A inauguração da sede da União Artística e Operária Caxiense, em 1930

Atualmente desapropriado pela municipalidade, o nonagenário prédio da União Artística e Operária Caxiense já foi palco de grandes e importantes eventos ao longo de sua história. História, essa, que remonta ao início do século XX.


Sede da União Artística e Operária Caxiense em fotografia de 2013.

Alfredo Beleza, o primeiro presidente da União Artística.

A associação fundadora fora criada em 01/05/1915, sob nome de União Artística e Operária Eleitoral Caxiense (Em 1932, após reforma estatutária, eliminou-se o adjetivo “eleitoral”). Esta era constituída por operários, artífices e artesãos caxienses de ambos os sexos. A sessão de fundação ocorreu nas dependências do Teatro Fênix, na Rua Aarão Reis. Sua primeira diretoria fora assim estabelecida: Alfredo Beleza (Presidente); Abel Antunes (Vice-Presidente); Lívio Álvaro Viana (1 Secretário); João Lourenço Pereira Neves (2 Secretário); Benedito Antônio de Almeida (Tesoureiro). E pelos ajudantes: Custódio Moreira da Silva; José Vitalino César; Francisco Andrade; Justina Bezerra da Costa e José Francisco. Na mesma sessão, o presidente nomeou uma comissão para elaborar os estatutos junto ao promotor público da comarca.

Contudo, só apenas quinze anos depois é que a referida associação ganharia sede própria. Projetado por seu primeiro vice-presidente, o mestre de obras Abel Antunes, o prédio começou a ser edificado na segunda metade da década de 1920, estando localizado ao lado da então Praça D. Pedro II (Atual Dias Carneiro, popular Panteon). O local obtido pela associação fora selecionado em virtude de estar localizado em frente à Fábrica de Manufatura União Caxiense (Atual Centro de Cultura) onde muitos deles trabalhavam. Conclusa as obras, a inauguração do imóvel fora agendada para o “Dia do Trabalhador” de 1930, data em que a União completaria 15 anos de existência. E assim se dera.


Detalhe da fachada do imóvel. É provável que a inscrição não seja a original de 1930, já que, à época da inauguração, a associação ainda tinha “eleitoral” em seu nome.

As festividades de aniversário começaram no dia 30 de abril de 1930, véspera da data oficial. Às 7h houve missa rezada na Igreja de São Benedito, em sufrágio das almas dos sócios falecidos e, após, uma grande romaria aos seus túmulos nos cemitérios de São Benedito e N. S. dos Remédios. Na ocasião, o operário Pedro Antunes discursou junto ao mausoléu de Custódio Pinduca, ex-presidente e fundador da União Artística.


Multidão reunida em frente ao imóvel da nova sede da União Artística Operária e Eleitoral Caxiense. Data: 01/05/1930, dia da inauguração do imóvel.

Meia noite, fora realizada alvorada pela banda “Lyra Operária” (de propriedade da própria União) em frente ao novo prédio da associação, seguindo-se por uma imponente passeata em direção ao Centro Artístico Caxiense. Ali, mais operários fizeram o uso da palavra; foram eles: Júlio Ferraz, Pedro Antunes, Manoel Leitão e Raymundo Leitão.

Chegado o grande dia, 1 de Maio, às 8h o reverendo padre Gilberto Barbosa celebrou missa cantada, em ação de graças, na Igreja de São Benedito. Muito concorrida, a celebração contou com a presença de uma afinada orquestra. Após, realizou-se o benzimento da bandeira e da sede social, no novo prédio construído à praça D. Pedro II, n. 2. Durante a solenidade de inauguração, a Lyra Operária também marcou presença executando o seu melhor repertório. Após, fora oferecido um coquetel aos presentes. Às 18h, entre as aclamações mais vibrantes, foi descida a bandeira da União.

Às 20h, todos os associados se reuniram para receber a visita do Centro Artístico, que chegou à sede social precedido pela banda de música Carimã. Numerosos oradores pediram a palavra, sendo “aplaudidos em delírio pela multidão”, conforme relatou um periódico da época. Às 21h, fora realizada uma sessão solene junto a diversos representantes de diferentes setores da classe trabalhista caxiense. Nessa oportunidade, fora prestado o compromisso pelos membros da nova diretoria, assim constituída:

  • Presidente: Manoel Pinto da Motta
  • Vice- Presidente: F. Lima Pinduca
  • 1 Secretário: João de Deus Ramos
  • 2 Secretário: Francisco Silva
  • 1 Tesoureiro: José Moraes
  • 2 Tesoureiro: Luiz P. de França
  • Orador Oficial: Raymundo N. da Silva Leitão
  • Membros da Comissão Fiscal: Estevam Oliveira, Sabino Raposo e Joaquim F. de Souza
  • Membros da Comissão de Sindicância: Martiniano Santos e Luiz Araújo
  • Bibliotecário: Luiz Farias Correia

Após a posse dos supracitados, tomou a palavra o reverendo padre Joaquim de Jesus Dourado, que proferiu uma belíssima homenagem ao Trabalho. Encerrada a sessão, a diretoria fez distribuir por todos os presentes a poesia Operário, de autoria do dr. Ribamar Pereira, assistente judiciário ao proletariado maranhense.

A casa de modas “A Cearense”, de propriedade de Antônio Martins Filho, ofereceu à União Artística cinco valiosos prêmios, em cortes de seda e perfumarias finas, que foram distribuídos por meio de sorteios. As vencedoras foram as operárias: Benedita Santos, Maria Souza, Maria Pitombeira, Simplicia Santos e Raimunda Lyra. Em seguida, sob o som da orquestra da banda Lyra Caxiense, bem como do Jazz Band Jadhiel, realizou-se um grande baile dançante, que só teve fim às 3h da manhã do dia 02. Foram dois dias intensos.

