João Golinha, o andarilho mais famoso de Caxias

Imagem meramente ilustrativa/Google Imagens

Toda cidade, principalmente as de interior, tem aquelas figuras excêntricas que integram a sua história. Popularmente – e pejorativamente – chamados de “doidos”, esses indivíduos marcam tanto o imaginário da população, que, vez ou outra, os seus mirabolantes apelidos são relembrados em rodas de conversa. Nomes como: “Pipoca”, “Pipoco”, “Meio-Quilo”, “Me dá um dinheiro aí”, “Manga Rosa” etc., são alcunhas que não saem da memória dos mais saudosistas.

Apesar da fama que levam, são figuras que pouco se sabe a história pretérita – nome de batismo, idade, ramo familiar etc. E fazendo parte desse rol de “malucos”, estava – talvez o mais famoso deles -, João Golinha. Figura muito popular nas ruas caxienses durante as décadas de 1940 à 1960, que chegou, inclusive, a protagonizar uma crônica de autoria do clérigo caxiense Mons. Arias Cruz.

Como não poderia ser diferente, quase nada se sabe sobre as origens de João Golinha; apenas seu nome de batismo: João Batista Siqueira. É provável que o apelido “Golinha” seja em referência à pequena ave (de cor preto e branco) de mesmo nome. Alto, esguio, de pele morena, rosto alongado e cabelos longos, trajava sempre a mesma indumentária: calça e blusão da mesma cor, cinza, um grande terço pendente do pescoço e rosário na mão. Devido a falta do asseio regular, o seu cheiro não era dos melhores. Invariavelmente andava com papelões em baixo do braço e com uma pequena lata de leite condensado vazia, ou já abastecida com café, que saia pedindo de porta em porta. Sobre esse ritual do andarilho, o caxiense Antônio Augusto Brandão relembra as visitas matinais que João Golinha fazia à casa de sua família à Rua Benedito Leite: “Certos dias chegava na hora do café. Pedia água – que sorvia em goles empunhando a garrafa de certa altura da boca -, manteiga – que misturava ao café -, pão e tudo mais que tinha direito. Depois dessa primeira refeição, ajoelhava-se no meio da sala e rezava à sua maneira, em voz alta, pausada e clemente a Deus, agradecido pela acolhida e desejando mil venturas para a sua ‘santa’ Nadir, minha mãe, e seu esposo Brandão, meu pai”.

Muito religioso, João Golinha era adepto do ecumenismo, frequentava desde as missas católicas aos cultos protestantes (sendo mais assíduo nas celebrações católicas). Assim que entrava na igreja, fazia o sinal da cruz e começava a rezar em tom de voz barulhento, o que não era bem visto pelos fiéis, bem como pelo respectivo celebrante. Quando o relógio marcava meio-dia, era hora de João Golinha rezar ajoelhado no meio da Praça Gonçalves Dias, sendo este comportamento alvo de diversas zombarias pelos que ali passavam. Não deixava barato. Xingava e discutia com todos os que se atreviam a ridiculariza-lo. Contudo, por ser dono de uma personalidade inofensiva, não chegava as vias de fato.

Apesar do comportamento que fugia da normalidade, Golinha frequentava as casas de várias famílias, gozando da proteção de todas, e não poucas crianças lhe pediam a benção (na maioria dos casos, por medo). Na hora do almoço, voltava a bater nas portas em busca de um prato de comida, como relembra Brandão: “Na hora do almoço o ritual era diferente: vinha vestido com a mesma roupa de sempre, mas todo molhado. É que havia banhado, nu, no nosso querido rio Itapecuru; como não gostava de toalha, vestia a roupa assim mesmo, sem enxugar-se. E saia do rio pela rua do Porto Grande, a pé, sol a pino, no rumo certo da nossa casa, para fazer sua segunda e pródiga refeição. Comia o que gostava mais, num prato fundo: arroz bem farto, muito feijão, assado de panela, farinha seca e muita pimenta. Depois, como se vivesse em país onde tal procedimento é demonstração de ter gostado da comida, dava o maior arroto!”.

