O antigo sobrado colonial do largo da Matriz

Localizado na esquina da atual Rua Gustavo Colaço com a Travessa Caetano Carvalho, no largo da Igreja Matriz, o antigo sobrado colonial pertencia a Antônio Bernardo da Silveira, e já estava edificado pelo menos desde o ano de 1814. Quem nos conta a história do proprietário é o pesquisador caxiense Eziquio Neto: “Bernardo era advogado, Comandante da Guarda Nacional ligado ao Partido Liberal, conhecido como Bem-Ti-Vi, e, por isso, acabou sendo detido durante a revolta da Balaiada pelo apoio aos rebeldes. Seu irmão, Bernardo Antônio da Silveira, foi acusado de ter enviado comunicação a Raimundo Gomes, líder da revolta, a ocupar Caxias em vingança ao assassinato de Teixeira Mendes, em 1837.”


O sobrado em fotografia do início do século XX.

Anos depois, em 1874, a situação do imóvel já era preocupante, de acordo com relatório da Câmara Municipal: “Pede licença igualmente a esta câmara para vender a sexta parte que possui no sobrado da praça da Matriz, que está em mau estado, o qual sendo ILEGÍVEL por Antônio Bernardo da Silveira, que não tem feito os reparos necessários, terá de ficar completamente arruinado”. Com a morte do proprietário, o casarão passou a seus herdeiros, até que fora adquirido pelo comerciante Clemente das Chagas Cantanhede, juntamente com alguns imóveis que o ladeavam.

Na década de 1940, o imóvel passou a hospedar a “Movelaria Carioca” da firma Plosk & Seloni, de Salomão Plosk e Henrique Seloni, respectivamente. Plosk, experiente comerciante, já havia fundado, no ano de 1935, em São Luis, a matriz de sua movelaria. Visando expandir o seu negócio, junta-se a Henrique (que residia em Caxias) para fundar uma filial na princesa do sertão. A movelaria era especializada em comercializar móveis ricamente trabalhados em madeiras de primeira qualidade.


Fotografia do casarão quando abrigava a Movelaria Carioca, da firma Plosk & Seloni. Imagem da década de 1940.

A empreitada não teve vida longa, tendo o imóvel, em 1944, recebido uma drástica reforma, perdendo o aspecto colonial de seus beirais e ganhando elementos Art Decó. Entre as décadas de 1950 e 1960, foi comprado por Lamek Teixeira Mendes, passando a funcionar, na parte de cima, o Hotel Colinas, de propriedade de sua esposa, Maria Barros. No térreo funcionou a Casa de Modas, de Alderico Silva.

O sobrado após a ampla reforma realizada. Fotografia, provavelmente, da década de 1960.

Infelizmente, o casarão foi demolido por volta da década de 1970, sendo construído, em seu lugar, um espaço que abrigou diversos pontos comerciais.


Local onde situava-se o casarão, em imagem de 2012.

Fontes de pesquisa: Livro Por Ruas e Becos de Caxias/Autor: Eziquio Barros Neto; Hemeroteca Digital

Imagens da publicação: Internet; Ac. do IPHAN; Ac. do IHGC; Google Maps

Restauração e Colorização: Brunno G. Couto

A inauguração da sede da União Artística e Operária Caxiense, em 1930

Atualmente desapropriado pela municipalidade, o nonagenário prédio da União Artística e Operária Caxiense já foi palco de grandes e importantes eventos ao longo de sua história. História, essa, que remonta ao início do século XX.


Sede da União Artística e Operária Caxiense em fotografia de 2013.

Alfredo Beleza, o primeiro presidente da União Artística.

A associação fundadora fora criada em 01/05/1915, sob nome de União Artística e Operária Eleitoral Caxiense (Em 1932, após reforma estatutária, eliminou-se o adjetivo “eleitoral”). Esta era constituída por operários, artífices e artesãos caxienses de ambos os sexos. A sessão de fundação ocorreu nas dependências do Teatro Fênix, na Rua Aarão Reis. Sua primeira diretoria fora assim estabelecida: Alfredo Beleza (Presidente); Abel Antunes (Vice-Presidente); Lívio Álvaro Viana (1 Secretário); João Lourenço Pereira Neves (2 Secretário); Benedito Antônio de Almeida (Tesoureiro). E pelos ajudantes: Custódio Moreira da Silva; José Vitalino César; Francisco Andrade; Justina Bezerra da Costa e José Francisco. Na mesma sessão, o presidente nomeou uma comissão para elaborar os estatutos junto ao promotor público da comarca.

