Reportagem feita pela TV Paraíso, em setembro de 1994, sobre dois espetáculos artísticos realizadas na AABB de Caxias. Naquela noite, apresentou-se a banda “Cobra Criada” de Teresina/PI, bem como o conjunto de tango “Buenos Aires Tango Show”. Confira, abaixo:
Paulino Almeida, um músico caxiense de sucesso
Em uma quinta-feira do mês de julho de 1952, jazia no chão da Praça Tiradentes, berço da vida noturna carioca, o corpo de um homem. Ladeando-o, agarrado à sua mão, um saxofone. Naquele local, em frente ao Teatro Carlos Gomes, pouco tempo antes, o falecido havia executado aquela que seria a sua última apresentação. Nem todos sabiam, mas aquele músico não era filho do Rio de Janeiro, e sim da distante Caxias, no Maranhão. Seu nome: Paulino Almeida.
Filho de Augusto Paulo de Almeida e Maria José (Zezé) Teixeira Santos, Paulino nasceu em Caxias, no dia 10/04/1909 (existem relatos de que a data seria 03/04/1904). “Paulino” era apelido; na verdade, o seu nome completo era: Paulo Augusto de Almeida Santos. Tinha mais três irmãos (Djalma, Docila e Raimundo), sendo, o mais novo, de nome Raimundo (nascido em 1917) – que, anos mais tarde, seria conhecido apenas por Mundico Santos.
Desde pequeno, Paulino já demonstrava um grande interesse por música. Ainda criança, dedilhava, com habilidade, numa flauta de bambu, os sambas e tangos que a banda Carimã do maestro Alfredo Beleza executava nas festas da cidades e salões dos clubes. Vendo – e ouvindo – as habilidades do jovem, o velho Beleza convidou-o a estudar as primeiras noções de melodia com ele.
Logo, Paulino passou a integrar a orquestra Carimã e especializou-se no saxofone. Quase como uma extensão de seu corpo, o músico passou a dominar, com extrema habilidade, aquele instrumento. Como maestro, também chegou a fundar a sua própria orquestra. Executando composições suas ou de outros músicos, Paulino tocava belos solos pelas ruas de Caxias. À luz do luar, notívagos e boêmios paravam para ouvi-lo. Em serenata para damas, o nome de Paulino era bastante procurado.
Talvez por seu estilo mais popular ou por uma questão de preferência, Paulino não podia apresentar-se no salões da cidade, sobretudo do Cassino Caxiense (que, nessa época, funcionava no Edifício Duque de Caxias), União Operária e Centro Artístico. Contudo, nem por isso deixava de exibir sua arte. Logo, encontrou uma solução. Nas décadas de 20 e 30, quando chegava o Sábado de Aleluia, o músico providenciava um palanque no Largo do Rosário e convidava a população para o espetáculo. Como naquele dia acontecia a tradicional “Malhação do Judas”, Paulino também elaborava o testamento do boneco, em um texto cheio de humor.
Dando início ao evento, Paulino, de terno branco e colete, começa a tocar os seus solos de sax, tendo como interlúdio algumas piadas que contava para tirar risos dos presentes. “Os solos, num crescendo, aumentavam a vibração. Chega-se ao ápice. A leitura do testamento do Judas. […] Criança! – e carregado pelas mãos do meu genitor Cocó – eu assistia àqueles espetáculos. Com vibrantes solos de sax e testamentos de Judas, sob medida. Os mais lindo que, ao fio dos anos, a mim me foram dado ouvir. Nem além nem aquém – sendo a crítica na medida certa”. (Libânio da Costa Lobo; Livro Vulto Singular).
O jovem Marcello Thadeu Assumpção (que, anos mais tarde, tornou-se aclamado médico e político) também testemunhou os talentos do músico: “Década de 30. Quando me tocava de sorte passar pela Rua São Benedito, precisamente pela porta da casa de dona Zezé Teixeira Santos, eu era levado a diminuir a marcha das minhas passadas para, numa curiosidade natural e justificável, ficar ouvindo o maravilhoso saxofone do maestro – Paulo Almeida, filho de dona Zezé. Não me contendo, batia palmas e pedia para entrar e ver de perto o maestro executar o seu instrumento”.
Desejando voar mais alto em sua carreira, na década de 30, Paulino mudou-se para a capital do Estado. Em São Luis, foi conquistando as graças do público, passando a ser conhecido como “príncipe dos saxofonistas do Norte”. A alcunha veio após integrar o conjunto “Jazz Alcino Bílio”, que excursionava em todo Norte e Nordeste do Brasil. Além de Paulino, a banda era composta por: José de Ribamar Passos, o “Chaminé”, pianista e acordeonista; João Pereira Balby, saxofonista vienense; e o saxofonista Hélcio Jardim Brenha. José e Paulino alternavam-se na regência do grupo. Tamanho foi o sucesso que, em agosto de 1937, a banda chegou a se apresentar nos jardins do Palácio do Governo do MA.