Quando o céu caxiense escurecia, Golinha passava desejando “boa noite” às famílias que se encontravam proseando à porta de casa. Era hora de repousar para no dia seguinte sair batendo perna pela cidade, cumprindo o mesmo ritual de sempre.

João Golinha faleceu no ano de 1963, em idade desconhecida. Infelizmente, não se tem notícia de nenhum registro fotográfico seu – a sua imagem ficou restrita à memória daqueles que o conheceram pessoalmente. Dois anos após a sua passagem para o plano superior, Mons. Arias Cruz publicou uma crônica em sua homenagem, onde ao fim do texto escreveu: “[João Golinha] Em tudo o mais ‘era um amor’.


Fontes de pesquisa: Jornal do Maranhão; Crônica “Tipos Inesquecíveis” de Antônio Augusto Ribeiro Brandão; Livro Quinteto/Autor: Libânio da Costa Lôbo

Josino Frazão

Josino Frazão nasceu em Caxias, à Rua do Cisco (Atual, Benedito Leite), no dia 24/02/1894, filho de Francisco Ferreira Frazão e Isaura Guimarães Aragão (falecida em 12/06/1917). No início da década de 1910, Josino, com seu “Foto Frazão”, foi um dos primeiros fotógrafos de Caxias, ao lado de outros profissionais das lentes, como: José Cunha, Augusto Azevedo, Arthur de Moura Pedreira e Caetano de Moura Carvalho.

Vocacionado à música, Josino foi maestro da banda Lira Operária Caxiense, e membro fundador do grupo musical Amigos da Música – que depois mudou o nome para Orquestra Santa Cecília. Teve colaboração do comerciante e industrial Antônio Francisco de Sousa (Nanito Sousa) e contou com remanescentes da Goiabada, como Luiz Aguiar e Airton Oliveira. Com sonoridade à lá Paul Mauriat, calcado nas cordas e com participação dos metais em surdina, interpretava principalmente valsas, foxes, boleros e, eventualmente, cha-cha-cha e maxixe. Além disso, ministrava aulas particulares de violino.

Empreendedor nato, Josino, ao longo de sua vida, desempenhou outras atividades: teve fábrica de velas, perfumes, sabonetes e espelhos; a Mercearia do Povo e a Padaria São Vicente de Paula. Na década de 1920, foi almoxarife na Prefeitura Municipal de São Luis, durante a administração do engenheiro Jaime Tavares, seu amigo que compartilhava a paixão pelo violino.

Em decorrência de um edema agudo no pulmão e insuficiência cardíaca, o maestro e músico, Josino Frazão, faleceu aos 87 anos de idade, no dia 21/05/1981, em sua residência à Rua Benedito Leite, 724, centro.

Em sua homenagem, no ano de 1987, fora dado o seu nome a uma escola de música de Caxias. Josino deixou diversas composições, dentre elas: “Sorriso de Amor”, fox (letra de Amaral Raposo); “Escravo de Amor”, fox (letra de Waldemar Lobo); “Retalhas d’Alma”, valsa; “Uma noite no Ponte”, valsa; “Meditação a Caxias”, valsa; “Rosa”, valsa; “Marcha do Babaçu”; “Silvânia”, fox; “Meu Arlequim”, fox (letra de Amaral Raposo); “Nachor, Enos e Capitão Doutor”, fox. Compôs, ainda, o Hino do Congresso Eucarístico e Sacerdotal de Caxias, realizado em 1937.


Fontes de pesquisa: Livro Efemérides Caxienses/Autor: Arthur Almada Lima Filho; Livro Cartografias Invisíveis; Almmanak Laemmert.

Imagem da postagem: Acervo do IHGC

Restauração: Brunno G. Couto