festividades de aniversário começaram no dia 30 de abril de 1930, véspera da data oficial. Às 7h houve missa rezada na Igreja de São Benedito, em sufrágio das almas dos sócios falecidos e, após, uma grande romaria aos seus túmulos nos cemitérios de São Benedito e N. S. dos Remédios. Na ocasião, o operário Pedro Antunes discursou junto ao mausoléu de Custódio Pinduca, ex-presidente e fundador da União Artística.


Multidão reunida em frente ao imóvel da nova sede da União Artística Operária e Eleitoral Caxiense. Data: 01/05/1930, dia da inauguração do imóvel.

Meia noite, fora realizada alvorada pela banda “Lyra Operária” (de propriedade da própria União) em frente ao novo prédio da associação, seguindo-se por uma imponente passeata em direção ao Centro Artístico Caxiense. Ali, mais operários fizeram o uso da palavra; foram eles: Júlio Ferraz, Pedro Antunes, Manoel Leitão e Raymundo Leitão.

Chegado o grande dia, 1 de Maio, às 8h o reverendo padre Gilberto Barbosa celebrou missa cantada, em ação de graças, na Igreja de São Benedito. Muito concorrida, a celebração contou com a presença de uma afinada orquestra. Após, realizou-se o benzimento da bandeira e da sede social, no novo prédio construído à praça D. Pedro II, n. 2. Durante a solenidade de inauguração, a Lyra Operária também marcou presença executando o seu melhor repertório. Após, fora oferecido um coquetel aos presentes. Às 18h, entre as aclamações mais vibrantes, foi descida a bandeira da União.

Às 20h, todos os associados se reuniram para receber a visita do Centro Artístico, que chegou à sede social precedido pela banda de música Carimã. Numerosos oradores pediram a palavra, sendo “aplaudidos em delírio pela multidão”, conforme relatou um periódico da época. Às 21h, fora realizada uma sessão solene junto a diversos representantes de diferentes setores da classe trabalhista caxiense. Nessa oportunidade, fora prestado o compromisso pelos membros da nova diretoria, assim constituída:

  • Presidente: Manoel Pinto da Motta
  • Vice- Presidente: F. Lima Pinduca
  • 1 Secretário: João de Deus Ramos
  • 2 Secretário: Francisco Silva
  • 1 Tesoureiro: José Moraes
  • 2 Tesoureiro: Luiz P. de França
  • Orador Oficial: Raymundo N. da Silva Leitão
  • Membros da Comissão Fiscal: Estevam Oliveira, Sabino Raposo e Joaquim F. de Souza
  • Membros da Comissão de Sindicância: Martiniano Santos e Luiz Araújo
  • Bibliotecário: Luiz Farias Correia

Após a posse dos supracitados, tomou a palavra o reverendo padre Joaquim de Jesus Dourado, que proferiu uma belíssima homenagem ao Trabalho. Encerrada a sessão, a diretoria fez distribuir por todos os presentes a poesia Operário, de autoria do dr. Ribamar Pereira, assistente judiciário ao proletariado maranhense.

A casa de modas “A Cearense”, de propriedade de Antônio Martins Filho, ofereceu à União Artística cinco valiosos prêmios, em cortes de seda e perfumarias finas, que foram distribuídos por meio de sorteios. As vencedoras foram as operárias: Benedita Santos, Maria Souza, Maria Pitombeira, Simplicia Santos e Raimunda Lyra. Em seguida, sob o som da orquestra da banda Lyra Caxiense, bem como do Jazz Band Jadhiel, realizou-se um grande baile dançante, que só teve fim às 3h da manhã do dia 02. Foram dois dias intensos.

91 anos depois:

Depois de muito tempo desativado, em 2021 o prédio completou 91 anos de história, ano em que está marcado o início de suas obras de revitalização. De acordo com a Prefeitura e Governo do Estado – e após intervenção da Associação dos Amigos do Patrimônio de Caxias -, as características estruturais (atualmente bem degradadas) do local serão restauradas, bem como sua arquitetura original será mantida; garantindo, assim, a preservação do imóvel . No local passará a funcionar um Restaurante Popular.


Abaixo, algumas fotografias atuais (pré-reforma) do interior do imóvel:

Detalhe do forro em madeira, já bastante deteriorado.


Local onde ficava localizado o palco.

Fontes de pesquisa: Jornal O Imparcial; Livro Efemérides Caxienses/Autor: Arthur Almada Lima Filho; Livro Por Ruas e Becos de Caxias/Autor: Eziquio Barros Neto.

Imagens da publicação: Acervo do autor; Acervo de Eziquio Barros Neto; Jornal O Imparcial

Rua Benedito Leite, uma via histórica

Rua Benedito Leite em 1920.