À parte a atuação no conjunto (Paulino deixou a jazz band por volta de 1938) e da profissão como professor de música, Paulino também tinha uma vitoriosa carreira solo, tendo realizado inúmeras composições. Em 1935, por exemplo, compôs “uma sublime rapsódia”, que denominou “João Pedro da Cruz Ribeiro”. O homenageado que dava nome à composição, era genitor do dr. Fernando Ribeiro, respeitado Chefe de Polícia do Maranhão. Sob a batuta de Paulino, a música foi executada pela banda do 24 BC, na praça Benedito Leite, em São Luis.
Apesar da carreira exitosa em seu Estado Natal, Paulino queria mais. Já como um músico experiente e de fama, decidiu rumar para a então capital da República, o Rio de Janeiro. E assim, em julho de 1941, pelo “Itapé”, Paulino Almeida despediu-se dos maranhenses. O artista não sabia, mas nunca mais voltaria à sua terra.
A nova cidade não era de todo estranha. Afinal, no Rio, levou a sua música para a Associação dos Maranhenses, que estava sob a presidência do Dr. Antônio Dino, e vice-presidência do caxiense General José de Jesus Lopes. Todo e qualquer evento realizado pela Associação, chamava-se o músico para apresentar-se. Orgulhoso de suas conquistas, em terras cariocas, Paulino posou para uma fotografia segurando o inseparável saxofone. O registro tinha destino certo: d. Zezé. De terno alinhado e sorriso no rosto, o filho dedicava à mãe aquela singela lembrança, que se tornaria o seu único registro fotográfico conhecido. Ao fim, colocou a data: 08 de julho de 1948.
“[No Rio de Janeiro] Floresceu o seu talento musical. Na mesma medida, expandiu-se sua boemia. Com epicentro na Praça Tiradentes, tocava nos dancings e boates” relembrou Libânio. Apesar das apresentações entre seus patrícios, as coisas não iam como Paulino ambicionava, haja vista o seu modesto sucesso na capital federal. Possuidor de uma vida boêmia bastante ativa, com as dificuldades financeiras, Paulino intensificou ainda mais o vício no bebida. Daí para o alcoolismo, não precisou de muito.
Além do narrado acima, quase mais nada se sabe sobre a vida profissional e pessoal do músico durante a sua fase no Rio de Janeiro. O seu nome só volta ser citado nos jornais no dia de seu falecimento, em 10 de julho de 1952, após um ataque cardíaco em plena Praça Tiradentes, aos 43 anos de idade. Tendo sido sepultado em um cemitério do subúrbio carioca. “A notícia, espalhando-se, rápida que nem rastilho de pólvora em canavial, chegou à Associação Maranhense. A todos compungindo. De imediato, localizou-se o cadáver e, sob a supervisão solícita do vice-presidente General José Lopes, ocorreu o enterro. Tudo às expensas, escusado dizer, dos seus conterrâneos.” (Libânio Lobo; Livro Vulto Singular).
Calou-se Paulino, calou-se o seu sax.
Em Caxias, corria-se no imaginário popular, com testemunho de muitos caxienses, que, na hora em que Paulino faleceu no Rio de Janeiro, no Largo do Rosário, um saxofone, envolvido por luminosa auréola, envolou nos ares, espargindo belos solos musicais, como aqueles do Sábado de Aleluia.
Em sua homenagem, a Câmara Municipal de Caxias, através da Lei n°200 de 01/10/1952, renomeou a via (que liga a Rua Afonso Pena à Rua São Benedito) que ladeava a residência de sua família, no centro da cidade, para “Travessa Paulino Almeida”, nome que permanece até os dias de hoje. Em memória do irmão, Mundico Santos pintou, baseado na fotografia enviado por Paulino à mãe, um retrato seu, que atualmente integra o acervo da Academia Caxiense de Letras.
Paulino Almeida deixou várias peças populares para piano solo, disponíveis hoje no Arquivo Público do Estado do Maranhão (APEM).
Fontes de pesquisa: Áudio Arte – Memórias de um Blog Musical/Autor: Daniel L. Cerqueira; Música – O Piano no Maranhão: Uma pesquisa artística/Autor: Daniel L. Cerqueira; Jornais “Folha de Caxias” “O Cruzeiro” “O Imparcial” “Pacotilha” “O Combate”; Livro Memórias/Autor: Marcello Thadeu de Assumpção; Livro Vulto Singular/Autor: Libânio da Costa Lobo; Livro Por Ruas e Becos de Caxias/Autor: Eziquio Barros Neto; APEM- Arquivo Público do Estado do Maranhão
À memória de um amigo
Ontem, 03/03/23, partiu, de causas naturais, Antônio Augusto Ribeiro Brandão. Tinha 88 anos.
Caxiense, Brandão nasceu em 08/11/1934, sendo o primogênito do casal Antônio e Nadir. Em 1959, formou-se em Economia, pela Faculdade de Ciências Políticas e Econômicas do Rio de Janeiro. De carreira vasta e exitosa, aposentou-se em 1997. Autor de diversos livros (e cronista de jornais ludovicenses), é (no presente, como imortal que é) membro Honorário da Academia Caxiense de Letras, e membro Fundador da Academia Maranhense de Cultura Jurídica, Social e Política.
