A história do Cine-Rex, o cinema mais longevo de Caxias

Texto de Brunno G. Couto

O memorável Cine-Rex fora fundado em Caxias no dia 28 de setembro de 1935, e teve como primeira instalação um prédio localizado na Praça Gonçalves Dias, de esquina, em diagonal com o imóvel onde, atualmente, funciona o Banco Bradesco. Não se sabe ao certo se o Cine-Rex fazia parte de uma rede nacional de cinemas, já que, em outros cidades, existiam salas de cinema com o mesmo nome – a exemplo de São Luis, Rio de Janeiro e Teresina. Ressaltando-se que, o Cine-Rex, de Caxias, é mais antigo que o da capital piauiense, que fora fundado em 29 de novembro de 1939.

Pouco tempo após sua criação em Caxias, o seu proprietário, Pedro Costa, resolveu fechá-lo, em virtude das dificuldades de conseguir bons filmes, nas cidades de Teresina e São Luis. As sessões, duas vezes por semana, dias de quarta-feira e de domingo, eram pouco frequentadas e o negócio, como negócio, cada vez mais se tornava precário.

Vendo a difícil situação, o empresário Antônio Martins Filho resolve arrendar o Cine-Rex; que passa a funcionar sob sua responsabilidade. Como primeira medida, muda o cinema de prédio, transferindo-o à Rua Aarão Reis, em um imóvel alugado (onde, anos depois, funcionou a agência do extinto Banco Bamerindus). Por sorte, Martins conseguiu bons filmes, preto e branco, o que provocou um aumento no número de espectadores.

O imóvel de cor laranja e amarelo foi a segunda instalação do Cine-Rex, à Rua Aarão Reis. O cinema funcionou nesse local até o ano de 1939, quando deslocou-se para a Rua Afonso Cunha. Ano da imagem: 2012.

Mas, essa situação durou pouco e logo Martins Filho resolveu passar o negócio para frente, já que não vinha lhe trazendo lucros, bem como atrapalhava os seus outros negócios comerciais. Dessa forma, passa o estabelecimento para o primo de sua mulher, o cirurgião-dentista caxiense Manoel Joaquim de Carvalho Neto, para que este assumisse a responsabilidade pelo restante de seu contrato de arrendamento. E é sob a direção de Carvalho Neto que o cinema começa a prosperar.

De sucesso imediato, os preços dos ingressos do novo cinema, em 1935, tinham o valor máximo de 2.000 réis (para os operários das fábricas locais, era cobrado o valor especial de 1.000 réis) . No ano seguinte, em 1936, a Assembleia Legislativa do Estado publicou no Diário Oficial: “Decretando e promulgando a lei que isenta de impostos de indústria e profissão, pelo prazo 10 anos, a Empresa Cinematográfica Falada ‘Cine-Rex’, de Caxias”. O destaque para o “Falada” se dava pelo fato de o som ter chegado ao cinema há menos de dez anos da data da publicação (foi implementado em 1927, com o filme “O Cantor de Jazz”).


Cine-Rex no dia da inauguração de sua sede à Rua Afonso Cunha.

Passados alguns anos em funcionamento à Rua Aarão Reis, Carvalho Neto decide transferir o seu cinema para um prédio próprio localizado na Rua Afonso Cunha (Calçadão). O imóvel, de arquitetura Art Decó, fora inaugurado em 28 de setembro de 1939. Contando com a presença de centenas de caxienses, a sessão inaugural exibiu o filme Rose Marie, de 1936, com os astros  Jeanette MacDonald e Nelson Eddy.

O novo prédio tinha cinco portas pantográficas, sendo que, na central localizava-se a bilheteria. Em sua sala de espera, encimando a parede, haviam retratos pintados dos astros da época, como Gary Cooper, Errol Flynn, Diana Durbim e Lana Turner. Com um total de 524 cadeiras, divididas por três fileiras (oito centrais e quatro laterais), o Rex tinha a sua tela posicionada em sentido contrário à sua entrada.

Logo abaixo de sua marquise, o Cine-Rex anunciava, em cavaletes, os cartazes dos filmes em exibição; bem como na esquina da Rua Afonso Cunha. Em uma era pré-trailers, o Rex colocava em sua antessala um quadro de cortiça exibindo lobby cards, em preto e branco, contendo algumas cenas dos filmes, para que, assim, o público tivesse uma noção maior do que iria assistir. As cadeiras, em madeira, eram reclináveis. A sala contava também com alguns ventiladores estrategicamente posicionados, mas que nem sempre amenizavam o calor inclemente de Caxias.

Alunos observam o cartaz posicionado na Praça Gonçalves Dias (à esquerda). Outros observam o cartaz, do Rex, do filme “Durango Kid – Barranco da Morte”, na esquina da Rua Afonso Cunha. Imagem da década de 1950.

Em seus primeiros anos, mais precisamente na segunda metade da década de 1940, o Cine-Rex sofria com o precário fornecimento de energia elétrica, que acabava prejudicando as sessões vesperais de Domingo. Ocorre que, nessa época, Caxias dispunha de luz das 18h até meia noite – um apito avisava o início e o fim da claridade. As caldeiras a vapor da Usina Dias Carneiro não aguentavam o dia todo e seus operários procuravam fazer um esforço adicional nas tardes de domingo, para alegria dos adeptos da sétima arte. Relembrando os tempos de criança, quem nos conta sobre essa passagem é o caxiense Antônio Augusto Ribeiro Brandão: ”

[Domingo] Depois do almoço, lá pelas duas horas da tarde, lá íamos nós em direção à Usina, a fim de incentivarmos os operários já empenhados, desde o meio-dia, na ‘alimentação’ das caldeiras, que precisavam de certo nível de pressão à custa de muita lenha e carvão. 

Essa operação levava tempo e podia fracassar, pois nem sempre os motores funcionavam na primeira tentativa de liberação dessa pressão a vapor. E aí, se tal acontecesse, tudo tinha de começar de novo e a vesperal daquele dia certamente ficaria para o próximo domingo, e ninguém suportava mais esperar para ver o resultado da célebre frase “voltem na próxima semana” exibida no seriado. 

Para que os motores funcionassem da primeira vez, contudo, também valia a torcida: aqueles garotos vidrados em cinema ficavam postados literalmente na ‘boca’ da caldeira, quase que encarnados nos homens suarentos pelo esforço de cada vez mais lenha e carvão. E tome pressão, e todos de olho no seu medidor; quando começava a chiar, acusando nível suficiente, era hora de transferir essa pressão para as engrenagens do motor, que havia de gerar a tão esperada luz. 

Na medida em que o vapor da caldeira ia sendo liberado, as correias começavam a deslizar e ir-e-vir pelas grandes rodas do motor, que dava seus primeiros sinais de vida e aos poucos ia acelerando seus movimentos, cada vez mais rápidos até que atingisse o nível adequado à geração da tão esperada luz. Às vezes todo esse esforço era em vão e o motor não conseguia ‘pegar’, e o processo deveria ser repetido; mas quando tudo dava certo, as palmas e os gritos ensurdecedores daquela torcida ensandecida saudavam as lâmpadas que se acendiam, em uma luminosidade cada vez mais forte. 