Contudo, só apenas quinze anos depois é que a referida associação ganharia sede própria. Projetado por seu primeiro vice-presidente, o mestre de obras Abel Antunes, o prédio começou a ser edificado na segunda metade da década de 1920, estando localizado ao lado da então Praça D. Pedro II (Atual Dias Carneiro, popular Panteon). O local obtido pela associação fora selecionado em virtude de estar localizado em frente à Fábrica de Manufatura União Caxiense (Atual Centro de Cultura) onde muitos deles trabalhavam. Conclusa as obras, a inauguração do imóvel fora agendada para o “Dia do Trabalhador” de 1930, data em que a União completaria 15 anos de existência. E assim se dera.


Detalhe da fachada do imóvel. É provável que a inscrição não seja a original de 1930, já que, à época da inauguração, a associação ainda tinha “eleitoral” em seu nome.

As festividades de aniversário começaram no dia 30 de abril de 1930, véspera da data oficial. Às 7h houve missa rezada na Igreja de São Benedito, em sufrágio das almas dos sócios falecidos e, após, uma grande romaria aos seus túmulos nos cemitérios de São Benedito e N. S. dos Remédios. Na ocasião, o operário Pedro Antunes discursou junto ao mausoléu de Custódio Pinduca, ex-presidente e fundador da União Artística.


Multidão reunida em frente ao imóvel da nova sede da União Artística Operária e Eleitoral Caxiense. Data: 01/05/1930, dia da inauguração do imóvel.

Meia noite, fora realizada alvorada pela banda “Lyra Operária” (de propriedade da própria União) em frente ao novo prédio da associação, seguindo-se por uma imponente passeata em direção ao Centro Artístico Caxiense. Ali, mais operários fizeram o uso da palavra; foram eles: Júlio Ferraz, Pedro Antunes, Manoel Leitão e Raymundo Leitão.

Chegado o grande dia, 1 de Maio, às 8h o reverendo padre Gilberto Barbosa celebrou missa cantada, em ação de graças, na Igreja de São Benedito. Muito concorrida, a celebração contou com a presença de uma afinada orquestra. Após, realizou-se o benzimento da bandeira e da sede social, no novo prédio construído à praça D. Pedro II, n. 2. Durante a solenidade de inauguração, a Lyra Operária também marcou presença executando o seu melhor repertório. Após, fora oferecido um coquetel aos presentes. Às 18h, entre as aclamações mais vibrantes, foi descida a bandeira da União.

Às 20h, todos os associados se reuniram para receber a visita do Centro Artístico, que chegou à sede social precedido pela banda de música Carimã. Numerosos oradores pediram a palavra, sendo “aplaudidos em delírio pela multidão”, conforme relatou um periódico da época. Às 21h, fora realizada uma sessão solene junto a diversos representantes de diferentes setores da classe trabalhista caxiense. Nessa oportunidade, fora prestado o compromisso pelos membros da nova diretoria, assim constituída:

  • Presidente: Manoel Pinto da Motta
  • Vice- Presidente: F. Lima Pinduca
  • 1 Secretário: João de Deus Ramos
  • 2 Secretário: Francisco Silva
  • 1 Tesoureiro: José Moraes
  • 2 Tesoureiro: Luiz P. de França
  • Orador Oficial: Raymundo N. da Silva Leitão
  • Membros da Comissão Fiscal: Estevam Oliveira, Sabino Raposo e Joaquim F. de Souza
  • Membros da Comissão de Sindicância: Martiniano Santos e Luiz Araújo
  • Bibliotecário: Luiz Farias Correia

Após a posse dos supracitados, tomou a palavra o reverendo padre Joaquim de Jesus Dourado, que proferiu uma belíssima homenagem ao Trabalho. Encerrada a sessão, a diretoria fez distribuir por todos os presentes a poesia Operário, de autoria do dr. Ribamar Pereira, assistente judiciário ao proletariado maranhense.