Conheci Brandão em 2020. Na época, desejava escrever sobre seu pai, Antônio Brandão (grande homem que fez parte da história de Caxias), para este site. Com este objetivo, acabei encontrando o perfil de Augusto no Facebook. Após receber minha mensagem, se prontificou a traçar um perfil biográfico de seu genitor. Ao notar os meus sobrenomes, “Guimarães” e “Couto”, logo rememorou os meus antepassados que, de alguma forma, fizeram parte de sua história. E, assim, virtualmente, começou nossa amizade.
Percebendo o meu entusiasmo com a história de Caxias, começou a me enviar crônicas suas sobre o passado da cidade (bem como alguns artigos sobre a sua outra paixão, a economia), para que as publicasse neste meu site. De lá para cá, foram publicados dezenas de textos seus, até 12 de fevereiro deste ano, quando publiquei aquele que seria o seu último texto para o Arquivo Caxias, intitulado “A Estação de Trem”.
Dono de uma memória invejável, também contribuiu para a produção de muitas das matérias aqui postadas. Inúmeras foram as vezes em que tirei dúvidas e o fiz perguntas sobre algum momento específico do passado da cidade. Das poucas vezes em que não sabia alguma informação, me indicava a quem recorrer para encontrar uma resposta.
Durante esses pouco mais de dois anos de parceria, generosamente Brandão me enviou muitas de suas obras literárias. Em uma dedicatória escrita à mão em sua autobiografia, lançada em 2021, escreveu: “Ao prezado amigo e conterrâneo Brunno, oferece Brandão”. Infelizmente, devido às restrições impostas pela pandemia, bem como pelo distanciamento entre cidades (Brandão residia em São Luis) não pudemos nos encontrar pessoalmente.
Muito generoso, frequentemente tecia elogios ao meu trabalho, por admirar o meu grande interesse em preservar a história de nossa cidade. Amigo, cobrou – sem que eu soubesse – de uma instituição caxiense da qual fazia parte o reconhecimento formal de meu trabalho. Em janeiro, me enviou esta tocante mensagem:
“Brunno, quero que saiba: você, descendente de uma tradicional família caxiense, que me me faz lembrar de dona Edmée, que foi minha professora de Desenho, no antigo Ginásio Caxiense, nos idos de 1946/1949, honra essa tradição. Jovem ainda, você despertou seus amores por Caxias, relembrando seu passado e preservando o seu presente, resgatando coisas e pessoas a estimular as gerações futuras. Agradeço a sua amizade e dedicação às minhas sugestões e participação nesse caminhar confiante em melhores dias. Forte abraço.”
O meu último contato com o amigo se deu no dia 17 de fevereiro deste ano, quando lhe enviei uma foto que havia encontrado de sua mãe, ao que respondeu, dentre outras palavras, com “Que surpresa agradável!”. Fiquei feliz.
O amigo, fisicamente, se foi; contudo, sua obra permanece. Tenho orgulho de ser, através do meu site, depositário de parte desse trabalho, o qual ficará disponível a quem procurar. É o mínimo que posso fazer, afinal, foi por meio desse mesmo site – e o interesse compartilhado pela memória da cidade – que nasceu nossa amizade.
Vá em paz, meu amigo. Que Deus o receba de braços abertos. Já está fazendo falta.
Sentimentos à família.
O antigo desejo de um memorial dedicado à Gonçalves Dias #GD200
Em 2023 – mais precisamente, no dia 10 de agosto -, comemora-se 200 anos do nascimento de Antônio Gonçalves Dias. Em virtude de tamanha efeméride, durante este ano, o Arquivo Caxias fará postagens dedicadas a este ilustre filho de nossa terra. Para iniciar essa série, trago a transcrição desta matéria publicada no periódico “Diário de São Luiz do Maranhão”, em 28/04/1945, de autoria de Gentil Silva.
Gentil Homem da Silva Brasil foi prefeito de Caxias por um curto período, entre agosto e setembro de 1941. Seu governo foi tipicamente de transição, enquanto as coisas da política municipal tentavam se acomodar. Em seu texto, que veremos abaixo, o político já chamava atenção para o desprestígio que Caxias conferia ao poeta. Clamando, na oportunidade, após ouvir conselhos de um cidadão caxiense, que fosse criado um museu em sua memória, bem como que fosse reconstruída a fazenda que o poeta nasceu, nas matas do Jatobá.
Infelizmente, como sabemos, nenhum dos projetos foi concretizado até hoje, quase 80 depois! Vale lembrar que, à época da produção do referido texto, a residência a qual Gonçalves Dias cresceu, no centro da cidade, ainda se encontrava de pé; hoje, nem isso…
Segue a integra do texto:
A Casa de Gonçalves Dias
Prefeito municipal de emergência, em Caxias e coincidindo o meu curto período administrativo com a passagem da data do nascimento do maior lírico brasileiro e indianista americano, sentia-me no dever de encabeçar festejos comemorativos do dia 10 de agosto, o que de fato fiz, alma transbordante de satisfação, mau grado as próprias deficiências para ocupar-me do genial e iluminado cantor dos “Timbiras”.