A seguir, em desabalada carreira, depois daquela enorme conjugação positiva de pensamentos e ações, tomávamos o rumo do cinema, anunciando a boa nova pelo caminho: chegou a luz! Depois, já acomodados nas poltronas de madeira e, de preferência, próximos a um dos ventiladores, suados e exaustos, dali em diante estaríamos atentos à telinha mágica, para aplaudir a vesperal daquele domingo. 

E assim que o prefixo musical começava a tocar, um famoso ‘dobrado’ dos tempos da Guerra, e as luzes iam diminuindo de intensidade até se apagarem por completo, todos gritavam como se fossem participar do maior espetáculo da terra.

Na década de 1940, o Cine-Rex rivalizava com o Cine-Pax, de Valdenor Lobo, que funcionava no antigo prédio do Rex à Rua Aarão Reis. E, diferentemente do Rex que priorizava os faroestes (como os seriados do cowboy Wild Bill Elliott) e musicais, o Pax dava preferência às comédias românticas.

“Às terças-feiras era o grande dia da ‘Sessão das Moças’, no Rex, um famoso apelo aos jovens da cidade e seus amores, que adentravam a sala de exibições à vista dos que já estavam sentados. Um verdadeiro desfile de modas!” relembra Brandão.

Com o tempo, as latas com as películas passaram a vir, em sua maioria, do Cine-Rex, de Teresina, que, objetivando baratear os custos, as buscava em Recife (PE) – capital que realizava a distribuição de todo o Nordeste -, e redistribuía para as cidades do interior do Maranhão e Piauí. Contudo, esse procedimento não era de todo benéfico, tendo em vista que as películas, exibidas diversas vezes em Teresina antes de aportar na princesa do sertão, acabavam muitas vezes chegando comprometidas, nos quesitos de som e imagem, devido ao uso excessivo.

Após suas estreias nos EUA, os filmes demoravam geralmente um ano para chegar ao Brasil. Isso para as grandes capitais. Nas cidades do interior, esse tempo era mais longo. 

As salas contavam com dois projetores à carvão que aos poucos era consumido. A necessidade de dois projetores, se dava pelo fato de que, no começo, a projeção em cada máquina estava restrita a 20 minutos, que era o tempo de consumo do carvão. Após esse tempo, o projecionista realizava a projeção na segunda máquina, enquanto era realizada a troca do carvão da outra. Os espectadores mais atentos conseguiam notar uma bolinha que aparecia piscando no canto da tela, sinal feito na película (muitas vezes, feito com a ponta do cigarro) pelo projecionista, que indicava o momento da troca de projetor. Contudo, nem sempre o projecionista estava 100% atento, o que acabava deixando a tela branca por alguns minutos, gerando uma gritaria e batida de pés do público na sala de exibição. Os gritos de “quero meu ingresso de volta!” não eram poupados.

Além dos longas-metragens, por volta das décadas de 1940 e 50 também eram muito populares os chamados “seriados” (exibidos após os filmes), que nada mais eram que versões arcaicas, geralmente de 15 episódios, das séries de televisão como conhecemos atualmente. Contudo, havia uma “pequena” diferença. Quando o episódio atingia o seu clímax – geralmente, quando onde o herói estava em alguma situação de perigo – , aparecia a seguinte mensagem na tela: “Não perca o próximo episódio. Semana que vem, neste cinema”. Se o espectador quisesse acompanhar o desenrolar da trama, deveria, nas semanas seguintes, desembolsar os valores dos demais ingressos. Em Caxias, um dos seriados mais famosos foi A Legião do Zorro, lançado originalmente em 1939; tinha 12 episódios. Para os mais curiosos, segue, abaixo, o primeiro episódio dessa cine-série:

No início da década de 1960, o Rex ainda sofria com problemas de fornecimento de energia elétrica. Talvez esse seja o motivo que o levou a funcionar, por um curto período, à Rua Afonso Pena. Em seu material publicitário o cinema passou a emitir o seguinte aviso: “A Empresa avisa que as sessões com intervalos são motivadas pela energia insuficiente para ligar as duas máquinas de projeção”. Em 26/09/1962, saiu uma nota no jornal “Nossa Terra” acerca do assunto: “Voltará a funcionar em breve essa casa diversional [Cine-Rex], com energia própria, segundo nos informou, em palestra, o seu proprietário. Dr. Carvalho Neto, já em entendimento com a praça de Recife para aquisição do material apropriado.”

Filmes como Du Barry Was a Lady (1943), Candelabro Italiano (1962), A Noviça Rebelde (1965), Spartacus (1960) e Dio, come ti amo! (1966) fizeram grande sucesso na sala do Rex. As belas estrelas do cinema italiano, a exemplo de Sophia Loren, arrebataram os corações dos adolescentes daquela época. Os clássicos bangue-bangues, bem como os filmes de kung-fu também eram a sensação. Para as crianças, haviam os desenhos (a grande maioria, dos estúdios Disney). Ao que se sabe, as películas eram, majoritariamente, dubladas.

Possivelmente, o período de maior popularidade do Cine-Rex tenha sido nas décadas de 1960 e 70. Ao menos, são os anos que mais permeiam a memória dos caxienses mais saudosistas. É por volta dessa época que começam a surgir os seus funcionários mais lembrados: Dona Maria Amélia, na bilheteria; Francisco Carvalho (Chico do Cinema), na portaria; Natan, na projeção; Alicate, recolhendo os bilhetes e colocando os cartazes dos filmes; dentre outros, cujo os nomes não foi possível lembrar.

“Havia um momento chamado de ‘a hora dos miseráveis’: próximo ao fim do filme, o Chico liberava e permitia a entrada dos que ficavam ali à espera” relembra Edimilson Sanches. À porta do cinema, ficava um senhor vendendo deliciosas balas de frutas aos espectadores. Na sala de exibição, também passava um jovem com um tabuleiro preso ao pescoço vendendo mais guloseimas. As balas de hortelã Mentex e Pipper eram as favoritas dos jovens.

Nesse período, os filmes ficavam em cartaz, geralmente, por dois dias (dependendo da receptividade ficavam até por, no máximo, uma semana), em sessões de 18:30 e 20:30. No Domingo, havia o matinal, de 10h às 12h; a vesperal, de 16h às 18h; e as sessões normais de 18:30 e 20:30. 

Quinta-feira era o dia de esteia de novos filmes, que ficavam em cartaz até a segunda, quando era realizada a renovação do catálogo.

Devido a sua grande quantidade de poltronas, bem como em virtude de seu palco, o Rex, além de cinema, também servia como o espaço de reunião do Centro Cultural Coelho Neto, uma sociedade que reunia diversos intelectuais caxienses. Além disso, muitos artistas locais e nacionais realizaram apresentações musicais em suas dependências.