91 anos depois:

Depois de muito tempo desativado, em 2021 o prédio completou 91 anos de história, ano em que está marcado o início de suas obras de revitalização. De acordo com a Prefeitura e Governo do Estado – e após intervenção da Associação dos Amigos do Patrimônio de Caxias -, as características estruturais (atualmente bem degradadas) do local serão restauradas, bem como sua arquitetura original será mantida; garantindo, assim, a preservação do imóvel . No local passará a funcionar um Restaurante Popular.


Abaixo, algumas fotografias atuais (pré-reforma) do interior do imóvel:

Detalhe do forro em madeira, já bastante deteriorado.


Local onde ficava localizado o palco.

Fontes de pesquisa: Jornal O Imparcial; Livro Efemérides Caxienses/Autor: Arthur Almada Lima Filho; Livro Por Ruas e Becos de Caxias/Autor: Eziquio Barros Neto.

Imagens da publicação: Acervo do autor; Acervo de Eziquio Barros Neto; Jornal O Imparcial

Palacete Castelo de Alderico Silva

Muito conhecido dos caxienses, o histórico palacete fora inaugurado em 18 de janeiro de 1952, na ocasião da celebração do 18 aniversário de casamento de Alderico e Dinir Silva. O engenheiro idealizador da edificação fora o cunhado de Alderico Silva, o político e engenheiro Alexandre Alves Costa.

Para a sua construção, fora necessária a formação de uma gigantesca equipe de operários: mestres de obras, pedreiros, marceneiros, eletricistas, etc (relação abaixo). Alguns dos aposentos que compõem o imóvel: hall de entrada, sala de estar, hall de saída, capela, quartos de hóspedes, salão de música, sala de jogos, sala de jantar, cozinha, adega, dispensa, atelier de costuras, terraço, átrio, quartos da família, roupeiro, pomar, etc.

Palacete na época de sua inauguração.
O casal Alderico e Dinir Silva (ao centro), durante a festa de inauguração do palacete.

As instalações eram compostas por: aposentos com piso de mosaicos S. Caetano, azulejos, lâmpadas japonesas e chinesas, lustres, lampadário colonial com pingentes de cristal, piano Essenfleld, etc.

Na festa de inauguração, estiveram presentes diversas autoridades do Maranhão e Piauí. Segue abaixo, um trecho do discurso proferido por Alderico Silva, durante a solenidade de inauguração:

“Meus amigos, permitam-me que eu cite aquelas tão célebres quão conhecidas palavras do imortal imperador romano, o grande o poderoso César Augusto: “Veni, vidi, vici”! – Vim, vi e venci. Sim eu vim da pobreza que não avilta, mas que crucia; eu senti, vezes tantas, o rigor do desconforto da vida dos não favorecidos pela sorte. Daqueles que, em virtude dos sofrimentos, não passam pela vida, como diz o aedo, mas que vivem, pois, é bem verdade que “quem passou pela vida e não sofreu, foi espectro de homem, não foi homem, só passou pela vida, não viveu”..

PESSOAS QUE TRABALHARAM NA OBRA:
  • Pedreiros: Benício Oliveira. Antônio Bertoldo, João de Deus, Antônio Soares, Cândido Neto, José Ribamar Silva, Pedro Cruz e Antônio Marques.
  • Acabamento: Felipe Barbosa (Mestre), Venâncio Santana, Amadeu Rodrigues, Francisco Rameiro, José de Ribamar Moraes, Waldimiro Sousa, Deusdeth Rodrigues, Francisco Thomaz e Antônio Oliveira.
  • Marceneiros: Joaquim Cunha (Mestre), Benedito Santana, Antônio Leite, Airton Oliveira, Sebastião Silva, Abrahão Santos, Raimundo Silva, Manoel Baldiuno, Dionísio Junior e Lourival Machado.
  • Carpinas: Domingos Braga (Mestre), José Fumaça, João Alves, Raimundo Bastos e Raimundo Guedes.
  • Encanadores: Manoel de Jesus Passos e Manoel Silva.
  • Jardim: Edson Raimundo da Silva.
  • Fonte Luminosa: Raimundo Santos.
  • Pintores: Antônio Vieira de Sales e Lino Corrêa Lima.
  • Eletricista: Milton Kós. Ajudante: Leopoldo Santos.
  • Aplicação de Lustres: Felipe Teixeira Neto. Auxiliar: Albino Machado.
  • Aplicação pias lavatórios: Manoel Silva.
  • Cortinas: Casa das Cortinas Ltda. (RJ)
  • Móveis de Estilo: Vitório Azzaltm (SP), Pinho Breltman (RJ)
  • Móveis de Couro: Antônio F. Santos (RJ)
  • Quadros a Óleo: Benedita Ribeira e R. Santos.

Abaixo algumas fotos* (atuais) do palacete:

Escadaria que leva ao piso superior do imóvel.
Piso de mosaico São Caetano.
Biombo, em madeira, que divide um dos aposentos
Brasão da família Costa Silva.
Sala de Música.
Pintura representando a morte do poeta Gonçalves Dias. Obra do artista plástico caxiense Munidco Santos.
Detalhes da escadaria.
Sala de Jantar.
Varanda.
Vista do coreto.

*As fotografias da parte interna e externa do imóvel foram feitas com autorização do proprietário. A residência não é aberta para visitação.

Em 2015, a TV Sinal Verde, de Caxias, produziu uma reportagem sobre o casarão. Vale a pena conferir:


Imagens da publicação: Jornal O Combate; Acervo Público do IBGE; Acervo de Brunno G. Couto; TV Sinal Verde. 

Restauração: Brunno G. Couto

Fonte: Jornal O Combate