Dispersava-se, a mocidade que acorrera, mais uma vez, às consagrações públicas anualmente tributadas à memória do imortal enamorado da natureza brasílica.
A comissão de festejos, agrupada ainda no local das comemorações, entretém-se em comentários ao êxito da iniciativa, desta como doutras vezes vitoriosa.
Nessa altura, aproxima-se dos presentes respeitável ancião, cabeça alva e descoberta. Era o velho fazendeiro Joaquim Rosa, um dos que acabavam de ouvir discurso e declamações e, algo emocionado, bem se o percebia, pelo numeroso coro de vozes infantis no entoar de vozes infantis da inigualável “Canção do Exílio”, dirige-se ao prefeito:
– Festa bonita, seu coronel…
“Coronel”, sim, porque para o habitante rural do Norte, as autoridades superiores do município, quando não adoutoradas em qualquer coisa ou ramo, tem que fruir ex-ofício, ou compulsoriamente, das vantagens honoríficas que eram concedidas aos antigos oficiais da extinta Guarda Nacional, de saudosa recordação, variando o “posto” segundo a ordem hierárquica e as aparências, no conceito roceiro.
– Eu sabia – continuou Joaquim Rosa – que esta festa ia realizar-se e vim à cidade para assisti-la.
Todos enalteceram a demonstração cívica de Joaquim Rosa que, animado, prosseguiu:
– Se todos os caxienses tivessem a noção exata desta legítima glória, – e apontou a modesta herma do autor do “Y Juca Pirama”, – a sua glorificação não ficaria somente nas homenagens…
E, Joaquim Rosa, reacender com vivacidade o cachimbo sarrento e tirar-se grossa baforada, continuou:
– É isso, e digo com firmeza e convicção. Conheço a obra maior dos poetas brasileiros. Os seus livros eu os adquiri na livraria Laemmert, do Rio de Janeiro, em 1896, por intermédio do meu compadre Trindade Vidigal.
Disse-nos ainda Joaquim Rosa que sabia de cor, além da “Canção do Exílio”, o “Canto do Piaga”, “Tabyra”, “Y Juca Pirama”, “Lenda de São Gonçalo” e outras poesias do grande mestiço brasileiro e as recitava aos netinhos nos serões da família.
– O senhor sabe onde moro?
Como a pergunta fosse para mim, respondi que não poderia atinar. Os meus companheiros entreolharam-se significativamente.
– No 2º Distrito, coronel, pertinho do Jatobá.
Matas do Jatobá, latifundiárias da antiga fazenda do mesmo nome, berço do grande vate americanista.
***
Ao anoitecer daquela mesma data, recebo a agradável visita de Joaquim Rosa, cuja identidade patriarcal, laborioso e honesta me fora revelada pelos meus companheiros de comissão.
Conversamos novamente sobre a vida de Gonçalves Dias, que ele conhece bem. Do mesmo modo conhece o local onde existira a mansão nata do poeta. Lá estão os sinais evidentes da fazenda. O escalvado branco e duro do terreiro; as palmeiras centenárias mais além, cercadas de suas múltiplas descendentes e onde a copa verdejante tecem os seus ninhos os sabiás também imortalizados pelo exímio cantor das selvas.
E dos parentes de Gonçalves Dias, sabe alguma coisa?
– Sim, de alguns tios, primos e sobrinhos, em terceiro grau, talvez; gente muito simples e pobre.
A seguir, Joaquim Rosa volta a aludir aos festejos da tarde. Repetiu, insistindo com certa veemência, que os caxienses poderiam concretizar essas homenagens anuais numa obra que recordasse mais ao vivo e permanentemente, a existência privilegiada do grande Aedo.
A uma pergunta sobre a glorificação imaginada pelo interlocutor, este responde com naturalidade:
– Não erguem-se templos aos taumaturgos?
Compreendi o que o velho sertanejo tentava formular uma analogia de cultos. E, para logo veio-me a lembrança do pavilhão envidraçado que o civismo bandeirante fez construir sobre o rancho de tábuas e zinco, onde Euclides da Cunha escrevera a epopeia de “Os Sertões”. Recordei-me também num instante, a “Casa de Ruy Barbosa”, onde os visitantes se emocionam ante a visão eterna do grande brasileiro.
Joaquim Rosa tem razão.
Porque não adquirir-se a propriedade do Jatobá, reconstituindo-se ali a casa de nascimento do poeta, como lembrança afetuosa e terno do autor das “Sextilhas de Frei Antão”?
A sugestão parece-me das mais aproveitáveis em virtude não somente do desenvolvimento espiritual que nos vai conduzindo a melhor e mais elevada compreensão estética, mas, também, encarado o assunto, se o quiserem, pelo seu lado realístico e utilitário.
É velha e justa a aspiração dos caxienses, o aproveitamento científico e industrial das águas termais de Veneza. Realizado que seja, esse importante empreendimento, poderiam concomitantemente concluídos os trabalhos de reconstituição do Jatobá a qual, de certo converter-se-ia num ponto obrigatório de turismo, atraindo ao velho município sertanejo, berço de tantas outras glórias nacionais, as elites da intelectualidade e da abastança brasileiras.