Programação do Cine-Rex publicada no jornal Nossa Terra, no ano de 1961

Em 1967, o Armazém Paraíba chega a Caxias, e, para a sua instalação, adquiri os imóveis contíguos ao Cine-Rex. A empresa chegou, inclusive, a fazer ações em que realizava sessões gratuitas no Rex (imagem abaixo). Passados alguns anos, em novembro de 1980, visando uma expansão futura de sua filial, adquiri o imóvel do Cine-Rex, junto ao empresário Carvalho Neto. Destarte, o Rex passou a ser propriedade do empresário piauiense João Claudino Fernandes, que deu continuidade ao cinema – ainda que o ramo cinematográfico não fosse de seu interesse.

Ação do Armazém Paraíba junto ao Cine-Rex, no ano de 1973.

Até que, em maio de 1981, o Paraíba começa a expandir a suas instalações, e emite o aviso de que no prédio do Cine-Rex passará a funcionar a sua loja de móveis usados. O comunicado gerou grande comoção em Caxias, já que a cidade ficaria sem cinema. Contudo, o Armazém Paraíba logo informou que todo o maquinário e mobília do Rex estavam sendo vendidos para os srs. Santino Caldas Moreira e Sebastião Ferreira da Silva, que fundariam um novo cinema nas instalações do Palácio do Comércio (onde, anteriormente, havia funcionado o Cine-Glória).

E assim fora feito, no dia 11 de julho de 1981 era inaugurado o Cine-Alvorada, que contava com 400 cadeiras e 10 ventiladores, sendo “Alien – O Oitavo Passageiro” a película de estreia.

Dessa forma, com a demolição de sua estrutura, chegava ao fim inesquecível Cine-Rex, após mais de quarenta anos de história. Sendo, até hoje, o cinema mais longevo de Caxias.


Fontes de pesquisa: Depoimentos de Sebastiana Guimarães; Antônio Augusto Brandão; Joaquim Vilanova Assunção; João Oliveira; Nonato Ressurreição; Jornal O Imparcial; Jornal Cruzeiro; Jornal O Pioneiro; Jornal Nossa Terra; Livro Cartografias Invisíveis/Vários Autores; Site de Eziquio Barros Neto; Canal do YouTube de Marden Machado

Imagens da publicação: Internet; Google Maps; Jornal O Cruzeiro; Ac. IBGE; Facebook; Jornal Nossa Terra; Jornal O Pioneiro; Ac. de Silas Marques Jr.

Restauração e Design de imagens: Brunno G. Couto

A história da Euterpe Carimã, a primeira banda marcial de Caxias

Antônio Marcellino Rodrigues Carimã Junior

Não se sabe ao certo o nome do fundador da Euterpe caxiense. Consta, entretanto, tratar-se de um padre. Por outra lado, há documentação exata da data de início de sua vida social: 16 de novembro de 1848, uma quinta-feira. Os seus componentes iniciais eram a seleção dos melhores músicos da cidade, alguns pertencentes a alta sociedade local. Motivos diversos, porém, levaram-na a pleno declínio em começos de 1870.

Nesse período, chega à Caxias o hábil alfaiate e apreciado musicista ludovicense Antônio Marcellino Rodrigues Carimã Junior. Rapaz novo e orgulhoso proprietário de um Stradivarious, que tomou para si o encargo de reorganizar a “Euterpe”. Para tamanha empreitada, juntou-se ao clarinetista Antônio de Sousa Coutinho, que fora seu mestre e com quem repartiu os louros e os dissabores da empresa. Com essa restruturação, a Euterpe passou a se chamar “Euterpe Carimã”, em homenagem ao seu comandante .

Curiosidade: O aclamado maestro caxiense Elpídio Pereira recebeu as primeiras lições de música nas salas de ensaio da Euterpe Carimã.
Antônio Carimã, afilhado.

Primeiramente, a Euterpe era somente uma banda de músicas marciais, apenas na virada do século é que a Orquestra é posta em ação. Em 19/04/1907, morreu Antônio Carimã Junior; o músico – que também era agente dos Correios de Caxias – contava com mais de 60 anos de idade e era solteiro. Com a morte do amigo, Coutinho passou o comando da Euterpe a Antônio Carimã, afilhado, que não desmereceu a confiança. A sua gestão, porém, foi curta, haja vista o seu falecimento em 09/07/1913.

Sem direção, os músicos decidiram passar a chefia a uma tradicional família caxiense de músicos, representada nas pessoas do trombonista Alfredo Beleza e de seu irmão Mário Pinho, soprano.

Em 1928, a Euterpe Carimã comemorou o seu 81 aniversário, sendo realizada uma grande festa nas dependências do Teatro Fênix. Esse período foi o auge da orquestra, onde realizou apresentações por diversas cidades do Maranhão e Piauí. O seu repertório era vastíssimo, sendo composto de trechos clássicos às últimas novidades musicais, bem como composições locais. Em sua primeira excursão a São Luis, em julho de 1929, a Euterpe apresentou-se em praça pública e no Teatro Arthur Azevedo.

Após a aclamada apresentação no Teatro Arthur Azevedo, no dia 29/07/1929, o povo entusiasmado acompanhou a Euterpe Carimã até o quartel da Força Policial, erguendo vivas a Caxias e a seus músicos.
Fotografia da Euterpe Carimã, no ano de 1928.

Nesse período a Euterpe era composta por 24 músicos (imagem abaixo) divididos nos seguintes instrumentos: violino A e B; saxofone, alto bemol e soprano; clarinete, piston, trombone, contrabaixo de metal, bateria, xilofone, pandeiro, flauta e flautim.

*Devido a um erro de digitação, o nome de um dos músicos acabou saindo errado. A grafia correta é “Canário”.


Em 1936, a Euterpe Carimã sofre uma grande perda. Na ocasião, os músicos estavam a bordo da lancha “Itamar” que partia de Colinas à Caxias. Por alguma razão desconhecida, a embarcação envolveu-se em um acidente. O desastre acabou tirando a vida do músico Benedito dos Santos, vulgo Camburão, que morreu afogado.

Em 1937, com o falecimento do Mestre Alfredo, a Banda passou para os filhos, porém os dois mais novos, José Alfredo e Mário, discordaram da disciplina rigorosa e enérgica dos mais velhos e tradicionalistas, Durval e Josias, o que resultou numa dissidência; os músicos também estavam divididos entre uma nova forma de fazer música e continuar com o mesmo estilo, assim a orquestra Carimã encerra temporariamente suas atividades.

Josias integrava a Euterpe desde os quatro anos de idade, tendo iniciado tocando triângulo. Assumiu a direção já na segunda metade da década de 1920, em virtude da idade avançada do pai.

Por volta de 1938, após retornar de uma temporada residindo no Norte do país, Josias reata a relação com os irmãos, que decidem retornar com a Euterpe Carimã sob sua liderança. Agora chamada de Goiabada, a orquestra voltou a tocar em festas, eventos religiosos e civis, carnavais e até em partidas de futebol.