A casa de modas “A Cearense”, de propriedade de Antônio Martins Filho, ofereceu à União Artística cinco valiosos prêmios, em cortes de seda e perfumarias finas, que foram distribuídos por meio de sorteios. As vencedoras foram as operárias: Benedita Santos, Maria Souza, Maria Pitombeira, Simplicia Santos e Raimunda Lyra. Em seguida, sob o som da orquestra da banda Lyra Caxiense, bem como do Jazz Band Jadhiel, realizou-se um grande baile dançante, que só teve fim às 3h da manhã do dia 02. Foram dois dias intensos.

91 anos depois:

Depois de muito tempo desativado, em 2021 o prédio completou 91 anos de história, ano em que está marcado o início de suas obras de revitalização. De acordo com a Prefeitura e Governo do Estado – e após intervenção da Associação dos Amigos do Patrimônio de Caxias -, as características estruturais (atualmente bem degradadas) do local serão restauradas, bem como sua arquitetura original será mantida; garantindo, assim, a preservação do imóvel . No local passará a funcionar um Restaurante Popular.


Abaixo, algumas fotografias atuais (pré-reforma) do interior do imóvel:

Detalhe do forro em madeira, já bastante deteriorado.


Local onde ficava localizado o palco.

Fontes de pesquisa: Jornal O Imparcial; Livro Efemérides Caxienses/Autor: Arthur Almada Lima Filho; Livro Por Ruas e Becos de Caxias/Autor: Eziquio Barros Neto.

Imagens da publicação: Acervo do autor; Acervo de Eziquio Barros Neto; Jornal O Imparcial

A Câmara Municipal de Caxias (1951/1954)

A fotografia abaixo mostra a composição da Câmara Municipal de Caxias no ano de 1951. Com eleições realizadas em fins de 1950, essa fora a 2º Legislatura do município, tendo perdurado até 1954, quando foram realizadas novas eleições. E foram estes os eleitos:


Da esquerda para direita: Cristino Nunes Gonçalves, Manoel Pinto da Mota, Luiz Gonzaga Bayma Pereira (2º mandato), Anísio Vieira Chaves, Antônio Enedino Lopes de Araújo (Presidente), Enoque Torres da Rocha, Floriano Pereira de Araújo e Silva, Oscar Wilson de Cantuária Belo e José Waldemar Labre de Lemos (2º mandato).


No registro acima, também é possível observar como eram as antigas instalações da Câmara Municipal. Na década seguinte, durante a administração do prefeito Aluízio Lobo, os prédios do Poder Público de Caxias passaram por amplas reformas.


Fonte de Pesquisa: Livro de Milson Coutinho.

Imagem da publicação: Acervo do IHGC

Restauração e Colorização: Brunno G. Couto

Rua Benedito Leite, uma via histórica

Rua Benedito Leite em 1920.

Assim como algumas outras ruas de Caxias, a R. Benedito Leite (atual Fause Simão) surgiu de uma estrada de terra da cidade para a zona rural. Partindo do Largo do Poço (atual Praça Gonçalves Dias), seguia em traçado ortogonal e regular, subindo parte do Morro da Pedreira (atual R. Santa Maria) em direção às matas onde localizavam-se as terras dos portugueses.

Por ser uma via planejada, fora nomeada, primeiramente, como Rua Direita. Em 1893, fora renomeada para Rua Formosa, em virtude das belas damas residentes naquele logradouro. Cinco anos depois, em 1898, após a visita do chefe do Partido Republicano e Senador Benedito Pereira Leite à Caxias, fora aprovada pela Câmara dos Vereadores a mudança de nome da antiga Rua Formosa; onde esta passou a ser oficialmente registrada como Rua Benedito Leite – já que fora uma das principais vias em que o referido político passou em sua visita.