Então, poderá ser ali apreciado o ambiente simples e sugestivo da antiga mansão rural onde Gonçalves Dias abriu os olhos pela primeira vez, deu os primeiros passos e impregnou a alma juvenil da radiosa claridade de infinitos horizontes, do sonoro rumor das suas florestas, da música sutil e encantada dos passarinhos e do verdor mágico das várzeas acolhedoras.
Foi ali, entre tímido e contente das palmeiras, ainda pequeno, recebeu as impressões sadias, fortes e indeléveis das danças indígenas, ao ritmo das tabas e maracás.
Foi ainda lá, nas noites enluaradas que ele ouviu a história misteriosa dos “Piágas”, das lutas de tribos guerreiras, dos amores e conquista que serviram de motivo à sua futura e monumental obra de brasilidade que o mundo tanto enaltece e admira.
Poder-se-á organizar o Museu Gonçalviano, em ambiente apropriado, arrecadados os seus manuscritos e todas as demais relíquias que possam recordar a pessoa e a obra imortal americanista.
Trazendo à letra de forma o pensamento de Joaquim Rosa, estou que nenhum maranhense deixará de o aplaudir com calor.
Gentil Silva
Reportagem, de 1994, sobre o aniversário do saudoso Bispo Dom Luís d’Andrea
Em 1994, a extinta TV Paraíso, de Caxias, realizou uma pequena cobertura do aniversário de 60 anos do então Bispo de Caxias, Dom Luís d’Andrea (1934 – 2012). Dentre as autoridade eclesiásticas presentes, estava o então Bispo de Imperatriz/MA, Dom Affonso Felippe Gregory. As comemorações ocorreram nas instalações do Palácio Episcopal. Assista:
A música cantada por Milton Nascimento inspirou-me a escrever sobre os tempos em que o trem da Estrada de Ferro São Luís-Teresina – EFSLT fazia o percurso entre as duas capitais, passando por Caxias e outras inúmeras cidades constantes do seu percurso.
Tempos atrás escrevi uma crônica denominada “O trem-de-ferro”, relembrando as viagens dos meus tempos de criança e andanças pela casa do meu avô Augusto, na rua do Pespontão, em São Luís, levado por tia Doninha.
Desta vez, relembro de um tempo mais ligado à minha juventude, entre 1950-1952, de prosseguimento dos estudos, em São Luís.
Na ida e na volta, a mala era despachada na véspera da viagem, para evitar atropelos de última hora. Na ida, entretanto, o problema era achar um lugar no trem, porque já vinha de Teresina, lotado, e sem previsão de quem iria saltar em Caxias. Meu pai ia alcançá-lo ainda na curva, já em baixa velocidade, para garantir esse lugar.
A viagem era sofrida, ainda que sentado. Eram várias paradas, outras estações e eu sabia o nome de todas elas, das sequências na ida e na volta, algumas cidades mais importantes que outras: gente esperando gente, embarcando e desembarcando, pregoeiros da venda de água nas famosas bílhas, comida no prato-fundo bem cheio, tudo não muito caro em apoio à essa viagem longa e cansativa, pois, se não houvesse ‘prego’, duraria cerca de 12 horas, mais ou menos.
Se tivesse sorte e não fosse atingido por uma fagulha incandescente, que fazia buracos na sua roupa, menos mal. O calor era intenso e a velocidade baixa do trem, cerca de 20 quilômetros/hora, tornavam tudo mais complicado.
Porém, tudo era menos complicado do que acontecia no meu tempo de criança: saindo de Caxias para São Luís, pernoitava-se em Coroatá. No início dos anos 50, as locomotivas e os vagões eram mais modernos, com maior potência e conforto, e chegavam ao destino, no mesmo dia.
A letra da música cantada por Milton Nascimento diz: “… a vida se repete na Estação, há gente que chega para ficar e gente que parte para nunca mais voltar. É assim o chegar e partir, mesmo na estação de minha cidade, pois todos estão na mesma viagem, o trem que chega é o mesmo da partida…”
Lembro de algumas partidas da estação de Caxias para São Luís, todas sofridas pela separação de entes queridos; lembro da passagem da imagem peregrina de NS de Fátima, da multidão de devotos; lembro das chegadas a São Luís, na companhia de tia Doninha, e da invariável recepção por minhas tias Santa e Neném.
A estação de trem da minha cidade já foi ‘a vida desse meu lugar’.
*Augusto Brandão é Economista, Membro Honorário da ACL, ALL e AMCJSP.
Está comigo, agora, mas já foi do meu pai, na década de 40 do século passado. Um guarda-casaca, móvel de estilo único e que não existe mais. Lembro tê-lo visto mirando sua indumentária, para uma festa em Palácio, já com o carro do Sebastião esperando-lhe à porta.