Ainda àquele ano, a orquestra fora se apresentar na cidade de União, no Piauí. Foi então que seu irmão José Alfredo, ao separar o mais novo, Mário, de uma briga, fora gravemente ferido, o que acabou acarretando em sua morte. Após a tragédia, os músicos decidiram encerrar de vez a nonagenária Euterpe Carimã “Goiabada”. Com o fim da orquestra, Josias se mudou para o Rio de Janeiro, onde deu prosseguimento em sua carreira de músico. Mário e Durval continuaram em Caxias. Um montou o primeiro conjunto de Caxias; o outro ingressou na banda de música Lira Caxiense, recém-fundada. O restante dos músicos integrou outras bandas e orquestras caxienses que estavam em atividade, tais como a própria Lira e a “14 de julho”.

Apenas em 2019, mais precisamente no dia 07 de setembro, após mais de 70 anos em inatividade, é que a Euterpe Carimã volta a ativa. Diferentemente de suas antigas formações, agora a Euterpe conta com a participação mista de homens e mulheres em seu corpo musical. Sob a direção do maestro Neto Carvalho, a banda conta com 30 ritmistas e 16 instrumentistas de sopro, somando 46 integrantes (dados do ano de 2019).

A Euterpe Carimã em fotografia do ano de 2019.

Fontes de pesquisa: Jornal Pacotilha; Jornal de Caxias; Jornal O Imparcial; A Música em Caxias: Um Prolífico Centro Musical no Sertão Maranhense/Autor: Daniel Lemos Cerqueira; Livro Cartografias Invisíveis/Texto de Raimundo Ressureição; Jornal Cruzeiro; Site da Prefeitura de Caxias

Imagens da publicação: Jornal O Imparcial; Ac. do IHGC; Reprodução do YouTube

Restauração e Colorização: Brunno G. Couto

O antigo casarão colonial da Praça Gonçalves Dias

PARTE DO CASARÃO VOLTADA PARA O LARGO DO POÇO (ATUAL PRAÇA GONÇALVES DIAS).
FRANCISCO VILLA NOVA

Construção colonial em pedra, no século XIX este casarão pertencia a Alarico José Vilanova. Posteriormente, foi adquirido pelo coronel Francisco Raimundo Villanova (prefeito de Caxias no período de 1934/1935), onde passou a residir junto a sua família, bem como montou sua casa comercial. No seu entorno, existia um olho d’água do extinto Riacho da Pouca Vergonha.

A extensão do imóvel chamava atenção dos caxienses, sendo composto por doze portas e sete janelas, que se estendiam na esquina do antigo Largo do Poço (atual Praça Gonçalves Dias) e da Rua Afonso Pena.

O CASARÃO EM 1920

Na parte voltada à praça, era a sua casa comercial, e na parte da Rua Afonso Pena, sua residência. A chamada “Casa Vilanova” ostentava em sua fachada o desenho de uma águia ladeada por duas faixas com os dizeres: “Comércio e Lavoura”. Ali, Chico (como era mais conhecido) Vilanova atendeu os seus clientes até avançada idade.

Além do comércio do coronel, também operou por muitos anos em suas dependências a escola de datilografia de sua filha, Jacyra Vilanova. Um dos diferenciais arquitetônicos do casarão era o seu mirante de duas pequenas janelas, exemplar único de Caxias.

PARTE DA FACHADA DO IMÓVEL, ONDE É POSSÍVEL OBSERVAR O DESENHO DA ÁGUIA JUNTO ÀS DUAS FAIXAS. ANO: 1950.
RUA AFONSO PENA; ANO: 1942.
1: RESIDÊNCIA DA FAMÍLIA VILANOVA, BEM COMO ONDE FUNCIONOU A ESCOLA DE DATILOGRAFIA.

2: RESTANTE DO ESTABELECIMENTO COMERCIAL “CASA VILANOVA”

Na década de 1960, no local da Casa Vilanova passou a funcionar a Farmácia São José. Por volta da década seguinte, o centenário mirante fora demolido; os descendentes da família Vilanova venderam parte dos prédios, que começou a abrigar pequenos comércios – como funciona até os dias de hoje. O imóvel, atualmente, encontra-se bastante descaracterizado, mas ainda mantem alguns elementos originais, como seu beiral.

UMA DAS ÚLTIMAS FOTOGRAFIAS ANTES DA DEMOLIÇÃO DO MIRANTE. ANO: 1976.

Abaixo, um comparativo do imóvel no anos de 1920 e 2012. Para visualizar, arraste a bolinha central para os lados:


Fontes de pesquisa: Livro Por Ruas e Becos de Caxias/Autor: Eziquio Barros Neto; Depoimento de Antônio Augusto Ribeiro Brandão; Site de Eziquio Barros Neto

Imagens da Publicação: Ac. de Eziquio Barros Neto; Internet; Álbum do Maranhão de 1950; Revista Athenas; Ac. do IHGC

Restauração: Brunno G. Couto

O antigo sobrado colonial do largo da Matriz

Localizado na esquina da atual Rua Gustavo Colaço com a Travessa Caetano Carvalho, no largo da Igreja Matriz, o antigo sobrado colonial pertencia a Antônio Bernardo da Silveira, e já estava edificado pelo menos desde o ano de 1814. Quem nos conta a história do proprietário é o pesquisador caxiense Eziquio Neto: “Bernardo era advogado, Comandante da Guarda Nacional ligado ao Partido Liberal, conhecido como Bem-Ti-Vi, e, por isso, acabou sendo detido durante a revolta da Balaiada pelo apoio aos rebeldes. Seu irmão, Bernardo Antônio da Silveira, foi acusado de ter enviado comunicação a Raimundo Gomes, líder da revolta, a ocupar Caxias em vingança ao assassinato de Teixeira Mendes, em 1837.”


O sobrado em fotografia do início do século XX.

Anos depois, em 1874, a situação do imóvel já era preocupante, de acordo com relatório da Câmara Municipal: “Pede licença igualmente a esta câmara para vender a sexta parte que possui no sobrado da praça da Matriz, que está em mau estado, o qual sendo ILEGÍVEL por Antônio Bernardo da Silveira, que não tem feito os reparos necessários, terá de ficar completamente arruinado”. Com a morte do proprietário, o casarão passou a seus herdeiros, até que fora adquirido pelo comerciante Clemente das Chagas Cantanhede, juntamente com alguns imóveis que o ladeavam.

Na década de 1940, o imóvel passou a hospedar a “Movelaria Carioca” da firma Plosk & Seloni, de Salomão Plosk e Henrique Seloni, respectivamente. Plosk, experiente comerciante, já havia fundado, no ano de 1935, em São Luis, a matriz de sua movelaria. Visando expandir o seu negócio, junta-se a Henrique (que residia em Caxias) para fundar uma filial na princesa do sertão. A movelaria era especializada em comercializar móveis ricamente trabalhados em madeiras de primeira qualidade.