Assim como algumas outras ruas de Caxias, a R. Benedito Leite (atual Fause Simão) surgiu de uma estrada de terra da cidade para a zona rural. Partindo do Largo do Poço (atual Praça Gonçalves Dias), seguia em traçado ortogonal e regular, subindo parte do Morro da Pedreira (atual R. Santa Maria) em direção às matas onde localizavam-se as terras dos portugueses.

Por ser uma via planejada, fora nomeada, primeiramente, como Rua Direita. Em 1893, fora renomeada para Rua Formosa, em virtude das belas damas residentes naquele logradouro. Cinco anos depois, em 1898, após a visita do chefe do Partido Republicano e Senador Benedito Pereira Leite à Caxias, fora aprovada pela Câmara dos Vereadores a mudança de nome da antiga Rua Formosa; onde esta passou a ser oficialmente registrada como Rua Benedito Leite – já que fora uma das principais vias em que o referido político passou em sua visita.

Apesar de seu nome oficial, durante décadas àquela via ficou mais conhecida como Rua do Cisco. Atribui-se o nome popular ao acúmulo de lixo que localizava-se em algum trecho da via, e que vinha a ser queimado a céu aberto, restando apenas os ciscos. O mais antigo morador que se tem notícia, é também o mais ilustre: Antônio Gonçalves Dias. Por volta de 1820, o poeta ali residiu com seus pais em um pomposo sobrado (demolido). Fora também nessa rua que, em 1886, fora realizado o primeiro culto evangélico de Caxias. Muitos colégios e redações de jornais também operaram nesse logradouro.

A fotografia mais antiga que se tem notícia é esta abaixo datada de 1920. Nela é possível observar o antigo pavimento, popularmente conhecido como “cabeça de nego”; era uma das poucas vias com calçamento na cidade. O sobrado do lado direito era pertencente à família de Gonçalves Dias. Do lado esquerdo, um exemplo de casa “térrea de mirante” (demolido), um dos raros tipos de arquitetura portuguesa registrados em Caxias.


Arraste a bolinha central para visualizar como está a rua atualmente, 101 anos depois:

1920 e 2021.

Além do poeta, muitos outros caxienses ilustres residiram nessa rua, tais como: Josino Frazão, Victor Gonçalves Neto, Turíbio Oliveira, Antônio Brandão, Enéas Patrício da Silva, José Simão, Enoch Torres da Rocha etc. Em 2009, esse histórico logradouro teve seu nome alterado para R. Vereador Fause Simão, em homenagem ao político (falecido em 2008) que ali tinha residência. Mesmo com a mudança, muitos caxienses ainda a conhecem por seu antigo nome, Benedito Leite.


Fonte de pesquisa: Livro Por Ruas e Becos de Caxias/Autor: Eziquio Barros Neto.

Imagens da publicação: Acervo de Eziquio Barros Neto; Acervo do Autor

Restauração e Colorização: Brunno G. Couto

A antiga casa comercial, J. Negreiros & Cia.

Fundada em 1905, pelo capitão Joaquim Negreiros, a casa comercial J. Negreiros & Cia. era, na época, um dos estabelecimentos mais completos de Caxias.

J. Negreiros & Cia., em fotografia da década de 1920.
Joaquim Negreiros.

Com suas instalações à Rua Aarão Reis, n. 12, vendia de tudo um pouco: louças, vidros, tintas, perfumes, calçados, brinquedos, roupas, ferragens, bebidas nacionais e estrangeiras, bem como relógios Ômega folheados a ouro, e revolveres Smith & Wesson. Funcionava também como drogaria. Em uma época em que Caxias ainda não gozava de iluminação elétrica pública, a casa Negreiros, era um dos poucos – senão único – estabelecimentos a ostentar luz elétrica (110 volts) em suas dependências.

Fato curioso: o proprietário, Joaquim Negreiros, era pai do renomado ilustrador caxiense, Sálvio Negreiros. 

A casa comercial de Negreiros funcionava no imóvel de três portas, do lado direito (demolido). O imóvel do lado esquerdo (conservado) atualmente abriga a 3 Delegacia de Serviço Militar de Caxias. Fotografia: Década de 1940.

Apesar de inexistirem informações a respeito, é provável que a casa, J. Negreiros & Cia. tenha funcionado até a década de 1920/1930. Anos depois, o imóvel fora demolido, sendo construído em seu local um sobrado comercial.

No local do imóvel (esquina) fora construído um sobrado comercial. Imagem: Google Maps, 2012.

Fontes de pesquisa: Jornal A Escola; Livro Por Ruas e Becos de Caxias/Autor: Eziquio Barros Neto.

Imagens da publicação: Internet; Acervo de Joaquim Assunção; Acervo de Brunno G. Couto; Google Maps.

Restauração e Colorização: Brunno G. Couto

Antes e Depois do Cassino Caxiense

Pouco mais de 50 anos separam as duas imagens. Arraste a bolinha central para os lados e veja o antes e depois.


Imagens da publicação: Acervo do IBGE; Acervo de Brunno G. Couto