Agora, esse móvel está comigo e foi nele também que mirei-me, na tarde do dia 28 de janeiro de 1961, para ir ao encontro da Conceição, na Igreja Matriz (a mesma onde fui batizado). Dias antes de 28 de janeiro de 1961, ainda no Rio de Janeiro, já noivo desde 1959, preparei o indispensável à nossa futura morada. Ainda no Rio, fui à Casa José Silva e comprei um terno escuro combinando com o sapato, mais a gravata, a camisa social branca e um cinto de couro. Estava pronto para o casamento com a Conceição, em Caxias, no dia 28 de janeiro de 1961.
Era chegado o grande dia. Acompanhado dos meus pais, Antônio e Nadir, às 17 horas, dirigi-me à Igreja Matriz, adentrei e, no altar, fui esperar pela entrada da Conceição, vindo de braços com seu pai, Raimundo Soares, ao meu encontro. Também já estavam na Igreja convidados, padrinhos e familiares. Um ato simples, mas de grande significação para todos nós. Depois da cerimônia, houve uma recepção na residência dos pais da Conceição, para celebrar. Nossa primeira noite de casados aconteceu.
No dia seguinte, meu pai alugou um veículo ao embarque em Teresina, onde pernoitamos, para seguir rumo ao Rio de Janeiro, no dia seguinte. Começava, assim, nossa vida a dois, que duraria até 2013, no mês de fevereiro.
Augusto Brandão é Economista, Membro Honorário da ACL, ALL e AMCJSP.
Em dezembro passado, comemorei longos anos desde a minha formatura em Ciências Econômicas, em 1959, acontecida na vetusta Faculdade de Ciências Políticas e Econômicas do Rio de Janeiro, embrião da atual e próspera Universidade Cândido Mendes.
Comemoro também em nome da Universidade Federal do Maranhão, da qual sou professor aposentado e onde ensinei por quase vinte anos ininterruptos, egresso que fui da Universidade Estadual do Maranhão, onde fui professor titular.
Quando ingressei na Faculdade de Ciências Políticas e Econômicas do Rio de Janeiro – FCPERJ, em 1956, eram decorridos apenas cinco anos de reconhecimento da nossa profissão. Lembro-me de que as lutas com esse objetivo foram intensas e lideradas, entre outros idealistas, por Reynaldo de Souza Gonçalves e Alberto Almada Rodrigues, dois dos meus ilustres professores, e era nosso diretor o professor, político e escritor Conde Cândido Mendes de Almeida Junior, descendente de tradicional família originária de Portugal, que veio para o Brasil, em 1808, e estabeleceu-se em vários Estados, inclusive no Maranhão, em Caxias, terra onde eu nasci.
Lembro-me saudoso dos 39 colegas que se formaram junto comigo, naquele memorável dia 26 de dezembro, na Maison de France, entre outros: Antônio Duarte Badejo, Milton Fernandes Fidalgo, Waldir Carmo de Almeida, Jorge Carlos Cayres Leite Ribeiro e Oswaldo Eurico Carneiro Viana Gabriel, meus companheiros no Diretório Acadêmico “Barão de Mauá”.
As lutas visando à afirmação da nossa profissão foram intensas. Entre 1956 e 1959, enquanto universitários, vivíamos um período florescente da economia brasileira e tudo levava a crer que teríamos um futuro altamente promissor pela frente. Logo depois as coisas mudaram bruscamente e tivemos que refazer nossos planos.
Quando me formei, já residia no Rio de Janeiro desde 1954 e lá permaneci até 1965. Retornei ao Maranhão, em 1966, integrando-me ao setor público estadual e ajudando a fundar as primeiras escolas de nível superior, tornando-me economista da Secretaria de Viação e Obras Públicas e professor-fundador titular da Escola de Administração Pública do Estado do Maranhão, ensinando Teoria Econômica; depois me transferi para a Universidade Federal do Maranhão, onde ensinei Economia Monetária e Mercado de Capitais, aposentando-me em 1997. No período de 1979 a 1887, integrei diretoria no sistema financeiro estadual.
Recordando, muito a propósito de mais um Fórum de Davos, na Suíça, sob a égide do novo governo federal brasileiro, uma pretendida coalizão de forças políticas antagônicas. Finda a Segunda Guerra Mundial, buscava-se, como agora, uma nova ordem econômica; esse objetivo, quando o conflito acabou, foi concretizado à custa da intervenção estatal no domínio econômico, o chamado ‘Estado do Bem-Estar Social’. A célebre Conferência de Bretton Woods, em julho de 1944, que culminou com a criação do BIRD, o Banco Mundial, e do FMI, Fundo Monetário Internacional, fundamenta essa nova ordem.
As questões debatidas em Bretton Woods, lideradas por John Maynard Keynes, voltaram à baila desde a chamada ‘crise das hipotecas’, iniciada nos Estados Unidos, em 2007, e repercutida e ainda repercutindo na Europa, principalmente nos países da zona euro.
Por ação dos próprios bancos centrais dos países desenvolvidos e maciças emissões primárias da chamada dívida soberana, foi evitada uma insolvência geral dos bancos, mas os efeitos estão aí a impedir a retomada do crescimento e a diminuição do endividamento, e a regulação dos mecanismos financeiros.