Fotografia do casarão quando abrigava a Movelaria Carioca, da firma Plosk & Seloni. Imagem da década de 1940.

A empreitada não teve vida longa, tendo o imóvel, em 1944, recebido uma drástica reforma, perdendo o aspecto colonial de seus beirais e ganhando elementos Art Decó. Entre as décadas de 1950 e 1960, foi comprado por Lamek Teixeira Mendes, passando a funcionar, na parte de cima, o Hotel Colinas, de propriedade de sua esposa, Maria Barros. No térreo funcionou a Casa de Modas, de Alderico Silva.

O sobrado após a ampla reforma realizada. Fotografia, provavelmente, da década de 1960.

Infelizmente, o casarão foi demolido por volta da década de 1970, sendo construído, em seu lugar, um espaço que abrigou diversos pontos comerciais.


Local onde situava-se o casarão, em imagem de 2012.

Fontes de pesquisa: Livro Por Ruas e Becos de Caxias/Autor: Eziquio Barros Neto; Hemeroteca Digital

Imagens da publicação: Internet; Ac. do IPHAN; Ac. do IHGC; Google Maps

Restauração e Colorização: Brunno G. Couto

A História do Calçadão (Rua Afonso Cunha)

Com sua história remontando, provavelmente, ao século XVIII, esta rua foi inicialmente nomeada de Rua Augusta. É durante o século XIX, quando o comércio migra da região portuária da Rua do Porto Grande (atual Anísio Chaves) e vem para o centro, que a então Rua Augusta passa a ser uma estratégica e importante via comercial; onde, objetivando atender a uma clientela mais exigente e abonada, ali instalaram-se diversas lojas que comercializavam produtos vindos da Europa.

Ligando os largos da Matriz e do Poço (atual praça Gonçalves Dias), a rua supracitada sempre foi muito movimentada, não só por transeuntes, como também por inúmeros animais de carga. Apesar de legalmente previsto anos antes, é apenas por volta de 1866 que a via recebe a iluminação de alguns lampiões a óleo.


A então Rua Dias Carneiro em fotografia de 1920. Ao fundo, o largo da Matriz.

Em 1896, com o falecimento do industrial Francisco Dias Carneiro, a Câmara de Caxias alterou, em sua homenagem, o nome da via para Rua Dias Carneiro. Nome, esse, que permaneceu por mais de 50 anos, mais precisamente até o ano de 1948, quando o então prefeito da cidade, Eugênio Barros, alterou o seu nome para Afonso Cunha, em homenagem a este ilustre caxiense falecido no ano anterior.


Rua Afonso Cunha em fotografia de 1950. Ao fundo, a praça Gonçalves Dias.

Essa rua, até o início do século XX, não possuía calçamento. Até que, entre 1900 e 1910, recebeu calçamento em pedra bruta. No início da década de 1930, durante a administração do prefeito Alcindo Guimarães, as pedras foram substituídas por paralelepípedos que perduraram até 1937.

Na década de 1960, na esquina que faz ligação com a Rua Coelho Neto, é que começam a se instalar barracas de frutas, sendo essa mudança bastante criticada. Dentre tantas, uma das reclamações afirmava que, em pouco tempo, a via iria se tornar um mercado a céu aberto, vendendo, inclusive, animais abatidos. Apesar da insatisfação popular, nada foi feito. Com o passar dos anos, cada vez mais e mais barracas foram se instalando no meio da via; passando, assim, a competir e dividir espaço com os lojistas e residências que a circundavam.


A via vista a partir da esquina com a Rua Coelho Neto; local onde, nessa época, começaram a instalar-se as primeiras barracas de frutas. Fotografia da década de 1960.

Com o aumento constante do número de barracas, o trânsito de veículos e pedestres começou a dificultar-se. Transformar a rua exclusiva para o comércio passou a ser um sonho dos lojistas. Até que, em 1989, o prefeito Sebastião Lopes atendeu os pedidos e fechou a rua. Em agosto daquele ano iniciaram-se as obras de drenagem da via, a pavimentação em pedras portuguesas, bem como a instalação de bancos e paisagismo. Após a ampla reforma, a Rua Afonso Cunha passa a ser conhecida popularmente como Calçadão.


Bancos instalados após a grande reforma da rua. Imagem do ano de 1995.

Mesmo após a reforma, muitas barracas voltaram a se instalar na rua. Além disso, os lojistas do ramo de tecidos colocavam os seus produtos expostos no meio da via. Dificultando mais uma vez o trânsito da população. E assim, no fim da década de 1990, a Administração Pública percebeu que os jardins e os bancos, unidos ao aumento dos camelôs, mais atrapalhavam que ajudavam. Dessa forma, foi providenciada a demolição de suas estruturas, o que, consequentemente, aumentou o número de ambulantes.


Lojistas colocavam os seus produtos em exposição no meio da via. Imagem de 1995.

Até a produção desta matéria, estão em curso as obras do shopping popular na Avenida Otávio Passos; onde, segundo o Poder Público, serão realocados os ambulantes da Rua Afonso Cunha. Descongestionando, dessa forma, o histórico logradouro.


Fonte de pesquisa: Livro Por Ruas e Becos de Caxias/Autor: Eziquio Barros Neto

Imagens da Publicação: Internet; Álbum do Maranhão de 1950; Acervo de Aluízio Lobo; Reprodução TV Paraíso.

Restauração e Colorização: Brunno G. Couto

Comemorações de 7 de Setembro, do ano de 1938

Apesar de terem diminuído com o passar dos anos, as solenidades cívicas sempre foram muito estimadas pelos caxienses; e o dia que marca a Independência do Brasil sempre fora um dos mais festejados. Em 1938, Getúlio Vargas era o então Presidente da República, e uma de suas medidas governamentais fora nomear interventores para cada estado da federação, em substituição aos governadores. No Maranhão, a função estava a cargo do caxiense Paulo Martins de Sousa Ramos, que, em colaboração com prefeito de Caxias, Alcindo Cruz Guimarães, providenciou a realização das comemorações daquele ano.

Além da participação do Poder Executivo, as festividades contaram com a cooperação da União Artística; da Coletoria Federal e Estadual; do Cassino Caxiense; Centro Artístico; Tiro de Guerra 155; Ginásio Caxiense; Escola Normal; Grupos Escolares “Gonçalves Dias” e “João Lisboa”; Ferroviários da São Luis – Teresina; Escolas Primárias Proletárias; e de diversos sindicatos.

E assim se dera. Quando tudo já estava preparado, fora divulgada a seguinte programação da importante efeméride:

Às 6h: Hasteamento da Bandeira no edifício da Prefeitura, com assistência do Tiro de Guerra 155, ao som do Hino Nacional.

Às 8h: Missa cantada na Matriz de Nossa Senhora da Conceição e São José, ao som do Hino Nacional, em ação de graças ao presidente Vargas, e ao Interventor, dr. Paulo Ramos.