Apesar de seu nome oficial, durante décadas àquela via ficou mais conhecida como Rua do Cisco. Atribui-se o nome popular ao acúmulo de lixo que localizava-se em algum trecho da via, e que vinha a ser queimado a céu aberto, restando apenas os ciscos. O mais antigo morador que se tem notícia, é também o mais ilustre: Antônio Gonçalves Dias. Por volta de 1820, o poeta ali residiu com seus pais em um pomposo sobrado (demolido). Fora também nessa rua que, em 1886, fora realizado o primeiro culto evangélico de Caxias. Muitos colégios e redações de jornais também operaram nesse logradouro.

A fotografia mais antiga que se tem notícia é esta abaixo datada de 1920. Nela é possível observar o antigo pavimento, popularmente conhecido como “cabeça de nego”; era uma das poucas vias com calçamento na cidade. O sobrado do lado direito era pertencente à família de Gonçalves Dias. Do lado esquerdo, um exemplo de casa “térrea de mirante” (demolido), um dos raros tipos de arquitetura portuguesa registrados em Caxias.


Arraste a bolinha central para visualizar como está a rua atualmente, 101 anos depois:

1920 e 2021.

Além do poeta, muitos outros caxienses ilustres residiram nessa rua, tais como: Josino Frazão, Victor Gonçalves Neto, Turíbio Oliveira, Antônio Brandão, Enéas Patrício da Silva, José Simão, Enoch Torres da Rocha etc. Em 2009, esse histórico logradouro teve seu nome alterado para R. Vereador Fause Simão, em homenagem ao político (falecido em 2008) que ali tinha residência. Mesmo com a mudança, muitos caxienses ainda a conhecem por seu antigo nome, Benedito Leite.


Fonte de pesquisa: Livro Por Ruas e Becos de Caxias/Autor: Eziquio Barros Neto.

Imagens da publicação: Acervo de Eziquio Barros Neto; Acervo do Autor

Restauração e Colorização: Brunno G. Couto

Os primeiros funcionários da agência do Banco do Brasil, da R. Joaquim Benedito da Silva

O Banco do Brasil começou a operar em Caxias, no ano de 1940, com sua agência situada no Edifício Isany, próximo a livraria Graúna. Alguns anos depois, foi transferido para o prédio da R. 1 de Agosto, ao lado da Igreja Matriz (onde, atualmente, funciona o Magazine Luiza).

Na início da década de 1970, devido a necessidade de ampliação das instalações, passou a funcionar em prédio próprio, na R. Joaquim Benedito da Silva, onde até hoje está situado.

Antes de sua construção, o terreno onde fora instalado servia como espaço para os eventos que o Armazém Paraíba realizava. Ali, por exemplo, apresentou-se, na década de 1960, a cantora Ângela Maria. Também era utilizado pela garotada como campo de futebol.

A foto abaixo, mostra todos os funcionários do banco, em frente ao prédio recém inaugurado:

Imagem: Acervo de Edmílson Sanches (que está presente na fotografia)

Na fila de trás: Eduardo Kelson (de óculos, o primeiro à esquerda); Ozias Neri; Osvaldo Carvalho Couto (chefe de tesouraria); Ludgero Simeão; o Moura; Maria das Graças Nunes Rocha; Filomena Maria Couto; Éder Penha Alves; Evandro; Maurício Barroso do Vale (“Popica”); José Luís Borges Formiga (gerente) e outros cinco que não foram identificados.

Na fila do meio: Marcus Pierre de Resende Rego; Ronaldo Ferro; Rosângela; Glorinha Sousa; Elza; José Nílton (de gravata); José Maria Barbosa; Lauro Castelo Branco; Walburg Ribeiro Gonçalves Filho (subgerente); inspetor que chegara à época (o senhor de gravata); Renato Berger; Chico (do cadastro); o Lourival (também de gravata, chefe do Crédito Rural); José Ângelo Couto Filho (o popular “Quequê”, operador das máquinas de escrituração/lançamentos de contas); o César Martins do Egito (também do cadastro); e o Luís Bernardo (fiscal, de bigode).

Sentados: Cafu; Cirino; José Edmir Alves Baldez; Antônio “Pimpim”; José Armando dos Reis Lobão (“Lobãozinho”); não identificado; Edmilson Sanches (primeiro menor estagiário, contratado aos 13 anos de idade); Francisco (Chico) Cândido.


Fonte: Edmílson Sanches