A verdade é que o capitalismo financeiro desconhece o sistema produtivo e passa a existir apesar dele: moeda em circulação sem contrapartida de produto em tese gera inflação. A recuperação da economia dos países desenvolvidos, entretanto, poderá trazer reflexos negativos consideráveis aos países emergentes.
- Augusto Brandão é Economista, Membro Honorário da ACL, ALL e AMCJSP.
No Brasil faltou, sempre, um planejamento de longo prazo. Os Planos SALTE, do governo Dutra, e o de Metas, do governo Kubitschek, foram experiências de médio prazo exitosas – e há quem lembre do Plano Cruzado, uma ‘mágica’ que durou pouco -, mas a descontinuidade administrativa encarregou-se de sepultá-las de vez com renúncia de Jânio Quadros, em 1961.
Aliás, na minha opinião, planejamento a longo prazo somente poderá vingar após uma reforma política que prorrogue mandatos, igualando-os, e haja eleições gerais para todos os cargos, para um período de seis anos, proibida a reeleição. Isso fortaleceria os Partidos e faria surgir novas lideranças.
“O parlamentarismo implantado após a renúncia de Jânio não foi consequência de uma decisão isolada, porém um acordo político que garantiu a posse de João Goulart, na Presidência da República, em meio à crise aberta com a renúncia do Presidente, de quem era o Vice; afinal, Goulart, membro do PTB e historicamente ligado ao trabalhismo e à figura de Getúlio Vargas, era visto pelos setores conservadores como um político esquerdista. Diante do veto à sua posse, ele aceitou o acordo que lhe garantia a presidência, contudo retirava-lhe parte dos poderes constitucionais; um plebiscito foi antecipado para janeiro de 1963 e, durante os quase dois anos em que o parlamentarismo esteve em vigor, o Brasil teve três primeiros-ministros sucessivamente Tancredo Neves, Brochado da Rocha e Hermes Lima.” (fonte Google, plataforma UOL).
Desse período, a partir de 1964, fiquei sem votar para Presidente. Quando retornei a São Luís, em 1966, passei a ser, de certa forma, testemunha ocular da história: servi ao governo Sarney, eleito, passando por Pedro Neiva de Santana, Nunes Freire, João Castelo e Luiz Rocha, indicados.
Conheci e convivi com pessoas maravilhosas, que ajudaram a afirmar, aprimorar e consolidar meus conhecimentos profissionais; também testemunhei a expansão e o crescimento de São Luís, e tornei-me professor universitário por quase trinta anos; porém, como dizia Fernando Pessoa, que “tudo vale a pena quando a alma não é pequena”, experimentei tempos difíceis.
Àquela altura dos acontecimentos, autoridades da área econômica fizeram o governo acreditar que o sistema financeiro dos Estados era responsável pelo mau emprego e gestão deficiente dos recursos públicos, razão da grande crise que assolava o País. Se fosse verdade, o Brasil, hoje, não estaria metido em crise fiscal maior do que aquela.
A partir de 1963, em nível federal, quando votei pela volta do regime presidencialista, somente voltei a votar, em 1989, depois que o Colégio Eleitoral, em 1985, por via indireta, elegeu o Presidente e o Vice-Presidente da República, Tancredo Neves e José Sarney, respectivamente; em nível estadual, entretanto, a partir de 1987, votei nas eleições para o governador do Estado e em todas as outras à diversidade de cargos.
Desse período de governantes federais, por via indireta, após vinte longos anos de regime de exceção, o Brasil tentou retomar suas tradições democráticas culminando com a edição da Constituição de 1988, que mais fortificou o Poder Legislativo.
Foi assim, então, que, na primeira eleição direta, em 1989, o candidato Fernando Collor, concorrendo por um pequeno Partido, venceu as eleições à Presidência da República; porém, sem maiores sustentações políticas em um presidencialismo de coalizão, sofreu impedimento dois anos depois e foi substituído pelo vice Itamar Franco.
Depois, disso, sucessivamente, votei nas eleições presidenciais de 1994, 1998, 2002, 2006, 2010, e 2014, período marcado pelo predomínio de poucos em detrimento de muitos, e 2018, uma reviravolta ainda à espera de resultados.
Veio o governo Bolsonaro e nesses últimos três anos, sacrificado pela pandemia do Coronavírus, a economia brasileira descobriu a sua triste realidade: milhões de desempregados e de pobres vivendo às custas da filantropia do Estado. O País está visivelmente descapitalizado, emitindo dívida pública, cada vez mais cara e de curto prazo, apesar do ‘teto de gastos’, e ‘queimando’ as reservas, para tentar conter o preço do dólar e atender seu custeio.
Com essa vivência arrisco dizer: o Brasil poderia ter sido uma monarquia parlamentar, como na Espanha, ou simplesmente parlamentar, e assim estaria melhor servido.
*Augusto Brandão é Economista, Membro Honorário da ACL, da ALL e da AMCJSP.
* Texto produzido antes da eliminação da Seleção Brasileira da Copa do Mundo de 2022 *
Acontece de quatro em quatro anos como se cada um tivesse a Pátria das chuteiras; este ano está acontecendo de novo, no Qatar; por um milagre os brasileiros esquecem todas as divergências, tornam-se solidários e irmanam-se em busca de um só objetivo: ganhar a Copa do Mundo.