Às 9h: (Logo após a missa) Inauguração, na Coletoria Federal, do retrato do presidente Vargas, falando o sr. Carlos Martins, coletor, e o dr. Godofredo Revorêdo, agente fiscal do Imposto de Consumo. O Interventor Federal, dr. Paulo Ramos, se fará presente à solenidade pelo dr. Alcindo Guimarães, Prefeito Municipal.

Às 10h: Sessão cívica promovida pela Comissão Encarregada da Homenagem dos Associados da União Artística Operária Caxiense, ao presidente Getúlio Vargas, na sede dessa agremiação, para inaugurar solenemente o retrato do referido presidente no salão de honra, falado o dr. Alcindo e o sr. Luiz Gonzaga Bayma Pereira, que presidirá a sessão, e orador oficial da casa.

Às 11h: Aposição, na Coletoria Estadual, dos retratos do Presidente e do Interventor, que serão conduzidos da Prefeitura para Exatoria de Caxias por alunas do Ginásio e da Escola Normal, ladeadas pelo Tiro de Guerra 155 e acompanhadas por todas as autoridades, representantes do Clero e da Imprensa, colégios, sindicatos de classe, associações, etc. e o povo em geral.

As alunas do Ginásio trarão faixas com as cores da bandeira brasileira, em que se lê: “Homenagem da Coletoria Estadual de Caxias ao eminente Presidente Vargas”, e da Escola Normal uma faixa idêntica, lendo-se: ” Homenagem da Coletoria Estadual de Caxias ao preclaro Interventor Federal do Maranhão, dr. Paulo Ramos”.

Falarão, por ocasião da inauguração dos retratos, o dr. Alcindo Guimarães e o sr. Francisco Jayme Aguiar. Representarão os srs. drs. Paulo Ramos e Clodoaldo Cardoso, os srs. Alcindo Guimarães e Aniceto Cruz, respectivamente.

07 de Setembro de 1938: Alunas e autoridades posam próximos aos retratos recém-inaugurados de Getúlio Vargas e Paulo Ramos, no prédio da Exatoria de Caxias.

Às 15:30h: Passeata cívica, na qual tomarão parte, conduzindo o Pavilhão Nacional, Bandeirinhas Nacionais e estandartes: Tiro de Guerra 155, Escola Normal, Ginásio Caxiense, Grupo Escolar Gonçalves Dias, Escolas Proletárias, união Artística, Centro Artístico, Sindicatos: Operários em Construção Civil, Empregados Têxteis, Comerciantes, Empregados no Comércio, Mecânicos e Metalúrgicos, Ferroviários da São Luis – Teresina; Diretoria do Cassino Caxiense, altas autoridades, representantes do Clero e da Imprensa, funcionários e empregados públicos, intelectuais e povo em geral.

No decorrer do desfile, representantes das referidas instituições discursarão durante as paradas que serão realizadas nas praças Vespasiano Ramos e Gonçalves Dias; finalizando, assim, as comemorações de 07 de Setembro.


Fonte de pesquisa: Jornal Pacotilha

Imagem da publicação: Ac. do IHGC

Restauração: Brunno G. Couto

Show de Mágica no Teatro Fênix, no final do século XIX

Encantando, há séculos, as mais diversas audiências, o ilusionismo é uma arte antiquíssima; tendo os seus primeiros registros de existência remontando há pouco antes do nascimento de Cristo. Contudo, é no fim do século XIX que a mágica torna-se cada vez mais uma arte séria e respeitada, regulada por um código próprio – um acordo de sigilo sobre os truques. Nessa época, muitos mágicos brasileiros começam a fazer apresentações itinerantes pelo país. No Maranhão, um dos mais famosos chamava-se: Deocleciano Belfort.

Os registros da atuação profissional de Deocleciano começam a surgir nos periódicos maranhenses no ano de 1890, quando este realizava apresentações por São Luis (apesar de incerto, é muito provável que Deocleciano fosse ludovicense). Ostentando um exuberante bigode, o esbelto mágico possuía uma comitiva artística muito semelhante a um circo, onde, além do seu show de mágica, apresentavam-se ginastas e palhaços, compondo um grande espetáculo de seis partes. Através de reclames sensacionalistas nos jornais, Deocleciano divulgava seu show ao grande público.

E assim, depois de aclamadas apresentações por São Luis e Codó, em 1893 Deocleciano Belfort veio à Caxias. O local da primeira apresentação do mágico na cidade é desconhecido. Contudo, para o seu segundo show fora escolhido o ainda inconcluso Teatro Fênix, à Rua dos Quintais (Atual Aarão Reis). Necessitando de auxílio para a conclusão de suas obras – iniciadas por volta da década de 1880 -, o espetáculo fora realizado em benefício do teatro. Destarte, o show fora agendado para 14 de maio de 1893, um domingo.


Fachada do Teatro Fênix em fotografia recente. O teatro, atualmente, encontra-se abandonado.

Programa da apresentação de 14 de maio de 1893, no Teatro Fênix. Gazeta Caxiense.

Diferentemente do espetáculo realizado na capital, a apresentação de Caxias fora estruturada em três partes, englobando: hipnotismo, adivinhação, ilusão e magnetismo. A primeira parte era dedicada à Orquestra do teatro, que realizaria a abertura do espetáculo. A segunda parte era destinada à apresentação de Deocleciano. E na terceira parte aconteceria uma apresentação humorística, bem como mais números de ilusionismo. O grande e esperado truque era chamado “A sonâmbula vagando no ar”, possivelmente um número de levitação.

A apresentação foi um sucesso, tendo sido elogiada nas linhas dos jornais de Caxias, que também não deixaram de pontuar o comportamento do público pagante: “A plateia, que até então era de um comportamento reprovável, pois fazia um barulho infernal, felizmente neste último espetáculo esteve mais calma e educada possível, graças a energia da polícia”.

Depois das apresentações, Deocleciano partiu com a sua comitiva, não se tendo notícias de outras apresentações suas em Caxias. Posteriormente, no início do século XX, outros ilusionistas pisaram no palco do Fênix. Contudo, ao que se sabe, Deocleciano Belfort foi o primeiro deles.


Fontes de pesquisa: Revista Super Interessante; Jornal Gazeta Caxiense

Imagem da publicação: Hemeroteca Digital; Google Maps

Nereu Bittencourt

Nereu Bittencourt nasceu em Caxias, no dia 08/03/1880, filho de Maria José Bittencourt. Nereu estudou em São Paulo; tendo retornado, no início do século XX, ao seu estado natal, mais precisamente para a capital São Luis. Lá, fez parte da “Oficina dos Novos” ao lado de Vespasiano Ramos, seu ilustre patrício. Ainda na capital, foi professor do Colégio de Santana.

De volta à Caxias, em 1906 era auxiliar do Externato Benedito Leite, e, no ano subsequente, assumiu o cargo de diretor do Colégio Gonçalves Dias. Bem alto e bastante magro, Nereu, em 1908, casou-se com Erlinda de Oliveira Bittencourt. Junto aos filhos, o casal residiu em imóvel próprio à Rua Coelho Neto, no centro de Caxias. Aclamado professor de Português e Francês – além de lecionar aulas particulares em sua residência -, também ministrou aulas na Escola Normal e Ginásio Caxiense (sendo um de seus fundadores, bem como o compositor do hino da instituição). Na década de 1930, durante a administração do Interventor Paulo Ramos, Nereu fora nomeado Diretor da Biblioteca Benedito Leite (BBL).