Quando comecei a despertar para as coisas do futebol, já tinha ouvido falar da Copa de 38 onde as figuras de Leônidas da Silva e de Domingos da Guia pontificaram, aquele por suas inventadas ‘bicicletas’ e este pela calma e classe no trato da bola. Domingos, como Barbosa, da seleção de 50, conviveu, de forma mais romântica, com a culpa que lhe impuseram pela derrota na final da Copa de 38 quando cometeu pênalti convertido em gol. Em São Luís, no velho Estádio Santa Izabel, ainda o vi jogar pelo Bangu; mesmo em fim de carreira confirmou tudo que se falava dele.
Comecei a gostar mesmo de futebol, em 1946, quando o Fluminense se sagrou super campeão carioca vencendo o Botafogo, na final, por 1 x 0, gol de Ademir, que mais tarde viria a ser o artilheiro da Copa de 50; depois disso, quando morei no Rio, por longa temporada, passei a acompanhar os jogos do meu time por todos os campos da cidade. Mas o futebol para mim, hoje, é um ‘amor perdido’; quando vou ao Rio, desejo assistir a um Fla-Flu, que já fui presente a um dos maiores jogos, final de 1963, quando o público somou mais de 163 mil espectadores!
A Copa foi interrompida de 38 a 50 por causa da II Grande Guerra; a versão de 50 foi a melhor. Realizada, no Brasil, no recente e inacabado Maracanã, palco de memoráveis jogos vencidos pela seleção brasileira que tinha Ademir, Zizinho e Jair dentre outros brilhantes jogadores: Barbosa, Danilo, Maneca, Friaça, Chico. Escrevi sobre Zizinho, neste jornal (publicado originalmente no jornal O Imparcial), que lembrava o ‘Cabelo-Duro’, de Caxias, e também vi Ademir jogar, em 55: o centroavante ‘rompedor’ que seguia em linha reta rumo ao gol onde às vezes ‘entrava com bola e tudo’.
O Brasil perdeu a Copa de 50, como havia perdido a Copa de 38; muitos acham ter sido culpa do Barbosa, no gol de Ghiggia. Já vi e revi o lance inúmeras vezes e não penso mais assim. Uma outra seleção praticamente imbatível perdeu a partida final, a da Hungria, em 54, na Suíça, para a Alemanha, mesmo tendo Puskas, Czibor, Kocsis e companhia, que vi jogarem, no Rio, em 1957, pelo Honved, base dessa seleção.
Em 1958, sim, a seleção brasileira, mais ou menos desacreditada, pois fora eliminada, em 54, na Suíça, pela seleção da Hungria, conseguiu o seu grande feito. Ganhamos a nossa primeira Copa onde Pelé despontou para a fama; depois igual a essa só a de 70 também com o brilho de Pelé. Em 62, no Chile, o Brasil sagrou-se bicampeão – duas vezes consecutivas e não essas vezes somadas quando intercaladas -, com Garrincha sobressaindo-se dos demais.
Foi também o tempo final de Nilton Santos, de estilo muito parecido ao de Domingos da Guia: elegante e clássico no trato da bola. A seguir, veio o fracasso de 66, na Inglaterra, onde nem Pelé se salvou e, finalmente, a nova vitória de 70, no México, torcida de ‘90 milhões em ação’, única seleção comparável à de 50 e onde Pelé novamente destacou-se.
Faço um balanço entre todos que vi jogar escalando duas seleções de todos os tempos, sem posições definidas: a primeira com Nilton Santos, Pinheiro, Danilo, Ademir, Zizinho, Jair, Castilho, Julinho, Garrincha, Didi, Pelé; a segunda com Carlos Alberto, Falcão, Roberto Carlos, Zico, Ronaldo (o “fenômeno”), Romário, Júnior (o do Flamengo), Rivaldo, Gerson, Branco. Até aí o Brasil havia ganho três vezes: as Copas de 58, 62 e 70. Bi-campeão, em 62, ganhou mais de 70, portanto, a terceira vez. Tri foi o Flamengo, em 42/43/44 e em 53/54/55, anos seguidos; se há interrupção, começa-se a contar de novo, acredito. O Moto Clube, de São Luís, por exemplo, foi campeão maranhense em sete anos consecutivos.
Isto é o que para mim ficou das Copas passadas. O Brasil, em 94, nos Estados Unidos, acabou ganhando e não lembro bem de algum jogador que tenha se destacado, a não ser Romário. Em 2002, na Coreia/Japão, ganhamos jogando contra adversários não muito credenciados no cenário internacional; o time engrenou e, sem ser favorito, ganhou. Voltamos a perder as Copas de 2006, de 2010, de 2014 e de 2018.
O que aconteceu em 50, quando perdemos com a melhor seleção, foi obra do acaso? O que vai acontecer na atual Copa, que está sendo realizada no Qatar?
*Augusto Brandão é Economista, Membro Honorário da ACL, ALL e AMCJSP.