Além de professor, Nereu também era poeta, tendo publicado diversas de suas poesias em jornais de Caxias e São Luis. Uma importante efeméride na biografia de Nereu Bittencourt ocorreu na década de 1940, quando houve uma tentativa de mudança nome da cidade de Caxias, que conflitava com a cidade homônima do estado do Rio Grande do Sul. Destarte, o então interventor em Caxias, Otávio Passos, procurou os intelectuais da cidade para obter uma opinião sobre a mudança. O professor Nereu destacou-se como uma das figuras contrárias à alteração; tendo, na oportunidade, redigido um extenso manifesto em defesa do nome “Caxias” para a terra maranhense. E conforme sabemos, Caxias-MA saiu vitoriosa na disputa, restando à cidade sulista, como forma de diferenciação, adotar a terminação “do Sul” em seu nome oficial.

Nereu não tinha uma vida apegada a bens materiais, tendo sempre vivido em um estilo de vida bem simples. Em 1961, com a ajuda de amigos e admiradores, publicou o livro “Poesias”. Muito estimado por sua sabedoria e retidão, Nereu Bittencourt faleceu em Caxias, no dia 11/06/1963, aos 83 anos de idade. Com o seu falecimento, o então vereador Oswaldo Marques propôs a mudança do nome da antiga Av. 15 de Novembro para Av. Nereu Bittencourt – nome que permanece até os dias de hoje. Além disso, Nereu é patrono da Cadeira de n. 16 da Academia Caxiense de Letras (ACL) e da Cadeira n. 2 do Instituto Histórico e Geográfico de Caxias (IHGC).


Fonte de pesquisa: Livro Por Ruas e Becos de Caxias/Autor: Eziquio Barros Neto; Livro Efemérides Caxienses/Autor: Arthur Almada Lima Filho; Depoimento de Erlinda Bittencourt.

Imagem da Publicação: Ac. do IHGC

Restauração e Colorização: Brunno G. Couto

A História do Mercado Público de Caxias

A história do mercado público de Caxias remonta ao século XVIII, no início da ocupação da cidade. Primordialmente conhecido como “Casa da Feira”, teve suas primeiras instalações fixadas no largo da Igreja da Matriz (onde atualmente localizam-se diversos estabelecimentos, dentre eles a “Lojas Americanas”), onde ficou por muitos anos.


Casa da Feira, primeiro mercado público de Caxias, em fotografia do início do século XX. Todos os imóveis da imagem foram demolidos. No local, atualmente localizam-se diversos estabelecimentos comerciais, em sua maioria farmácias.

Naquele tempo, toda aquela área (que posteriormente recebeu uma praça) era um grande descampado de areia batida. Ali, lado a lado, os comerciantes disputavam a atenção dos fregueses. Diariamente, dentro das casas comerciais ou na rua em frente, o movimento era intenso. A maioria dos compradores – carregando os seus balaios e jacás – chegava ao mercado a pé, outros vinham a cavalo. Para aqueles que necessitassem de uma ajudinha no transporte das volumosas compras – e que tivessem um tostão a mais -, podia-se pagar o dono de um burro de carga (sempre “estacionados” nas proximidades) para que este realiza-se o transporte à sua residência.

Com a criação da Fábrica de Manufatura (atual Centro de Cultura), no final do século XIX, a Intendência Municipal achou que seria mais adequado transferir o mercado para a então Praça da Independência (atual Dias Carneiro/Popular “Panteon”), haja vista a sua localização estratégica, próximo ao grande movimento de funcionários da referida fábrica. E assim, em 1914, com a venda dos antigos imóveis do largo da Matriz ao comerciante Antônio Tadeu de Assunção, as obras do novo mercado foram iniciadas.

A direção das obras ficou a cargo do renomado mestre Abel Antunes (também responsável pela construção do prédio da União Artística e Operária Caxiense, em 1930). Contudo, logo foi paralisada em virtude da saída do então intendente Álvaro Eusébio de Aguiar Pinto. Apenas na década de 1920, com o auxílio do dinheiro do município e ajuda da população, é que a construção é, enfim, retomada, já na administração do prefeito Francisco Villanova. A inauguração ocorreu em 24/02/1924.


Mercado Público da Praça Panteon em fotografia de 1933. Atualmente o prédio abriga a Prefeitura de Caxias.

Periódico maranhense, de abril de 1940, destaca as instalações do Mercado Público de Caxias.

Tendo em vista a falta de paisagismo da praça em frente (era apenas uma área descampada de areia e mato), o Mercado contava com um amplo espaço à sua disposição. Apenas na década de 1950, na administração do prefeito Aniceto Cruz, é que se faz necessária a ampliação do prédio, haja vista a grande movimentação de mercadorias e ambulantes em suas proximidades. Dessa forma, realiza-se a construção de um galpão anexo ladeando o imóvel principal. E assim o mercado permaneceu até a década de 1970.

Ocorre que, não obstante o anexo erguido, muitos vendedores, com suas respectivas bancas, voltaram a se aglomerar em volta dos prédios, o que, aliado a desorganização, gerava uma grande sujeira e mau cheiro naquelas redondezas. Assim, na segunda administração do prefeito Aluízio Lobo, no final da década de 1970, fora escolhida uma área na Av. Getúlio Vargas, onde fora construído uma pequena edificação para abrigar a feira. Com a demolição do anexo, sua estrutura metálica fora aproveitada na construção do galpão da nova feira, que, alguns anos depois, acabou se tornando o novo mercado municipal (onde funciona até os dias de hoje).


Galpão anexo (demolido) em fotografia da década de 1960. Na imagem é possível observar que, mesmo após a construção do anexo, alguns vendedores ainda continuaram com o comércio na área externa.

A transferência definitiva para o novo endereço ocorreu em 1986, após o falecimento do então prefeito em exercício, José Castro. No novo endereço, ao longo de sua história, o popular “mercado central” passou por diversas alterações. Contudo, é apenas em 2008, durante a administração do prefeito Humberto Coutinho, que ele sofre a sua maior reforma; sendo construídos estandes e um segundo pavimento, colocados pisos, etc.


O atual prédio do Mercado Central durante sua construção. Ano da fotografia: 1984.

O antigo prédio da praça Panteon passou a abrigar a sede da prefeitura da cidade. Durante as muitas administrações que passaram por Caxias, a edificação, de inúmeras janelas, recebeu diversas pinturas – a depender da administração; preservando ainda a sua arquitetura original. Onde estava erguido o galpão anexo, fora construído o estacionamento do prédio.


Fonte de pesquisa: Livro Por Ruas e Becos de Caxias/Autor: Eziquio Barros Neto.

Imagens da publicação: Internet; Acervo de Emanuel Nunes de Almeida; Hemeroteca Digital; Acervo do IHGC

Restauração e Colorização: Brunno G. Couto

A inauguração da sede da União Artística e Operária Caxiense, em 1930

Atualmente desapropriado pela municipalidade, o nonagenário prédio da União Artística e Operária Caxiense já foi palco de grandes e importantes eventos ao longo de sua história. História, essa, que remonta ao início do século XX.


Sede da União Artística e Operária Caxiense em fotografia de 2013.

Alfredo Beleza, o primeiro presidente da União Artística.

A associação fundadora fora criada em 01/05/1915, sob nome de União Artística e Operária Eleitoral Caxiense (Em 1932, após reforma estatutária, eliminou-se o adjetivo “eleitoral”). Esta era constituída por operários, artífices e artesãos caxienses de ambos os sexos. A sessão de fundação ocorreu nas dependências do Teatro Fênix, na Rua Aarão Reis. Sua primeira diretoria fora assim estabelecida: Alfredo Beleza (Presidente); Abel Antunes (Vice-Presidente); Lívio Álvaro Viana (1 Secretário); João Lourenço Pereira Neves (2 Secretário); Benedito Antônio de Almeida (Tesoureiro). E pelos ajudantes: Custódio Moreira da Silva; José Vitalino César; Francisco Andrade; Justina Bezerra da Costa e José Francisco. Na mesma sessão, o presidente nomeou uma comissão para elaborar os estatutos junto ao promotor público da comarca.

Contudo, só apenas quinze anos depois é que a referida associação ganharia sede própria. Projetado por seu primeiro vice-presidente, o mestre de obras Abel Antunes, o prédio começou a ser edificado na segunda metade da década de 1920, estando localizado ao lado da então Praça D. Pedro II (Atual Dias Carneiro, popular Panteon). O local obtido pela associação fora selecionado em virtude de estar localizado em frente à Fábrica de Manufatura União Caxiense (Atual Centro de Cultura) onde muitos deles trabalhavam. Conclusa as obras, a inauguração do imóvel fora agendada para o “Dia do Trabalhador” de 1930, data em que a União completaria 15 anos de existência. E assim se dera.


Detalhe da fachada do imóvel. É provável que a inscrição não seja a original de 1930, já que, à época da inauguração, a associação ainda tinha “eleitoral” em seu nome.

As festividades de aniversário começaram no dia 30 de abril de 1930, véspera da data oficial. Às 7h houve missa rezada na Igreja de São Benedito, em sufrágio das almas dos sócios falecidos e, após, uma grande romaria aos seus túmulos nos cemitérios de São Benedito e N. S. dos Remédios. Na ocasião, o operário Pedro Antunes discursou junto ao mausoléu de Custódio Pinduca, ex-presidente e fundador da União Artística.


Multidão reunida em frente ao imóvel da nova sede da União Artística Operária e Eleitoral Caxiense. Data: 01/05/1930, dia da inauguração do imóvel.

Meia noite, fora realizada alvorada pela banda “Lyra Operária” (de propriedade da própria União) em frente ao novo prédio da associação, seguindo-se por uma imponente passeata em direção ao Centro Artístico Caxiense. Ali, mais operários fizeram o uso da palavra; foram eles: Júlio Ferraz, Pedro Antunes, Manoel Leitão e Raymundo Leitão.

Chegado o grande dia, 1 de Maio, às 8h o reverendo padre Gilberto Barbosa celebrou missa cantada, em ação de graças, na Igreja de São Benedito. Muito concorrida, a celebração contou com a presença de uma afinada orquestra. Após, realizou-se o benzimento da bandeira e da sede social, no novo prédio construído à praça D. Pedro II, n. 2. Durante a solenidade de inauguração, a Lyra Operária também marcou presença executando o seu melhor repertório. Após, fora oferecido um coquetel aos presentes. Às 18h, entre as aclamações mais vibrantes, foi descida a bandeira da União.

Às 20h, todos os associados se reuniram para receber a visita do Centro Artístico, que chegou à sede social precedido pela banda de música Carimã. Numerosos oradores pediram a palavra, sendo “aplaudidos em delírio pela multidão”, conforme relatou um periódico da época. Às 21h, fora realizada uma sessão solene junto a diversos representantes de diferentes setores da classe trabalhista caxiense. Nessa oportunidade, fora prestado o compromisso pelos membros da nova diretoria, assim constituída:

  • Presidente: Manoel Pinto da Motta
  • Vice- Presidente: F. Lima Pinduca
  • 1 Secretário: João de Deus Ramos
  • 2 Secretário: Francisco Silva
  • 1 Tesoureiro: José Moraes
  • 2 Tesoureiro: Luiz P. de França
  • Orador Oficial: Raymundo N. da Silva Leitão
  • Membros da Comissão Fiscal: Estevam Oliveira, Sabino Raposo e Joaquim F. de Souza
  • Membros da Comissão de Sindicância: Martiniano Santos e Luiz Araújo
  • Bibliotecário: Luiz Farias Correia

Após a posse dos supracitados, tomou a palavra o reverendo padre Joaquim de Jesus Dourado, que proferiu uma belíssima homenagem ao Trabalho. Encerrada a sessão, a diretoria fez distribuir por todos os presentes a poesia Operário, de autoria do dr. Ribamar Pereira, assistente judiciário ao proletariado maranhense.

A casa de modas “A Cearense”, de propriedade de Antônio Martins Filho, ofereceu à União Artística cinco valiosos prêmios, em cortes de seda e perfumarias finas, que foram distribuídos por meio de sorteios. As vencedoras foram as operárias: Benedita Santos, Maria Souza, Maria Pitombeira, Simplicia Santos e Raimunda Lyra. Em seguida, sob o som da orquestra da banda Lyra Caxiense, bem como do Jazz Band Jadhiel, realizou-se um grande baile dançante, que só teve fim às 3h da manhã do dia 02. Foram dois dias intensos.

91 anos depois:

Depois de muito tempo desativado, em 2021 o prédio completou 91 anos de história, ano em que está marcado o início de suas obras de revitalização. De acordo com a Prefeitura e Governo do Estado – e após intervenção da Associação dos Amigos do Patrimônio de Caxias -, as características estruturais (atualmente bem degradadas) do local serão restauradas, bem como sua arquitetura original será mantida; garantindo, assim, a preservação do imóvel . No local passará a funcionar um Restaurante Popular.


Abaixo, algumas fotografias atuais (pré-reforma) do interior do imóvel:

Detalhe do forro em madeira, já bastante deteriorado.


Local onde ficava localizado o palco.

Fontes de pesquisa: Jornal O Imparcial; Livro Efemérides Caxienses/Autor: Arthur Almada Lima Filho; Livro Por Ruas e Becos de Caxias/Autor: Eziquio Barros Neto.

Imagens da publicação: Acervo do autor; Acervo de Eziquio Barros Neto; Jornal O Imparcial